sábado, 30 de outubro de 2021

SEBASTIAN PLANO, Auditório de Espinho, 29 de Outubro de 2021

Vinte meses depois, o regresso presencial e insubstituível a um concerto ao vivo coincidiu com a estreia em Portugal de Sebastian Plano, ele que por cá já tinha andado a estudar violoncelo no conservatório nacional. Jovem promessa da chamada música contemporânea de influência clássica, a composição não é um fim em si mas um ponto de partida para uma ambiciosa instrumentação por camadas que uma série de aparelhagens permitem por sobreposição ou loop. Para o efeito, serve-se de um teclado, de um jogo de pedais, de um inédito duplo pad instalado no corpo do violoncelo e até da voz que faz vibrar no próprio instrumento em elevação ao jeito de ritual de cerimónia. Mas, será possível tanta autosuficência? 

Do lado do espectador e ouvinte, a perfomance acelerou a atenção nessa variação de recursos sonoros sem que o rabecão, em bom português, perdesse qualquer centralidade e primazia que o jogo de luz em palco fez o obséquio de envolver ricamente. Ao alinhamento sóbrio de temas dos dois discos até agora editados, o primeiro dos quais ("Verve" de 2019) com distinta nomeação para um Grammy, juntou-se um par de inéditos que confirmaram a permanente inquietação de uma música que resiste a separar purezas etéreas (analógicas) de sujidades e fluxos eléctricos (digitais), um limbo de incertezas que excedeu expectativas, surpreendeu pela coragem e levantou a melhor das dúvidas, ou seja, o que virá a seguir. Um disco com o Nils Frahm?

THOMAS FEINER, PEÇA DE COLECÇÃO!















A música do sueco Thomas Feiner terá em breve uma peça de verdadeira raridade e encanto com a edição de um single de vinil, o primeiro da sua variada e intocável carreira artística, onde se gravaram os acordes de "Guide For The Perplexed" no lado A e a remix do mesmo a tema a cargo de Peter Chilvers no lado B. 

Olhando para a ficha de inventário da preciosidade, destacam-se as seguintes características: 
- vinil preto torneado de 230 gramas (!); 
- capa de papel de elevada gramagem; 
- fabrico a cargo da casa inglesa Heaven's Late
- produção de 100 exemplares numerados à mão; 
- encomendas disponíveis a partir de 5 de Novembro próximo;
- preço previsível de 10£ (12€ + -). 

Atendendo aos constrangimentos alfandegários resultantes do raio do Brexit, à demora na entrega em território nacional e à proximidade do Natal, acrescentar a rodela a qualquer colecção afigura-se, à partida, uma epopeia infindável mas não há nada como tentar...

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

DUETOS IMPROVÁVEIS #248

BANJAMIM & B FACHADA
Olá, Então Como Vais? (Brito) 
Álbum de homenagem "Tozé Brito (de) Novo", Novembro de 2021

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

UAUU #619

METRONOMY, É BOM ESTAR DE VOLTA!






















Depois da surpresa do mês passado, um EP em colaboração com novas vozes e tendências britânicas, pairou a dúvida sobre um novo álbum dos Metronomy que agora se confirma para o próximo mês de Fevereiro. 

O sétimo longa duração chama-se "Small World" e implica uma fruição espontânea das coisas e loisas simples deste mundo como a natureza, a amizade ou as raízes familiares. No fundo, o passar dos anos, explicitamente os dois últimos, acelerou essa valorização sentimental e emotiva que se reflecte nas novas canções. É o caso de "It's Good To Be Back", um primeiro single de travo e balanço exótico que o mentor principal Joe Mount não esconde servir para afastar a cortina negra e deixar entrar o sol multiplicador, o que no caso significa viagens, convívios e concertos que chegam ao Porto logo a seguir (1 de Março, Hard Club).

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

CORRINA REPP, NA ILHA DA MELANCOLIA!






















Ao contrário da azáfama experimental aquando do trabalho anterior "How A Fantasy Will Kill Us All" de 2018, a californiana Corrina Repp assumiu agora, perante as circunstâncias, um isolamento artístico forçado mas frutífero. Em "Island", a editar pela Jealous Butcher Records já no próximo mês, são da sua autoria a totalidade das canções, dos arranjos e da produção limitada ao perímetro do pequeno apartamento em Echo Park (LA) que elegeu a voz e a guitarra como vínculo de uma melancolia sedante. Apesar da aparente elegância tranquilizadora, não deixa de ser inquietante... como toda a boa música!


terça-feira, 26 de outubro de 2021

WILCO E OS THE BEATLES, ESSES DECONHECIDOS!















