quinta-feira, 31 de março de 2022

PERFUME GENIUS, DANÇAS OCULTAS!





















Em Outubro de 2019 estreou no The Moore Theatre de Seattle (E.U.A) a coreografia imersiva "The Sun Still Burns Here" da autoria de Kate Wallich que correu depois várias cidades do país como Minéapolis, Nova Iorque ou Boston. A música expressamente composta para o espectáculo fê-la Mike Hadreas aka Perfume Genius que, na altura, disponibilizou "Pop Song" e "Eye in the Wall", para ouvir abaixo, como amostra de um projecto sonoro de maior amplitude reunido agora no álbum "Ugly Season" a editar a 17 de Junho pela Matador Records

Com ajuda na produção do guitarrista e também compositor Blake Mills, há na dezena de temas uma propositada euforia agitadora que incita ao movimento suado de uma pista de dança, experiência desenvolvida com Alan Wyffels, colaborador e parceiro de longa data. Para melhor se entender a inspiração e conceito foi preparada uma curta metragem que Hadreas dirigiu sob supervisão de Jacob Satterwhite, artista visual a que Solange Knowles recorreu em 2019 para o documentário "When I Get Home", e que terá estreia na mesma data de saída do disco. 


THE AVALANCHES NO CLUBE!















O reactivar da promotora Gig Club com sede no Porto far-se-á com a agora dupla australiana muito cá da casa The Avalanches em concertos marcados para 28 (Lisboa Ao Vivo) e 29 de Junho (Hard Club, Porto). Pormenores quanto aos bilhetes de acesso podem ser consultados aqui

Get a drink, have a good time now, welcome to paradise...

quarta-feira, 30 de março de 2022

THE NATVRAL, NATURALMENTE!





















Data de Julho passado o anúncio de uma primaveril digressão europeia de Kip Berman, o senhor The Pains Of Being Pure at Heart agora em modo solitário denominado The Natvral, com passagem por Portugal marcada para 7 de Maio mas na altura sem cidade ou local definidos. 

Pois, o palco será o do agora muito requisitado M.Ou.Co. no Porto e Berman fará nessa última data da tournée a apresentação à guitarra eléctrica de algumas versões e novas canções como "A Portrait of Sylvie Vartan", eleito recentemente para uma pequena rodela de vinil de tiragem limitada e capa de desenho admirável. Ficava lá bem um autógrafo, naturalmente...


DAMIEN JURADO, ROGER?

Over and out. 
Perfeito!

terça-feira, 29 de março de 2022

ANGEL OLSEN, DISCO E CONCERTOS!





















Um novo álbum de Angel Olsen terá edição já em Junho pela Jagjaguwar com o feliz título de "Big Time" e tem fotografia de capa da autoria do português Rui Oliveira. Nele sobressairá, previsivelmente, um expansivo sentimento quanto ao amor ou à pessoa amada mas também quanto à vulnerabilidade e a dor provocadas pela perda e a desconfiança, agravadas pelo falecimento dos pais num curto espaço de tempo. 

Nada como um retiro californiano em Topanga Canyon durante um mês para temperar ideias e esboços sérios das dez canções depois parafinadas pelo mago Jonathan Wilson no seu Fivestar Studios de Los Angeles com a contribuição de Drew Erickson no piano e orgão e de Emily Elhaj no baixo.  

A prova inequívoca pode ser testada em "All the Good Times", o primeiro avanço que abre o disco mas há já encontro duplo marcado para 26 e 27 de Setembro na sala do Capitólio em Lisboa, restando o dia seguinte livre (Porto?) antes da incursão de vinte datas pelo restante continente europeu...

CHILLY GONZALES, DIA DO HOMEM DO PIANO!















Atendendo à miséria de eventos (nenhum) pelo Porto relativos ao Piano Day que hoje se comemora, uma lacuna incompreensível numa cidade que organiza um festival do piano (o Pianofest) e tem na Casa da Música, por exemplo, um local onde com alguma informalidade e facilidade se faria sem muitos custos a merecida evocação, resta à distância a exemplar programação do canal Arte, a habitual mas agora paga lista de concertos da reputada Deutsche Grammophon ao longo de uma semana ou a atenção incontornável à azáfama de Chilly Gonzales, o verdadeiro homem do piano! 

Primeiro, no cinquentenário da banda sonora do filme "Summer Of' 42" de 1971 da autoria do francês Michel Legrand (1932-2019), premiada com um Óscar, coube a Gonzales reinterpretar esse tema título para abertura do disco "Legrand (re)imagined: a tribute project by contemporary composers and pianists", do qual não são conhecidos muito mais pormenores.

