sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

DEAN WAREHAM, LUNA DE VERÃO!





















Dez anos e uns bons meses depois, o regresso de Dean Wareham aos concertos na Invicta terá lugar no verão, mais precisamente no dia 9 de Julho, sábado, no espaço M.Ou.Co. Para já, trata-se da única data lusitana da digressão ibérica de sete concertos e nessa oportunidade o senhor Galaxie 500/Luna fará uma viagem propositada ao passado com a passagem insistente pelo clássico álbum "On Fire" que os Galaxie 500 editaram em 1989, o segundo de três discos de originais antes da separação formal em 1991. 

No reportório, contudo, não deverão faltar temas do projecto Luna e também outros mais recentes onde a qualidade da composição continua florescente, como o prova o álbum "I Have Nothing To Say To The Mayor Of L.A.” editado em Outubro passado e do qual já demos um pequeno toque. Atendendo ao domingo eleitoral que se aproxima, deixamos outra maravilha que começa com um pasmoso "I fell in love with a communist cad"...

JAKE XERXES FUSSELL DE SECRETÁRIA (CASA)!

YOKO ONO, O FEITIÇO DAS CANÇÕES!





















Os oitenta e oito anos de Yoko Ono são, por si só, uma cifra artística assinalável. Polémica, vanguardista, inquieta, a panorâmica de intervenção no mundo da arte teve sempre uma multifacetada afirmação pelo conceptualismo arrojado das perfomances, das instalações ou dos filmes. A mostra que Serralves apresentou, em boa hora, no Porto em 2020 é a prova da contínua urgência de liberdade como condimento inspirador e agregador. Contudo, no mundo da música, a sua acção e carreira sempre motivou alguma polémica e indiferença muito à custa da eterna questão da separação dos The Beatles mas há quem continue, e bem, a prestar-lhe homenagem e tributo merecidos. 

Um álbum de versões de temas compostos por Ono não é novidade. Em 1984 o marido John Lennon promoveu a compilação “Every Man Has a Woman Who Loves Him” com uma dúzia de covers de artistas como Elvis Costello, Harry Nilsson ou Roberta Flack e, em 2007, uma outra e mais arrojada série de versões e remixes chamada "Yes, I'm A Whitch" foi editada pela Astralwerks com o dedo da Apple Records, reunindo uma contenda de nomes mais diversos e onde comparecerem os Death Cab For Cutie de Ben Gibbard. Pois é precisamente ele o ideólogo e curador de uma outra respeitosa veneração - "Ocean Child: Songs of Yoko Ono’ sai a 18 de Fevereiro, dia de aniversário da artista, e pretende insistir na importância e pertinência contemporânea da música de Yoko Ono. 

Três das bandas participantes - os Yo La Tengo, os The Flaming Lips e os Deerhoof - já colaboraram com Ono no passado mas há uma série de outros nomes de respeito a redobrar o feitiço: Sharon Van Etten (que está em todas), Sudan Archives, US Girls, Jay Som, Stephin Merritt (Magnetic Fields), Japanese Breakfast e David Byrne que se apresenta ao lado dos Yo La Tengo numa espectacular rendição de "Who Has Seen the Wind?". Parte dos lucros obtidos reverterão para a organização Why Hunger que a própria Ono tem apoiado generosamente na luta contra a fome e a subnutrição.



quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

THE WEDDING PRESENT, DUAS DÚZIAS DE CANÇÕES!














Em 1992 os britânicos The Wedding Present editaram um single por mês em formato de vinil com um original e uma versão em cada lado posteriormente compilados nos álbuns "Hit Parade 1" e "Hit Parade 2". A brincadeira, uma tentativa de alcançar 12 singles no top 40 ao jeito de Elvis Presley em 1957, comportava o fabrico de dez mil rodelas mensais que foram depois retiradas do mercado mas o certo é que cumpriram o objectivo e igualaram a proeza do rei The Pelvis

Trinta anos depois a banda embarca num desafio semelhante. Com "24 Songs" pretende-se assinalar a parceria de David Gedge com o guitarrista Jon Stewart dos Sleeper e agora parte integrante dos Weddos mas as versões, desta vez, não serão uma regra. Há já uma dupla amostra referente ao mês de Janeiro com um dueto de Gedge com Louise Wener vocalista dos referidos Sleeper em "We Should Be Together" e "Don't Give Up Without A Fight" no lado oposto. 

