quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

LUZ NA CAMERA OBSCURA!





















O ano de 2015 foi trágico para os escoceses Camera Obscura. A teclista Carey Lander, fundadora da banda, não resistiu a um problema oncológico e a sua partida motivou um hiato no projecto por parte dos restantes membros. Embora amigos e em contacto, a motivação para continuar foi-se diluindo e esmorecendo, o que só se inverteu, quatro anos depois, quando os Belle & Sebastian convidaram os Camera Obscura a integrarem o Booty Weekender, festival comemorativo efectuado num cruzeiro pelo Mediterrâneo, o que ocorreu com a contribuição de teclista Donna Maciocia. O momento, apesar de festivo, manteve o silêncio e o recolhimento. Até ontem. 

Onze anos depois, anuncia-se "Look To The East, Look To The West", um novo álbum, o sexto, certamente difícil na gravação - o penúltima canção "Sugar Almond" tem dedicatória destinada à amiga Carey Lander - mas onde a pop continua muito bem tratada e fresca como se pode ouvir em "Big Love", o primeiro de onze temas registados e que se antecipam em encomenda em versão exclusiva de vinil através da Menorail Music de Glasgow, casa especializada que foi também responsável pela reedição cuidada de alguns álbuns mais antigos. A produção esteve a cargo de Jari Haapalainen, o mesmo de "Let’s Get Out of This Country", disco de boa memória (2006) com arranjos de Björn Yttling dos Peter Bjorn e John.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

JESCA HOOP, UPS!





















"Jesca Hoop estreia-se em Portugal. A artista norte-americana, nascida na Califórnia mas radicada em Manchester, anuncia três concertos - em Lisboa, Setúbal e Guarda - para o mês de fevereiro. No dia 21 de fevereiro, Jesca Hoop atua no Auditório Carlos Paredes, em Lisboa; no dia 22, em Setúbal, no Cinema Charlot do Auditório Municipal; e no dia 23, no Teatro Municipal da Guarda."
 

Saudando a escolha mas lamentando, desde logo, a ausência de um concerto nortenho, é assim que os promotores apresentam os três concertos de Jesca Hoop programados para o próximo mês de Fevereiro. 

Seria, no entanto, bom esclarecer que a referida artista já esteve em digressão pelo país em 2009, nomeadamente, no Via Latina coimbrão e no saudoso Mercado Negro aveirense, como o prova o video do amigo HugtheDj de abaixo e onde a própria conta a experiência de ter sido baby sitter dos filhos de Tom Waits... Ups! 

Seria, ainda, conveniente elucidar as datas correctas dos espectáculos que não batem certo com as que se afixaram no texto e também no cartaz de cima - no caso da Guarda, os bilhetes já à venda referem-se ao dia 24 de Fevereiro, sábado... Ups!


UAUU #707

TIM BERNARDES, Teatro de Vila Real, 27 de Janeiro de 2024

O reencontro com Tim Bernardes, agendado desde Agosto, espalhou-se em estreia a algumas cidades portuguesas, o que no caso de Vila Real motivou plateia esgotada. O formato manteve-se o mesmo que naquela altura perfumou um final de tarde courense, uma aprovada variação solitária de três guitarras e um grande piano como suporte de um alinhamento a destacar o último álbum "Mil Coisas Invisíveis". 

O público mostrou-se, desde cedo, atento e de um estranho mas bem-vindo silêncio sepulcral durante as canções, uma tensão que a superior acústica da sala elevou ainda mais na limpidez sempre que o piano vibrou na sua grandeza. Lugar ainda para algumas dos temas que fizeram dos O Terno um caso de sucesso dos dois lados do Atlântico, a que se juntaram versões cirúrgicas de Veloso & Gil e Caymmi que confirmam Bernardes como um regenerador moderno e cuidado dos pormenores da bossa nova ou da MPB. 

Continua a surpreender a segurança com que executou a totalidade dos temas, misturando costumes e modos de composição e voz que nos obrigam a não perder pitada de uma perfomance de intimidade assumida e que uma subtil melancolia adornou num encantamento ondular. Bastava o calafrio de "Última Vez" para o sacralizar! 

