sábado, 23 de dezembro de 2023

BOM NATAL!

Paz! 

SINGLES #55





















POP CHRISTMAS 
Jingle Bells/Red River Pop 
Espanha: Belter 05-130, 1974 
De frequente avistamento em muitas investidas "vinilicas", este single há muito que consta do volumoso monte de pequenas rodelas alusivas ao Natal que vamos acumulando sem parar. Há nele uma curiosidade que o tornou de imediata recolha e a que se acrescentou uma capa colorida, lá está, muito pop e atractiva atendendo aos supostos autores. 

Dos Pop Christmas não reza qualquer história que a internet permita recuperar a não ser a disponibilidade para venda, barata, do 7" no site habitual mas sem outras referências para além das que constam da capa e da rodela - gravação da Belter espanhola editada em 1974 com dois temas ditos tradicionais, o que se afigura talvez abusivo. Se "Jingle Bells" é efectivamente um tradicional centenário escrito por James Lord Pierpont em 1850 numa taverna do Massachusetts, já "Red River Pop" parece ter sido composto pelo italiano Umberto Decimo aka Ezechiele em 1973, ano em que uns tais Nemo editaram em single a canção

O que por aqui se dá a ouvir são versões em que o sintetizador, então em voga instrumental, é rei, talvez com arranjos de um tal P. Thomas e Raoul Voli que constam citados na contra-capa, tendo o tema feito parte de uma compilação chamada apropriadamente "Synthesizer Hits" do mesmo ano. Estranham-se, por isso, as imagens escolhidas para o desenho da capa onde dois guitarristas, um baterista e um violinista não são devidamente acompanhados por um teclista electrónico! 

Quanto à curiosidade referida, ela diz respeito à tradução de "Red River Pop" que se efectiva num "Pop de Rio Tinto" à maneira... E agora tapem os ouvidos que, por não existir disponibilidade para audição da dupla de versões na rede, tivemos que as recolher em modo roufenho. O que vale é Natal e ninguém leva a mal!


PATRICK WOLF, ONZE SOBRAS!





















O ano que se aproxima do fim marcou o regresso aos discos de Patrick Wolf, embora em pequena dose, com o EP "The Night Safari" editado em Abril. Manifestando, no entanto, que o sétimo álbum está já em preparação, Wolf dedicou-se previamente a recolher e acertar canções sobrantes ou esquecidas em lados B e reunidas agora em "The Circling Sky", álbum há muito suspirado e até imaginado. 

Feita a narrativa, a sequência de onze temas foi depois masterizada em Abbey Road por Alex Wharton, produtor que deu amplitude a "Y's" de Joanna Newsom, disco que Wolf tem por de eterno brilho na sonoridade. Para a capa escolheu-se uma fotografia de Bryan Sansivero, celebrizado pelo livro "American Decay", e a edição em vinil inclui ilustrações do próprio e ainda outros retratos de Wolf fotografados em East Kent no sudoeste inglês.


WILCO, PRENDA RADIOFÓNICA!

Gravadas em Outubro passado nos estúdio da rádio KEXP a convite de Cheryl Waters, aqui ficam quatro pepitas dos Wilco referentes ao último álbum "Cousin". 
Oh oh oh... Oh!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

3X20 ESPECIAL 2023

















20 CANÇÕES X 20 ÁLBUNS X 20 CONCERTOS 
+ 10 Low + 10 High 2023 

Para esquecer listas de espera inadmissíveis, listam-se preferências inconsequentes e alguns azedumes e fortúnios. 

20 Canções: 
1. FEIST - Love Who We Are Meant To »»» 
2. THE NATIONAL - New Order T-Shirt »»» 
3. SAM BURTON - Long Way Around »»» 
4. JESSIE WARE - These Lips »»» 
5. BLUR - Barbaric »»» 
6. ROSE CITY BAND - Mariposa »»» 
7. JULIE BYRNE - The Greater Wings »»» 
8. TIMBER TIMBRE - Confessions of Dr. Wooo »»» 
9. MEG BAIRD - Star Hill Song »»» 
10. ANDY SHAUF - Dont't Let It Go to You »»» 
11. GORILLAZ - Tarantula »»» 
12. SPARKS - We Go Dancing »»» 
13. ANGELA OLSEN - Forever Means »»» 
14. KARA JACKSON - No Fun/party »»» 
15. PJ HARVEY - Prayer at the Gate »»» 
16. ANNA B. SAVAGE - Hungry »»» 
17. TINY RUINS - In Light of Everything »»» 
18. JALEN NGONDA - Come Around and Love Me »»» 
19. NICK WATERHOUSE - Hide & Seek »»» 
20. JONATHAN WILSON - Marzipan »»» 

20 Álbuns: 
1. SAM BURTON - Dear Departed 
2. YUSEFF DAYS - Black Classical Music 
3. FEIST - Multitudes 
4. JULIE BYRNE - The Greater Wings 
5. JESSIE WARE - That! Feels Good! 
6. MEG BAIRD - Furling 
7. KARA JACKSON - Why Does the Earth Give Us People to Love? 
8. PAUL SIMON - Seven Psalms 
9. TINY RUINS - Ceremony 
10. RYUICHI SAKAMOTO - 12 
11. CLIENTELE - I Am Not There Anymore 
12. KING KRULE - Space Heavy 
13. WILCO - Cousin 
14. HARP - Albion 
15. ROBERT FORSTER - The Candle And The Flame 
16. ANDY SHAUF - Norm 
17. ANNA B. SAVAGE - In|FLUX 
18. MODERN COSMOLOGY - What Will You Grow Now? 
19. SQUID - O Monolith 
20. LLOYD COLE - On Pain

