terça-feira, 25 de agosto de 2015

BANDA DO MAR+NATALIE PRASS+WOODS+SYLVIAN ESSO+TEMPLES+LYKKE LI+RATATAT, Festival Paredes de Coura, 22 de Agosto de 2015
















Presença obrigatória em todos os festivais do corrente ano, a Banda Do Mar acabava a digressão num final de tarde acinzentado mas, longe disso, bastante animado. Sem sol, um pouco de frio e até chuva, muitos decidiram encostar os barcos à margem do Tabuão e rumar logo cedo para o recinto. Resultado: filas para entrar e enchente antecipada para cantar em coro e na ponta da língua as canções que Marcelo Camelo e Mallu Magalhães escreveram a meias. Na meia hora que conseguimos ver a despedida foi beleza, cara!

A estreia de Natalie Prass nos discos - e que disco - não demorou muito para a trazer até nós o que é sempre uma benção. Surpreendida com o país, com o palco, com o público, foi uma Prass sorridente e brincalhona que, com a ajuda de um combo clássico de guitarra, baixo e bateria, apresentou parte das canções desse álbum. Entre um par de covers, escolheu as mais óbvias: "Your Fool", "Why Don't You Believe Me", "Never Over You" e um "Bird Of Prey" de riff gingão já que as magníficas orquestrações de estúdio de Mathew E. White são intransponíveis para este formato e, claro, fazem falta. Contudo, uma forte dose de boa disposição e já muita classe fez com que os 45 minutos do concerto tenham sabido a muito pouco... mas bom.
  
Os Woods são uns sortudos - tocaram para alguns, também sortudos, ao início da tarde no quartel dos bombeiros locais entre auto-tanques e ambulâncias antigas e agora tinham uma imensidão de gente à sua espera prontinha a recebê-los de braços abertos. Essa comunhão acabou por resultar na perfeição perante um público já nitidamente moído e, por isso, bem mais tolerante e relaxado. Como sempre em Coura, ao fim de quatro dias, sentadinhos na (pouca) relva sabe sempre bem ouvir qualquer coisa...

Confessamos desde já a ignorância - nunca ouvimos falar de Sylvan Esso, nunca lhes ouvimos uma canção, video ou o que seja. Por isso ver a tenda a abarrotar de gente, braços no ar e ancas a dar a dar, talvez valesse a pena ficar por lá. Valeu. Na base electrónica pré-gravada acama uma voz vincada e muito adulta apesar da juventude da vocalista Amelia Meath e o duo surpreendido com o festão arriscou ainda duas canções novas, jogando com a oportunidade de ouro para testar a receita. Há por aqui um cheirinho a fenómeno pronto a explodir e, tendo em conta, a histeria e os aplausos vincados e expontâneos, o epicentro está desde já encontrado!

Quanto aos Temples pouco haverá a dizer. São donos de um disco mediano, o único, de algumas boas canções ("Mesmerize" ou "Shelter Song") e, pelo concerto apresentado, são ao vivo pouco entusiasmantes. A voz resvala por vezes para o lado errado e isto parece-nos ainda pouco para a muita sobranceria do vocalista sósia - custava muito por o microfone no sítio, pá (vide video de "Shelter Song"). Tá visto, próximo(a)!

Não nos causava, à partida, incómodo ver Lykke Li alinhada para Paredes de Coura. Contudo essa impressão a uma distância de alguns dias acaba por, bem vistas as coisas, não ser tão linear. Prós: estatuto, qualidade dos músicos, património/reportório, voz, duração do espectáculo. Contras: presença em palco, banalização das canções, pontapés a mais na querida língua portuguesa. Agora mais a sério, o desfile de êxitos esperado não desfraldou certamente os fãs mas faltou "a little bit" de arrojo e surpresa. Tudo certinho e direitinho. Às tantas só podia ser assim. Tá visto, próximos!

Quem já ouviu os discos dos Ratatat sabia bem ao que vinha. O duo criou uma matriz, esticou-a para todos os lados possíveis e imaginários e, em palco, a reprodução dos moldes em jeito de canções é mesmo irrepreensível. Ao fundo, vão passando uns conjuntos gigantes de jogos visuais de excelente recorte o que ajuda e de que maneira a que a música percorra sem barreiras a distância entre as colunas e o balanço da plateia em fim de festa e, claro, mais que pronta a prolongar a dança. Ao fim de uma hora e meia haverá sempre quem - muitos, atendendo aos fortes "uuuuuuhs" ouvidos por não haver encore - ficasse por lá a madrugada inteira. Quanto a nós, quedamos de barriga cheia. Até pró ano! 