Cada single terá na capa uma fotografia de Jessica McMillan e poderá ser recolhido numa caixa especial numerada já em distribuição online mas que chegará, à moda antiga, às boas lojas de discos resistentes.


TOMBERLIN, UM BOM SINAL!





















O sinal emitido pela menina Tomberlin no dia de ontem, o primeiro desde o verão de 2020, não pode passar despercebido. Trata-se de um nova canção misteriosamente chamada “idkwntht” na qual se mistura a voz amistosa de Felix Walworth da banda Told Slant e que confirma a claridade e idiossincrasia da sua composição. 

Levantam-se, por isso, rumores quanto ao que se seguirá. Apostamos num novo álbum e digressão pela Europa que já faz falta e sobre a qual ouvimos dizer que aportará por perto... Bom sinal!

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

DANIEL ROSSEN, ÁLBUM DE ESTREIA!















Passaram dez anos sobre um cheirinho a Grizzly Bear que Daniel Rossen fez, então, sair em nome próprio no formato EP. Em Abril, um perfume bem mais acentuado far-se-á, certamente, sentir de forma intensa através de "You Belong There" (Warp Records), a sua primeira aventura de longa-duração e onde cabem dez temas maturados e experimentados nos últimos tempos de forma virtual com fãs e amigos.

Este verdadeiro desafio artístico, concretizado num baloiço difícil entre a vida actual e o papel de guitarrista e vocalista dos históricos Grizzly Bear, afigura-se um esforço notável na preservação de uma sonoridade eficazmente reconhecível e de que já tínhamos saudades sem o saber. Basta ouvir o novo "Shadow in the Frame"!

THE WEATHER STATION, IGNORÂNCIA PURA!





















Depois do excelente álbum "Ignorance" de The Weather Station e de mais uns pozinhos cintilantes a ele acrescentado na edição de luxo posteriormente editada em Setembro último, promete-se agora um parceiro de audição que resulta de sobras suculentas das sessões de gravação. 

Nas palavras da própria Tamara Lindeman, trata-se de um género de "lua e o seu sol" de teor mais calmo e simples que o piano agrava na pureza em dez momentos inéditos reunidos em "How Is It That I Should Look At The Stars", disco que a Fatpossum terá pronto a circular a 4 de Março

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

AQUILO QUE (NÃO) OUVÍAMOS...















Bilhetes comprados para a apresentação no Porto da peça / perfomance "Aquilo Que Ouvíamos" na próxima sexta-feira, expectativas bem altas e recomendadas, mas os cinco dias (26 a 30 de Janeiro) no Auditório Carlos Alberto acabaram também cancelados por motivos, adivinhem, de isolamento profilático. Confrangedor, fosga-se!

EMMA RUTH RUNDLE, REGRESSO ADIADO!





















Prometia ser um concerto na altura certa o de Emma Ruth Rundle agendado para a Casa da Música no dia 26 de Fevereiro atendendo ao grande disco que lhe iria servir de roteiro ("Engine of Hell" de Novembro último) e às expectativas elevadas que imediatamente esgotaram os bilhetes de acesso aquando do lançamento da digressão. 

Mas, mais uma vez, as (re)voltas pandémicas forçaram o adiamento do périplo europeu até melhores e límpidos dias, o que implica a data portuense e também a lisboeta do dia seguinte na Culturgest!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

PEARL CHARLES, GUARDEM AS LANTEJOULAS!





















Tememos, seriamente, que um qualquer editor de imagens passe a ser uma ferramenta digital recorrente nas próximas semanas no que aos cartazes promocionais de concertos e digressões diz respeito... Foi o caso da excursão jovial de Pearl Charles pela Europa programada para Fevereiro mas cancelada sem apelo nem agravo, incluindo, claro está, a data final dedicada à cidade do Porto. Logo agora que ainda não decidimos de que cor íamos querer as lantejoulas! 