20 Concertos: 
1. BILL CALLAHAN, Theatro Circo, Braga, 15 de Abril »»» 
2. KEVIN MORBY, Hard Club, Porto, 6 de Julho »»» 
3. MAKAYA McCRAVEN, Casa da Música, Porto, 19 de Novembro »»» 
4. WILCO, EspazoFest, Nigrán, Pontevedra, 20 de Agosto »»» 
5. LEE FIELDS, Festival Paredes de Coura, 19 de Agosto »»» 
6. KAMAAL WILLIAMS, Matosinhos em Jazz, Jardim Basilio Teles, 16 de Julho »»» 
7. NINA NASTASIA, GNRation, Braga, 10 de Março »»» 
8. MY MORNING JACKET, Primavera Sound, Parque da Cidade, 12 de Junho »»» 
9. DOMI & JD BACK, Festival Paredes de Coura, 18 de Agosto »»» 
10. ANDY SHAUF, M.Ou.Co., Porto, 30 de Outubro »»» 
11. OWEN PALLETT, Auditório de Espinho, 31 de Março »»» 
12. SPARKS, Primavera Sound, Parque da Cidade, 10 de Junho »»» 
13. A GAROTA NÃO, Festival Paredes de Coura, 17 de Agosto »»» 
14. MARC RIBOT: THE JAZZ-BINS, Centro de Arte de Ovar, 21 de Abril »»» 
15. WEYES BLOOD, Hard Club, Porto, 29 de Outubro »»» 
16. SCOTT MATTHEWS, Casa das Artes, Arcos de Valdevez, 13 de Maio »»» 
17. RODA SCOTT, Jazz na Praça da Erva, Viana Castelo, 29 de Julho »»»
18. BLACK MIDI, Festival Paredes de Coura, 18 de Agosto »»» 
19. CURTIS HARDING, Festival TeraCeo, Auditorio Mar de Vigo, 30 de Junho »»» 
20. YO LA TENGO, Festival Paredes de Coura, 16 de Agosto »»» 

10 Low: 
. o novelo cheio de nós dos músicos no Stop;
. o beijo a la Rubiales;
. o radicalismo terrorista do Hamas;
. a brutalidade cega israelita;
. a corrupção, os livros com notas sem ser de rodapé;
. o insuportável caos do trânsito na Invicta;
. o capitalismo abusivo da menina Taylor Swift;
. já agora, os escandalosos 500 mil em modo voo-indemnização; 
. aquele novo e medonho palco do Primavera Sound;
. apesar do perdão, a igreja portuguesa, os abusos, as vítimas...

10 High: 
. o luxuoso total de Burt Bacharach & Elvis Costello;  
. a dose dupla de Wilco em pleno Agosto;
. as barrigadas de ciclismo do Eurosport;
. a saborosa festa flamenca na relva do parque da cidade;
. a nossa selecção, raçuda e exemplar, de rugby;
. a nossa selecção, raçuda e exemplar, de futebol feminino;
. a resiliência dos professores na defesa da escola pública;
. o groove dos sessenta minutos courenses pelo mestre Lee Fields;
. o contínuo brilhantismo do cinema de João Canijo;
. uma pândega irrepetível chamada Erick Slick & The Dayroom Band... 

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

BÜSRA KAYIKÇI, JANEIRAS AO PIANO!















Há um ano atrás anunciava-se a estreia da jovem pianista turca Büsra Kayikçi em palcos portugueses no âmbito do FAN-Festival de Ano Novo de Vila Real. Diversos contratempos motivaram, no entanto, o cancelamento do concerto até nova oportunidade que se agora se confirma. 

No dia 28 de Janeiro, Domingo, pelas 17h00, está agendada para a Casa da Criatividade de São João da Madeira um concerto de apresentação do mais recente disco "Places" lançado em Novembro pela Warner Classics. O novo trabalho, que se pretende um prolongamento do álbum "Eskizler (Sketches)" de 2019, foi escrito e produzido durante a pandemia como suspiro prolongado pelo mar e pela sua eterna inspiração, um processo criativo que teve na filha a única testemunha presencial. Uma prendinha de ano novo imperdível (bilhetes)! 


sábado, 16 de dezembro de 2023

DUETOS IMPROVÁVEIS #281

FLYTE & LAURA MARLING 
Though Love (Flyte) 
Álbum "Flyte", Nettwerk Music Group
Londres, Outubro de 2023

UAUU #704

MARCI, TOP(S) ALTERNATIVO!

Na fragrância pop que percorre as canções dos canadianos Tops flutua uma outra ambiência paralela que só lhe faz justiça. Emana de Marta Cikojevic aka Marci, a teclista da banda que esteve de visita ao Porto em 2017, em temas de pop sincero e descontraído que se estreou em nome próprio com um surpreendente álbum homónimo no verão de 2022. 

As ajudas, então, obtidas para a gravação do disco vieram naturalmente dos amigos próximos com primazia de David Carriere, guitarrista e compositor principal dos referidos Tops e que agora se repete numa colaboração de bons frutos em dois inéditos lançados este ano. Previsível, por isso, novo longa duração para breve. (S)top!


quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

ERLEND OYE E A COMITIVA DE AMIGOS!