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(31/10/2015 - video removido pelo Youtube)









domingo, 23 de agosto de 2015

X-WIFE+ALLAH-LAS+WAXAHATCHEE+MARK LANEGAN BAND+CHARLES BRADLEY+THE WAR ON DRUGS, Festival Paredes de Coura, 21 de Agosto de 2015
















Os X-Wife regressaram a Coura ao fim de doze anos. Pode ser bom sinal, pode ser também sintoma que há ainda um novo caminho para trilhar... Quarenta minutos de canções em jeito de compilação que a maioria conhecedora queria ouvir e que os da Invicta queriam muito tocar. Tá feito!

O álbum do ano passado dos Allah-Las chama-se "Worship the Sun" e essa veneração aos deus Sol cumpriu-se na perfeição entre canções, que sem disfarces, veneram também outro deus - o senhor Arthur Lee e os Love! Não há nenhum mal nisso, pelo contrário, e Coura agradeceu o embalo e a oportunidade de os conhecer um pouco melhor. 

Waxahatchee não é só um nome de difícil pronúncia. É, seguramente, um projecto a despertar muita atenção desde que a menina Katie Crutchfield gravou "Cerulean Salt", um segundo mostruário diverso de pop simples e com alma que agarra à primeira audição. Ao vivo, ali no palco mais pequeno, as expectativas fundadas carimbam-se facilmente entre o publico que enche o espaço sem virar costas porque as canções, magníficas, a isso obrigam. Pode ser o fabuloso acapella "Blue pt. II", o mais recente "Blue" ou então "The Dirt", "Grey Hair" e até "La Loose", pedacinho sincopado a drum machine de irresistível balanço, que em todas elas há sinais de muito talento à escolha do freguês ouvinte e do momento certo. Resultado: uma excelente "Ivy Tripp"!

Com Mark Lanegan e a sua banda a "viagem" estava traçada à partida. Palco negro, vestes negras, luzes vermelhas para espantar fantasmas sem, contudo, os assustar que as canções, sem eles, não fazem sentido. Agarrado com as duas mãos ao microfone ao jeito de tábua de salvação, Lanegan e sua voz de malte desfilou histórias de negritude e tragédia que cabem em temas como "I'Am Wolf", "Death Trip to Tulsa", "Floor of the Ocean" ou "Gray Goes Black", a tal a que Iggy Pop chamaria um figo. Só não percebemos para que foi preciso "pegar" no "Atmosphere" dos Joy Divison... Seja como for, faz sempre falta um concerto assim - puro e duro.

E agora, senhoras e senhores, Charles Bradley com os seus extraordinários músicos, verdadeira máquina funk e soul com vínculo comprovado na escola Dap-Kings. Há dois anos, em pleno Parque da Cidade portuense viramos costas aos The National para nos juntarmos a muitos que decidiram em boa hora confirmar a lenda e receber a "vacina"! Não há, por isso mesmo, como resistir a este efeito emotivo que só um soul intemporal e imortal deste nível alcança bem dentro de nós logo aos primeiros ritmos da banda ou quando Bradley puxa por aquela voz descida à terra para nos atormentar. Os "I love you's" podem ser exagerados, os "baby's" ultra-melosos, as panaceias de um mundo melhor inconsequentes, mas, caramba, como o próprio insiste sempre, é do coração e isso, sem olhar a idades, credos ou raças, devia resolver tudo. Pelo menos ao longo daquela rápida hora, temos a certeza que Bradley o conseguiu sem remissão! Ao lado, o nosso amigo rendido arriscava um "vamos embora agora para não estragar". Mal ele sabia o que nos esperava!