Aproximam-se (já lá estamos!) tempos em que os The Beatles serão notícia. Nada de novo, já que o fenómeno é frequente e sempre fascinante e diz respeito desta vez à reedição do álbum "Let It Be" em versão luxuosa, o que no caso do vinil comporta quatro discos e uns trocos... Se lhe juntarmos a estreia prometida do documentário de Peter Jackson "Get Back" marcada para dia 25 de Novembro no canal Disney+, depois de vários adiamentos, o buzz vai continuar. 

Neste âmbito promocional, a Amazon Music lançou uma campanha mensal chamada "[Re]Discover" onde artistas e bandas dão a volta a originais dos Fab Four da época de "Let It Be", tendo o convite chegado aos Wilco. No mês passado, reunidos numa pausa da digressão no estúdio The Loft de Chicago, as escolhas recaíram sobre a dupla de originais "Don't let Me Down" e "Dig a Pony" pertencentes "a essa obscura banda cool The Beatles" nas palavras do guitarrista Nels Cline ("maybe you've heard of them?!", como sublinhado no facebook oficial). 

O sinal já tinha sido dado por Jeff Tweedy em Julho, apresentando a versão de "Don't Let Me Down" num encore de um concerto ao vivo no Illinois mas ao longo dos anos são já muitas as covers que os Wilco ou Tweedy fizeram dos de Liverpool como a recente "God" (Lennon), "I'm Only Sleeping", "And Your Bird Can Sing" ou "Tomorrow Never Knows".


SAM BEAM E ANDREW BIRD, MÚSICA NO PARQUE!


















A incontornável produtora La Blogothèque juntou-se à empresa de vestuário Lucky Brand de Vernon, Califórnia, para promover a sua colecção em ambiente natural. No mesmo território, foi escolhido o Parque Nacional de Yosemite na Serra Nevada como cenário de uma parelha de músicos imparável e inédita ou não fossem Sam Beam/Iron & Wine e Andrew Bird dois dos maiores prodígios da nova folk americana, sessões a que se chamou "Play For The Parks" com direito a passatempo/sorteio atractivo.  

O resultado, ofuscante realização a cargo de Bill Kirstein, tem ajudas mútuas em três dos quatro temas que cada um justificou à sua maneira, entre lagos (Tenaya Lake) e deslumbrantes paisagens de natureza viva que se querem eternas e protegidas (com a campanha, serão doados vinte cinco mil dólares à National Park Foundation). Pés descalços e calças de marca sortuda arregaçadas, portanto...


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

MIDLAKE, NOVO ÁLBUM!






















Quase oito anos depois de "Antiphon" (2013), anuncia-se um quinto álbum dos Midlake para Março próximo, altura em que uma intensa digressão chegará à Europa mas sem datas portuguesas ou sequer espanholas. O hiato, entre álbuns a solo de alguns dos elementos da banda, colaborações externas ou projectos documentais, sinaliza o cuidado e a precaução que o colectivo texano sempre demonstrou no envolvimento medido ao certo para a concepção e registo das canções. 

Desta vez, o ponto de partida tem na figura do pai do teclista e flautista da banda Jesse Chandler, falecido tragicamente em 2018, a inspiração conceptual e também o motivo para a reunião invariavelmente adiada. Com dezasseis anos, Chandler pai viajou à boleia para o festival de Woodstock desde a natal Ridgewood em Nova Jersey, aparecendo no filme oficial de 1970 entre o público durante a actuação de John Sebastian. Escolheria o local em 1981 para viver, recinto conhecido por Bethel Woods (Nova Iorque) e onde pai e filho se deslocaram, posteriormente, em peregrinação. Quer a imagem da capa do novo trabalho quer o seu título ("For the Sake of Bethel Woods") são, então, uma homenagem sentida ao espírito emanado dessa época - música, paz e amor - que emerge pleno de mística e mistério. Aqui fica "Meanwhile", onde a tal imagem serve de pano de fundo e memória viva...

CIRCUIT DES YEUX DE SECRETÁRIA (CASA)!

sábado, 23 de outubro de 2021

DUETOS IMPROVÁVEIS #247

JOHN MELLENCAMP & BRUCE SPRINGSTEEN 
Wasted Days (Mellencamp) 
Republic Records/UMG Recording, Inc., Setembro de 2021

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

CAETANO VELOSO, QUANTIDADE E QUALIDADE!






















