sexta-feira, 22 de outubro de 2021

(RE)VISTO #90






















MY NAME IS NOW, ELZA SOARES
de Elizabete Martins Campos. Brasil: Nitrato Filmes, 2014
RTP2, Portugal, 20 de Outubro de 2021
Estreado em sala em Portugal aquando do ciclo Brasil Musical no Cinema Trindade no Porto em 2019, o documentário tem agora apresentação em serviço público a cargo da RTP2, uma verdadeira dádiva para quem (ainda) dispensa a Netflix (está também disponível na RTPlay). 

A realização a cargo de Elizabete Martins Campos, envolvida profissionalmente com Elza Soares durante dez anos com o propósito claro de traçar a sua história, uma saga de intermitência contínua mas cuja tenacidade merecia todo o esforço e paciência, assume contornos de instalação video. O filme, preferimos classificá-lo assim, é uma demonstração de(a) força de uma artista que se diz ser tudo e não ser nada e que só um espelho amigo e confidente confirma nas contradições - forte e frágil, real e sobrenatural, triste ou alegre mas que a fizeram e fazem chorar na perca traumática de um filho criança ou nos aplausos que continua a receber, emocionada, quando sobe a um palco majestoso e que tantas vezes a ouvimos pedir nas duas oportunidades ao vivo onde tivemos a felicidade de comparecer. 

O seu canto, quase trôpego, do samba jazz, é desde sempre inimitável e ainda bem que esta música se torna bem audível ao longo dos setenta minutos da película, vincando e reforçando a sua transcendente actualidade num país ainda (sempre?) desigual e injusto que tem na libertação artística a arma que sinaliza e alerta para a miséria, a fome ou o racismo que a música de Elza, tão puramente brasileira, continua a embandeirar infinitamente, rechaçando ódios e insultos. 

Cara a cara, as imagens magníficas desta mulher toldadas de cor, néons e lustres desafiam preconceitos e convenções, acentuando a dureza de uma vida que renasce através das canções e que orgulhosamente se diz mulher do fim do mundo até ao fim a cantar... now!


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