terça-feira, 19 de setembro de 2023

PAUL WELLER, Auditorio Mar de Vigo, 16 de Setembro de 2023

A separação dos The Style Council em 1989 embarcou Paul Weller numa carreira a solo consistente e fortalecida pelo inato dão de compor boas canções. São já quinze os álbuns em nome próprio que logo se iniciaram em 1992 mas que, até aos nossos dias, o afirmaram como um artista confinado a um maior reconhecimento em território inglês (ok, talvez se possa juntar o Japão). São muito raros os concertos pela restante Europa, sendo a actual digressão uma dádiva que se aproximou em demasia para não a aproveitar. Foram, por isso, umas boas dezenas os portugueses que comparecerem na expectativa de, finalmente e quase milagrosamente, puderem apreciar o old chap Weller a três dimensões. 

Claro que a maioria presente, de geração acentuada na veneração ao The Modfather, gostaría de ter visto o alinhamento mais bem preenchido de temas dos The Jam e, sobretudo, dos The Style Council, mas só seis entre as quase trinta escolhas o permitiria. Escusado referir que esses foram os momentos mais intensos de um concerto alongado em demasia, salpicado intencionalmente por hinos como "My Ever Changing Moods", "Headstart for Hapiness", "Shout to The Top!" (o pináculo do serão) e a surpresa maravilha "It's a Very Deep Sea" com que começa "Confessions of a Pop Group" (1988), talvez o melhor álbum dos TSCouncil mas o mais desprezado. 

Acompanhado de uma banda de seis músicos e onde se notou o uso de uma dupla bateria, a rodagem das canções foi exemplar embora o som de sala se tenha denotado sofrível na flutuação e dispersão para depois, aos poucos, se acertar sem deslumbre - no que parece ser um hábito estranho - sem espaço para nenhum "sozinho em palco", improvisação ou pedidos do público. Da máquina oleada, de profissionalismo vincado, não haverá como fazer reparos ou censuras atendendo ao enorme volume de escolhas possíveis para ensaio prévio, permitindo, contudo, perceber a qualidade de muitas das suas composições mais recentes e de que "On Sunset" ou "Village" foram eminentes. 

A apoteose adivinhava-se para um segundo encore - "Town Called Malice" dos The Jam, uma jóia com mais de quarenta anos, conseguiu no seus dois minutos e meio de soul beat fazer levantar das cadeiras uma plateia paciente e à espera do impulso que, por si só, valeria a comparência a um convívio há muito aguardado de uma família com formação afectiva. Com um pai desta estirpe, vai ser difícil a extinção...    

NOTA: ainda há dias por aqui alertamos para a aventura cada vez mais imprevista que é estar numa sala de concertos. Contamos, pelo menos, nove ou dez vezes, a dobrar, que tivemos que nos levantar para deixar passar aflitos para a casa de banho, reabastecimento de cerveja ou atendimento de telefonemas. Com regras mas com muitas excepções, o auditório galego foi um corrupio cruzado de entradas e saídas a meio de canções, discussões e conversas estridentes ou supostas proibições de bebidas a que se fecharam os olhos. Um recinto em pé tinha sido mais barato e, certamente, mais eficaz! 

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

YUSSEF DAYES, CLASSE CLÁSSICA!

O disco "Black Classical Music" saiu apenas há uma semana mas é já um dos nossos vícios diários. A estreia a solo do baterista Yuseff Dayes é uma monumental e intemporal viagem pelo jazz e música negra tal como, aliás, o título não deixa enganar. 

Colaboram os habituais conpinchas Tom Misch, o monstruoso baixista Rocco Palladino e o teclista Charlie Stacey, duo parceiro de encher qualquer palco como testemunhado em Braga em 2021, mas há uma variedade de convidados para descobrir nas dezanove faixas que estão agora na totalidade disponíveis para completa fruição. Poderoso.

Em Outubro começa uma digressão internacional para apresentar o álbum e... dedos cruzados! 



SCHHHHHHHHHHHHHH... APOIADO!

























Pode e deve-se concordar ou discordar com Lucy May Walker, artista inglesa que teve a coragem de publicar um conjunto de regras em forma de cartaz de etiqueta para assistir a um concerto.

Temos notado, e muito, uma crescente e total falta de respeito pelos artistas e bandas mas, acima de tudo, pelos que, como nós, gostam de música ao vivo. Já não é só nos festivais, sempre mais propensos a cavaqueiras animadas, o mau comportamento alonga-se hoje com facilidade a salas de média ou pequena dimensão e que se agrava se houver um bar por perto. 