Ficou disponível às primeiras horas do dia o álbum "Meu Coco" de Caetano Veloso que podem ouvir, desde já, na sua totalidade no Spotify e que sugere estarmos perante mais um grande disco do mestre brasileiroAs doze canções foram registadas num estúdio caseiro em período de pandemia e isolamento mas contou com variadas colaborações amistosas de Carminho, Jaques e Dora Morelenbaum, Vinicius de Cantuária ou dos filhos Moreno e Tom Veloso. 

A acompanhar o lançamento, há uma carta escrita pelo artista onde se dão pormenores e detalhes do processo criativo para ler aqui. Entre elas está "Sem Samba Não Dá", um segundo single depois de "Anjos Tronchos" e que, segundo o próprio, "soa à Pretinho da Serrinha"... e dá vontade de sambar!


BLACK COUNTRY, NEW ROAD, CAOS PROGRESSIVO!


















Um ano depois, os sete miúdos ingleses Black Country, New Road avançam decididos e confiantes para um segundo álbum na mítica Ninja Tune que, certamente, confirmará os pergaminhos obtidos na estreia unanimemente elogiada. Mesmo que a espera dure até Fevereiro para que "Ants From Up There" se instale, há já dois pedaços de caos perturbante disponíveis, temas que têm vindo a apresentar ao vivo para gáudio de aficionados que não desdenham sequer versões divertidas de canções dos ABBA entre longos instrumentais de progressão assinalável. 

A edição de luxo (quatro discos em vinil) inclui o registo de um concerto no Royal Albert Hall de Londres, no que parece ser um prematuro sinal de afirmação para quem ainda agora chegou ao mainstream mas talvez seja mesmo em cima do palco que este vigorante barroquismo libertário se mistura no jazz e no rock de forma sublime. A 20 e 21 de Novembro, já alguns poderão banhar-se neste desconcerto no Coliseu de Lisboa (?) e na Galeria Zé dos Bois. Apostamos que muitos vão duplicar a experiência!


(RE)VISTO #90






















MY NAME IS NOW, ELZA SOARES
de Elizabete Martins Campos. Brasil: Nitrato Filmes, 2014
RTP2, Portugal, 20 de Outubro de 2021
Estreado em sala em Portugal aquando do ciclo Brasil Musical no Cinema Trindade no Porto em 2019, o documentário tem agora apresentação em serviço público a cargo da RTP2, uma verdadeira dádiva para quem (ainda) dispensa a Netflix (está também disponível na RTPlay). 

A realização a cargo de Elizabete Martins Campos, envolvida profissionalmente com Elza Soares durante dez anos com o propósito claro de traçar a sua história, uma saga de intermitência contínua mas cuja tenacidade merecia todo o esforço e paciência, assume contornos de instalação video. O filme, preferimos classificá-lo assim, é uma demonstração de(a) força de uma artista que se diz ser tudo e não ser nada e que só um espelho amigo e confidente confirma nas contradições - forte e frágil, real e sobrenatural, triste ou alegre mas que a fizeram e fazem chorar na perca traumática de um filho criança ou nos aplausos que continua a receber, emocionada, quando sobe a um palco majestoso e que tantas vezes a ouvimos pedir nas duas oportunidades ao vivo onde tivemos a felicidade de comparecer. 

O seu canto, quase trôpego, do samba jazz, é desde sempre inimitável e ainda bem que esta música se torna bem audível ao longo dos setenta minutos da película, vincando e reforçando a sua transcendente actualidade num país ainda (sempre?) desigual e injusto que tem na libertação artística a arma que sinaliza e alerta para a miséria, a fome ou o racismo que a música de Elza, tão puramente brasileira, continua a embandeirar infinitamente, rechaçando ódios e insultos. 

Cara a cara, as imagens magníficas desta mulher toldadas de cor, néons e lustres desafiam preconceitos e convenções, acentuando a dureza de uma vida que renasce através das canções e que orgulhosamente se diz mulher do fim do mundo até ao fim a cantar... now!


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

BEDOUINE, CREME HIDRATANTE!






