 

Segundo, o dj e compositor de música electrónica inglês Richard Hawtin, encarnando o fato de Plastikman, editou em 1998 o opulento disco "Consumed" que agora surgirá com uma nova roupagem tricotada por Hawtin e Gonzales ao longo de mais de duas décadas. Redenominado de "Consumed in Key", o projecto teve acompanhamento e co-produção do conterrâneo Tiga e terá edição formal em triplo vinil pela Turbo Recordings já na próxima sexta-feira, 1 de Abril.

 

Terceiro, respondendo ao desafio proposto pela plataforma Deezer para o Piano Day a decorrer e no âmbito de uma série alusiva a Mozart ("Mozart Recomposed"), Gonzales inventou um "Menuetto Gonzissimo", versão pianística do "Menuetto" da Sinfonia n°25 composta em 1773 pelo génio de Salzburgo em Sol menor K. É o maior!
 

HANIA RANI, KIEV!

A jovem e talentosa compositora polaca Hania Rani não esperou pelo Piano Day, que terá a sua sétima edição já hoje, para promover mais um pouco de ajuda no estancar das feridas causadas por uma guerra na Ucrânia que se instalou inesperadamente na realidade do seu quotidiano. 

Sem conhecer a cidade de Kiev, foi esse o título que deu a uma inédita composição com destino solidário para o povo desse país e que se encontra disponível para descarga mediante uma qualquer e bem-vinda contribuição. O desenho da imagem que acompanha o tema pertence a Duncan Bellamy dos ingleses Portico Quartet, parceiros na mesma editora Gondwana Records, e foi realizado a partir de fotografias obtidas o ano passado na cidade capital pelo amigo e realizador de cinema Neels Castillon. 

segunda-feira, 28 de março de 2022

UAUU #638

YUMI ZOUMA, INDICATIVO POP!





















De forma incompreensível, o colectivo neo-zelandês Yumi Zouma nunca mereceu toque de campainha longo aqui na casa. Está mal. Presente em muitos dos nossos alinhamentos mensais de canções, a qualidade da receita sublinha a necessidade de corrigir o erro logo agora que um novo álbum acaba de ser editado para gáudio da veia mais pop de que somos viciados dependentes de longa duração. 

Já com quase uma década de actividade, o quarteto tem no nome de baptismo uma junção de apelidos de dois amigos insistentes na urgência efectiva de se juntarem numa banda para compor canções e tocar ao vivo e na voz de Christie Simpson o sopro flutuante que irradia leveza e adição. Depois há, quase sempre, uma aura sonhadora de good feeling vibe com tradição na primeira das décadas do século mas que continua a ter efeito consistente e que alcança em "Present Tense", o tal novo registo, uma recomendável quarta dose de refrescos para juntar, a qualquer momento, a outros das Haim ou dos Tops! 

O disco assentou em colaborações síncronas e virtuais a partir de residências de Nova Iorque, Londres e a originária Nova Zelândia, hábito já praticado antes da chegada da pandemia mas agora reforçado com mais tempo de maturação, inspiração e depuração de ideias e demos esquecidas transformadas em pedacinhos de pop orelhuda. Aconselhamos a trilogia de temas abaixo a que o realizador americano Alex Ross Perry emprestou um brilhante cunho estético e visual. Um bom indicativo!



quinta-feira, 24 de março de 2022

BOB DYLAN, O NOBEL FILÓSOFO!





















Sua reverência Bob Dylan, prémio Nobel da Literatura em 2016, continua a surpreender por um distender artístico multifacetado que se dá a conhecer na pintura, na música ou na escrita. Quase aos 81 anos, é o autor de "A Filosofia da Canção Moderna", livro iniciado em 2010 que reúne sessenta ensaios sobre a composição de canções de artistas como Elvis Costello, Hank Williams ou Nina Simone e que, em Novembro, terá edição simultânea na Europa também em português a cargo da Relógio d'Água

Na fotografia da capa, dada a conhecer na versão inglesa, surgem juntos Little Richard e Eddie Cochran, lendas dos primórdios do rock'n'roll, ao lado de Alis Lesle, cantora underground do rockabilly americano. Lá dentro haverá uma sumarenta selecção de 150 outras imagens. 

No livro, sucessor de "Crónicas" de 2004 onde pôs a descoberto algumas das suas memórias, são analisadas algumas de suas canções favoritas, discutindo temáticas como a armadilha das rimas fáceis ou explicando como o bluegrass, uma das formas mais tradicionais da country music, está ligado ao heavy metal. Temos filósofo... pirata!