Os últimos seis anos serviram para Erlend Oye & La Comitiva se especializarem num género de diversão cantada, fazendo digressões, sessões e farras a partir de Siracusa na Sicília mas com arranques e paragens noutras cidades como Berlim e diversas capitais europeias. Move-os uma frenética força maior que mistura pop e bossa-nova, sonoridade patente em algumas das canções que foram gravando e apresentando ao vivo, o que se confirmou festivo no convívio que presenciamos em Guimarães num serão primaveril de 2018

Agora a aventura alcança uma seriedade formal com a edição de um álbum homónimo disponível pela Bubble Records, casa do próprio Erlend, em Maio no formato digital mas que terá também uma versão em vinil branco em pré-encomenda para quinhentos sortudos que comprarem um bilhete para acesso aos concertos programados pela Europa. É o caso de Lisboa (LAV-Lisboa ao Vivo, 27 de Abril). 

A trupe - Stefano Ortisi, Luigi Orofino, Marco Castello e Erlend Oye - está, assim, mais que pronta para o folguedo, a que se junta a colaboração do prestigiado artista, também siciliano, Roberto from Allicudi, autor do desenho que faz capa do álbum. Em italiano ou inglês, nada como deixar passar a comitiva, melhor, esta linda brincadeira!


segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

MARIANNE FAITHFULLL, AJUDA LEAL!





















O carrossel biográfico de Marianne Faithfull não tem parado desde há sessenta anos - canções, discos, amizades, parceiros, casamentos, separações, dependências, triunfos e desilusões são só parte de uma verdadeira VIDA a que, ainda assim, se somou mais um imprevisto desde 2020. 

Com a chegada da pandemia COVID 19 a artista ficou quase mortalmente afectada, perdendo a consciência de forma intensiva e um consequente dano das cordas vocais, o que a impede de continuar a cantar. Apesar dos tratamentos e melhoras, a doença requer atenção e despesas contínuas o que mereceu a atenção de amigos na tentativa de obter rendimentos imediatos. Foi o caso do disco de poemas ditos com Warren Ellis em 2021 e é agora com "The Faithful: A Tribute to Marianne Faithfull" saído a semana passada. 

A iniciativa teve na historiadora Tanya Pearson a promotora principal. Ela a responsável pelo "Women of Rock Oral History Project" e pelo convite a artistas como Shirley Manson, Cat Power, Iggy Pop, Tanya Donelli (Throwing Muses) ou Peaches para a gravação de dezanove versões maioritariamente no feminino e que, a muito custo e depois de várias respostas negativas, encontrou na pequena editora In the Q o reduto indispensável para edição do disco, um género de manifesto de lealdade quanto à importância inspiradora de Faithfull para as mulheres no mundo do rock. 

Na capa está um desenho pintado por Jill Emery, também ela uma ex-baixista em bandas como as Hole ou Mazzy Star mas que obteve na arte uma diferenciada forma de reconhecimento, contribuição entusiástica e gratuita que, tal como a de todos os outros artistas, se junta numa energia multiplicadora de receitas decisivas na recuperação desejada da condição que a rainha Marianne enfrenta corajosamente. 


quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

PJ HARVEY NO OLIMPO!














No âmbito de uma seleccionada digressão europeia, PJ Harvey deu um único concerto em Paris no dia 6 de Outubro e a aparição foi aproveitada pelo canal ARTE para um sublime registo total agora disponível para fruição (a dádiva prolonga-se até 21 de Abril próximo

A sala mítica do L'Olympia foi o reduto perfeito para um concerto magnético dividido em duas partes - primeiro, a apresentação da totalidade do novo álbum "I Inside the Old Year Dying" em jeito de perfomance contínua e, depois, uma surpreendente dezena de canções mais antigas como "The Glorious Land", "The Words That Maketh Murder", "Angelene", somando ainda as poderosas "Dress ", "Down by the Water" ou "To Bring You My Love". Notável musa no olimpo! 

Vamos lá ver como é que tudo isto resulta na imensidão do Parque da Cidade...

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

DUETOS IMPROVÁVEIS #280

MATT POND PA & ALEXA ROSE 
Bitter Sweet Symphony (Richard Ashcroft) 
131 Records, E.U.A., Dezembro de 2023

ADRIANNE LENKER, PRENÚNCIO DE BELEZA!

Chama-se simplesmente "Ruined", é de uma beleza terrífica e só pode ser o melhor dos prenúncios de um novo álbum de Adrianne Lenker que chegará ao longo de 2024. Trata-se do regresso aos discos a solo da líder dos Big Thief depois da excelente dose de há quatro anos atrás

Para já, há video oficial da imaginação e direcção do mano Noah Lenker e uma digressão marcada para a Europa a partir de Abril sem quaisquer datas ibéricas. 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

THE DELINES, CONTOS DE NATAL!

Como anunciado em Outubro, cumpriu-se a 1 de Dezembro o prazo a partir do qual se podem ouvir dois dos três contos de natal negro que os The Delines prometeram incluir num single de vinil. 

De "Christmas in Atlantis" são, assim, já audíveis o tema título da autoria de Willy Vlautin e "San Leandro Lament", instrumental composto por Cory Gray, trompetista e teclista da banda. Fica de fora o original "Waiting On A Bus Out Of Dallas", também da pena e composição de Vlautin e só disponível na rodela física, mas todos registados no estúdio Bocce, Vancouver, em Washington.

