quinta-feira, 14 de julho de 2022

KIRBY + LEON BRIDGES, Auditorio Mar de Vigo, 10 de Julho de 2022

No curriculum de Kirby cabem referências elogiosas a colaborações com Kendrick Lamar ou à escrita de canções para Ariana Grande e Beyoncé. De cabeleira farta e trajando um provocador fato listado, foi, precisamente, da irmã mais velha Knowles que nos lembramos sempre que Kirby circulava na frente de palco em constante interacção com o público interessado e participativo, um género de descontração animada e inocente de resultado entretido como convinha. Pena o sofrível som de sala e ainda estamos para perceber o que fazia o raio de um baixista numa das laterais do palco...

 

Atendendo ao mais recente álbum "Gold-Diggers Sound", o concerto galego não se previa um corrupio de tradição soul onde uma obrigatória voz-off se faria ouvir já com muitas palmas e gritos: "And now, Mr. Leon Bridges, king of...". Bridges ainda não alcançou nenhum reinado artístico embora em alguns dos tiques e trejeitos em cima do palco tenha transparecido uma leve altivez que o alinhamento foi confirmando mas estreitando. 

Calmo, demasiado calmo, o espectáculo entrou numa onda morna arrefecida pela pobreza no acerto da voz e da amplificação, o que não ajudou a que a classe das suas canções se fizesse notar. Esse género de rhytm and blues apurado pela subtileza das líricas perdeu-se ali, na imensidão do espaço, abafado pelos bombos da bateria ou até pelo acompanhamento vocal da dupla de serviço. Não estranha que "Motorbike" ou até "Bad Bad News", por exemplo, se tenham reduzido a uma estranha e distante amálgama comparadas com os originais, mesmo que os técnicos do som tenham, finalmente, começado a pôr em prática aquilo que, supostamente, aprenderam. 

No alinhamento escolhido, Bridges não dispensou dois temas gravados com os Khruangbin, por sinal, os mais aclamados e aplaudidos, tendo "Texas Sun", já no encore, funcionado como culminar libertador de muita da energia que o público, finalmente de pé, foi acumulando entre canções que, inexplicavelmente ou não, pareciam demorar a arrancar. Sem reclamarmos de fulgores festivos e respeitando a postura e opção pela contenção, a apatia pareceu-nos propositada na intenção falhada de alcançar uma aclamação qualitativa pelo brilhantismo dos músicos que nem sequer apresentou e que nem "River", como dueto final, permitiu disfarçar. Definitivamente, a juba não faz o leão!
        

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