Por isso, recomenda-se uma tradução ou adaptação do cartaz para língua portuguesa a ser afixado ou projectado nos locais e momentos certos e, por favor, schhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh... Bons concertos!

terça-feira, 12 de setembro de 2023

CAT POWER, JUDAS E JESUS!

















Para Chan Marshall aka Cat Power cantar as canções dos outros é um hábito antigo materializado em diversos discos de versões como o último "Covers" de 2021. A escolha não contemplou, dessa vez, qualquer canção do amado Bob Dylan mas a demora não foi muita e acaba em dose suculenta... 

No dia 5 Novembro de 2022, sábado, a norte-americana apresentou-se na sala do Royal Albert Hall de Londres com uma intenção determinada - recriar na perfeição possível o concerto de Dylan de 1966 no mesmo local (?), então, o culminar de uma digressão histórica que se tornaria mítica pela electrificação inédita de parte do seu reportório para incómodo e revolta da plateia aficionada mas, dita, traída. 

Esse espectáculo seria, ao longo dos anos, motivo de discussão e de pirataria subversiva e só em 1998 teria, finalmente e de forma oficial, edição pela Columbia Records no âmbito das The Bootleg Series, embora o que se pode ouvir seja referente a um outro concerto no Manchester Free Trade Hall dez dias antes. Confuso, não? 

O disco "Cat Power Sings Dylan: The Royal Albert Hall Concert" a sair na Europa pela Domino em Novembro próximo, é isso mesmo, ou seja, a reinvenção assumida desse evento marcante, respeitando a mesma sequência das quinze canções e até a mesma separação de tonalidades - uma primeira parte acústica a solo e uma outra eléctrica já com banda, a tal onde se ouve na gravação original de 1966 um "Judas!" antes do início de "Ballad of a Thin Man". Cinquenta e seis anos depois, e se estiveram atentos, até esse pormenor acabou proclamado e registado. "Jesus", respondeu de impulso Cat Power!


sábado, 9 de setembro de 2023

UAUU #697

PUBLIC SERVICE BROADCASTING ORQUESTRAL!





















As BBC Proms, que decorrem anualmente no Royal Albert Hall londrino durante o verão, são um ciclo clássico de concertos apetecíveis e de teor, muitas vezes, inesperado. Os Public Service Broadcasting, a jogar em casa, foram o ano passado convidados para apresentar uma nova composição chamada "This New Noise" ao lado da BBC Symphony Orchestra no âmbito dos Prom 58 que marcaram os 100 anos da eterna BBC.

A apresentação foi agora disponibilizada de forma apurada por J. Willgoose, Esq., guitarrista fundador da banda, através do youtube e também com a edição de um disco com as oito peças então interpretadas da autoria da banda. A excepção é "A Cello Sings In Daventry" também escrita por Seth Lakeman e que lhe juntou a sua voz num concerto que decorreu a 30 de Agosto de 2022 e que foi dedicado a Rebecca Teulet, jornalista da própria BBC então falecida. 

Esta foi a segunda vez que os PSB compareceram nos Proms já que em 2019 tinham tido a oportunidade de apresentar uma versão orquestral do álbum "The Race for Space" (2015) ao lado da solidária Multi-Story Orchestra de forma a comemorar os 50 anos da viagem da Apolo 11 americana, a primeira missão humana a pousar na lua.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

THOMAS FEINER, O AUTÊNTICO!

O podcast "Podsongs" teve início durante a pandemia em Itália sob uma filosofia original - um músico entrevista uma pessoa inspiradora para a composição de uma nova canção. No episódio 139 coube ao nosso Thomas Feiner escolher e conversar sobre inteligência artificial com Dave McKean, ilustrador inglês que se alonga à prática da fotografia, da BD e também da música, como motivo para o tal tema inédito. 

Como prometido, a canção foi lançada hoje digitalmente com o nome de "The New Convention" e é mais uma monumental prova de inteligência... autêntica!

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

LULUC, DIAMANTES SÃO ETERNOS!





















Um quinto álbum da dupla maravilha Luluc terá publicação na próxima semana numa nova editora, a Community Music com sede em West Hollywood, Califórnia. Baptizado de "Diamonds", sobre ele não são conhecidos, como é habitual, muitos pormenores a não ser a autoria confirmada das canções por Zoë Randell e Steve Hassett que ao longo dos últimos quatro meses foram sendo, criteriosamente, largadas, assumindo também a sua total produção.