Agendada está uma festa natalícia para dia 23 de Dezembro em Portland, Oregon, onde serão interpretados ao vivo estes e outros temas com ajuda de convidados e amigos, incluindo novas canções que farão parte de um álbum de inéditos já em fase de gravação. Eia!   


ALELA DIANE, SORTIDO DE NATAL!

Chegou aquela altura do ano onde as músicas de Natal ganham primazia, por vezes, irritante em todo o lado. Há sempre boas excepções e se procuram uma delas, e de boa colheita, escusam de vasculhar mais - Alela Diana gravou um disco de versões com uma série de clássicos e isso é muito bom! 

O desejo e aspiração eram já antigos e durante a digressão do início do ano com o trio folk The Hacles (Kati Claiborn, Luke Ydstie e Halli Anderson), o tema de um disco de Natal foi informalmente e a brincar lançado para discussão - o assunto não foi esquecido e, depois do retorno ao Pacific Northest americano onde todos residem, cada um listou as suas canções favoritas para posterior aferição das melhores e possíveis escolhas. 

Logo em Maio, um estúdio da cidade de Astoria no Oregon serviu para, em pouco dias, registar "It’s Always Christmas Somewhere", uma expressão feliz da petiza Hazel, filha de nove anos do casal Kati e Luke, que estranhou estar a cantar e aprender um tal cancioneiro naquela altura do ano... 

De Joni Mitchell ("River") a Stevie Wonder ("One Little Chistmas"), de Patti Page ("Pretty Snowflakes") a Vince Guaraldi ("Christmas Time Is Here"), passando pelos incontornáveis "Silent Night" ou "I'll Be Home For Christmas", são doze as ternuras sortidas que flutuam adequadas, refinadas e simples e, como não podia deixar de ser, há até um versão de vinil vermelhusco!



sábado, 2 de dezembro de 2023

UAUU #703

BILL RYDER-JONES, IECHYD DA!





















Para Bill Ryder-Jones, o mentor e essencial guitarrista dos The Coral que cedo optou por uma carreira a solo, a vida é uma montanha russa de desafios. Há quatro anos, em cima do palco do Hard Club a tagarelar, entre outras histórias, falou sobre a dificuldade de se concentrar, isto é, em atinar para a gravação de um novo trabalho tendo em conta a dificuldade que tinha sentido em conseguir "Yamn", álbum do ano anterior que veio apresentar, em boa hora, ao vivo. 

Passaram cinco anos e é agora certo que o repto irá ser alcançado - em Janeiro é lançado, com capa bonita, "Iechyd Da", uma expressão/título em forma de brinde de "saúde" ou "à nossa", pela Domino Records e o esforço aparenta uma carga de confessada catarse mas também de ambição espelhada numa produção eloquente. Ao ouvir-se os dois primeiros temas, o território sonoro flutua de forma surpreendente em luxuosas orquestrações, coros infantis e harmonia de grandioso efeito a la Dave Fridmann. Prometedor. Cheers, Bill!


FAROL #152















A sessão têm mais de meio ano mas está ainda a tempo de boa escuta e arquivo. A irlandesa Aoiefe Nessa Frances juntou-se a Max Kinghorn-Mills (Hollow Hand) para uma dose dupla de versões da clássica The Lagniappe Sessions - "Shipbuilding" de Robert Wyatt e "Always Something" dos incontornáveis Yo La Tengo foram as escolhidas. Explicações e descarga ainda disponível por esta via.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

HARP, UM GRAAL SENSITIVO!





















Em 2006 os Midlake editaram "Trials of Van Occupanther", um álbum de perfeição absoluta e de muito difícil superação. Vincada, única, a voz de Tim Smith carregava as canções de um veludo pop-rock que ainda tivemos a felicidade de testemunhar ao vivo na vinda conturbada a Coura em 2012. Nessa altura, sem o sabermos e apesar da estreia de algumas canções, Smith estava já quase de partida amigável da banda para cumprir um desejo suspirado - ir para casa e prolongar um retiro duradoiro. 

Ao fim de longos onze anos de silêncio, é amanhã publicado pela Bella Union o trabalho "Albion" em nome de Harp, o cognome que assumiu para um regresso desejado, onde o potencial de compositor se afirma pleno, imenso e, desde já, clássico em volta de um sonho - a velha Inglaterra da Idade Média e da Renascença numa visão aportada da música inglesa dos anos sessenta e setenta mas que deixa, logo à primeira audição, rastos nos australianos The Church, nos Cocteau Twins e nos The Cure que recebeu como conselho prévio. 

Na companhia da esposa Kathi Zung, instalou-se na Carolina do Norte para germinar uma inspiração de conceito negro, onde a poesia e a literatura se confundem com o amor ou a condição humana - o tema "Daughters of Albion" advém de uma elegia de William Blake (1757-1827) ou "Herstmonceux”, canção que remata o disco e que recebeu título depois de uma visita a um castelo medieval de East Sussex no sudoeste britânico. 

O caminho foi, sem dúvida, longo e acidentado mas o resultado eleva-se a uma sublime ode sonora de grandes guitarras e melodias a lembrar, como não, os iniciais Midlake, os de travo sonhador e misterioso. Um graal para os sentidos! 