Para compensar, mas pouco, há o novo single "Givin'It Up" escrito pela própria e pelo companheiro Michael Rault e com imagens a cargo de Sara Heiseman captadas na noite de Los Angeles.

MELODY'S ECHO CHAMBER, VIAGEM EMOCIONANTE!





















Sobre as virtudes da pop refinada da menina francesa Melody Prochet aka Melody's Echo Chamber já emitimos os merecidos elogios em devido tempo e oportunidade, ou seja, aquando do álbum "Bon Voyage" lançado em 2018. Vibrante na sua essência psicadélica, as canções como que transbordam continuamente linhas melodiosas muita próprias que um novo tema agora conhecido confirma mais uma vez - "Looking Backward" não desilude na receita, embora a artista confesse uma tendência mais simplista no estreitar da composição, deixando de lado a maximização de recursos orquestrais usada no segundo álbum já referido. 

O caminho passa agora por uma transcendência mais madura e adulta que reflecte decisões importantes tomadas durante confinamentos parisienses e suecos e estadias pelos Alpes, provando que a procura da reclamada paz interior nem sempre é sinónimo de acomodamento. Percebe-se que as oito canções de um novo álbum, a editar pela Domino em final de Abril, se submetam ao adequado título de "Emotional Eternal", provento de sessões finalizadas em Estocolmo com o multi-instrumentista Reine Fiske de Dunge e o produtor Frederik Swahn, dupla também decisiva para a qualidade do disco anterior, no que sugere ser uma extensão inspiradora da viagem então iniciada ("Alma_The Voyage", curioso, assim se chama a canção que encerra o novo álbum).

Sem alteração, contudo, está o gosto por uma certa meninice duradoura traduzida pela banda desenhada do neozelandês Dr D Foothead dos clips de 2018 e na aplicação da tecnologia 3D alusiva ao jogo "Unreal Engine" no video do novo tema a cargo da jovem mestre coreana Hyonvon Paik.  

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

ELZA SOARES (1930-2022)










Ainda há poucos meses dedicamos tempo sagrado a um filme auto-biográfico que conta quase tudo de Elza Soares - apego, coragem, luta, superação e amor! Prometeu ser "mulher do fim do mundo até ao fim a cantar" e esse dia chegou hoje aos 91 anos de forma natural na casa do Rio de Janeiro. Paz... e amor! 

DUETOS IMPROVÁVEIS #252

JACK NAME & AOIFE NESSA FRANCES 
Watching the Willows Burn (Name & Frances) 
Mexican Summer, Julho de 2021

UAUU #630

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

REGRESSO A MIRAMAR E AO PORTO!





















Como anunciado em Junho último, o duo Frankie Chavez e Peixe reunidos pelo nome e localidade de Miramar editam agora um novo álbum, um género de segundo capítulo da obra lançada em 2019. Elevam-se as conexões quase instantâneas de duas guitarras registadas, where else, em Miramar, Vila Nova de Gaia, durante os meses de Abril e Dezembro de 2020 com a ajuda de João Bessa nos estúdios junto ao mar (Miramar Sessions Studio). 

Ao conhecido "Brower" juntam-se mais onze faixas incluindo uma versão de "Celulitite" de Conan Osíris previamente dada a conhecer em actuações ao vivo e uma colaboração ao piano de Mário Laginha em "Recolher", um segundo single que deve estar por aí a rebentar (dia 21). 

O álbum "Miramar II", a sair dia 28 deste mês, tem assegurada uma edição em vinil em pré-venda pela FNAC que lhe acrescenta o autógrafo limitado dos dois músicos e deverá merecer apresentação parcial nas duas sessões marcadas para o Salão Ático do Coliseu do Porto já para amanhã, quarta-feira, e no dia seguinte, quinta-feira, no âmbito das poéticas Quintas de Leitura comemorativas do 90º aniversário do Teatro Rivoli. A entrada é gratuita mediante o levantamento prévio do bilhete no referido teatro ou online (BOL). 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

RYLEY WALKER COM CERTEZA!





