Com data de edição prevista para amanhã na sua versão digital, aí está o terceiro álbum de originais de Bedouine, projecto em nome próprio da síria norte-americana Azniv Korkejian. Depois de uma excelente série de versões e pelas três amostras abaixo, em "Waysides" submerge a habitual camada de maciez e delicadeza em jeito de creme calmante para o alívio de irritações ou stress emocional, funcionando como hidratante sonoro para qualquer hora do dia... Infalível!



UAUU #618

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

CINCO ANOS DEPOIS... STRANDED HORSE!






















A última referência aos Stranded Horse nesta casa data de há cinco anos aquando da edição do álbum "Luxe", uma altura onde passavam, então, outros cinco anos sobre uma noite só para alguns no Passos Manuel portuense. Por isso, não será de estranhar que o prazo de espera quanto a novidades sobre o projecto francês seja o mesmo quinquénio da ordem com a edição em Novembro de "Grand Rodeo", um quinto (raios...) disco de originais se contarmos o que o(s) juntou a Ballake Sissoko em 2008 (Thee, Stranded Horse And Ballake Sissoko). 

Ao comando, como sempre, continua Yann Tambour no canto, guitarra e na indispensável kora que se junta a uma outra a cargo de Boubacar Cissokho, mas o exotismo cantado em francês ou inglês tem ainda outras instrumentações de teclados, percussões ou viola clássica, fazendo deste folk luminoso uma excentricidade pop de mestiçagem cultural genial e onde cabe até uma magnífica versão de "Thiely", peça tornada conhecida na interpretação de Youssou N’Dour na banda senegalesa Étoile de Dakar (1978). 



terça-feira, 19 de outubro de 2021

MICHAEL KIWANUKA, A VIDA É BELA!

Na procura de certezas quanto ao multi-adiado concerto do inglês Michael Kiwanuka no Porto - agora definitivamente marcado para 23 de Setembro de 2022 - descobrimos um novo e excelente single inédito chamado "Beautiful Life", uma dose certeira de positividade e optimismo mesmo a calhar para o documentário “Convergence: Courage In A Crisis” da Netflix sobre pessoas anónimas que lutam por um futuro melhor apesar dos problemas trazidos pela COVID-19. Aproveitando a onda, acrescenta-se "All My Life", outro momento feeling good... A vida é bela!?


segunda-feira, 18 de outubro de 2021

CINCO NOITES DE WOMEX!






















O WOMEX, um dos mais importantes eventos da indústria da música, assenta arraiais no Porto já na próxima semana (de 27, quarta-feira, até 31 de Outubro, Domingo). Juntam-se jornalistas, promotores, artistas, etc. numa variada agenda de eventos, de conferências a projecção de filmes, passando por uma feira e, claro, concertos ao vivo de projectos diversificados com incidência na world music de diferentes latitudes. 

Não é fácil fazer destaques entre esta infindável sequência mas talvez a noite no feminino de 28 de Outubro no palco do Teatro Rivoli seja mais que recomendável. Por lá vão estar a síria Naïssam Jalal and Rhythms of Resistance, o quarteto Kosy de quatro mulheres polacas e o ensemble Mazaher do Egipto que aporta para a Invicta uma "prática comunitária que tanto procura a música como a dança, transformando tudo num só", uma oportunidade única de purificação colectiva numa perfomance cada vez mais rara de testemunhar. Mas há muito mais por onde escolher...

sábado, 16 de outubro de 2021

LE REN, ABRACEM A CLARIDADE!






















A voz da menina Le Ren confundiu-nos à primeira audição de "How To Begin To Say Goodbye" do EP de estreia do ano passado "Morning & Melancholia". Ao lado de mais três temas, o título explicava ao que vinha esta cintilante aparição jovial sem tempo nem lugar a lembrar timbres clássicos da pop, folk ou da country como Baez, Mitchel, Carpenter ou McGerrigle. Escusado será dizer que, da referida canção, multiplicamos escutas, imaginamos fotogramas corridos, encolhemos nas recordações de desamor e, raio, reclamamos em silêncio por mais música desta canadiana baptizada de Lauren Spear a merecer tantos beijinhos soprados...