SHANE MacGOWAN (1957-2023)














Quando os The Pogues começaram, em força, a ser escolha habitual de António Sérgio na frequência modelada, foi a rouquidão nasalada de Shane MacGowan que, depois de soar estranho, se afigurou de deliciosa extravagância. Como resistir a canções como "Summer in Siam", "A Pair of Brown Eyes", "A Rainy Night In Soho", "Dirty Old Town" ou essa bomba agitadora chamada "La Fiesta" que ao vivo, no Pavilhão das Antas, se multiplicaria em gritos, pinchos e empurrões colectivos. 

Estávamos em Abril de 1989 e já, nessa altura, a banda e o seu protagonista eram motivo contínuo de rábulas e episódios na imprensa inglesa e que rapidamente eram sinalizados por cá: muito alcoolismo, algum ácido e um monte de lata e apelão faziam dos The Pogues na figura do seu vocalista um foguetão pronto a explodir em cancelamentos de concertos, incumprimento de contratos ou curas inverosímeis. Sempre à beira da desgraça, há um filme recente sobre, vá lá, a aventura mas este é daqueles testes documentais a que nunca tivemos vontade de assistir. Aos sessenta e cinco anos, o dia de hoje, o último do mês, marca somente o epilogo de uma tragédia tantas vezes adiada. Peace!


terça-feira, 28 de novembro de 2023

THE HIGH LLAMAS, ÓPTIMO!





















Um novo álbum dos The High Llamas é notícia rara e, desde logo, bem-vinda. O mestre Sean O'Hagan demorou sete anos a retomar o trilho-pop de uma banda que, além de fetiche aqui da casa, é uma continua e vibrante chancela de música contemporânea e que só foi intervalada, e bem, pelo disco a solo de 2019

Em "Hey Panda", o décimo primeiro trabalho de longa duração que terá selo da Drag City a partir de 29 de Março próximo, a habitual sonoridade de alquimia nos Beach Boys ou Steely Dan sofre uma actualização dimensional com contribuições de Bonnie Prince Billy e da filha Livvy e novas influências assumidas como a de Tyler The Creator. A palavra de ordem é, pois, optimismo pós-covid, o que transparece no tema-título "tikTok" eleito como primeiro avanço. Ensolarado!

HANIA RANI, ESTRELA CRESCENTE!














Parecem já longínquos os tempos em que a música de Hania Rani se resumia a um piano e voz. Foi assim que se estreou no Porto em 2019 na intimidade do CCOP mas o regresso dois anos depois na companhia da amiga Dobrawa Czocher no M.Ou.Co. pronunciava outros voos e grandeza. 

Os discos que vai gravando assim o confirmam, numa notória envolvente sonora que se serve da subtileza electrónica e atmosférica para criar peças de outro calibre e de que o recente "Ghosts" é o exemplo perfeito. A façanha pode ser testada no notável concerto que o canal Arte disponibilizou este mês, um registo feito em Outubro no festival Nancy Jazz Pulsations em França. 

Não admira, por isso, que os próximos concertos marcados para Portugal alcancem agora plateias nobres e bem maiores - a aula Magna de Lisboa no dia 21 de Abril e Casa da Música do Porto (bilhetes) no dia seguinte - naquilo que evidencia uma artista crescente em ascensão imparável!
 

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

DUETOS IMPROVÁVEIS #279

VILLAGERS & LISA HANNING 
The Little Drummer Boy (Katherine Kennicott Davis) 
Domino Records, Inglaterra, Novembro de 2023

PRIMAVERA SOUND PORTO: AMANHÃ ANDA À RODA!





















Amanhã, terça-feira, dia 28 de Novembro, um pouco mais cedo que o habitual, anda à roda o euromilhões dos concertos do Primavera Sound Porto para 2024 (6 a 8 de Junho, quinta a sábado). 

Cada ano com menos entusiasmo mas, ainda assim, o melhor festival da cidade, a nossa aposta é esta (Shellac, como sempre, não vale): 
 - 5 números; 
    Pulp, Phoenix, FKA Twigs, PJ Harvey, Lana Del Rey; 
 - 2 estrelas; 
    Blonde Redhead, Badbadnotgood.

ACTUALIZAÇÃO: 
em cheio em três números (Pulp, Pj Harvey, Lana Del Rey) e uma estrela (Blonde Redhead). Ainda não é desta que os Phoenix aterram na Invicta.
Para o mal e para o bem, o hip-hop e a música brasileira evaporaram-se do cartaz, substituídos por uma dose inaudita de punk/hardcore norte americano. Salvam-se a Julie Byrne, os Lambchop, a Mitski, os Lankum, os Ths Is The Kit e pouco mais.   

sábado, 25 de novembro de 2023

UAUU #702

A CANTIGA É UMA ARMA!





















Hoje, dia 25 de Novembro, vale a pena falar do 25 de Abril. O dos corajosos músicos, editores, promotores ou jornalistas que através das cantigas fizeram revolução cultural. 

Um pouco dessa mundividência está contada na recente edição da revista "Visão História" intitulada "Quando a cantiga era uma arma" e, atendendo aos tempos perigosos que vivemos, as lições que a música inspirou, mesmo a brincar, continuam, porventura, mais que essenciais. Leitura, por isso, recomendável!

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

MY MORNING JACKET, LAMENTO DE NATAL!





















Em 2011 os My Morning Jacket gravaram um punhado de canções de Natal reunidas num EP de exclusiva edição digital, um daqueles fogachos de época logo esquecidos mas que confirmava o gosto jocoso da banda na temática já tratada dez anos anos antes num outro EP satiricamente chamado "My Morning Jacket Does Xmas Fiasco Style".

