domingo, 23 de agosto de 2015

X-WIFE+ALLAH-LAS+WAXAHATCHEE+MARK LANEGAN BAND+CHARLES BRADLEY+THE WAR ON DRUGS, Festival Paredes de Coura, 21 de Agosto de 2015
















Os X-Wife regressaram a Coura ao fim de doze anos. Pode ser bom sinal, pode ser também sintoma que há ainda um novo caminho para trilhar... Quarenta minutos de canções em jeito de compilação que a maioria conhecedora queria ouvir e que os da Invicta queriam muito tocar. Tá feito!

O álbum do ano passado dos Allah-Las chama-se "Worship the Sun" e essa veneração aos deus Sol cumpriu-se na perfeição entre canções, que sem disfarces, veneram também outro deus - o senhor Arthur Lee e os Love! Não há nenhum mal nisso, pelo contrário, e Coura agradeceu o embalo e a oportunidade de os conhecer um pouco melhor. 

Waxahatchee não é só um nome de difícil pronúncia. É, seguramente, um projecto a despertar muita atenção desde que a menina Katie Crutchfield gravou "Cerulean Salt", um segundo mostruário diverso de pop simples e com alma que agarra à primeira audição. Ao vivo, ali no palco mais pequeno, as expectativas fundadas carimbam-se facilmente entre o publico que enche o espaço sem virar costas porque as canções, magníficas, a isso obrigam. Pode ser o fabuloso acapella "Blue pt. II", o mais recente "Blue" ou então "The Dirt", "Grey Hair" e até "La Loose", pedacinho sincopado a drum machine de irresistível balanço, que em todas elas há sinais de muito talento à escolha do freguês ouvinte e do momento certo. Resultado: uma excelente "Ivy Tripp"!

Com Mark Lanegan e a sua banda a "viagem" estava traçada à partida. Palco negro, vestes negras, luzes vermelhas para espantar fantasmas sem, contudo, os assustar que as canções, sem eles, não fazem sentido. Agarrado com as duas mãos ao microfone ao jeito de tábua de salvação, Lanegan e sua voz de malte desfilou histórias de negritude e tragédia que cabem em temas como "I'Am Wolf", "Death Trip to Tulsa", "Floor of the Ocean" ou "Gray Goes Black", a tal a que Iggy Pop chamaria um figo. Só não percebemos para que foi preciso "pegar" no "Atmosphere" dos Joy Divison... Seja como for, faz sempre falta um concerto assim - puro e duro.

E agora, senhoras e senhores, Charles Bradley com os seus extraordinários músicos, verdadeira máquina funk e soul com vínculo comprovado na escola Dap-Kings. Há dois anos, em pleno Parque da Cidade portuense viramos costas aos The National para nos juntarmos a muitos que decidiram em boa hora confirmar a lenda e receber a "vacina"! Não há, por isso mesmo, como resistir a este efeito emotivo que só um soul intemporal e imortal deste nível alcança bem dentro de nós logo aos primeiros ritmos da banda ou quando Bradley puxa por aquela voz descida à terra para nos atormentar. Os "I love you's" podem ser exagerados, os "baby's" ultra-melosos, as panaceias de um mundo melhor inconsequentes, mas, caramba, como o próprio insiste sempre, é do coração e isso, sem olhar a idades, credos ou raças, devia resolver tudo. Pelo menos ao longo daquela rápida hora, temos a certeza que Bradley o conseguiu sem remissão! Ao lado, o nosso amigo rendido arriscava um "vamos embora agora para não estragar". Mal ele sabia o que nos esperava!

Andamos há quase quatro longos anos para comprovar como é que Adam Granduciel e os seus The War On Drugs se safam ao vivo. Aqui o "safam" diz respeito a dois esteios da guitarra dita escorregadia ou gordurosa de tradição americana que Springsteen expandiu e cultivou com a sua E Street Band e que, para muitos, hoje já não faz sentido. Ora bem, para além desses tais álbuns continuarem a rodar com frequência em qualquer altura do ano, faça chuva ou faça sol, o certo é que a sua validade parece ter-se multiplicado e entranhado a um nível muito maior que esperávamos atendendo à resposta magnífica que a plateia imensa de Coura lhes rendeu. Quando "Baby Missiles", "Burning" ou o indescritível "Under The Pressure" ecoaram alto e bom som colina acima e as cabeças abanaram e os olhos se cerraram, foi numa estrada americana que aquele arrepio frio e bom nos fez a nós, e certamente a muitos, respirar bem fundo e esperar que o momento não tivesse fim. Ainda não sabemos como é que Granduciel o consegue fazer, não estamos interessados em saber e cá estaremos à espera, ansiosos, que inspiração deste calibre nunca lhe falte para que a nossa "viagem" continue a perder-se maravilhosamente num sonho. Monumental!         

(+ videos no Canal Eléctrico)













   

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