À viola ou no piano e mesmo sem muita da grandiosidade das orquestrações dos discos, Bernardes é um caso sério de amor à primeira audição que se converte, entre os jogos de luz e os silêncios e palmas de uma sala de concertos, numa experiência sensorial imperdível que a língua comum estimula na intensidade. Para todos os que pretendem repetir os arrepios ou para os que ainda não testaram a vibração, a estreia do artista no Coliseu do Porto no dia de amanhã poderá ser a oportunidade perfeita...  

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

MARO, MAIS QUE BONITO!

Há perto de duas semanas, guitarra às costas por entre flocos de neve, Maro entrou numa queijaria, sim, numa queijaria de Groningen, Países Baixos, para fazer magia com "Something About Tomorrow".

O convite do canal Arte, no âmbito do festival Eurosonic Noorderslag 2024, tem agora imagens... mais que bonitas!

NUBYA GARCIA, EXPECTATIVA CRESCENTE!

Em Julho passado o tema inédito "Lean In" de Nubya Garcia sugeria que, da parte da saxofonista inglesa, o álbum "Source" de 2020 teria, finalmente, sucessor à altura. Passaram seis meses e uma nova peça de colecção submerge imensa e despertadora - tal como a anterior, "Fortify" foi gravada no Livingston Studios de Londres com Deschanel Gordon nos teclados, Sam Jones na bateria e Daniel Casimir, enorme baixista que tocou ao vivo com Camilla George em Matosinhos em 2022

De inspiração recatada nas vivências de infância ("Lean In") ou insistindo arduamente na urgente protecção do "nosso" mundo como reforço motivacional ("Fortify"), a dupla de temas faz crescer, e muito, as expectativas para o que, ainda sem título, se adivinha de excelente grandeza jazzística. 


HANIA RANI DE SECRETÁRIA!

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

STILL CORNERS, UMA CONSTANTE DA VIDA!





















Para a dupla britânica Tessa Murray e Greg Hughes, que desde 2007 assinam como Still Corners, a receita para continuar a feitura de canções têm nos sonhos o principal condimento. O sonho comanda a vida, como vaticinou o mestre Gedeão, o que para Murray é mesmo uma máxima levada à letra todas as noites quando tenta passar para uma folha de papel os enredos sonhados de que depois se socorre em pleno estúdio para, a partir de um loop de Huges, construir com insistência as desejadas canções. 

O sexto álbum chamado, lá está, "Dream Talk" teve neste método a principal sementeira e que dará frutos pela Cargo Records a 5 de Abril próximo numa dezena de temas, como sempre, irresistíveis. Trata-se, por isso, da sequência natural do anterior "The Last Exit" datado de 2020, teimosia salutar para ouvir nos dois primeiros cantos já disponibilizados, confirmando, como se percebe pela imagem metafórica da capa da autoria do velho amigo Scott Campbell, que eles sabem mesmo que o sonho é uma constante da vida... 

Os Still Corners tocam em Paredes de Coura em Agosto e se algum calor será bem-vindo, afigura-se um sacrilégio pô-los a tocar com luz do sol!


segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

KAMAAL WILLIAMS, DESALINHO ACERTADO!





















Os primeiros dias do ano trouxeram, de surpresa, um novo EP de Kamaal Williams com cinco variações desalinhadas a tornear "Everything in Its Right Place", um original dos Radiohead incluído no álbum "Kid A" de 2000. Trata-se de uma recreação que Williams já apresentou por diversas ocasiões ao vivo, tal como aconteceu no brilhante concerto de Matosinhos em Julho último e no qual teve companhia de Peezy na bateria e Marquinn Mason no saxofone. 

São precisamente eles que participam na gravação do EP que contou ainda com a contribuição do inglês Malcom Catto (The Heliocentrics), dono do estúdio onde o registo foi apurado. Para o design foi convidado o prestigiado Sascha Lobe, artista que tinha já elaborado o desenho da capa do álbum "Stings" editado em Setembro. 