No dia de hoje, a tal sexta-feira negra com direito a nova dose do RSD-Record Store Day, há cinco mil cópias disponíveis de "Happy Holiday!", um álbum em formato de bonito vinil transparente com respingos brancos e que reúne os cinco temas de 2011 e quatro novas canções, um conjunto jeitoso de versões e originais que começa com este "Feelin Sorry"... Não faz mal, mandem sempre!

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

ALABASTER DePLUME, OURO (AO) VIVO!















O indescritível performer Albaster DePlume, autor do excelente disco "Gold" de 2022, revisitou as sessões de gravação então realizadas no hub criativo Total Refreshment Centre de Londres e, depois de apurada selecção, produção e rearranjo nos primeiros meses do ano, moldou um novo álbum saído em Setembro com o título de "Come With Fierce Grace". Mais ouro, portanto.

As peças são, na sua maioria, instrumentais sem filtro de rudimento assumido mas também de uma candura espontânea que resulta de uma composição performativa de acto único improvisado então praticado e no qual participaram vinte músicos e cantores, com destaque para a guitarra da amiga Rozi Plain ou da bateria de Ursula Russell.

Para o primeiro trimestre de 2024 está agendada uma digressão seleccionada por alguns países europeus que aportará a Portugal a três cidades - Lisboa (29 de Fevereiro, Galeria Zé dos Bois), Coimbra (1 de Março, Salão Brazil) e Braga (2 de Março, sábado, GNRation), repetindo visitas a locais onde tocou em 2022 e alcançando, finalmente, território minhoto por onde também devia ter passado...


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

KEATON HENSON, O SUAVE!

O disco "House Party" que Keaton Henson lançou em Junho último tem a partir de hoje uma versão acústica na sua aparente totalidade. Com selo da Play It Again Sam, de "House Party Acoustics" e para já, só se dão a ouvir dois excelentes pedacinhos naquele jeito suave com que esperamos há muito por uma apresentação ao vivo... 

Entretanto e confirmando a notável polivalência artística e uma fase airosa, há já prendinhas de Natal para comprar e uma longa entrevista reveladora para ler.


ROBERT FORSTER, REGRESSO AO PORTO!















A distância ainda é considerável mas é, desde já, um gosto saber que Robert Forster tem concerto agendado de regresso ao Porto no dia 3 de Junho de 2024. Nessa segunda feira, no M.Ou.Co., o ex-The Go Betweens fará a apresentação a solo de algumas da maravilhas do mais recente álbum "The Candle And The Flame" e de pérolas da banda que o consagrou. 

A visita insere-se numa digressão de cinco datas por Espanha e que tem na Invicta a única confirmação lusitana, uma dádiva que se sucede ao excelente concerto de 2019 no Passos Manuel. Imperdível. Já há bilhetes.


terça-feira, 21 de novembro de 2023

MAKAYA McCRAVEN, Casa da Música, Porto, 19 de Novembro de 2023

A estreia de Makaya McCraven numa sala portuguesa teve no anfiteatro maior da Casa da Música um abrigo de eleição. Feita a apresentação do trio parceiro - Anisha Rush no saxofone, Matt Gold na guitarra e Junius Paul no baixo - o serão logo embarcou numa notável lição de jazz que abriu com a suite "Seventh String" do mais recente disco "In These Times" e só terminou ao fim de setenta minutos de ininterrupta classe mestra. 

Pairou, assim, uma tensão, uma corrente de vibração contínua que o excelente som de sala realçou de forma apreciável e rara, sonoridade cujo comando, ora subtil ora impositivo, se diluiu a partir da execução da bateria que McCraven domina e espraia de forma diligente e fina e que, sem querer, nos fez muitas vezes distrair quanto à qualidade dos instrumentos complementares. Não foi o caso do penetrante, inusitado e longo solo/jogo de baixo introdutório à maravilhosa "Dream Another", uma daquelas peças que, antes de o ser, já era um clássico de jazz dito de câmara. Inesquecível. 

Ao público, que preencheu dois terços da sala, restou adivinhar os melhores momentos para ir aplaudindo o fortúnio sucessivo e que o único encore haveria de acentuar com a interpretação de um prometedor e envolvente novo tema magistralmente permeado a "This Place That Place" com que se deu findo o recital. Ovação de pé instantânea e merecida para um concerto que não vai ser fácil de destronar do pódio de melhores do ano!

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

AMARO FREITAS, IMERSÃO NATURAL!















O dotado pianista brasileiro Amaro Freitas lançará em Março próximo o terceiro álbum de originais de nome "Y'Y", o que traduzido do dialecto Sateré Mawé (um código ancestral indígena) significa "Água ou Rio". O trabalho é uma homenagem à floresta da Amazónia e aos rios do Norte do Brasil, bem como ao poder dos espíritos encantados que "habitam" essas dádivas da natureza. 

Para a respectiva capa foi escolhida uma fotografia sub-aquática obtida no Rio Negro em Manaus, onde Freitas, mesmo sem saber nadar, imergiu perante a sensibilidade do fotógrafo Hélder Tavares, tempos de reencontro com um outro Brasil que foi percorrendo nos últimos quatro anos e que o convenceu ainda mais sobre a importância da preservação ambiental como resposta urgente às mudanças drásticas do clima. 

