Depois de apagadas as luzes da sala, foram esses estímulos atmosféricos previamente gravados que soaram de fundo na preparação e assentar da plateia para o destaque iluminado das duas executantes em palco e no submergir das percussões do grande piano, primeiro, e das cordas, depois, a merecer a atenção e confluência dos ouvintes expectantes mas nitidamente concentrados. O mesmo tinha já acontecido na passagem a solo de Rani pelo CCOP em 2019, um pairar de silêncios e quase cessar de respiração no fruir de uma terapia instrumental de excelência e que implica calma e respeito na escolha dos momentos de aplauso ou interrupção.
Foram, pois, poucas ou nenhumas as paragens para introduzir títulos das peças ou justificações supérfluas, excluindo elogios e agradecimentos ao país, à cidade e ao clima em dois momentos, um para cada uma das jovens compositoras, expressões sorridentes e sinceras de cortesia que não se repetiram na condição de fazer com que a música expressiva e impressiva fosse continuamente venando os sentidos e a fruição.
Mesmo com alguns sustos técnicos ameaçadores vindos da amplificação, e que se expeliram sonoros durante o encore ao jeito de um tiro inesperado, nada podia malsinar uma competência vincada de nos fazer fechar os olhos para estreitar a beleza das combinações e alternâncias das teclas do piano vertical e do grande grande piano ou o magistral pizzicato e repetição vibrante saído do violoncelo. A essa mistura perfumante de classicismo e vanguarda, que avançou em equilíbrio ouvidos dentro pelo milagroso silêncio e respeito adulto da plateia, foi destinado um forte aplauso de reconhecimento e satisfação, rematando um recital de saborosa alienação natural e sonhadora. Uma raridade!
Sem comentários:
Enviar um comentário