sábado, 30 de abril de 2016

(RE)LIDO #75





















AS VOLTAS DE UM ANDARILHO
Fragmentos da vida e obra de José Afonso
de Viriato Teles: Lisboa, Assírio & Alvim, 2009
O ultimo dia de Abril serviu para revisitar um livro que algumas vezes folheamos em jeito de consulta mas que desta vez mereceu uma leitura completa e até compulsiva. Trata-se de um já clássico sobre José Afonso contado pelo amigo jornalista Viriato Teles que, não sendo uma biografia nem pretendendo sê-lo, é um acto de homenagem à obra sempre actual de um dos principais artistas do Portugal moderno, reconhecimento talvez tardio mas que não deve deixar dúvidas a ninguém. Através das muitas vezes que entrevistou o autor de "Grândola Vila Morena", são ricos os pormenores sobre o mundo muito característico de Zeca Afonso nas suas vertentes públicas e a relação quase inocente com muitos dos que o acompanharam no seu percurso. Para além da modéstia reconhecida e da aparente indiferença quanto ao mundo artístico que o rodeava, percebe-se a verdadeira dimensão de um homem despegado mas que, sabendo bem o que queria e, principalmente, o que não queria, alcançou uma dimensão internacional que, como é costume, só os portugueses não detectaram a tempo... A doença não impediu a paragem ou a desistência e esse exemplo de abnegação e coragem merecia de todos, onde nos incluímos, um maior respeito e reconhecimento que importa sempre vincar. A leitura deste livro deveria ser assim obrigatória para todos os que pretendam pegar numa simples guitarra e começar a sonhar... a sério!                  

sexta-feira, 29 de abril de 2016

GREGORY PORTER, UM BECO COM SAÍDA!





















O aclamado álbum "Liquid Spirit" de Gregory Porter de 2013 tem finalmente uma sequela marcada para a próxima semana com a edição de "Take Me To The Alley" na mítica BlueNote. Incluída estará a uma versão muito própria de "Holding On", uma anterior e bem sucedida colaboração com os Disclosure que acompanha uma dúzia de outras canções entre as quais se contam as auto-biográficas "Don't Loose Your Steam" e "Take Me To The Alley". Entretanto, Porter aproveitou a ida ao programa de Jools Holland na BBC na segunda-feira passada para homenagear Prince ao lado dos Munford & Sons. Purple!






quinta-feira, 28 de abril de 2016

(RE)LIDO #74





















CANTORES DE ABRIL
Entrevistas a Cantores e outros Protagonistas do 
"Canto de Intervenção"
de Eduardo M. Raposo: Lisboa; Edições Colibri, 2ª ed., 2014
Entre 1997 e 1998 o estudioso Eduardo M. Raposo fez publicar na secção "Retratos" da revista "Vilas e Cidades" um conjunto de vinte e uma entrevistas a alguns dos principais protagonistas do chamado canto de intervenção ou a ele indirectamente ligado, acompanhando a recolha com uma pesquisa nos Arquivos da PIDE que a Torre do Tombo passou a disponibilizar. O estudo permitiu ao autor aprofundar uma temática apaixonante para o próprio mas também para o grande público que se viria a traduzir numa tese de doutoramento posteriormente transformada no livro "Canto de Intervenção 1960-1974" (esgotado, reimpresso pelo jornal "Público" em 2005 em versão aumentada). Quanto a esta colectânea de testemunhos orais há, obviamente, um manancial de informação diverso e abrangente que se relaciona com o nível de participação que os próprios tiveram num movimento expontâneo de contestação social e política mas, sobretudo, medindo o nível de expressão desse contributo de forma quase sempre modesta. Começando em Adriano Correia de Oliveira e terminando em Zeca Afonso, um elogio merecido e não coevo que paira em todo o livro - "O Zeca Afonso é o meu herói" confessa sem contemplações Sérgio Godinho (pág. 234) - algumas das recolhas acabam por ser surpreendentes quer pelo valor e riqueza da sua acção (de que os casos de Luís Cília ou Manuel Alegre são paradigmáticos) quer pelo oportunismo em falar sobre o "assunto" de alguns personagens inusitados (p.ex. Fialho Gouveia, o jornalista Eugénio Alves ou Mário Vieira de Carvalho). A importância da música e das canções no despertar de uma nova e arriscada consciência política é assim um caso de estudo, académico ou não, que tem neste documento de consulta obrigatória um ponto de partida fundamental para entender um período decisivo de Portugal a que Manuel Alegre alude de forma lapidar no prefácio: "Contra a censura, contra a Pide, contra repressão, contra a guerra, não tínhamos outras armas: tínhamos a poesia, a canção, a guitarra. E foram elas que, de certo modo, na madrugada de 25 de Abril, floriram também nas armas libertadoras" (p.20)