Essa expressão respeitosa obteve uma abordagem diferenciada nos dois lados do disco: no A, uma conexão sonora com a terra e a sua ancestralidade com ajudas de músicos que foi conhecendo em tournées fora do Brasil como Hamid Drake na bateria, Shabaka Hutchings na flauta e Aniel Someillan no baixo (por exemplo, no tema de avanço "Encantados", vide abaixo) e onde consta a mais antiga e magistral peça "Dança dos Martelos" já anteriormente apresentada ao vivo; no lado B, uma assumida prova da permeabilidade do novo black jazz vanguardista onde colabora o guitarrista Jeff Parker ("Mar da Cirandeiras") e a harpista fabulosa Brandee Younger ("Gloriosa"), tema que encerra o álbum. As novas texturas são ainda resultado de uma inspiração no piano de John Cage e na percussão de Naná Vasconcellos ("Viva Naná" é nome de um dos temas). 

O registo foi realizado nos estúdios Carranca de Recife e no Maxine Studio de Milão en Itália, com acertos posteriores em Los Angeles e Brooklyn, numa produção do próprio e de Lercio Costa e Vinicius Barros Aquino. Terá etiqueta da Psychic Holtline americana e previsível digressão pela Europa que se sabe chegará a Lisboa no dia 22 de Março no âmbito do novo festival Belém Soundcheck do CCB e que se espera, e deseja, alcance por essa altura subidas a outros palcos do país.


quinta-feira, 16 de novembro de 2023

SONDRE LERCHE, TRADISOM NÓRDICA!





















Nos últimos dez anos, nas vésperas de Natal, há um hábito que Sondre Lerche não dispensa - no regresso a casa a Bergen, Noruega, é obrigatório uma visita ao estúdio do amigo Matias Téllez para o registo de uma versão de um hit referente ao ano que se aproxima do fim. 

O pecúlio foi agora reunido no disco "Understudy", com edição limitada de vinil e com imagem de capa obtida no cimo do monte Fløyen, uma das sete colinas que rodeiam a cidade e bem perto do referido estúdio. Ao longo da década foram eleitos temas de Miley Cyrus, com que tudo começou, Sia, Ariana Grande duas vezes, Selena Gomez, Bob Dylan, Ladya Gaga, Doja Cat e Taylor Siwft, a cujo "Anti-Hero", a eleição de 2022, se deu imagens recentes. 

Ao conjunto analógico acrescentam-se, em regime digital, mais cinco valentes versões de Scott Walker, Madonna, Prefab Sprout, Beyoncé e o clássico "Moon River". No dia 22 do próximo Dezembro a bondosa "tradisom" nórdica terá novo reforço. Aceitam-se sugestões. Esta é a nossa »»»


segunda-feira, 13 de novembro de 2023

TIMBER TIMBRE, PRODIGIOSO!















O cantor e guitarrista Taylor Kirk aka Timber Timbre desenvolveu desde 2010 uma estética folk facilmente reconhecível e de dotação hipnotizante. A leve negrura da maioria das canções funciona como banda-sonora original para curtas metragens cativantes, audíveis, por exemplo, no disco "Sincerely, Future Pollution" de 2017, o que volta acontecer com a mais recente maravilha. 

Em "Lovage", editado pela Integral Music em Outubro, requisita-se aquele recolhimento necessário a uma contemplação de longo alcance e de poética sonora compensadora que desperta suspiros por um concerto de aconchego. Há por estes dias uma digressão pela Europa em formato trio sem, contudo, qualquer ancoradouro ibérico, o que é realmente uma pena. Aqui ficam, no entanto, estes prodígios.



UAUU #701

sábado, 11 de novembro de 2023

DUETOS IMPROVÁVEIS #278

VASHTI BUNYAN & DEVENDRA BANHART 
How Could You Let Me Go (Lynn Castle) 
Àlbum "Light in the Attic & Friends", 
Light in the Attic Records, E.U.A., Novembro de 2023

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

H. HAWKLINE + DEVENDRA BANHART, Theatro Circo, Braga, 8 de Novembro de 2023

O nome de Huw Evans aka H. Hawkline apesar de discreto e desconhecido para uma maioria, tem estado involuntariamente presente em alguma da boa música que vamos "ouvendo". O galês, que é também designer, andou alguns anos por Los Angeles e já fez digressões e guitarradas com o próprio Devendra Banhart em 2015, discos com a conterrânea Cate Le Bon de quem foi namorado, partilha de estúdio e palcos com outra namorada chamada Aldous Harding que chegou ao Porto em 2019 na função de baixista e também desenhou e tocou baixo para álbuns de Kevin Morby ("Harlem River", por exemplo). 

Vê-lo a abrir o concerto de Devendra Banhart acabou, assim, por ser uma partilha natural atendendo a que a digressão de apresentação de "Flying Wing", disco onde o nome de Cate Le Bon se torna influente, conta com ele no importante papel de guitarrista. Foi com a guitarra que se sentou sozinho na frente de palco em meia-hora divertida e atenta para um desfiar de um punhado de canções próprias contidas no mais recente projecto a solo "Milk for Flowers" editado em 2023 e que mereceu boas referências. O momento teve o mérito de despertar a atenção para a notória qualidade de uma composição a que não se dever perder o rasto e, acima de tudo, o gosto.