Sem as amarras de um contrato com uma editora, Ryley Walker grava e lança agora discos quando quer e pode como é exemplo um novo EP com quatro canções inéditas começadas e acabadas em Dezembro último pelo estúdio Electrical Audio em Chicago. A cidade permite cumplicidades imediatas como a que repete, para o efeito, com o guitarrista Bill MacKay e com quem lançou em 2017 um excelente disco instrumental

Na audição privilegiada do novo quarteto de temas incluído em "So Certain" denota-se uma liberdade artística e uma segurança feérica que não se distancia, ainda bem, do ambiente reluzente do álbum saído há quase um ano. Confiante, apesar deste ambiente incerto onde vivemos, Walker lança-se sozinho numa edição de vinil do disco, mesmo que o orçamento minguado adie a rodela lá mais para o verão. A espera vai valer bem a pena nem que seja pela magnífica abstracção metafórica da capa a cargo de Alexander Varvaridze. Com certeza!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

DESTROYER, LABARINTITE BENIGNA!





















A descrição e mistério da vida artística de Dan Bejar continua latente na forma como os álbuns da sua banda Destroyer acabam por submergir. Parece ser o caso de mais um chamado "LABYRINTHITIS" que a Merge Records publicará dia 25 de Março e onde, ao lado do produtor e amigo John Collins, se dará a ouvir o resultado de uma experiência forçadamente síncrona atendendo à pandemia e que obrigou a sessões virtuais de Bejar em Vancouver e de Collins em Galiano Island, Canadá, durante o ano de 2020. As afinações definitivas dos dez temas foram concretizadas em estúdio na Primavera passada. 

O sucessor de "Have We Met" de 2019 sugere ser, portanto, mais um teste de crescente delírio mas, certamente, compensador onde Bejar paira sobre duas das suas paixões inspiradoras - "mistério" e "ir a lado nenhum" - que a pintura de capa a cargo da companheira Sydney Hermant acentua na perfeição e que tem no single berlinesco de apresentação "Tintoretto, It's For You" uma negritude e perplexidade sonora que recorda e calibra o labirinto auditivo para os grandes Art of Noise ou os New Order. Já só falta remarcar o concerto adiado desde 2020...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

ALDOUS HARDING, QUARTA DOSE!





















Previsível mas do qual se desconhecia qualquer pormenor, anuncia-se hoje finalmente o regresso aos discos de Aldous Harding, o quarto da neozelandesa, com o nome de "Warm Child" a sair na 4AD dia 25 de Março. 

Para o efeito, foi retomada a parceria com o produtor Josh Parish e a insistência nos favoritos Rockfield Studios galeses onde foram aprimoradas as dez novas canções que, entre várias colaborações, contam com a ajuda de Jason Williamson dos Sleaford Mods. O primeiro single "Lawn" tem imagens da própria e de Martin Sagadin, uma dupla imagística que têm assegurado a maioria dos videos da artista.

 

(RE)LIDO #104





















HOW TO WRITE ONE SONG 
de Jeff Tweedy. London: Faber & Faber, 2020 
Depois de devidamente documentados quanto à sua vida pessoal e artística e, implicitamente, quanto à longa vida dos Wilco, Jeff Tweedy não perdeu tempo e juntou um outro livro de aconselhamento em como escrever uma canção. Pode ser boa, pode ser má, depende de quem a ouve e de quem a faz, mas é aqui que o tema vertido para o compêndio se torna desafiante - é que quem a faz, ouve-a quase em simultâneo, o que na maioria das vezes reduz a tentativa a um tormento desmotivador. 

Como músico e autor de centenas de canções de âmbito pop-rock e nos seus múltiplos trilhos, a fonte é por isso confiável e deve merecer atenção dos interessados, embora, aqui para nós, isto das canções terá sempre muito mais de inato e congénito do que de estudo metódico ou aprendizagem científica. Certo é que a sinceridade e amplitude das técnicas apresentadas acabam por surpreender pela aura de estranheza e mistério da instrucção que julgávamos só praticadas por amadores mas que, afinal, são o dia-a-dia dos profissionais do ramo. O esforço explicativo não transparece, mesmo assim, rebuscado ou sequer amaneirado na forma como se perfilam técnicas, exercícios e sequências procedimentais que estão muito longe de se constituírem como normas rígidas. O espírito aberto, a insistência e perseverança são, claro, decisivos. Mas como fazer para não desistir? 