Nota: o excelente documentário de Joaquim Vieira "A Cantiga Era Uma Arma" emitido pela RTP e já referido por aqui tem agora uma imperdível edição em DVD através do jornal "Público".                    

quarta-feira, 27 de abril de 2016

MR. BURBERRY, CHEIRINHO A BENJAMIN!















A famosa marca britânica criou uma nova fragrância a que chamou Mr. Burberry e não poupou nos esforços para a promover magistralmente - primeiro, convidou Steve McQueen para se aventurar pela primeira vez na realização do respectivo filme comercial onde brilha o actor Josh Whitehouse e a actriz Amber Anderson; segundo, a banda sonora coube a Benjamin Clementine e à canção "I Won't Complain" incluída na versão luxuosa do álbum "At Least For Now" e que o próprio gravou em sessão acústica. A convite de Christopher Bailey, designer oficial da marca, Clementine tinha já tocado ao vivo durante o desfile de moda Burberry Prorsum 2016 realizado nos Kensington Gardens de Londres em Janeiro e do qual foi até editado um single digital. Agora é só (des)esperar por dia 2 de Junho!





UAUU #318

terça-feira, 26 de abril de 2016

ALEXIS TAYLOR AO PIANO!

A voz carismática de Alexis Taylor dos ingleses Hot Chip estará em evidência num novo álbum a solo simplesmente intitulado "Piano". São onze temas originais e algumas covers - de Elvis Presley e Crystal Gayle - que sai na Moshi Moshi já em Junho. Aqui fica "I'm Ready", um primeiro avanço que também abre o disco.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

SINGLES #39





















AMÁLIA RODRIGUES - Grândola Vila Morena|/Alecrim
Portugal: Columbia/Valentim de Carvalho, 8E 006 40332 G, 1974
A revolução portuguesa trouxe consigo uma caótica situação em que o impasse político quanto ao caminho a trilhar pelo país conduziu a muitas indefinições e "vira-casaquismo". Na música, o chamado canto de intervenção ganhou lugar de destaque passando o fado a estar imediatamente associado à ditadura e, por isso mesmo, alguns artistas e fadistas viveram um ostracismo só muito mais tarde parcialmente abandonado. Porém, Amália Rodrigues, a cantora do regime antigo, logo em 1974 entra sem contemplações na "corrente" gravando a canção-senha "Grândola Vila Morena" de José Afonso, por sinal uma versão notável, mesmo escondida numa capa do single de fotografia alentejana da autoria de Augusto Cabrita, contrariando o hábito de ver uma imagem sua como em quase todos os singles que até aí tinha editado. Ou seja, medindo bem as eventuais reacções negativas que aconteceram de ambos os lados da "contenda" - os amigos que a criticaram pelo "esquerdismo", os opositores que a acusaram de "oportunismo - o pequeno disco quase passou despercebido entre tantos outros que nessa época inundaram as rádios e as lojas. O encontro, o único, entre Amália e José Afonso viria a acontecer passados dez anos como conta o jornalista Eugénio Alves na segunda edição do livro "Cantores de Abril" de Eduardo M. Raposo (pág. 53) e que pode ser relido por aqui. Já antes Amália Rodrigues tinha gravado "Natal dos Simples", um outro original do mesmo Zeca Afonso e até "Trova do Vento Que Passa", o irreverente hino académico da autoria de Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre, havendo outros exemplos de "adaptação" aos novos tempos como "Meu Amor É Marinheiro" onde a letra e a capa não deixam dúvidas quanto ao assumir da nova realidade. Voltando a "Grândola Vila Morena" na voz de Amália, com arranjos e direcção de orquestra de Joaquim Luís Gomes, foi considerada uma das dez melhores versões do tema pelo site "Arte Sonora", mas ela devia ser, sem subtilezas, a número um!


