domingo, 6 de março de 2022

JOAN AS POLICE WOMAN, Casa das Artes, Arcos de Valdevez, 4 de Março de 2022

Um estranho atraso no início do concerto foi interrompido pelo anúncio sonoro que dava conta de um acidente de última hora com um dos elementos da banda Joan As Police Woman mas que os restantes decidiram fazer o espectáculo. Quem não pretendesse presenciar o formato mais reduzido poderia sair e pedir a devolução do dinheiro do bilhete. Ninguém arredou pé. 

A entrada do trio corajoso tinha na cara de Joan Wasser o espelho da desolação. Quase em lágrimas e já de guitarra na mão, explicou que o engenheiro de som e produtor Benjamin Gregory, um amigo de longa data, tinha caído durante o sono (?) e batido com a cabeça, ficando mal tratado. Foi levado para o hospital acompanhado por Eric Lane, teclista de Jeff Buckley e membro do quarteto programado, razão da sua ausência em palco. Uma pena, mas, caramba, força aí Benjamin! 

Decerto que o alinhamento previsto sofreria óbvios constrangimentos o que não dispensou, contudo, uma passagem inicial por temas do último álbum "The Solution is Restless", registado com o baterista Tony Allen e o multi-instrumentista Dave Okumu, mas ali encarnados por Banjamin Lazar Davis, baixista, e Parker Kindred, baterista e também ele um elemento da banda de Jeff Buckley em finais dos anos noventa. Bem esperamos por essa pedrada longa chamada "The Barbarian" mas a opção recaiu em "Take Me To Yor Leader" e "Masquerader" que, tendo em conta as circunstâncias, soaram perfeitos. Seguiu-se um resto de noite mais descontraído mas, claro, condicionado. 

Desde sempre, Joan Wasser é em palco uma presença desconcertante na forma como alterna timbres de voz, se passeia cambaleante entre a guitarra e o piano ou joga na provocação sarcástica e desafiante com a plateia sobre inesperados temas ou assuntos. Notoriamente mais resguardada, essa postura habitual acabou, aos poucos, por submergir mas notou-se um esforço desmedido em fazer valer a estima e a concentração que os dois parceiros e cúmplices tentaram, e conseguiram, manter activas, ora combinando o que tocar, atendendo à prática datada de décadas de experiência conjunta, ora corrigindo tons e acordes sem disfarces. 

Surpresas como um tremendo "The Ride" ou "Warning Bell" foram fruto desse deslindar de soluções improvisadas que comprovam um songbook de recurso assinalável e infindável e que espelham a qualidade carimbada das canções e, já agora, das versões (a de "I Keep Forgettin'" bastou para o provar). Outros dois amparos de aconchego - "To Be Lonely" e "Your Song" - que tocou sozinha ao piano um pouco antes valeriam, por si só, o preço do bilhete e o preço da fortuna em tê-la ali, apesar de tudo, a fazer o cerco às emoções, às dela e às nossas. Com tamanha corrente de partilha, tudo ficaria bem. Stay strong, Joan As Felice Woman! 

 

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