Sem previsível edição em vinil, o selo é da própria Black Focus Records e todos os proveitos da sua venda digital serão destinados a apoiar a música independente. Se quiserem ajudar...

sábado, 20 de janeiro de 2024

MARLENA SHAW (1942-2024)





















No apogeu do cd, apanhámos nuns saldos uma compilação de 2000 dos dois primeiros álbuns de Marlena Shaw ("Out Of Different Bags" de 1967 e "Spice Of Life" de 1969) editados pela Cadet Records, uma subsidiária da então grande Chess Records, casa que a descobriu e lançou. Esses dois discos rodaram e rodaram tempos infinitos e em força no carro, em férias, em casa, seduzidos que ficamos à força e veludo da voz de Shaw numa onda de soul e funk

Em futuras investidas de digging pelo vinil, foi com espanto que agarramos uma pequena rodela portuguesa da artista de 1973 com duas versões de excelência - "Lost Tango in Paris" e "Save The Children" - sendo esta última de Marvin Gaye uma daquelas pepitas que gostamos de aplicar em algumas sessões para amigos onde tiramos o pó aos vinis, uma classe e estilo que espalhou em dezassete álbuns gravados entre 1967 e 2004. Marlena faleceu ontem pacificamente a ouvir as suas músicas favoritas... Peace! 

UAUU #706

DUETOS IMPROVÁVEIS #283

KATHRYN WILLIAMS & WITHERED HAND 
Shelf (Williams/Willson) 
Álbum "Willson Williams", One Little Independent Records
Inglaterra, Abril de 2024 

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

LONEY DEAR, TUDO PASSA!

O estatuto de calimero que associamos, a brincar, a Emil Svanängen aka Loney Dear acaba por ser o resultado premente da audição das canções que continuamente vai gravando há mais de vinte anos. Algum dramatismo, contínuo lamento ou a proximidade de desgraças fazem da composição, ainda assim, uma atractiva receita pop que a Rel World Records de Peter Gabriel acolheu em 2021. Foi lá que editou dois discos, o último dos quais, "Atlantis" (2022), o seu primeiro álbum ao vivo embora gravado para uma audiência de oito pessoas em plena tormenta pandémica. É uma injustiça...

O regresso aos trabalhos de longa duração acontece no dia de hoje com "All Things Go", um nono disco de originais com alguma promoção já realizada em sessões televisivas pela Suécia, país por onde andará em digressão nos próximos meses, mas sobre o qual se desconhecem muitos pormenores (p. ex. qual é editora?). Não faz mal, as músicas continuam, como sempre, a bastar!



É DIA DE NILS FRAHM!

O alemão Nils Frahm terá uma nova série de seis peças ao piano a editar no dia 1 de Março através da LETTER Verlag, casa onde publicou em 2021 uma compilação de velharias esquecidas ainda que sublimes

O disco "Day" foi gravado no verão de 2022 em perfeita solidão mas, surpresa, retirado do seu estúdio Funkhaus em Berlin, um género de regresso ao passado e aos roteiros inspiradores dos álbuns iniciais "The Bells" (2009) ou "Felt" (2011). Aqui fica "Butter Notes", uma nova prova de amor ao inseparável piano.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

ED HARCOURT, O MAGNÍFICO!





















O lamiré já por aqui foi dado no início de Dezembro passado - o britânico Ed Harcourt gravou um novo álbum e de que "Strange Beauty" foi o primeiro tema a revelar-se através de um video rodado numa praia deserta do Cabo de Gata em Almeria, sul de Espanha, perfeito cenário para brincar aos spaghetti western... 

A estadia serviu para o amigo Steve Gullick fazer uma série de fotografias e imagens em Super8 usadas no referido video e num novo que hoje se deu a conhecer referente a "Deathless", canção que o próprio Harcourt descreve como a mais "pesada" do disco, uma tentativa de, nas suas palavras, (re)escrever "Who Wants To Live Forever", que julgamos ser o hit que os Queen lançaram em 1986! 

O álbum de doze canções chama-se "El Magnífico", sucede uma pérola instrumental ao piano já com mais de cinco anos, será editado no final de Março e foi inteiramente gravado e produzido pelo próprio no estúdio Wolf Cabin de Oxfordshire, sudoeste de Inglaterra.