Andamos há quase quatro longos anos para comprovar como é que Adam Granduciel e os seus The War On Drugs se safam ao vivo. Aqui o "safam" diz respeito a dois esteios da guitarra dita escorregadia ou gordurosa de tradição americana que Springsteen expandiu e cultivou com a sua E Street Band e que, para muitos, hoje já não faz sentido. Ora bem, para além desses tais álbuns continuarem a rodar com frequência em qualquer altura do ano, faça chuva ou faça sol, o certo é que a sua validade parece ter-se multiplicado e entranhado a um nível muito maior que esperávamos atendendo à resposta magnífica que a plateia imensa de Coura lhes rendeu. Quando "Baby Missiles", "Burning" ou o indescritível "Under The Pressure" ecoaram alto e bom som colina acima e as cabeças abanaram e os olhos se cerraram, foi numa estrada americana que aquele arrepio frio e bom nos fez a nós, e certamente a muitos, respirar bem fundo e esperar que o momento não tivesse fim. Ainda não sabemos como é que Granduciel o consegue fazer, não estamos interessados em saber e cá estaremos à espera, ansiosos, que inspiração deste calibre nunca lhe falte para que a nossa "viagem" continue a perder-se maravilhosamente num sonho. Monumental!         

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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

HINDS+POND+STEVE GUNN+FATHER JOHN MISTY+THE LEGENDARY TIGER MAN+TAME IMPALA, Festival Paredes de Coura, 20 de Agosto de 2015
















Nesta altura é já redundante falar sobre a enchente em Coura. Gente a mais ou gente a menos, o certo é que o espaço natural não aumenta e por isso, citando um banqueiro da praça, "ai aguenta, aguenta"... Era ver a pré-enchente eufórica logo às 6 da tarde para ver as Hinds, fresquinhas rockeiras a fazer a festa quase imberbe com o seu quê de cool que assenta sempre bem num dia de calor. Guay!  

Os Pond alinhados no palco pequeno só podia dar nisto: mar de gente a ultrapassar quase os limites de todo e qualquer espaço em volta e algazarra previsível a roçar a arruaça na frente do palco. Público contente, banda mais que risonha e, é verdade, música de colheita antípoda mais que saboreada e degustada pela maioria. Ainda faltava muito para os Tame Impala mas o aquecimento estava mais que feito...

Sem que estejam em causa os méritos e atributos de Steve Gunn, o palco principal pareceu-nos uma escolha desajustada para a fineza da sua música. Nessa mesma tarde Gunn tinha passada pelo Museu Regional de Coura para, a solo, tocar canções para alguns sortudos mas agora em pleno cenário e envolvente o seu concerto serviu mais de fundo sonoro para conversas de circunstância entre um público maioritariamente alheado em vez de uma acolhimento à medida. Foi pena.

Ao contrário, a perfomance de Father John Misty tinha recepção eufórica garantida. Há no jeito e vivência de J. Tilmann um lado gozão e sarcástico sobre as agruras da vida e do amor que se estende às suas irresistíveis canções em jeito de crónicas sonoras. Gingão, teatral, acutilante, sabe jogar como poucos na surpresa e com a imprevisibilidade e, por isso, vê-lo subir ao palco com a bandeira portuguesa ao pescoço depois de um "mergulho" entre o público no final do seu "maior êxito" ("Bored in the USA") e entregá-la ao seu rodie ao jeito de medalha beijando-lhe a testa (2 vezes!) é um daqueles momentos obrigatórios para a memória colectiva do festival. Grande concerto!

Temos por Paulo Furtado e os seus Legendary Tiger Man um enorme respeito. Ponto. O mérito de ocuparem o horário nobre de um dos principais festivais
nacionais é fruto de uma temerária e longínqua aventura nos limites do rock e dos blues que não deixa margem para dúvidas quanto às suas virtudes. Concerto oleado, excelente saxofone a la Morphine, uma rock vintage que naturalmente se espalhou pelo anfiteatro cheio. O problema, no entanto, foi só um: chamou-se Tame Impala e cada novo tema de Tiger Man assemelhava-se a um jogador que simula a lesão, para passar tempo, já depois da hora para desespero dos adeptos... O apito final, no entanto, ficou bem vincado e gritado ao fim do tempo de desconto de dez minutos "XXIst Century Rock´n Roll": rock'n roll, precisamente!