WILL SAMSON, SAUDÁVEL!





















Na senda da longa auto-curadoria sobre identidade, pertença ou recolhimento, aproxima-se mais um álbum de Will Samson pleno de inquietude e beleza. Para trás ficou a parceria com Message To Bears traduzida num álbum formal editado o ano passado mas já nessa altura, ou seja, de Janeiro a Dezembro, o esforço meditativo e de composição exploratória tinha um destino - "Active Imagination", disco a sair em Junho pela Human Chorus Records

O mistério, esse, mantêm-se críptico e sonhador mas as sonoridades revelam-se num ou dois mundos muito próprios que impressionam pela constante surpresa e efeito hipnotizador descoberto há quatro anos atrás e de imediato apego activo e saudável!


quarta-feira, 23 de março de 2022

DUNCAN MARQUISS, BELAS PAISAGENS!















Do saudoso projecto escocês The Phantom Band já não há boas notícias desde 2015 (álbum "Fears Trending"). A inactividade dos seus membros é somente aparente pois é contínua a ligação a projectos artísticos ou sonoros ou em aventuras a solo como aconteceu com Rick Antony, o vocalista disfarçado sob a capa de um tal Rick Redbeard promotor do distinto "No Selfish Heart" em 2014. Chegou agora a vez do guitarrista Duncan Marquiss

A estreia tem no título uma descrição quase poética do que se dá a ouvir: "Wires Turned Sideways In Time", editado pela Basin Rock no início do mês, preenche-se de instrumentais onde a manipulação de uma guitarra eléctrica se confunde com ambientes acústicos que tanto nos remetem para uma urbanidade nocturna ou para o ventar das árvores e da corrente dos rios do Norte da Escócia. 

Registado na garagem da casa dos pais na natalícia Aberdeenshire, as texturas em sobreposição vão lentamente tomando caminhos cruzados em direcção a uma audível rede natura que se aprende a observar e guardar, experiência certamente ainda mais instante em versão ao vivo com a que aconteceu na recente digressão (Fevereiro) por Inglaterra na primeira parte das apresentações de Steve Gunn. Belas paisagens!



BILL FAY NO FEMININO!

A prometida quadratura de singles com reinterpretações de temas de Bill Fay está, por agora, cumprida. Depois de Steve Gunn e Kevin Morby coube a Julia Jacklin e a Mary Lattimore a primazia de completar a série de pequenas rodelas a editar já em Abril.

Para o efeito, a primeira escolheu a balada "Just To Be A Part" e a segunda o original cantado "Love Is The Tune", mas onde a voz de Fay se passou a imaginar entre delicados acordes de harpa. No mesmo mês, estará nas lojas a segunda parte da colectânea "Still Some Light", o motivo dos convites e da excelência das versões.


terça-feira, 22 de março de 2022

ADAM GREEN, UMA MO(u)CADA!





















Falar em Adam Green é falar de subversão certa quanto ao que pode ser uma canção, das boas. Depois da longínqua cisão dos Moldy Peaches, onde fazia parelha com Kimya Dawson, a carreira a solo foi na primeira década deste século uma robusta e imprevista catadupa de seis discos a que muitas vezes se colou uma estranha etiqueta a dizer "anti-folk". O ar distraído e descuidado da figura nunca escondeu, contudo, a qualidade da composição ora sarcástica ora gozona e que nos recorda a aposta em versões inesperadas dos The Libertines do amigo Carl Barat ou até dos The Beach Boys ("Kokomo", claro está). 

As aproximações a três dimensões a uma sala de espectáculos nas proximidades foram, mesmo assim, uma raridade (falhamos um memorável serão do FPGSentada de 2006) que se explica por um casamento em 2013 já com dois rebentos e uma atenção maior a outras capacidades artísticas desde sempre assumidas (o desenho e a pintura) ou a aposta séria em filmes de brincar como a que por aqui noticiamos em 2016 referente ao projecto "Aladino" e a consequente banda sonora. 

O regresso aos discos em 2019 fez-se com "Engine of Paradise" mas um novo e arrojado projecto estava já na forja - um épico filme/poema chamado "1,000 Years of Dark Ages" de narração e escrita própria com realização do animador e compincha Tom Bayne e que recentemente passou a estar disponível para completo desfrute

Surreal... mas não tanto como a noite que se anuncia de 10 de Maio próximo no M.Ou.Co. em Campanhã quando se der o pontapé de saída da digressão europeia "That Fucking Feeling Tour" e na qual se fará acompanhar de outra "peça" complementar que responde por Turner Cody. Uma mo(u)cada


FAROL #143











O gosto de Andy Cabic aka Vetiver por canções antigas teve já direito a álbum inteiro de versões de adequado título "Thing Of The Past" (2008), prática, mesmo assim, a que retorna agora com gosto. 

