de Jeff Tweedy. London: Faber & Faber, 2020
Depois de devidamente documentados quanto à sua vida pessoal e artística e, implicitamente, quanto à longa vida dos Wilco, Jeff Tweedy não perdeu tempo e juntou um outro livro de aconselhamento em como escrever uma canção. Pode ser boa, pode ser má, depende de quem a ouve e de quem a faz, mas é aqui que o tema vertido para o compêndio se torna desafiante - é que quem a faz, ouve-a quase em simultâneo, o que na maioria das vezes reduz a tentativa a um tormento desmotivador.
Como músico e autor de centenas de canções de âmbito pop-rock e nos seus múltiplos trilhos, a fonte é por isso confiável e deve merecer atenção dos interessados, embora, aqui para nós, isto das canções terá sempre muito mais de inato e congénito do que de estudo metódico ou aprendizagem científica. Certo é que a sinceridade e amplitude das técnicas apresentadas acabam por surpreender pela aura de estranheza e mistério da instrucção que julgávamos só praticadas por amadores mas que, afinal, são o dia-a-dia dos profissionais do ramo. O esforço explicativo não transparece, mesmo assim, rebuscado ou sequer amaneirado na forma como se perfilam técnicas, exercícios e sequências procedimentais que estão muito longe de se constituírem como normas rígidas. O espírito aberto, a insistência e perseverança são, claro, decisivos. Mas como fazer para não desistir?
O título do livro é, então, o primeiro dos ensinamentos - escrever UMA canção, de princípio ao fim, sem tentações de multiplicar a dose ou os objectivos. Segundo o autor, ninguém "escreve canções" no plural mas sim UMA canção e depois outra. Essa primeira conquista, esse primeiro "yesss" de euforia, é a prova que o processo e a experiência envolvidos permitirão outros e renovados testes na tal especialização do "songwriting". Egos crispados ou encómios exagerados são a morte do artista e, por isso, são desaconselhadas aceleradas apresentações ou divulgações do feito sem a devida ponderação.
Os exercícios sugeridos ora são inusitados ora óbvios, mas sobressai uma insistência na necessidade de isolamento (!) em que o local escolhido para o "acto de criação" se torna importante e decisivo. Se lhe juntarmos prazos ou deadlines, o que para um iniciante é questionável, o processo afigura-se bem mais intricado e a que não chega a dita inspiração ou até coragem em assumir o falhanço.
Em toda a narrativa repete-se a referência a um predicado - chama-se iPhone e é o aparelho essencial para registar ideias, acordes, lembretes ou qualquer outra estratégia para, por exemplo, escrever letras para as melodias a partir de longas chamadas propositadamente gravadas com familiares, amigos ou até médicos. Damos connosco a matutar, o que seria fazer canções antes da chegada dos telemóveis, assunto que talvez merecesse um género de cronologia histórica ou dicionário técnico que, às tantas, já deve estar publicado algures...
Resumindo, para curiosos sem quaisquer pretensões na composição ou na cantoria, cruzes, onde nos incluímos, a sebenta resulta num daqueles resumos que se lê antes do teste por um descargo de consciência inconsequente mas estimulante. Para empenhados a sério na composição, o melhor é mesmo ler o livro em jeito de tutorial mais que certificado e testado. Aqui ficam dois dos exercícios práticos, que um maduro se deu ao trabalho de demonstrar visualmente, só para saberem ao que vão!
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