 

Chegou, finalmente, a hora de um álbum de estreia pela Secretely Canadian, who else, saído no dia de ontem mas que a urgência paralela antecipou digitalmente e por "milagre" até ao nosso querido iPod. Em "Leftovers" transparece uma segurança e leveza que acaba com quaisquer dúvidas sobre a grandeza desta composição aparentemente simples que a pandemia veio maturar e elevar de forma consistente, experiências e agruras que as líricas destilam em verdadeiras confissões devastadoras. Produzido por Chris Cohen, ele próprio um cantautor inquieto, o disco apressa-se nas comparações a Jessica Pratt ou Laura Marling pela intimidade que se sobrepõe à simples e incontida escuta repetida destas pérolas assombrosas. Parem, escutem e abracem esta nova claridade que encandeia!




TRINTA SEGUNDOS DE DELINES!






















Aproxima-se o primeiro tema de um novo álbum para os The Delines. Chama-se "Little Earl" e, para já, podem ouvir-se trinta segundos que despertam imediato encantamento que só fará efeito total dia 28 de Outubro quando surgir o lançamento oficial da canção em variados formatos, incluindo um apetitoso 7" de vinil limitado a mil cópias espalhadas pelas melhores lojas. A motivar suspiros está também uma prometida digressão europeia a começar em Fevereiro de 2022...

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

JON HOPKINS, TERAPIA EXPERIMENTAL!






















Ao inglês John Hopkins a música chega flutuante e, na maioria das vezes, sem explicação. Ao piano, a fazer versões lindas de temas alheios ou em pleno e anárquico processo criativo, os momentos difíceis do último ano conduziram-no a uma espécie de transe inexplicável que agora ganha perfil e rugosidade. 

Em "Music For Psychedelic Therapy", álbum a publicar em Novembro, a jornada sonora dilui-se numa intensidade cosmológica de que é exemplo "Sit Around The Fire", o primeiro single construído propositadamente em torno das palavras do guru Ram Dass falecido em 2019 mas há outras trips para juntar à terapia experimental. Prescrição auditiva e sensorial recomendada!


AQUILO QUE OUVÍAMOS... HÁ 40 ANOS!
















"Com o seu Teatro do Vestido, Joana Craveiro tem feito da memória a primordial matéria de investigação. Em Aquilo que Ouvíamos, trabalha-a revisitando um tempo em que a música conferia uma identidade e uma pertença. Peça-concerto composta pelas vivências musicais do seu elenco-banda – quatro atores e cinco músicos (entre eles, os Loosers), autores da banda sonora original –, é uma viagem de regresso aos anos formativos da adolescência nas décadas de 1980 e 90. Nessas “histórias da música”, conta-se como a sua materialidade tanto contava: comprar vinis com as curtas mesadas, estudar as suas capas, ler as letras neles impressas, trocá-los e fazer amigos nessa troca, exibir como uma insígnia um disco de eleição, sinalizando-se assim face aos pares e demarcando-se dos outros, gravar cassetes de vinis emprestados, de concertos raros ou de programas de rádio improvisados em casa, preciosas provas de quem se era. Aquilo que Ouvíamos redime um passado, “um tempo em que havia tempo”, com a ternura e a ironia de o saber perdido, mas presente nos vínculos que pela música se criaram e ainda perduram." 

É assim que se apresenta "Aquilo que Ouvíamos", perfomance de assinalável êxito aquando da estreia em Junho passado no Teatro São Luiz de Lisboa e que chega ao Porto no final de Janeiro de 2022. Entre os dias 26 e 30, em cinco apresentações que certamente vão esgotar, o Teatro Carlos Alberto vai ser um fartote de memórias / memorabilia, arrependimentos e muitas saudades do som da frente... 
Hey now, hey now now! Apressem-se

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

LOST HORIZONS, NOVA CANÇÃO!

Como as canções dos Lost Horizons nunca são demais, há agora uma inédita e sonhadora "Florida" a meias com Kookielou/Lily Wolter dos Penelope Isles, banda parceira na editora Bella Union detida por Simon Raymonde, metade dos próprios Lost Horizons ao lado de Richie Thomas. Confuso? 

Juntem-lhe um vistoso video concebido por Wolter com ajuda do irmão Jack, também ele parte dos tais Isles, uma lírica inspirada por uma digressão americana já com anos e temos mais uma parceria prometedora. Horizontes sensíveis...

EFTERKLANG NO PORTO!






















O regresso dos Efterklang ao Porto, três anos depois, está agendado para dia 5 de Novembro, sexta-feira, a única data portuguesa da actual digressão europeia. O novo espaço M.Ou.Co. é o cenário escolhido para a apresentação do mais recente álbum "Windflowers" saído a semana passada e previamente sinalizado por aqui. Bilhetes já disponíveis.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

AROOJ AFTAB, APANHEM A NUVEM!