Para a incontornável série Lagniappe Sessions escolheu "There Comes a Time" de Bert Janch incluída no disco "L.A. Turnaround" de 1974 e a rebuscada "It's What You've Got" de Pete Dello and Friends de 1971. Façam o favor...

segunda-feira, 21 de março de 2022

AROOJ AFTAB, UM ASSOMBRO!

Como seria previsível, a excelência do disco "Vulture Prince" que Arooj Aftab editou o ano passado mereceria uma reedição vistosa e, já agora, numerosa que permita a aproximação à versão em vinil, rodela rapidamente transformada em raridade inacessível. 

No mês de Junho, a mítica Verve Records, para onde a artista se transferiu em Dezembro passado, publicará uma versão luxuosa do registo a que se acrescentará uma nova canção ao lado de Anoushka Shankar na cítara e Maeve Gilchrist na harpa. O inédito, maravilhoso, chama-se "Udhero Na" ("Please Undo" em inglês), foi escrito há mais de quinze anos e tocado ocasionalmente ao vivo mas sem qualquer edição oficial. Um assombro!

DUETOS IMPROVÁVEIS #256

ASFAR HUSSAIN & AROOJ AFTAB 
Mehram (Hussain) 
Coke Studio, Season 14 
Believe Music, Paquistão, Janeiro de 2022

UAUU #637

quinta-feira, 10 de março de 2022

AMAR O FREITAS!





















A fulgurante reputação internacional do brasileiro Amaro Freitas só pode ser surpreendente para quem nunca ouviu os seus discos. Na sua essência jazzística, o jovem pianista de Pernambuco cedo integrou um circuito internacional sedento da frescura do seu samba-jazz polvilhado de ritmos africanos e que, em Portugal, teve já pelo menos apresentações na Casa da Música em 2018 e no ano seguinte em Oeiras. Avizinham-se novas oportunidades para lhe testar o sabor... 

Entre a excelente programação do Auditório de Espinho prevista para Abril, reservem na agenda o dia 29, sexta-feira, noite em que, previsivelmente, o trio de Amaro Freitas fará a apresentação do magistral terceiro álbum "Sankofa" (2021), nome de ave africana que voa de cabeça para trás! Lá para final do ano, há ainda outra visita marcada para São João da Madeira no âmbito do NovembroJazz (dia 4) da Casa da Criatividade. Nada como amar o Freitas ao vivo!     


3X20 MARÇO

ABDULLAH IBRAHIM DE SECRETÁRIA (CASA)!

quarta-feira, 9 de março de 2022

THE WEATHER STATION, BOM TEMPO!





















O rumor corria nalguns meios bem informados mas agora tem confirmação feliz - depois da primeira parte do concerto de Sharon Van Etten em Lisboa, marcada para dia 31 de Maio, Tamara Lindeman aka The Weather Station continuará a digressão a solo por Portugal que chega nos dias seguintes a Braga, Porto (quinta, 2 de Junho, M.Ou.Co.), Setúbal e Faro! 

Espera-se, por isso, bom tempo e céu limpo para olhar e ouvir o brilhante barulhinho das estrelas do mais recente "How Is It That I Should Look At The Stars"... 

MATT ELLIOTT, MARAVILHAS DE RESIGNAÇÃO!





















Repetindo a dádiva de 2018, Matt Elliott disponibilizou uma segunda compilação de experiências e rascunhos sonoros que servem de exercício prático a ideias e inspirações resignadas. 

Em "Songs Of Resignation Too" não há sofisticação técnica ou sequer uma produção agendada mas sim uma simples guitarra, por vezes electrificada, tocada pelas duas mãos da imagem de capa de forma espontânea e delicada. 

A colecção está pronta para descarga gratuita e deverá merecer suporte solidário e patrocínio merecido enquanto se aguarda um novo álbum na Primavera do próximo ano. Maravilha(s)!  

JOSH ROUSE, DUPLA DE VERSÕES!

Depois da experiência light de teor electrónico Isla, o agora espanhol Josh Rouse parece prolongar a diversão em versões orelhudas de inesperados temas americanos. 