KRISTIN MCCLEMENT, O Meu Mercedes..., Porto, 24 de Abril de 2016














































A estadia de Kristin McClement em Portugal que durará quase uma semana teve ontem um início perfeito. Simpática, de poucas falas e muita timidez, fez realçar sem esforço a beleza e intimismo da sua música, canções frágeis mas de uma notável pureza que fazem delas pedacinhos folk sem idade nem tempo. Pena que a adesão tenha sido mínima - não mais de trinta pessoas sortudas - o que não retirou ao concerto um único momento de prazer auditivo culminado com duas canções que fazem tremer a alma e chorar as paredes - "Drinking Waltz" e, no encore, a magistral "I Pursue The Blues". Não percam, por isso, a oportunidade de apanhar por aí em mais quatro concertos ao longo dos próximos dias e aproveitam para admirar e, já agora, adquirir uma das gravuras lindas que a própria desenha e imprime em casa de forma tradicional. Temos artista!







sábado, 23 de abril de 2016

UAUU #317

THE CLIENTELE, PÉROLAS ESQUECIDAS!





















O segundo e maravilhoso disco "Strange Geometry" dos ingleses The Clientele, editado em 2005, tem agora uma merecida versão melhorada em vinil através da Merge Records. Gravando pela primeira vez num estúdio profissional - o Bark Studios de Walthamstow a noroeste de Londres - a banda escolheu um conjunto de 12 canções, deixando para trás muitas outras que, por algum motivo, não couberam no álbum. É por isso que, juntamente com a referida nova edição, surgirá um Ep em formato digital com 6 temas preteridos na altura agora reunidos sob o nome de "A Sense of Falling: Strange Geometry Outtakes" e de que há já um primeiro exemplo de bom gosto aqui abaixo. São pérolas...

sexta-feira, 22 de abril de 2016

JULIA HOLTER DE SECRETÁRIA!

TINY RUINS, SONHO LYNCHIANO!

Uma daquelas colaborações improváveis em que David Lynch é pródigo tem agora um novo e irresistível exemplo - a neo-zelandesa Hollie Fullbrook que veneramos escondida no nome Tiny Ruins gravou com o mestre a canção inédita "Dream Wave" que terá exclusiva edição num 7" de vinil através da Bella Union. Tudo começou com o envio de uma demo para Lynch que, surpreendido, viria a gravar o tema num primeiro encontro nos estúdios de Hollywood durante a digressão de Fullbrook pelos Estados Unidos no ano passado. O resultado é convincente!



(RE)LIDO #73





















21 NIGHTS
PRINCE / RANDEE ST. NICHOLAS
New York: Atria Books, 2008

Sentados no sofá em frente à televisão em constante zapping era de Prince que se falava. Fartos da lenga-lenga (excepção a Rui Miguel Abreu, muito bem, na RTP3), decidimos vasculhar as prateleiras de casa à procura de um volume que, na altura da compra ao desbarato numa grande superfície, acabamos por esquecer até a uma melhor altura... Feita a descoberta, a hora infelizmente tinha chegado e, baixando o som televisivo, retiramos o Cd que o acompanha e lá ligamos o leitor para o fazer correr alto e bom som pela primeira vez. Incrível, mas este é mesmo o único livro editado pelo génio de Mineápolis, um projecto fotográfico do amigo Randee St. Nicholas que ilustra a passagem por Londres em 2007 onde esgotou o O2 Arena durante 21 noites, recorde que Michael Jackson pretendia bater não fosse a morte prematura. O luxo dos cenários do hotel Dorchester, o glamour dos fatos e trajes Westwood, Versace ou Burberry, as maquillhagens finas, o brilho das limousines e carros, tudo funciona como um cenário cinematográfico que parece retirado, como alguém fez notar, de um filme imaginário de Baz Luhrmann! Se pensarmos que o artista e respectiva banda actuaram também nessa altura na London Fashion Weekeend, dá para imaginar o que seria um fabuloso argumento para um tal documentário... Intercalam-se com as fotografias de alto a baixo as letras de canções principalmente do então novo disco "Planeth Earth", o trigésimo segundo álbum de Prince que saiu de forma gratuita no jornal inglês "The Mail on Sunday", e alguma poesia adequada à imagem em causa, tudo irrepreensível, tudo lustroso, tudo magnífico. Longe da luz do sol de que Prince sempre se resguardou, curiosas são duas páginas de fotografias exteriores em Praga, talvez um daqueles caprichos repentinos para conhecer a cidade seguido de um rápido regresso a Londres e ao conforto do hotel, tudo num estilo púrpura que o glam-rock nunca sequer imaginou ser possível. Depois há ainda o bónus das canções ao vivo incluídas no Cd nomeado "Indigo Nights", uma mistura de "perfomances after-show" que Prince praticava obrigatoriamente e onde se misturam longas jam's ou versões incríveis como a de "Whole Lotta Love" dos Led Zepplin. Puro génio, génio puro!  