O título do livro é, então, o primeiro dos ensinamentos - escrever UMA canção, de princípio ao fim, sem tentações de multiplicar a dose ou os objectivos. Segundo o autor, ninguém "escreve canções" no plural mas sim UMA canção e depois outra. Essa primeira conquista, esse primeiro "yesss" de euforia, é a prova que o processo e a experiência envolvidos permitirão outros e renovados testes na tal especialização do "songwriting". Egos crispados ou encómios exagerados são a morte do artista e, por isso, são desaconselhadas aceleradas apresentações ou divulgações do feito sem a devida ponderação. 

Os exercícios sugeridos ora são inusitados ora óbvios, mas sobressai uma insistência na necessidade de isolamento (!) em que o local escolhido para o "acto de criação" se torna importante e decisivo. Se lhe juntarmos prazos ou deadlines, o que para um iniciante é questionável, o processo afigura-se bem mais intricado e a que não chega a dita inspiração ou até coragem em assumir o falhanço.   

Em toda a narrativa repete-se a referência a um predicado - chama-se iPhone e é o aparelho essencial para registar ideias, acordes, lembretes ou qualquer outra estratégia para, por exemplo, escrever letras para as melodias a partir de longas chamadas propositadamente gravadas com familiares, amigos ou até médicos. Damos connosco a matutar, o que seria fazer canções antes da chegada dos telemóveis, assunto que talvez merecesse um género de cronologia histórica ou dicionário técnico que, às tantas, já deve estar publicado algures... 

Resumindo, para curiosos sem quaisquer pretensões na composição ou na cantoria, cruzes, onde nos incluímos, a sebenta resulta num daqueles resumos que se lê antes do teste por um descargo de consciência inconsequente mas estimulante. Para empenhados a sério na composição, o melhor é mesmo ler o livro em jeito de tutorial mais que certificado e testado. Aqui ficam dois dos exercícios práticos, que um maduro se deu ao trabalho de demonstrar visualmente, só para saberem ao que vão!


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

WILCO, FAMA QUE VEM DE LONGE!















A sétima edição do Austin City Limits Hall of Fame, cerimónia que evoca o programa mais antigo de música ao vivo da televisão americana (1974), decorreu em Austin, Texas, no passado dia 28 de Outubro e tem agora apresentação global partilhável. Nessa noite foram homenageadas três personalidades/bandas, a saber, Lucinda Williams, Alexandro Escovedo e os Wilco, projecto rock de excelência a caminho dos trinta anos de actividade! 

Entre os vários momentos disponibilizados na totalidade, aqui deixamos a contribuição de Bill Callahan com a ajuda de Nels Cline numa grande versão de "Sky Blue Sky" (2007) dos próprios Wilco e a bem mais antiga "California Stars" (1998) em modo apoteose final "tudo ao monte e fé em Tweedy"...


3X20 JANEIRO

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

THE SMILE, SORRISO SÉRIO!















No início de 2021 o imprevisível Thom Yorke anunciava o embrião de um nova banda chamada The Smile. Atendendo à hiperactividade artística que sempre demonstrou nos últimos anos, o projecto sugeria ser mais um reflexo extemporâneo de criação ao lado de Jonny Greenwood, parceiro ancestral dos Radiohead e Tom Skinner, um dos bateristas dos fantásticos Sons of Kemet. A coisa, afinal, é séria! 

Em Maio último, aquando das transmissões virtuais do festival de Glastonbury, aconteceu o primeiro concerto surpresa e somaram-se os rumores da gravação de um álbum inteiro que o produtor envolvido Nigel Godrich assegurava estar pronto e de que dizia "não ser um disco rock". O mistério foi-se dissipando com "Free in the Knowledge", tema inédito que escolheu para a sua aparição e regresso ao palco do Royal Albert Hall durante evento Letters Live ocorrido a 30 de Outubro. Mais recentemente, o Instagram oficial serviu de plataforma para um género de ensaio acessível, perfomance rapidamente disponibilizada e alargada na partilha. 