É o caso de "Janine" de Arthur Russell (1951-1992), original dado a conhecer na compilação "Love Is Overtaking Me" editada em 2008, e "Two Winters Long", uma balada tradicional da Luisiana americana pela qual se apaixonou depois de a ouvir na voz soul de Irma Thomas. Queremos mais!




terça-feira, 8 de março de 2022

SESSA, BRAGA EM GRANDE!

Esperamos dois anos por esta notícia. Depois de anunciada a sua estreia pelo Porto em Abril de 2020, adiada sem data devido à pandemia, só agora o concerto do brasileiro Sessa chega a sítio certo, embora haja talvez outros locais para confirmar... 

Assim, depois da tournée por Espanha de final de Março próximo e início de Abril, havia já a certeza da sua passagem pelo festival açoriano Tremor nos Açores (5 a 9 de Abril) mas o Theatro Circo de Braga reservou agora o dia 8, sexta-feira, para um concerto de apresentação em grande do álbum "Grandeza". Beleza!

Actualização: Maus Hábitos, Porto, 12 de Abril!

 

EMILY JANE WHITE, ALUVIÃO POR PERTO!





















Um novo disco da norte-americana Emily Jane White está quase aí (25 de Março) e, tal como em 2020 aquando da publicação do anterior "Immanent Fire", terá digressão generosa por Portugal em Abril com passagens por Braga (dia 6, Theatro Circo), Guarda (dia 7, Teatro Municipal de Guarda), Setúbal (dia 8, Casa da Cultura), Portalegre (dia 9, Centro de Artes e Espectáculo) e Ílhavo (dia 10, Teatro Vista Alegre). 

Quanto ao álbum "Alluvion", produzido por Anton Patzner, o enquadramento assenta no notório e galopante crescimento da injustiça social da sociedade ocidental, de que são exemplos a morte de George Floyd, a interdição do aborto em países como a Polónia ou a proliferação de posições misóginas e racistas que o video dirigido por Bobby Cochran (que havia já sido o responsável das imagens de "Surrender") para o tema "Show Me The War" evoca, a preto e branco, de forma poética mas incisiva.  

MULHERES QUE FAZEM BARULHO!















Há na história do rock português uma diversidade de carreiras femininas dignas de destaque a merecer celebração que se efectiva a partir de hoje, Dia Internacional da Mulher. 

A Casa Comum da Universidade do Porto, com a colaboração do seu Instituto de Sociologia, apresenta a exposição Mulheres Que Fazem Barulho! que "nasce com o propósito de homenagear mulheres relevantes do rock português desde o pós-25 de abril até à atualidade. Para isso, propõe-se a contar as suas histórias através discos, cassetes, roupas, adereços, rabiscos de letras, pautas, baquetas, instrumentos musicais, entre outros objetos marcantes nas respetivas carreiras". 

Assim, no auditório do espaço da Praça dos Leões, estão em destaque quinze mulheres cantoras, intérpretes, instrumentistas ou compositoras de variadas idades e épocas como Anabela Duarte (acima, Mler If Dada), Ana Deus (Ban, Três Tristes Tigres), Xana (Rádio Macau), Manuela Azevedo (Clã), Beatriz Rodrigues (Dirty Coal Train), Cláudia Guerreiro (Linda Martini), Sandra Baptista (Sitiados e A Naifa), Lena D’Água, Marta Abreu (Voodoo Dolls e Mão Morta), Ana da Silva (The Raincoats), Ondina Pires (Pop Dell’Arte, Ezra Pound & A Loucura e The Great Lesbian Show) ou Carolina Brandão (Sunflowers). 

A curadoria pertence a Paula Guerra, professora do departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), e a inédita mostra pode ser vista de forma gratuita até 30 de Setembro. Prometido está um programa paralelo a anunciar em breve. Um mundo... a seus pés!

segunda-feira, 7 de março de 2022

DUETOS IMPROVÁVEIS #255

KAE TEMPEST & LIANNE LA HAVAS 
No Prizes (Tempest) 
Álbum "The Line Is A Curve", Republic Records, Abril de 2022

domingo, 6 de março de 2022

JOAN AS POLICE WOMAN, Casa das Artes, Arcos de Valdevez, 4 de Março de 2022

Um estranho atraso no início do concerto foi interrompido pelo anúncio sonoro que dava conta de um acidente de última hora com um dos elementos da banda Joan As Police Woman mas que os restantes decidiram fazer o espectáculo. Quem não pretendesse presenciar o formato mais reduzido poderia sair e pedir a devolução do dinheiro do bilhete. Ninguém arredou pé. 