quinta-feira, 21 de abril de 2016

PRINCE (1958-2016)















Abril, mês da Primavera e da revolução é também, afinal, um mês aziago!
Assim, sem aviso como sempre será, faleceu hoje Prince, o tal "artista" que ouvimos cantar "Sometimes It Snows In April" num quente dia de Agosto de 1993 a partir do backstage para um Alvalade em delírio. Inesquecível, tal como muitos dos seus discos e canções! Peace, génio Rogers Nelson!

Tracy died soon after a long fought civil war,
Just after I'd wiped away his last tear
I guess he's better off than he was before,
A whole lot better off than the fools he left here
I used to cry for Tracy because he was my only friend
Those kind of cars don't pass you every day
I used to cry for Tracy because I wanted to see him again,
But sometimes sometimes life ain't always the way

Sometimes it snows in April
Sometimes I feel so bad, so bad
Sometimes I wish life was never ending,
And all good things, they say, never last

Springtime was always my favorite time of year,
A time for lovers holding hands in the rain
Now springtime only reminds me of Tracy's tears
Always cry for love, never cry for pain
He used to say so strong unafraid to die
Unafraid of the death that left me hypnotized
No, staring at his picture I realized
No one could cry the way my Tracy cried

Sometimes it snows in April
Sometimes I feel so bad
Sometimes, sometimes I wish that life was never ending,
And all good things, they say, never last
I often dream of heaven and I know that Tracy's there
I know that he has found another friend
Maybe he's found the answer to all the April snow
Maybe one day I'll see my Tracy again

Sometimes it snows in April
Sometimes I feel so bad, so bad
Sometimes I wish that life was never ending,
But all good things, they say, never last

All good things that say, never last
And love, it isn't love until it's past


(listen)

sábado, 16 de abril de 2016

THE DIVINE COMEDY À PARIS!

O inimitável Neil Hannon esteve ontem com a sua banda The Divine Comedy na primeira edição do L'Arte Concert Festival em Paris que decorre até amanhã no espaço polivalente de La Gaité Lyrique. São, como sempre, noventa minutos de eleição e puro prazer com direito a algumas canções do novo álbum a sair ainda este ano. Outros espectáculos podem também ser revistos aqui.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

UAUU #316

CAVEMAN, REGRESSO MADURO!





















Os mais dois anos sem notícias dos Caveman estão prestes a finar. Apostando numa inédita fórmula de composição em que o paciente líder Matthew Iwanusa utilizou simplesmente um laptop e um teclado portátil nas traseiras das carrinhas da anterior digressão, o registo definitivo das canções aconteceu num estúdio de Brooklyn e, assim, um novo disco chamado "Otero War" tem já data de edição para 17 de Junho através da Cinematic Music Group. O single de avanço "80 West" exala anos oitenta por todo o lado e argumenta-se com um amadurecimento natural e que desta é que é de vez ao jeito dos War On Drugs. Suspiramos para que tanta madureza não apodreça...