 

Serão para aí umas sete as vezes que já presenciamos Devendra Banhart em cima de um palco. De Lisboa a Vigo, de St. Maria da Feira à Zambujeira, passando pelo Porto ou Espinho, assistimos a concertos de ondulação diferenciada de registo free, pastoral, acústico ou pândego. Desconhecíamos, no entanto, a versão desinteressante. 

Talvez pela dormência e estranheza de "Flying Wig", o novo álbum que suporta a actual digressão, a primeira parte do espectáculo redundou num irregular prolongamento dessa infiltração agravada por uma amplificação sofrível da voz, apesar de toda a competência do quarteto de suporte onde a subtileza marcante do baixo cedo se fez notar. A habitual interacção e conversa com o público foi, amiúde, de imperceptível e propositada indistinção a que mesmo um "any requests?" não obteve continuidade ("Daniel" e "Santa Maria da Feira" foram, de imediato, os mais requeridos mas Devendra limitou-se a reproduzir, ao de leve, os primeiros versos e acordes em jeito de provocação excêntrica). 

Só com um "Seahorse", esse sim, de perfeição cimeira, o espectáculo ganhou, de facto, algum do frenesim que caracteriza um artista que dávamos como quase imbatível na forma como, ao vivo, fermenta intencionalmente a vibração. Paradoxal, esse habitual balanço festivo nem mesmo no curto encore, que fez a gentileza de apresentar, se notou vontade e disposição para algo mais a que a sala de visitas minhota suspirava na redenção mas que resultou numa estranha e inesperada decepção.   

3X20 NOVEMBRO

terça-feira, 7 de novembro de 2023

(RE)VISTO #112





















RECLAMAR AMY 
de Marina Parker. Londres: Curious Films/BBC, 2021 
RTP2, Portugal, 4 de Novembro de 2023 
Passados meia dúzia de anos sobre a estreia de "Amy - A Rapariga Por Detrás do Nome" (2015), a família Winehouse ganhou força para promover uma outra visão sobre a filha, zangada e amargurada com o conteúdo maléfico que tal abordagem biográfica lhe tinha causado. 

Apelando da credibilidade sempre reputada da BBC e reunindo vontades, testemunhos credíveis e, é bom dizer, coragem para retomar uma história trágica de uma ente querida, dizem, injustiçada pela opinião pública, este é um documento que tenta reclamar da iniquidade sobre Amy Winehouse nas figuras principais da mãe Janis e do pai Mitch, insistindo em contar uma história diferente dez anos depois da morte da filha, um hiato de sofrimento que o investimento e colaboração neste projecto sugerem ser, em simultâneo, um alívio e uma homenagem. 

Na voz da mãe narradora e no vigoroso empenho do pai em reconhecer erros e atropelos, somos impelidos a recordar uma infância plena de traquinice e felicidade a que o divórcio dos pais não colocou travão. Os desequilíbrios da jovem artista no futuro não foram, pois, uma consequência de má educação que a estreia aos 19 anos, com o esquecido e já maduro álbum "Frank", sugeria ser só o princípio de um estrelato longo. As nuvens negras começaram, então, a acumular-se e o filme não deixa de as esconder havendo, para isso, uma série de arquivos familiares que primam pelo ineditismo e surpresa mas sem o exagero do tal documentário prévio. Não falham, assim, o avivar de chagas como a bulimia, o álcool, as drogas ou a depressão e continua a não ser fácil percebê-las ou justificá-las. Também não valia a pena. 

Talvez se possam destacar dois momentos desta tentativa definitiva de remexer na desgraça de Amy Winehouse - as imagens da visita a um género de arquivo de bens da cantora - fotografias, vestidos ou calçado, discos de ouro, guitarras, etc. - que os pais alugaram para recolher todos os objectos e memórias da filha e cujo destino foi dado a um leilão solidário e também o testemunho de uma jovem artista beneficiária da acção de uma fundação instituída como o nome da cantora para a recuperação e reabilitação de casos semelhantes de dependência e, consequente, doença mental. 

Em menos de sessenta minutos, foram essas as duas únicas sequências que nos fizeram sair de um masoquismo desnecessário que, fica prometido, acaba mesmo por aqui. Para quem quiser insistir na intoxicação, o caminho é este.

JONI MITCHELL 80!

Parabéns rainha Joni Mitchell!


segunda-feira, 6 de novembro de 2023

DAMIEN JURADO, INQUIETANTE ESTRANHEZA!



















Um novo álbum de Damien Jurado, o terceiro no mesmo ano, tem audição disponível via youtube, um dos raros recursos digitais para o fazer. Trata-se de "Passing Giraffes" e foi registado no mesmo local e, supostamente, no mesmo período e com os mesmos músicos do recente "Motorcycle Madness" editado há menos de um mês

Mantêm-se, assim um género de negação misteriosa de um músico sem praticamente redes sociais, promoções assumidas ou digressões agendadas, embora o disco se encontre já à venda na própria editora - a Maraqopa Records - e com a versão de vinil só pronta em Fevereiro do próximo ano mas com encomendas barradas a partir da Europa... 

Quanto aos dez novos temas, denota-se uma composição diversa como que destinada a ser interpretada e cantada por outros que não Jurado, o que acontece em quase metade do disco com o aparecimento de vozes femininas e arranjos cinemáticos, um género de música para filmes imaginados e até, talvez, projectados. 

Podem confirmá-lo aqui com a peça inicial "Hello, I'm Leaving" e no easy listening de "I Cannot Want Such a Thing". Tudo estranho, tudo de entranho exigente, tudo inquietante!