A entrada do trio corajoso tinha na cara de Joan Wasser o espelho da desolação. Quase em lágrimas e já de guitarra na mão, explicou que o engenheiro de som e produtor Benjamin Gregory, um amigo de longa data, tinha caído durante o sono (?) e batido com a cabeça, ficando mal tratado. Foi levado para o hospital acompanhado por Eric Lane, teclista de Jeff Buckley e membro do quarteto programado, razão da sua ausência em palco. Uma pena, mas, caramba, força aí Benjamin! 

Decerto que o alinhamento previsto sofreria óbvios constrangimentos o que não dispensou, contudo, uma passagem inicial por temas do último álbum "The Solution is Restless", registado com o baterista Tony Allen e o multi-instrumentista Dave Okumu, mas ali encarnados por Banjamin Lazar Davis, baixista, e Parker Kindred, baterista e também ele um elemento da banda de Jeff Buckley em finais dos anos noventa. Bem esperamos por essa pedrada longa chamada "The Barbarian" mas a opção recaiu em "Take Me To Yor Leader" e "Masquerader" que, tendo em conta as circunstâncias, soaram perfeitos. Seguiu-se um resto de noite mais descontraído mas, claro, condicionado. 

Desde sempre, Joan Wasser é em palco uma presença desconcertante na forma como alterna timbres de voz, se passeia cambaleante entre a guitarra e o piano ou joga na provocação sarcástica e desafiante com a plateia sobre inesperados temas ou assuntos. Notoriamente mais resguardada, essa postura habitual acabou, aos poucos, por submergir mas notou-se um esforço desmedido em fazer valer a estima e a concentração que os dois parceiros e cúmplices tentaram, e conseguiram, manter activas, ora combinando o que tocar, atendendo à prática datada de décadas de experiência conjunta, ora corrigindo tons e acordes sem disfarces. 

Surpresas como um tremendo "The Ride" ou "Warning Bell" foram fruto desse deslindar de soluções improvisadas que comprovam um songbook de recurso assinalável e infindável e que espelham a qualidade carimbada das canções e, já agora, das versões (a de "I Keep Forgettin'" bastou para o provar). Outros dois amparos de aconchego - "To Be Lonely" e "Your Song" - que tocou sozinha ao piano um pouco antes valeriam, por si só, o preço do bilhete e o preço da fortuna em tê-la ali, apesar de tudo, a fazer o cerco às emoções, às dela e às nossas. Com tamanha corrente de partilha, tudo ficaria bem. Stay strong, Joan As Felice Woman! 

 

sábado, 5 de março de 2022

UAUU #636

NICK DRAKE SULLA COPERTINA!





















A revista mensal italiana de música com nome de filme "Blow Up" escolheu Nick Drake para capa da edição de Março (nº 286), uma opção a preto e branco que utiliza a página inteira uma das míticas fotografias de Keith Morris obtidas em Londres num dia soalheiro de 1970 em local incerto e não confirmado. São seis páginas escritas por Emanuele Sacchi a propósito dos cinquenta anos de "Pink Moon", provando o interesse crescente pelo músico inglês no país. O look retro da publicação dá-lhe um charme irresistível. Bello!

sexta-feira, 4 de março de 2022

KEVIN MORBY, FOTOGRAFIAS DE FAMÍLIA!





















Dois anos estranhos e surreais passaram sobre "Sundowner", disco de Kevin Morby que apelava à natureza selvagem da América profunda e a uma renovada vida a dois sob o mesmo tecto. Perante tempos onde o medo e a resiliência multiplicaram a ansiedade, Morby ensaiou um regresso a memórias familiares contidas numa antiga caixa de fotografias e a momentos aflitivos com a saúde do pai que serviram de lembretes contínuos para nova aventura fortificada num quarto de hotel de Memphis à custa de sonhos antigos vertidos para foto-canções com uma única guitarra e um microfone. 

Temos, assim, em "This Is A Photograph", álbum a sair pela Dead Oceans em Maio, um esforço que respira confiança, sinceridade e muita saudade de tempos da juventude num tributo repetido ao país que o viu nascer e crescer. Colaboram os habituais parceiros de banda, Sam Cohen, produtor que assumiu a finalização de trabalhos anteriores como "Singing Saw" ou "Oh My God" e ainda, entre outros, a menina Cassandra Jenkins. Aqui fica o primeiro tomo de fotografias passado a video filmado numa remota Califórnia...

EMMA RUTH RUNDLE, 3 CANÇÕES+3 CONCERTOS!





