SINGLES #38





















BELLE ET SEBASTIEN
Bande Originale du Feuilleton TV de Cécile Aubry
Musique composée et dirigée par Daniel White
France: Philips, EP 437.974 BE, 1969 (?)
Já lá vão alguns anos desde que um bem visível "Belle et Sebastien" nos surgiu à frente impresso num pequeno e antigo vinil acompanhado de uma fotografia de patine colorida com um cão e um miúdo. Tratava-se de um EP francês com quatro pequenos temas da banda sonora da série de televisão original que adoptou o romance escrito em 1966 por Cecile Aubry (1928-2010), sendo a própria autora responsável pela sua narração e adaptação e onde fez debutar o seu filho Medhi El Glaoui no papel do pequeno Sebastien. A versão a preto e branco de TV iniciada em França foi rapidamente dobrada em inglês e a BBC não perdeu tempo a emiti-la a partir de 1967 o que aconteceu com assinalável êxito um pouco por toda a Europa, incluindo Portugal onde passou na RTP dois anos depois. Seria, ao que parece, retomada/repetida aos sábados entre 1985 e 1986, mas os 13 episódios não chegaram a ser totalmente emitidos... O romance original foi também por cá publicado na editora Aster em 1972 entre inúmeros livros infantis da mesma autora, nomeadamente toda a colecção da série Poly e outras sequelas. O argumento a puxar ao moralismo e à amizade comovente contava uma aventura realista: em plena II Guerra Mundial uma mulher grávida e à beira da morte é socorrida por dois caçadores nos Alpes franceses junto da fronteira com Itália dando à luz um menino que recebe o nome de Sebastião por ser o dia do santo com o mesmo nome. A morte desta mulher leva a que o pequeno seja criado por um ancião e uma neta a que se junta mais tarde uma cadela vadia (sempre pensamos que era um cão!) da raça São Bernardo ou Cão de Montanha dos Pirinéus e que o pequeno Sebastião baptiza de Belle. Seguem-se infindáveis aventuras na demanda da mãe e onde se misturam a Resistência francesa e o Nazismo alemão! Pela tenra idade, passamos completamente ao lado quer destes livros quer da própria série, mas uma assinatura de posse "Rosa Marques" na parte de trás do nosso single talvez indique que não faltaram seguidores em tempos de dois únicos canais! Esta é, afinal, uma peça histórica porque foi ela, a série (ou o livro?), que inspirou o colectivo escocês Belle And Sebastian a escolher o nome para a banda tendo, coincidentemente, a sua música acabado por obter enorme receptividade em França logo em 1998 com múltiplas sessões de rádio, televisão e apresentações ao vivo, chegando mesmo a fazer uma célebre cover de "Poupée de Cire, Poupée de Son", canção que Frances Gal popularizou em 1965 no Festival da Canção em representação do Luxemburgo. Quanto aos rumores sempre negados que "Belle" se refere a Isobell Campbell e "Sebastien" a Stuart Murdoch, o rompimento do namoro e o consequente abandono de Campbell em 2002 marcaria definitivamente o fim de uma amizade colorida que deixou marcas bonitas como a nada inocente "Is It Wicked Not to Care?"





quinta-feira, 14 de abril de 2016

KEVIN MORBY, UMA ESTRELA NO FIRMAMENTO!





















Apesar de ainda estarmos no segundo trimestre do ano, certo é que o álbum "Singing Saw" de Kevin Morby terá que, sem rodeios, fazer parte de todas as listas justas lá para Dezembro. O disco sai amanhã na sempre fiável Dead Oceans e, ouvido de fio a pavio de forma irresistível nos últimos dias, assusta pensar que Morby ainda não chegou aos trinta anos e consegue já tanta, mas tanta, grandeza. Sente-se, ao fim do terceiro disco, que o reconhecimento que agora começa a ser visível é sustentado em humildade, talento, bom gosto e extrema qualidade e é pois difícil escolher uma das nove novas canções inspiradas nas colinas de Los Angeles, da maravilhosa "Cut Me Down" que abre o disco, à dylaniana "I Have Been to the Mountain" passando por jóias como "Drunk and On a Star", "Water" e "Destroyer", a preferida do próprio músico. Junta-se a este prazer o facto de Kevin Morby estar já alinhado para o próximo Festival Paredes de Coura e só rogamos para que, no âmbito dos pequenos concertos só para alguns de meio da tarde que aproveitam cenários minhotos, não se esqueçam de o convidar a fazer magia. Já andamos a sonhar que iríamos lá estar!