Há agora um tema oficial - "You Will Never Work In Television Again" - que parece contrariar a sentença de Godrich já que estamos perante uma canção a roçar o punk-rock que pode indicar, ou não, uma tendência gostosa. Para o comprovar em definitivo estão marcados três concertos consecutivos em 24 horas (29, sábado e 30, domingo, de Janeiro) no anfiteatro da Magazine London, bem no centro das Docklands, em três fusos horários diferentes, com três transmissões globais e para três plateias sentadas mas ao vivo. Músicos em palco? Três!


ELVIS COSTELLO, UM RAPAZ CHAMADO EU!





















A resiliência estóica de Elvis Costello sempre se fez notar mesmo antes da chegada da pandemia. Claro que a vida derrapou em sobressaltos consecutivos (p. ex., a morte da mãe em Janeiro do ano passado) sem que, contudo, os projectos artísticos tenham diminuído na intensidade durante estes estranhos tempos. 

Desde Outubro de 2020, apontem, por favor: um álbum de estúdio "Hey Clockface"; um EP "La Face A Coucou" com adaptações/remisturas em francês de temas desse disco; uma luxuosa caixa com um significativo espólio referente ao álbum "Armed Forces" de 1979; a adesão ao projecto “Words & Music” Audible Series / How To Play Guitar; uma inesperada reinvenção do disco "This Year Model" de 1978 agora denominado "Spanish Model" com artistas latino-americanos e espanhóis a adaptar as líricas originais para o castelhano usando a base instrumental primitiva a cargo dos The Attractions!

Queremos mais? Sim e é só esperar a próxima semana para ver sair mais um trabalho de longa duração ao lado dos The Imposters e que foi baptizado de "The Boy Named If (And Other Children's Stories)", um nickname que Costello identifica como sendo um amigo imaginário, alguém que sabe tudo de nós próprios, ou seja, um eu secreto que nunca deixou de ser criança. A inspiração deu origem a treze canções que são também histórias com o mesmo título publicadas em livro cartonado e ilustrado por Eamon Singer, uma edição limitada e assinada já em pré-venda

As novas canções afiguram-se, assim, de imediato e urgente consumo onde não faltam solos de guitarra, trilhos rock & roll clássicos e melodias adornadas e parafinadas pelo trio habitual, Pete Thomas, Steve Nieve e o produtor Sebastian Krys. Ainda hoje está prevista uma entrevista via Youtube onde serão, certamente, conhecidos outros relatos e pormenores e a estreia de um video para "Farewell, OK", um dos treze enredos... 


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

SONDRE LERCHE, AMOR AVATAR?





















Cumprindo a tradição, o norueguês Sondre Lerche não acabou o ano sem a cover da praxe. A canção escolhida foi "Kiss Me More" de Doja Cat feat. SZA que podem ouvir sem receio na bandcamp do artista e onde se justifica, como se fosse preciso, a preferência. Para trás, em Outubro, tinha aparecido o single "Dead Of The Night", inédito que chegou a merecer uma versão acústica registada num cemitério californiano e que pressupunha que algo maior estaria para estalar.

Confirma-se, assim, um regresso aos álbuns com "Avatars of Love" (será piada aos ABBA? O estranho desenho da capa também não ajuda...) a sair em Abril, mês que marca ainda o início de uma digressão pela Europa que se estende aos EUA logo a seguir. Depois do excelente "Patiente", um enorme testemunho da capacidade super-pop de Lerche, o novo disco foi totalmente inspirado, composto e registado em território norueguês com a cumplicidade habitual de amigos músicos, produtores e engenheiros sob supervisão do próprio, que comandou a totalidade dos arranjos. 