No final do mês estarão disponíveis mais três pérolas pertencentes ao tesouro que Emma Ruth Rundle reuniu aquando da gravação o ano transacto do álbum "Engine of Hell". Trata-se de um EP com os inéditos "Gilded Cage", tema antigo escrito em Berlin algumas vezes apresentado ao vivo e que merece agora posteridade formal, "St. Non", de nascimento galês aquando de uma visita à capela de Saint David em Pembrokeshire e "Pump Organ Song", um daqueles momentos de espontaneidade que brotam em estúdio em forma de canção de amor e que se pode e deve ouvir desde já. O disco recebeu o nome de "Orpheus Looking Back". 

Entretanto, os concertos adiados que estavam previstos para Fevereiro receberam confirmação de datas efectivas: dia 5 de Julho, terça, na Culturgest, Lisboa, dia 6 de Julho, quarta, na Casa da Música, Porto e no dia seguinte, quinta, uma atractiva cerimónia na Igreja da Misericórdia de Leiria!

quinta-feira, 3 de março de 2022

DAMIEN JURADO, UM PASSADO!

Em Setembro último a classe de Damien Jurado submergiu mais uma vez em "Take Your Time", canção inédita e única, que mesmo assim sugeria trabalho prévio de composição alargada e que mereceria edição em lindo vinil de 10". Prova-o uma entrevista prévia onde se adiantava a pretensão de gravar um disco "em cinco partes" ao jeito do que foi feito para "Maraqopa"(2012) mas em dose mais generosa e centrando a inspiração no passado e num personagem que tanto existe como deixa de existir! Anunciavam-se até nomes de canções como "Whatever Happened to Paul Sand?" e "What Happened To The Class Of '65?", tema que hoje se dá conhecer na sua magnificência e virtude. 

Quanto a visita para concertos e apesar da proximidade das cinco datas por Espanha que começam já para semana ao lado da menina Corrina Repp, vamos ter que esperar convictos que até ao fim do ano a cortesia jurada será, finalmente, concretizada.

GROVE + METRONOMY, Hard Club, Porto, 1 de Março de 2022

O esgotado concerto de regresso ao Porto dos britânicos Metronomy apanhou a banda em plena fase de lançamento de um novo álbum a que é preciso dar atenção e que, quinze dias depois do lançamento, obviamente, ainda está por assimilar. Há em "Small World" pedaços-canções de boa cepa que estão prontos a fazer efeito imediato ao lado dos clássicos agitadores de que todos estavam à espera - começar com "Love Factory", um desses novatos, seguido de "The Bay", um dos idosos, só podia ser um bom sinal que se manteve aceso e iriante de princípio ao fim. 

Neste pontapé de saída da digressão europeia não pode haver reparos. Sem refreios, sem falhas, sem mácula, o quinteto mostrou um intenso treino de quem já parecia andar há semanas na estrada, mantendo a prestação em elevado e constante nível. A motivação, de ambos dos lados da contenda, permitiu que a maioria das mais de vinte canções eleitas para o alinhamento se fizesse acompanhar de um coro colectivo treinado nos refrões e no gingar das ancas, sendo a experiência repetida de levar com "The Look" nas filas da frente um tumultuoso abanão terapêutico que se aconselha sem rodeios ou reservas. 

Realce ainda para o saboroso permeio sonoro de efeitos electrónicos mais antigos como "Boy Racers" ou "Lying Low", tendência que Joseph Mount sempre assumiu como fermentadora de um portefolio diverso que se estende ao nu-disco ou à new-wave, e que teve um culminar inesperado já no encore quando soaram frenéticos "Back on the Motorway" e o inicial e vintage "You Could Easily Have Me" a fazer lembrar um serão antigo em formato clubbing. Fantástico metrónomo!

 

Para aquecer a plateia compareceu a jovem Grove que, literalmente, cumpriu o desígnio para que foi anunciada. Descontrair não é o mesmo que entreter e não demorou muito para que os hipnóticos beats e sub-graves pré-gravados acelerassem corrupios e palmas a partir de uma mão cheia de temas de rimas militantes e até ingénuas mas que não deixaram pousar a indiferença. Só bom groove!

quarta-feira, 2 de março de 2022

BELLE AND SEBASTIAN, RECEITA ANTIGA!





















Com a chegada da pandemia em 2020, os Belle And Sebastian foram forçados a cancelar a intenção anunciada de gravar um disco novo em Los Angeles. Confinados mas motivados, a prática das canções e dos arranjos teve que ser feita, então, na cidade natalícia de Glasgow, o que já não acontecia há mais de vinte anos, altura da saída do quarto disco de originais "Fold Your Hands Child, You Walk Like a Peasant" em 2000. 