A última dessas benesses diz respeito a uma excelente versão de "As Tears Go By" dos The Rolling Stones, no que sugere ser o único não original entre os dez novos diamantes. A capa tem assinatura da artista e impressora australiana Fleur Rendell.




quarta-feira, 6 de setembro de 2023

O MELHOR DE RICHARD HAWLEY!





















Depois do disco ao vivo do ano passado, adivinhava-se o passo seguinte - um best of de Richard Hawley que cobre a sua carreira a solo iniciada em 2001 com um disco homónimo e se alongou, para já, até 2019 com "Further". Em Outubro próximo, vinte e duas canções da sua fina e apurada composição, numa escolha em parceria com o velho amigo Colin Elliot, agrupam-se em "Now Then: The Very Best", sortido ainda e sempre eterno na especialidade e beleza e onde também se alinha a versão de Bob Dylan que em 2019 fez parte da banda sonora da série "Peaky Blinders". 

O melhor é, contudo, uma nova gravação e orquestração do tema "The Only Road", incluído no disco "Lowedges" de 2003, mas agora chamada "Not The Only Road" e que, na versão limitada de duplo vinil, deu direito à inclusão de um exclusivo single devidamente assinado já em pré-encomenda no site oficial. O 7" terá, aparentemente, edição individual com o tema "Kelham Island" no lado B.

sábado, 2 de setembro de 2023

WILL SAMSON, DEIXEM-SE IR!

















O aparelho pousado sobre a mesa ao lado de Will Samson é um Uher 4200 Report Monitor, um género de gravador de fita muito usado nos anos oitenta para registo de entrevistas e conversas que, se colocado na velocidade mais lenta, permite uma textura sonora de magia evidente. É ele a peça central do novo álbum ambiental "Harp Swells" que terá edição digital na próxima sexta-feira, dia 8 de Setembro, pela 12k, casa de tendência experimental pertencente ao americano Taylor Deupree. 

A residir em Portugal desde Janeiro de 2022, Will Samson compôs o seu oitavo disco em Almada, onde partilha o estúdio com Casper Clausen dos Efterklang, de forma a ser ouvido de uma só vez como peça ambiental anti-algorítmo. Conta com as vozes de Michael Feuerstack da Bell Orchestre e da artista irlandesa Maia Nunes que podem ser escutadas em "And yet", a primeira das contemplações a ser conhecida. 

O disco terá direito a digressão europeia com início marcado para a semana e que chegará ao Passos Manuel portuense no dia 15 de Setembro, sexta-feira, experiência para nos fazer "deixar ir"... É ir. 

BEIRUT, MÚSICA INSULAR!





















Depois de um extensa colectânea de raridades e da disponibilização de sessões orquestrais à distância, teremos em Novembro um álbum de originais dos Beirut chamado "Hadsel". O disco recebeu o nome de uma ilha norueguesa onde Zach Condon se refugiou em 2019 depois de uma depressão mental que o obrigou a cancelar a digressão então agendada, estadia que provocou uma melhoria lenta da sua condição muito à custa da beleza da paisagem natural, das chamadas luzes do norte e dos extensos crepúsculos que, obviamente, se reflectiram nas composições de vulnerabilidade assumida. 

Do disco, que a Rough Trade tem já em encomenda numa edição de cem exemplares coloridos com a inclusão de uma ilustração da autoria do próprio Condom e que marca a estreia nos originais da editora própria Pompeii, pode já ouvir-se este belo "So Many Plans".

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

FIONN REGAN NUM JARDIM DA BAIXA!





















O mês de Setembro trás um novo evento para o centro do Porto chamado Sunny Garden - Singers Songwriters Festival que vai ocupar os jardins da UPTEC Baixa (Praça Coronel Pacheco) no dias 9 e 10, Sábado e Domingo. Em ambos os dias, das 11h (!!) às 20h00, estão prometidos concertos de uma dúzia de cantautores nacionais e internacionais que se anunciam no cartaz de cima e com alinhamento já marcado ao longo do fim de semana mas ainda sem horário de actuação divulgado. Só é pena o exagero do preço do bilhete

Entre os nomes do cartaz, destaca-se o do já experiente e sublime Fionn Regan, uma das perdições antigas aqui da casa e que já passou pelo Porto aquando da curta mas inesquecível primeira parte que realizou para um concerto de Feist em 2012. Reservado, discreto, Regan é o autor de maravilhas eternas como as de abaixo...