fotografia: facebook da Amplificasom |
No palco, um majestoso piano de cauda centrava uma luminância que, inalterável, dificultou a aproximação da artista ao banco do teclado e ao lado do qual colocou um guitarra acústica. Já sentada, confirmou ao que vinha - entre elogios à cidade, que mais à frente se haveriam de estender ao promotor português ou à beleza da sala mais pequena da CDM, o desígnio seria interpretar de princípio ao fim o referido disco, uma tarefa bem diferente da que apresentou em 2017 na cave do Rivoli de guitarra eléctrica em punho e com alguma rebeldia. Os tempos de incerteza requerem agora o regresso ao instrumento de aprendizagem ao qual se atou, desde logo, com "Return", esse safanão de crueza que nos atirou ao chão quando o passamos a conhecer, para só dele se desligar já no encore com "Pump Organ Song", outra tremura que, apesar de não estar incluída no álbum, é um seu prolongamento sentimental.
Mas o concerto não se quedou por esta camada de encantamento - sempre sentada e respeitando as opções evidenciadas no disco, Rundle foi alternando metodicamente a tal guitarra acústica, que afinou amiúde, para com ela desferir mais alguns golpes de redenção. A este nível, "Blooms of Oblivion" e um cortante "Razor's Edge" haveriam de fixar-nos um curativo emotivo que o silêncio respeitoso da sala adensou na purificação. Se lhe juntarmos a escolha de "Marked for Death" para iniciar o tal encore, mesmo sem sair do lugar por confessada dificuldade de visão (?), será difícil rogar por um melhor serão de dissonância que isto da música, como notado, é também doloroso mas eternamente fascinante...
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