Entre os quinze temas há colaborações com Felecia Douglass (Dirty Projectors?) em "Special Needs", CHAI (será o quarteto feminino japonês?) em "Summer In Reverse" e Mary Lattimore em "Magnitude Of Love", o que implica um toquezinho da maravilhosa harpa. Para já, podemos saborear estes três, qual deles o melhor! 



quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

FATHER JOHN MISTY, REGRESSO DE UM CROONER!


















Depois da pausa forçada causada pela pandemia mas que, mesmo assim, permitiu a edição de um registo ao vivo, aproxima-se um novo álbum de Father John Misty para Abril - "Chloë and The Next 20th Century", título a piscar o olho a uma personagem fictícia (?) da qual se vai contar uma ou várias histórias, tem em "Funny Girl" um primeiro avanço que o parece confirmar na intenção e no habitual sarcasmo ao jeito de um crooner de casino. Há até um tema, supostamente, em espanhol - "Olvidado (Otro Momento)" - e muita panache orquestral que têm duas datas já marcadas para Los Angeles em Fevereiro ao lado da LA Philarmonic e em Abril com a Britten Sinfonia no Barbican londrino. 

Ao comando da produção está o mago Jonathan Wilson a que se junta o arranjador Drew Erickson, com experiência comprovada em discos de Pearl Charles, Weyes Blood, Lost Horizons e do próprio Wilson. Prometida está uma versão luxuosa e recheada que a Sub Pop e a Bella Union disponibilizam a partir de 8 de Abril e na qual se incluem dois singles de vinil com mais uns pozinhos de surpresa como uma versão de "Buddy’s Rendezvous" de Lana Del Rey, tudo embrulhado pelo bom gosto dos artistas Lauren Ward, Alex Kweskin e Alia Penner.

UAUU #628

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

(RE)VISTO #93





















JOÃO GILBERTO 
Ao Vivo no Japão/ Live In Tokyo 
de Yutaro Mimuro. Japão; Promax/Road And Sky Music, 2019 
RTP2, Portugal, 3 de Janeiro de 2022 
Como muitos, suspiramos durante largo tempo a comparecer num concerto de João Gilberto. A anunciada vinda em 2003, a segunda tendo em conta a estreia em 1984 no Coliseu de Lisboa, ainda nos fez respirar mais depressa mas o cancelamento em duplicado deitou definitivamente por terra a aspiração antiga. Restava ouvir os discos e esperar que o único e oficialmente aprovado registo de um concerto seu fosse publicado, o que só viria a acontecer dois meses antes da sua morte em Julho de 2019. Editada, controlada, inspecionada e vigiada ao longo de uma dúzia de anos, trata-se de uma selecção de canções referentes à sua passagem nos dias 8 e 9 de Novembro de 2006 pelo Tokyo International Hall no Japão que o próprio considerou imperfeita, adiando a divulgação até ao limite. 

De gravata e fato, óculos na ponta do nariz, barbeado liso e um pequeno estrado para pousar os pés, os protagonistas cenográficos são a dupla de microfones imóveis na captação das cordas, as vocais e as de nylon (?), e o velho violão Di Giorgio. As câmaras aproximam-se amplamente na focagem dos acordes, das mão trémulas mas seguras na experiência de 75 anos ou no quase sussurro do cantar. Não há, obviamente, conversa nem agradecimentos, introduções ou explicações. Sucedem-se vinte canções, vinte monumentos de olhos fechados, algum suor na face mas o copo e garrafa de água pousados ao lado parecem intocados. 

O samba revisto e melhorado pela bossa nova de que Gilberto é patriarca consagrado na "batida do violão" e que se espalhou rapidamente mundo fora, provoca ainda e sempre calafrios na sua leveza e distinção. Os aplausos fortes são de uma misteriosa e rendida plateia asiática que não entendia uma única das palavras mas que desde 2003, ano de estreia ao vivo no país, Gilberto assumia como perfeita, repetindo visitas e permitindo até a edição de um disco ao vivo lançado pela Verve em 2004, uma rareza atendendo à distância e frieza da sua personalidade.