O disco "Vulture Prince" registado pela paquistanesa Arooj Aftab infiltrou-se rapidamente nas listas antecipadas de melhores do ano e, diga-se, com toda a justiça. Entre o minimalismo, o jazz, o sufi ou a new age, não valerá de muito tentar sobrepor etiquetas ou rótulos porquanto a fruição desta maravilha não se presta a ninharias dispensáveis. A procura da edição em vinil foi tão acelerada que a peça é hoje uma raridade a preços proibitivos mas que, no entanto, acabará reimpressa mais tarde ou mais cedo. 

E ao vivo? Ora bem, aqui está uma experiência que não desdenharíamos no esforço. A artista estará na Europa em breve (Novembro) onde regressará em Junho de 2022 para, pelo menos, comparecer no caldeirão inimaginável do Primavera Sound Barcelona. Para já, deliciem-se com a sua recente passagem pela rádio KEXP de Seattle e sintam-se nas nuvens...

PVC - PORTO VINIL CIRCUITO #27






















De regresso à Philcolândia, motivo de destaque no #2 desta rubrica, agora que nos chegou um envelope bem mais antigo e, convenientemente, em papel. O desenho/design aproxima-se em demasia ao que aqui trouxemos referente à loja Arnaldo Trindade da Rua de Santa Catarina mas as semelhanças não são uma circunstância - a Philcolândia pertencia ao mesmo dono e não é de estranhar a coincidência que se estende ainda ao que lá se vendia (electrodomésticos e discos das melhores editoras sinalizadas na embalagem). No seu interior, calhou-nos um single/EP italiano da Durium de 1960 com quatro temas do incontornável Marino Marini e o seu quarteto, uma sonoridade muito em voga na época. 

Confirmando a memória, deixamos aqui uma curiosa história disponibilizada pelo site O Covil do Vinil e que se refere a um single dos espanhóis Los Deltas de 1961, editado pela Orfeu de Arnaldo Trindade, cuja fotografia de capa a preto e branco foi obtida precisamente em frente à Philcolândia:

"Grupo espanhol que fez um interessante percurso no início da década de 60 em Portugal, ora contratado pelo Casino Estoril, ora participando em Festivais e Bailes de Finalistas. O primeiro registo no nosso país que se conhece foi editado em 1961 pela Orfeu / Arnaldo Trindade, e, pelo que se sabe, não foi o único. Também se conhecem EP’s editados pela Belter e pela A Voz do Dono. 

Marino Marini e Renato Carosone foram duas das principais influências dos Los Deltas, mas pelos vistos a música portuguesa (Conjuntos Walter Behrend, Pedro Osório, Mário Simões) ‎foram, de igual modo, quem mais influenciaram a sonoridade e o reportório do grupo. 

Neste EP há ainda uma curiosidade adicional, pois a fotografia da capa foi tirada na cidade do Porto, precisamente na Rua Magalhães Lemos, uma artéria mesmo ao lado do Cine-Teatro Rivoli onde se situava a Loja Arnaldo Trindade (Philcolândia) e propriedade do dono da editora Orfeu. Nessa loja, repleta de muitos frigoríficos, televisores, rádios e outras aparelhagens de som, havia lugar para várias prateleiras e móveis com centenas de discos nacionais e estrangeiros. Como era expectável, tinham à disposição dos clientes muito do catálogo da editora Orfeu, e, para os mais abonados, uma boa diversidade de albuns de Rock Progressivo e Folk (maioritariamente importados de Inglaterra). Uma das 3 vitrinas da loja exibia orgulhosamente as últimas novidades e muitos dos discos de Top.". 

Uma peça de colecção!

 
Philcolândia, Rua Dr. Magalhães Lemos, 87, Porto

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

SHANNON LAY, ESPÍRITO DELICADO!






















Como notado em Maio passado, a menina Shannon Lay deitou algum do pessimismo para trás das costas e encheu-se de coragem e até de esoterismo para escrever e gravar um novo álbum saído já na Sub-Pop. Em "Geist", palavra alemã para espírito, agrupam-se um conjunto de canções de profundeza polvilhada de esperança e entreajuda, uma atitude mais positiva e que implica dedicação a causas sociais como a que decidiu apoiar em Setembro último com a doação de um pequeno instrumental chamado "Good Time".   