Há, por isso, um género de regresso nostálgico à força das melodias, ao sarcasmo e humor de algumas das líricas e onde não faltarão as incontornáveis melancolias sonoras que banda escocesa sempre soube fazer de forma atraente e que, neste caso, obtiveram auto-produção e alinho do próprio colectivo liderado por Stuart Murdoch. Jogando na infabilidade da receita pop descoberta há mais de quarto de século, espera-se com este "Bit of Previous" isso mesmo, ou seja, um pouco de tudo a que nos foram sempre habituando e que tem em "Unnecessary Drama" a primeira confirmação. O disco, com data de edição prevista para 6 de Maio próximo, terá diferentes capas e outros goodies já prontos para escolha prévia.

terça-feira, 1 de março de 2022

BIG THIEF, MARAVILHOSO DESAFINO!

Em "The Only Place", a melhor canção das muitas e boas incluídas no álbum "Dragon New Warm Mountain I Believe In You" dos Big Thief, é impressão nossa ou a menina Lenker falha maravilhosamente alguns agudos... Nada de grave(s)!

(RE)VISTO #94





















DAVID BOWIE: O Encontro com a Fama 
de Francis Whately. Inglaterra; BBC Music, 2019 
RTP2, Portugal, 26 de Fevereiro de 2022 
A trilogia documental que o realizador inglês Francis Whately se propôs concretizar em torno da vida de David Bowie ("David Bowie: Five Years", 2013, "David Bowie: The Last Five Years", 2017, este último já emitido no mesmo canal), completou-se em 2019 com "David Bowie: Finding Fame". A versão portuguesa teve agora airplay público que confirma a insistência numa abordagem de sobriedade e leveza de elevado grau de eficácia, fazendo da raridade das gravações e das filmagens da época um apetitoso e irresistível condimento de brilhantismo no dar vida a um período em que um tal David Jones, de fato e gravata, procurava a entrada certeira no trilho estreito de um labirinto que conduz à fama. Difícil, mas sagaz. 

Antes de Ziggy Stardust e de um estrelato de roupas vistosas e glam(our), o penoso mas persistente percurso do jovem Jones contemplou a participação em onze diferentes bandas ou projectos. Nunca desistindo dos seus ideais ou vontades, percebe-se pelo testemunho de amigos parceiros desses tempos de inocência e entusiasmo uma constante evidência - uma predestinação natural para a aprendizagem e risco artístico que custou dissabores e entraves, desde despedimentos antecipados de editoras a audições negativas e ridículas perante um "júri" televisivo da BBC, mas que robusteceu o agora assumido Bowie com camadas sucessivas de experiência decisivas. 

Ainda sem máscara ou disfarces mas já tentado nos efeitos da maquilhagem masculina ou roupas "estranhas", o vínculo natal a Bromley, subúrbio bonito mas inconsequente e a frieza da ligação e amor aos pais e à precaridade do seu casamento, tinha na cidade de Londres o polo oposto de irresistível atracção e efervescência que o palco do Marquee haveria de santificar. A inspiração citadina ("London Boys") e uma novidade vinda da América de nome Velvet Underground, haveriam de o conduzir a uma série de extravagâncias suspiradas pelo primeiro e sério amor por uma bailarina, companheira de experiências mímicas e teatrais mas onde as canções ("Toy Soldier") continuam a ser uma colheita semeada de forma prudente. O êxito, contudo, tardava em chegar.

O filme chega, então, ao ponto crucial. A odisseia espacial sorvida pelo filme de Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke (1968) concebeu um isolado Major Tom e um Ground Control, um ele e um outro (nós?), em forma de canção eterna que haveria de elevar Bowie, agora sim, ao patamar de estrela que tanta almejava sem o reconhecer. Surpreendente o testemunho de um Rick Wakeman (sim, o dos Yes) que executou o Mellotron tão característico e inovador de uma melodia e lírica assombrosas mas que, mesmo assim, não multiplicou a venda dos álbuns seguintes (p. ex. "The Man Who Sold The World"). Bowie tinha já delineado o que fazer. Literalmente, uma alternativa, que um concerto às 5h30 da madrugada no festival de Glastonbury para uma reduzida mas inspiradora plateia acelerou na execução.

Chegamos, pois, a Ziggy Stardust e o resto é uma história que implicou concepção, nascimento e morte incompreendidas mas que só na sua mente faziam sentido e consequente efeito. O camaleão, apesar do aparente suicídio artístico ("Rock 'N' Roll Suicide"), faria da sua vida uma gesta imbatível de arrojo e inquietação imortais. O planeta Terra continua azul!

(disponível na RTP Play até dia 3 de Março)