quarta-feira, 13 de abril de 2016

UAUU #315

(RE)LIDO #72
















E TUDO ERA POSSÍVEL
Retrato de juventude com Abril em fundo
de José Jorge Letria. Lisboa: Clube do Autor, 2013
O mês de Abril é no âmbito da nossa actividade profissional um período agitado por inúmeras iniciativas expositivas à volta da Revolução dos Cravos. Uma delas recai sobre as canções gravadas em discos de vinil antes e depois da ditadura e, a partir deles, surgem amiúde uma série de pormenores e significados que sempre nos despertaram uma imensa curiosidade. Nada melhor, então, que procurar as respostas adequadas em forma de livro, sendo este o primeiro que escolhemos para iniciar a demanda.

O autor, José Jorge Letria, hoje presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, viveu bem de perto esses tempos agitados. Cedo dedicado à poesia e às canções, foi no jornalismo que encontrou a profissão efervescente que lhe permitiu participar em momentos chave quer de preparação do golpe militar quer na intensa agitação política e social que se seguiu e em que a música ao vivo ocupou particular papel representada pelos seus principais cantores e artistas, de José Afonso e José Mário Branco a Carlos Paredes, entre muitos outros. Há nas pequenas histórias de meia dúzia de páginas uma aprazível memória que nos conduz a acontecimentos inesperados da história portuguesa, como o da noite em que a "Grândola Vila Morena" foi cantada em jeito de desafio em pleno Coliseu de Lisboa ou o mítico jogo de futebol de Chico Buarque e respectiva banda brasileira contra um grupo português de artistas amigos e que resultou no amuo de um Buarque que nem a feijões gosta de perder, história que inspirou aliás o filme documental "Meu Caro Amigo Chico". Nota-se uma intensa paixão e sensatez de Letria em muitos dos relatos que se propôs contar, particularmente saborosos na caracterização das velhinhas redacções de jornais como a da "República" ou do "Diário de Notícias", períodos de viragem vorazes vividos sem freio. Mas é na nostalgia de uma vida enegrecida pela censura que a viagem a Paris para a gravação do primeiro álbum adequadamente intitulado "Até Ao Pescoço" em 1972, na companhia de José Mário Branco, surge como o momento chave de uma vida que rapidamente haveria de se multiplicar em melindres e inquietações. E tudo era possível, suspirava o autor, mas um notório desalento com a política, o jornalismo e, principalmente, as canções, levaram Letria a afastar-se da vida artística para se dedicar essencialmente à escrita e à promoção cultural, actividades merecedoras de prémios e reconhecimentos diversos. Um livro simples e desassombrado que funciona como um eficaz introdução panorâmica a quase duas décadas da sociedade portuguesa, cumprindo assim da melhor forma a nossa escolha para tentar entender, sem esforço desmesurado, um momento único de esperança colectiva.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

FAROL #122











As jovens manas lisboetas Golden Slumbers, um excelente nome de baptismo sacado a uma música dos Beatles, editaram o disco de estreia "The New Messiah" através da NOS Discos, um notável conjunto de canções registados no Alvito alentejano. Façam o favor de aproveitar...

domingo, 10 de abril de 2016

DESTROYER, CANÇÃO MISTERIOSA!





















Uma das "sobras" do excelente disco "Poison Season" dos Destroyer terá edição em vinil de 12" já no início de Maio. Chamada "My Mistery" a canção que, segundo o próprio Dan Bejar, era vagamente dançável até que que um tal Dj johndwardcollins lhe enviou um email a solicitar algo de novo... O resultado aí está para causar divisões e reacções acesas dos fãs e agora só falta conhecer o original para uma avaliação mais justa!

sexta-feira, 8 de abril de 2016

SÉBASTIEN TELLIER, FILMES É COM ELE!




















Não é a primeira vez nem será, certamente, a última que Sébastien Tellier é convidado para compor música para filmes. Respondendo a desafios constantes, temos desta feita duas bandas sonoras quase simultâneas para dois projectos franceses.

Para o mais recente "Marie et les Naufragés", com estreia marcada para o próximo dia 13 de Abril em França, Tellier conduz-nos por um ambiente retro-electrónico a la Giorgio Moroder sem esquecer alguns momentos de bizarria que funcionam como homenagem a dois dois seus heróis - Enio Moriccone e Marvin Gaye. A película realizada por Sébastien Betbeder conta com a participação de Eric Cantona no papel de um torturado escritor...




