Para o regresso em pleno compareceram, entre outros, amigos músicos dos Woods (Jarvis Tavinere), de Bonnie Prince Billy (Ben Boye) ou de Sharon Van Etten (Devin Hoff) e até uma perninha de Ty Segall no solo de guitarra do tema "Shores", tudo de uma delicadeza extrema e apurado bom-gosto.  


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

CAT POWER COVERS!






















Continuando a surfar a onda das versões, cabe agora a Chan Marshall aka Cat Power retomar a prática começada em 2000 com "The Covers Record" e continuada em 2008 com "Jukebox". O culminar da trilogia chama-se "Covers", ora nem mais, sairá como o anterior no mês de Janeiro via Domino Records e a selecção é deveras inesperada - entre outros, Bob Seger, Lana Del Rey, Jackson Browne, Iggy Pop, Nick Cave, The Replacements ou Billie Holiday. 

Ao disco soma-se, em edição especial, um 7" de vinil com mais uma versão dupla (stereo/mono) de "You Got The Silver" gravada pelos The Rolling Stones em 1969 para o álbum "Let It Bleed". Marshall não esqueceu os seus originais e decidiu incluir a sua própria reinvenção de "Hate" ("The Greatest", 2006) agora rebaptizada de "Unhate". Experimentem, para já, a volta dada a Frank Ocean e aos The Pogues!


BENNY SINGS, HEY BABY!

O holandês Benny Sings faz do retro, do yacht rock ou da pop arejada uma receita solarenga que a lógica juntou à editora californiana Stones Throw Records desde 2019. O disco deste ano, com direito a ajuda prévia do amigo Mac DeMarco no magnífico "Rolled Up", é um verdadeiro relaxante muscular para todas as estações mas a que o calor e uma bebida fresca acrescentam eficácia. Chama-se simplesmente "Music". 

Se por diversão ou sinal de início de um novo ciclo, Sings gravou uma versão de "Dancing In The Dark" de Bruce Springsteen no Wisseloord Studio de Hilversum ao lado da banda, tema saído no mês passado a que já só falta o respectivo single de vinil que se torna agora obrigatório. Benny Sings toca em Lisboa a 20 de Novembro (SB em Stock). Hey baby!

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

UAUU #615

DUETOS IMPROVÁVEIS #245

JARVIS COCKER & LAETITIA SADIER 
Paroles Paroles (Dalida/Delon) 
Álbum "Chansons D’Ennui", ABKCO Music & Records, Inc
Outubro de 2021 

SCOTT MATTHEWS EM CAMPANHÃ!






















O novo espaço multifunções M.Ou.Co tem agora uma programação atractiva de concertos ao vivo como o prova a agenda do corrente mês (Tágua Tágua, JP. Simões, p. ex.). Para Novembro está marcado para o local o regresso prometido do bom do Scott Matthews a Portugal numa estreia no Porto em pleno Campanhã e logo num, espera-se, ameno final de tarde de Domingo (28 de Novembro, 19h00). Já há bilhetes. Eia!

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

BIG THIEF, MAIS ENERGIA LIMPA!

Em pleno Agosto surgiram oficialmente duas novas canções dos amados Big Thief, porção de energia limpa que muito se aconselha na insistência. Junta-se agora mais uma dose dupla - a lindíssima "Change" e "Certainty" - mas a fonte vai continuar a emitir pureza cristalina. 

Anunciado está um álbum duplo para 2022, revelação recente de Adrianne Lenker à revista Mojo, onde se juntarão todos este temas e muitos outros como "Dragon", "Spud Infinity" ou "Red Moon" ultimamente apresentados em primeira mão em sessões ao vivo captadas por fãs atentos. A banda tem digressão marcada pela Europa a partir de Fevereiro que inclui uma passagem por Barcelona e termino em três noites seguidas no Shepherd’s Bush Empire de Londres um mês depois. Por cá, vamos ter que esperar...  




terça-feira, 5 de outubro de 2021

QUEM QUER A CASA DE NICK DRAKE?
















A imponente e cosy mansão Far Leys onde Nick Drake viveu a partir de 1950 já com dois anos de idade confunde-se na história feliz e trágica da sua vida. Situada em Tanworth-in-Arden, no Warwickshire do centro de Inglaterra, o local foi no início dos anos vinte a habitação de Fredeick Sanger, cientista premiado duas vezes com o prémio Nobel da Química, razão pela qual a fachada do edifício ostenta uma "blue plaque" em sinal de reconhecimento da sua importância histórica e patrimonial e por onda passam/pernoitam inúmeros turistas e curiosos da ciência. 