Esse reconhecimento, mesmo esquecendo os reparos que Gilberto sempre fez às condições acústicas das salas ou aos inadequados calibres técnicos, nota-se bem ao longo do filme. Não se ouve um tossir, um grito ou um outro qualquer ruído a incomodar o silêncio. Mesmo um leve bater palmas, quando se reconhece o início da canção, é fugaz na sua duração para que nada se perca. A ocasião é, nota-se, nobre no desfilar de muitos êxitos de autores e amigos como Jobim, Ary Barroso, Caymmi ou Vinicius de Moraes mesmo que tocados à sua maneira quase desconcertante - "Águas de Março" é o perfeito exemplo deste saboroso dislate e o leve sorriso, quase gargalhada, no final de "Pato", por truncagem inadvertida da letra, é o testemunho inocente da satisfação e do prazer com que estava ali. 

A vénia cortês de olhos fechados antes de regressar para o encore é, por isso, sincera. O violão, que não largou nem deixou sozinho em palco, é o velho companheiro indispensável para mais uma notável sequência com "Meditação" e o inevitável "Garota de Ipanema". De permeio, "Bim Bom", o único original eleito no alinhamento, e "Chega de Saudade" de uma genialidade e leveza inimitável. Isto (sim) é bossa nova, isto é muito natural, mestre! 

Este documento foi projectado em salas de cinema japonesas ao longo de uma semana de Março de 2019 e só depois foi comercializado no país de forma limitada em blue-ray com uma exclusiva embalagem de tecido, um toque de proximidade e respeito que o cobre como um tesouro. É isso que ele é e para sempre será!

(disponível na RTP Play

CALDEIRÃO DE VERSÕES!





















A organização Kill Rock Stars com sede em Battle Ground, Washington, lançou-se em 2020 na comemoração dos 25 anos do disco homónimo de Eliott Smith convidando uma série de artistas amigos a realizar uma versão de temas aí contidos. Já por aqui o fizemos notar, salientando a contribuição dos Bonny Light Horseman, mas o projecto sofreu um upgrade significativo com a evocação dos 30 anos da própria editora em 2021 através de "Stars Rock Kill (Rock Stars)", um caldeirão de 63 versões onde cabem nomes e mais nomes que se alongam em covers de outros parceiros e até dos próprios... 

Assim, entre os que conhecemos, aparecem Nels Cline, Xiu Xiu, Fruit Bats, Corrina Repp ou um destaque que elegemos no feminino - Laura Veirs ("Between the Bars" de Elliot Smith), Anaïs Mitchell ("Grace Cathedral Hill" dos The Decemberists) e Laura Gibson ("Curs In The Weeds" dos Horse Feathers). A compilação teve edição digital no último dia do ano passado e é uma verdadeira aventura sonora!



segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

KELLEY STOLTZ, PATINE ORIGINAL!






















O trajecto artístico de Kelley Stoltz tem merecido efectivo acompanhamento por aqui ou não fosse o norte-americano um verdadeiro achado em constante reinvenção. No entanto, confessamos que nunca mergulhamos de facto no início da sua carreira já antiga. 

A estreia em 1999 com o primeiro álbum "The Past Was Faster" na obscura The Telegraph Company resultou numa desilusão mas o então trintão Stoltz não desistiu. Investiu, isso sim, num caseiro e vintage gravador TASCAM 388 para registar a totalidade dos instrumentos por si tocados e cantados em catorze novas canções auto-editadas em 2001 em formato de vinil de tiragem reduzida e com capas pintadas à mão em meia dúzia de derivações pictóricas, um conjunto que apelidou de "Antique Glow". Há por lá verdadeiras pérolas psico-pop sem disfarce, trilhadas quer na folk inglesa dos anos 60 quer na pop dos 80 vinda do mesmo território e que é urgente redescobrir ao fim de vinte anos de patine. 

Atenta, a Third Man Records pôs cá fora em Novembro último uma versão vistosa do álbum que quase alcança o dobro dos temas (27) por se ter somado o recheio de um CD somente disponível numa digressão australiana e para onde foram relegados na altura mais uma dezena de inéditos caseiros mas que agora alcançam a merecida divulgação. Exemplos: "Too Beck", porque soava demasiado a Beck, ou o excelente "Umbrella" com direito a animação de imagens do próprio artista...