A outra aventura cinematográfica diz respeito ao já estreado "Saint Amour", um audicioso road-movie da responsabilidade da dupla Benoìt Delépine e Gustave Kerven e onde Gérard Depardieu desempenha o papel de um pai agricultor preocupado com o futuro solitário e imprevisível do filho... Para o efeito, Tellier escreveu simplesmente três pequenos momentos musicais que tiveram somente direito a edição digital via a habitual Record Makers.    



BILL RYDER-JONES, MAIS VERSÕES!

Como convêm e como prometido, Bill Ryder-Jones volta à carga com mais quatro versões de ambiente caseiro. Desta vez os eleitos foram Burt Bacharach, Simon & Garfunkel e uma insistência nos Pink Floyd e Leonard Cohen. Tchim-tchim! 

quinta-feira, 7 de abril de 2016

UAUU #314

WILLIAM TYLER, APROXIMA-SE O COUNTRY MODERNO!





















O início de Junho marcará o regresso de William Tyler aos discos, o quarto, do jovem guitarrista de Nashville que começou nos Lambchop e agora tem já um sólida carreira a solo. O álbum intitulado "Modern Country" foi escrito durante uma estadia sabática em Oxford no Mississipi e as oito canções reflectem, por isso, uma certa nostalgia de uma America rural em vias de desaparecer para sempre. Para o efeito recebeu, entre outros, a colaboração de Phil Cook (His Golden Messenger) e do percursionista Glenn Kotche (Wilco) e há já datas de digressão americana juntamente com o Mountain Goats e os próprios Wilco. Aqui fica uma previsão do que vamos ouvir e também uma demonstração de quase dez minutos de todas as suas capacidades e mestria.    



quarta-feira, 6 de abril de 2016

(RE)VISTO #65





















COBAIN - MONTAGE OF HECK
de Brett Morgen; Portugal, Universal/HBO, DVD, 2015
Em Abril do ano passado chegava a alguns cinemas portugueses o muito aguardado documentário sobre Kurt Cobain, um projecto demorado e de conivência familiar para vasculhar numa imensidão de material inédito como manuscritos, filmes, fotografias e até proto-canções. O resultado, se bem que esforçado, acaba numa desilusão. A intimidade anunciada - "o documentário rock mais íntimo de sempre" diz a revista Rolling Stone -  por exagerada conduz-nos a uma incómoda e confrangedora posição voyeurista que chega a assustar. Há méritos, claro, na montagem de uma trama de que já sabemos o epílogo, tudo muito bem feito, tudo muito bem produzido com a ajuda da filha Frances Cobain, ela mesma uma personagem central do filme. E é precisamente aqui, aquando do seu nascimento, que as imagens de decadência doentia de Cobain e Love nos conduzem a um quase abandono que, de certeza, teria sido certo se eventualmente estivéssemos numa sala de cinema sem hipótese de carregar no botão de avanço rápido... Fica a sensação que a ambição desmesurada converteu o projecto numa enorme montanha oca e da qual só queremos descer em passo rápido para voltar a respirar normalmente esquecendo uma dor que continua sem explicação. Ufa!
              