No caso de Drake, a man in the shed, a casa deu aso a nome de canções ou nome de romances e foi (é?) durante décadas local de romagem de aficionados da sua música mesmo que só parcialmente desfrutada do exterior, ou seja, do caminho Bates Lane. Esvaziada do seu conteúdo e vendida pela herdeira e curadora do património familiar Gabrielle Drake há já alguns anos, a majestosa habitação sofreu ultimamente algumas modificações e "melhoramentos" encontrando-se agora à venda pela módica quantia de 2.350.000 libras esterlinas, ou seja, aproximadamente 2.748.150 euros! 

Atendendo às fotografias disponibilizadas pela imobiliária, nada no seu interior faz referência ou evoca sequer a memória dos Drakes, mas a totalidade da área - 8181m2 incluindo os jardins - apresenta, entre uma multiplicidade de divisões, uma garagem de 1471m2 para quatro (só?) veículos ou uma piscina interior de 2170m2...

Pois bem, se houver por aí alguém com ideias, manifestamos desde já disponibilidade para acompanhar e prestar toda a assistência necessária que implique uma estadia, mesmo que curta, no local, mas o mais certo é o nome da moradia vir a aparecer daqui a uns anos nuns quaisquer Pandora Papers, versão 3.0. Aventurem-se


FAZ HOJE (19) ANOS #72



















PERRY BLAKE, Teatro Sá da Bandeira, Porto, 5 de Outubro de 2002
 
. O Primeiro de Janeiro, por Joana Brandão, fotografia de Álvaro C. Pereira, 7 de Outubro de 2002, p. 21

PORTICO QUARTET, MONUMENTAL!






















Dois álbuns no mesmo ano não é um feito raro ou extraordinário mas no caso dos ingleses Portico Quartet acaba por ser, no mínimo, surpreendente. Em Abril passado saiu o intrincado e negro "Terrain" que tem agora continuidade e oposição em "Monument", classificado como o mais acessível e dançável disco gravado pelo projecto instrumental londrino. 

Para ambos contribui a estranheza dos dias passados em pandemia, tendo este último fôlego uma respiração mais positiva e livre, conjecturando e imaginando melhores dias que parecem ter chegado mesmo que as composições para os dois projectos sejam quase todas simultâneas, um género de álbum conceptual com duas faces mas que acabou separado pelas circunstâncias. Monumental e sofisticado, como sempre!


sábado, 2 de outubro de 2021

HANIA RANI & DOBRAWA CZOCHER, BRAVO!






















Amigas desde a primeira juventude numa escola de música de Gdansk, as polacas Hania Rani e Dobrawa Czocher cedo manifestaram não somente talento mas muita curiosidade e inquietação artística. Não se estranha, por isso, terem escolhido dez canções rock do conterrâneo Grzegorz Ciechowski (1957-2001) com novos arranjos para se estrearem nos discos em 2015 ("Biala Flaga/The White Flag") e no qual não deixaram de incluir alguns originais ao piano e violoncelo, os instrumentos eleitos para se notabilizarem. 

Desde aí já houve aventuras e registos a solo, o que no caso de Rani se traduz já em três excelentes álbuns de temas para série e filmes ou composições de sua autoria com recurso surpreendente à voz, como se deu a conhecer no Porto em Setembro de 2019. Chegou o momento do reencontro solene. 

A mítica e prestigiada Deutsche Grammophon edita no próximo dia 15 o trabalho "Inner Symphonies" onde o duo assume, de forma ambiciosa e pela primeira vez, a totalidade das composições e afirma, sem rodeios, a inspiração no incontornável Philip Glass para o que acrescenta a contribuição de mais amigos, mais instrumentos e mais complexidade e tensão. 

Há já digressão ao vivo em curso que as aportará a Espanha já em Dezembro e, quem sabe, o regresso ao nosso país por onde passaram em Janeiro de 2019 com tempo para uma sessão magnífica no Teatro de Vila Real que aproveitamos para recordar. Haja esperança. Bravo!



sexta-feira, 1 de outubro de 2021

É MELHOR A MÁSCARA!

Hoje, Dia Mundial da Música e da aclamada libertação, é melhor dar muita atenção ao que canta a menina Michelle Zauner aka Japanese Breakfast!