quinta-feira, 24 de agosto de 2023

KOKOROKO+EXPRESSO TRANSATLÂNTICO+DOMI & JD BECK+YUNG LEAN+MAQUINA+BLACK MIDI, Festival de Paredes de Coura, 18 de Agosto de 2023

O colectivo londrino Kokoroko teve estreia no norte do país abençoado pela chuva. Não (ainda) muita, é certo, e, por isso, o festão que se adivinhava acabou mesmo por acontecer para alegria evidente de uma plateia que se mostrou, desde o início, interessada num folguedo com banda sonora de categoria superior, ou não fosse este jazz dito de fusão uma imensidão de ritmos e influências tropicais ou africanas com extensões ao funk e ao groove. Com músicos desta tarimba e expressão, só foi pena que o banquete sonoro não se tenha prolongado por mais tempo para ver se um qualquer sol de final de tarde, como merecido, acabasse por iluminar tamanho cenário. Kokoroko, ou seja, be strong!

 

Outro colectivo, mas de raiz na capital, chamado Expresso Transatlântico rondam a música popular portuguesa sem contemplações e que uma irrequieta e nada convencional guitarra portuguesa comanda insistentemente. Esse exagero, que nos sugeriu propositado, recebeu muitos e fortes aplausos mas acabamos por desligar do concerto sem uma razão aparente... Talvez não tivesse sido a hora e o local para os ouvir com atenção como, às tantas, deveria ter acontecido. Perdemos o expresso!

 

De fininho, ora aqui está um dos melhores concertos de todo o festival. Os miúdos Domi & JD Beck se já no disco de estreia causaram forte surpresa pela inusitada receita de drum & bass, jazz e hip-hop, ao vivo a prova sofisticada acabou ainda mais saborosa muito por culpa de um elevado acerto e cumplicidade, sobrepondo géneros, boa disposição e um ecletismo de versões asinalável - Aphex Twin ou Weather Report foram os escolhidos para escalpe recreativo brilhante o que nos leva a interrogar até onde estarão os putos dispostos a elevar fasquia! Muitos, ao nosso lado, de peito feito no gozo inicial - "isto é do canal Disney?" - acabaram mudos, calados e perfeitamente rendidos à acrobacia musical que se acabava de ouvir. Notável!

 

Já de barriga cheia após reforço alimentar, sem alternativas e já que ainda não chovia em demasia, apontamos a mira a um só personagem chamado Yung Lean que ocupou o palco principal em horário nobre. Não temos muitos mais comentários a fazer. Não gostamos do dito concerto mas percebemos cada vez mais esta insistência dos programadores em rappers dispensáveis - é barato e a parafernália sonora cabe numa só pen-drive ou nuvem. Fica a prova de dez minutos.

 

No caminho para o palco mais pequeno para os muitos aconselhados The Last Dinner Party reparamos na tela de fundo que anunciava "Máquina". Afinal os ingleses falharam a comparência por suposta doença de um dos músicos, embora isto das desculpas em cima da hora tresandem sempre a joguinhos de bastidores de managers e agentes. Adiante. A Máquina, banda do Porto arrebanhada para a substituição, ligou-se e, caramba, demorou tempo demais até se desligar. Ufa!

 

Os Black Midi, que puseram o Porto a arder o ano passado, tinham uma perfeita e contínua chuvada à sua espera. O fogo, mesmo assim e também desta vez, não se apagou. Com uma das melhores entradas em palco de sempre ao som de "Suavemente" de Elvis Crespo, o azeite não os fez escorregar, longe disso, já que o frenesim em cima e fora do palco cedo começou a carborar, provocando mosh contínuo de um revoltoso grupo fronteiro. Há nesta progressiva dose de rock um gozo experimental que avança, tema após tema, para um género de dilúvio sonoro com cada vez mais adeptos e que, ao vivo, se torna num incontestável êxtase e de que o figurão Geordie Greep parece troçar no desafio. Um estouro, mais um!

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