terça-feira, 5 de abril de 2016

(RE)LIDO #71





















NIRVANA
by Steve Gullick e Stephen Sweet (photographs)
London: Vision On Publishing Ltd., 2001
Passam hoje vinte e dois anos sobre a morte de Kurt Cobain. Vivemos esse dia com uma tristeza que disfarçava, sem escrúpulos e muito egoísmo, algum alívio. Os Nirvana caminhavam para uma massificação perigosa e Cobain, em rota previsível de colisão, agoniava-nos com uma infindável sequência de altos e baixos. Estivemos lá em Cascais uns dias antes (6 de Fevereiro) e, apesar de tudo, o concerto encheu-nos as medidas pelo vigor da massa sonora, pela rigidez adquirida ou não de um Cobain bem comportado e bem secundado. Depois do fatídico 5 de Abril de 1994 desligamos a corrente sobre uma história mexericada já demasiadas vezes contada e recontada e que quase sempre incluí uma série de sinónimos da maldita palavra arrogância. Há uns bons tempos, em plena Vandoma, demos de caras com este livro que desconhecíamos no meio de edições douradas do Eça e atlas do Circulo de Leitores e folheando as suas páginas a preto e branco com fotografias sorridentes e alegres acabamos por trazê-lo sem muito custo para casa. São imagens, algumas que se tornariam clássicas, que dois fotógrafos ingleses conseguiram no auge de uma banda em crescimento rápido, demasiado rápido, desde o London Astoria em 1989 até aos largos recintos da Pensilvânia já em 1993. A cumplicidade deste conjunto salta a olhos vistos, seja em ensaios caóticos, conferências de imprensa, backstages em modo de assalto e, acima de tudo, brilhantes panorâmicas de palcos e multidões em delírio, uma experiência marcante para, por exemplo, Steve Gullick que continua a desbravar o filão sem preconceitos. Um documento notável que prova a bondade de um mito da música moderna e que sempre vimos como um tipo sereno sentado num sofá a dedilhar uma guitarra como na capa escolhida ou, calmo, fumando um cigarro nos camarins do desaparecido pavilhão de Cascais... Come as you are!    
   


UAUU #313

segunda-feira, 4 de abril de 2016

DEAD COMBO e AS CORDAS DA MÁ FAMA, Casa da Música, 2 de Abril de 2016

Fotografia de Paulo Homem de Melo / Glam Magazine














Depois de cidades como Lisboa, Ponta Delgada, Guimarães ou Évora, a chegada a bom Porto do espectáculo dos Dead Combo e As Cordas da Má Fama estreado em 2015 mereceu casa cheia e expectativa elevada. Continuamente inquieto e permeável e na sequência da anterior experiência com o grupo de metais da Royal Orquestra das Caveiras que deu direito até a gravação de um DVD, o duo lisboeta mudou de flanco e a jogada envolve agora um trio de cordas para, supostamente, desconstruir os temas originais. Cenário a rigor - um género de tasca-chique onde as mesas são efectivamente servidas de bebidas o que inclui os próprios músicos, obviamente - questionamos várias vezes ao longo do serão se todos estes apetrechos, o cenário e o tal trio, serão necessários para que a música dos Dead Combo alcance o seu efeito reconhecidamente vibrante. Há muito que viajamos com eles por "paisagens" de cowboys, ruas estreitas e pregões de varinas ou fadunchos de esquina e palito na boca, uma "cinematografia" que rapidamente ganhou fama e traquejo e que Tó Trips e Pedro Gonçalves não dispensaram de vincar na primeira meia-hora do serão em pedaços magníficos raçados de fado como "B.Leza" ou "Esse Olhar Que Era Teu". Quando se juntaram os tais mal afamados não foi fácil, confessamos, "engolir" a receita embora os últimos discos contenham já uma multiplicidade instrumental e sonora que reinventa sem contemplações alguma da rudeza de há dez anos atrás. Tal como uma afamada infusão, a "coisa" lá se foi entranhando mas o entusiasmo da plateia só mesmo no encore arribou em força talvez porque, sem bebida por perto como alguns privilegiados, a "cura" demorasse mais tempo a aportar...    


UAUU #312

domingo, 3 de abril de 2016

BOB DYLAN, BENDITA MELANCOLIA!





















No seguimento do excelente disco "Shadows In The Night" só com versões de temas de Frank Sinatra, Bob Dylan parece empenhado em prolongar o desafio. Um Ep em formato CD originalmente saído aquando da recente digressão japonesa com mais quatro oldies da mesma cepa foi um sinal e sabe-se agora que eles farão parte de um outro álbum a editar em Maio pela Columbia chamado "Fallen Angels". Quanto ao referido Ep, o milagroso Record Store Day será a oportunidade certa para passar a vinil encarnado as quatro canções: "Melancholy Mood", "All Or Nothing At All", Come Rain Or Come Shine" e "That Old Black Magic". A primeira versão, que Sinatra cantava com a James Orchestra em 1939, tem sido apresentada ao vivo de forma quase obrigatória e na rede há para já este doce pedacinho registado aquando da passagem por Paris. Lembramos que Dylan fará 75 anos em 24 de Maio e todos os motivos são bons para comemorar...