Os Tame Impala estão, nitidamente, num limbo: criarem um "monstro" de nome "Currents" que vai crescendo todos os dias e atendendo aos 25 mil que responderam à chamada, a "criatura" benigna tenderá a transformar-se exponencialmente numa salutar pandemia (pandemónio?). Antevendo o descontrolo, a banda entrou em palco de fininho e sem euforias desmedidas, despachando, no bom sentido, o "Let it Happen" logo ao segundo tema do alinhamento, o causador inicial de tamanho fenómeno. À máquina sonora evidenciada juntou-se um fundo de efeitos visuais a preceito e a ementa tanto pode ser um receituário mais antigo - "Why Won't You Make Up Your Mind?", "Feels Like We Only Go Backwards" ou o incontornável "Elephant" - ou de prova mais recente - "The Less I Know The Better", "The Moment" ou o açucarado "Cause I'm A Man", minha! A plateia já eufórica perante tamanha dádiva não resistiu a gritar em pleno fôlego o nome da banda antes do encore para que não restassem dúvidas quanto à qualidade do serão. Tudo cinco estrelas... Michelin!  
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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

GALA DROP+BLOOD RED SHOES+SLOWDIVE+TV ON THE RADIO, Festival Paredes de Coura, 19 de Agosto de 2015
















A apetecível edição 2015 de Paredes de Coura teve um início auspicioso. Anfiteatro preenchido desde cedo, bom tempo e aquela inconfundível brisa minhota que vai arrefecendo quando a noite cresce. 

Começaram ainda ao sol os Gala Drop, uma óptima escolha de boas vindas para testar a dimensão adequada do colectivo luso para espaços arejados, mesmo que que a plateia tenha feito o balanço maioritariamente sentada na relva. Sem que fosse necessário, mais uma oportunidade para confirmar a grandeza e validade da sua música.  

Os Blood Red Shoes não demoraram muito tempo a aquecer. A bateria e guitarra do dueto tinha muitos fãs à espera e isso fez-se notar na primeira grande agitação na frente do palco, mesmo que a receita sonora se aproxime demasiado dos White Stripes de boa memória. Sem contemplações ou rodeios desnecessários, um concerto certeiro.

Dos Slowdive não se esperavam surpresas. A sua música tinha um prazo de validade que parecia ter terminado mas, como sempre e ainda bem, chegou o tempo de o alargar a novos e, já agora, velhos públicos. Consistente e hipnótico até, a banda de Reading tem nas vozes de Neil Halstead e Rachel Goswell um travo sedutor que se destaca na densidão de guitarras venerada pelo shoegaze. Há quem não goste, há quem adore. Nós adoramos!

O concerto dos Tv On The Radio podia ter sido mítico. A banda está em plena forma, pronta a partir a loiça e o publico agarrado respondeu à altura. Mas exagerou... O crowdsurf na frente tornou-se caótico, acenderam-se very lights perigosos e, notou-se, David Sitek e Cª meteram travão e reduziram a "velocidade" depois do aviso de Kyp Malone. Mesmo assim, um espectáculo imenso de uma banda muito difícil de igualar na intensidade e brilhantismo das canções. 

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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

WILCO, É SÓ INVEJA!

Os Wilco tem um disco novo excelente, ainda por cima gratuito, e andam em digressão americana a comemorar 20 anos de vida. O salutar hábito de promover os espectáculos através de cartazes personalizados ao longo do tempo resultou agora num apetitoso livro chamado precisamente "Behind the Fleeting Moment: Wilco Concert Posters 2004-2014" e temos inveja de tudo - dos concertos, do livro e também da maior parte dos mais recentes posters que promovem a corrente tour. Lindos!








quarta-feira, 12 de agosto de 2015

UAUU #275

CORRINA REPP, HMMMM!

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Entra-se em "The Paterns of Electricty" de Corrina Repp e torna-se difícil encontrar a porta de saída. É que o novo disco a solo da menina dos ex-Tu Fawning é um emaranhado brilhante de canções que Peter Broderick ajudou a gravar no final do ano passado e onde o melhor é mesmo "puxar o cobertor" e aproveitar todos os bocadinhos bons de aconchego... hmmm! Melhor ainda é que há já concerto marcado para o escurinho do Passos Manuel no próximo dia 20 de Outubro!  




domingo, 2 de agosto de 2015

VASHTI BUNYAN TAMBÉM NO PORTO?
















Ao anunciado regresso da musa do folk a Portugal para um concerto no Teatro Maria Matos de Lisboa no dia 30 de Outubro junta-se um suposto segundo concerto quatro dias depois na Culturgest Porto que apesar de divulgado não tem confirmação oficial. Seria bom, divinal, fantástico que o Gareth Dickson também viesse!