(RE)VISTO #113





















SHOW ME THE PICTURE: A HISTÓRIA DE JIM MARSHALL 
de Alfred George Bailey. Reino Unido/E.U.A., Film Constellation, 2019 
TVCine Edition, Portugal, 13 de Janeiro de 2024 
Levar uma máquina fotográfica para um concerto de rock é, afinal, um gesto antigo e natural que continua ainda hoje a multiplicar-se. O resultado obtido terá sempre a ver com a escolha do momento e, sobretudo, o talento em como o fazer de forma incomum - o norte-americano Jim Marshall é talvez, a esse nível, o nome maior da história da música a que se juntam ainda notáveis instantâneos dos movimentos pelos direitos civis da década de sessenta. Após a sua morte em 2010, fazer-lhe uma biografia documental acaba por ser de uma justiça incontestável mas também obrigatória, atendendo ao calibre do seu legado e para o que se recorreu a testemunhos e confissões de amigos como do actor Michael Douglas ou de aficionados mais novos como o reputado Anton Corbjin que teve no seu exemplo a força inspiradora da sua carreira. 

O isolamento que Marshall sofreu no fim da vida, muito por culpa de uma ruinosa dependência de cocaína, contrastou com o permanente convívio com figuras e artistas de eleição que logo lhe reconheceram a diferença e, acima de tudo, a virtude - no despertar criativo de Coltrane, de Dylan ou Hendrix já Marshall se movimentava na sua proximidade, merecendo a confiança e até uma amizade de todos eles que se foi espalhando a outros artistas como Janis Joplin. Marshall passou a ser parte da família, um à vontade que se manteria intacto quer na intimidade e proximidade destinada a um retrato quer no acesso livre a backstages ou frentes de palco, de Newport, Monterey, Altamont ou Woodstock, com os The Beatles em Candlestick Park de São Francisco, naquilo que seria o último concerto dos de Liverpool, ou, anos depois, num avião dos The Rolling Stones em digressão americana movida a linhas brancas...

A azáfama diária desta vida de fotógrafo-estrela sugere uma boémia crescente, imparável e, obviamente, massacrante que só o encontro com Amelia Davis haveria de estancar - aos poucos e a partir de 1998, foi ela que, cimentando a amizade difícil num estatuto de confidente, conseguiu controlar o incontrolável na beira de um precipício contínuo. O fundo patrimonial hoje existente com o nome de Jim Marshall cumpre um desígnio que o próprio sempre defendeu e praticou, isto é, ter a totalidade dos direitos de autor das suas imagens, uma fortuna que se manteve ameaçada até aos últimos dias de um carrossel difícil de parar. 

Sem surpresas, o filme é uma constante galeria da perfeição. Ao cativante preto e branco que emerge na delicadeza única de um Miles Davis boxeur sentado num canto do ringue ou na força do dedo em riste de Johnny Cash em San Quentin, pode adicionar-se também o colorido vintage de um Hendrix ajoelhado em frente à sua guitarra em chamas ou no filtro vermelho que aplicou a uma panorâmica mítica de Woodstock. Todas património da humanidade, todas de uma eternidade intocável. Haverá, por isso e para cada um de nós, uma fotografia preferida que se pode eleger com tempo a partir do livro que foi publicado com este documentário. 

Mas Marshall, que tinha na Leica uma extensão do corpo quando saía de casa, tinha também um lado errático, rancoroso e desafiador que, num impulso, o fazia guardar uma arma atrás das costas em todas as ocasiões e eventos. Para alguém que fotografou o, então, novo símbolo da paz de forma constante, este jogo de amor e ódio evidenciou-se um refúgio perigoso que o levou a tribunais e celas frias como consequência de uma conduta em que o inimigo sempre foi o próprio Marshall. Talvez sem essa tensão psicológica, sem essa desafiante fragilidade, tamanhas fotografias nunca se revelariam na sua sumptuosidade, magnificência e marca que, aos nossos olhos, se agigantam em lições mestras de essência estética e de arte fotográfica. Um portento!   

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

CARLOS TÊ EM 1974!

















No âmbito da excelente rubrica "Onde eu estava..." do Diário de Notícias assinada por Alexandra Tavares Teles e que recolhe testemunhos de personalidades conhecidas sobre o que viviam há cinquenta anos, coube hoje a Carlos Tê recordar o Porto de 1974, como sempre, melancólico e misterioso mas também levemente cosmopolita e onde se fala de calças de ganga, snooker e também dos esquecidos Fotheringay. Leitura deliciosa aqui!

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

AMBROSE AKINMUSIRE, JÓIA PRECIOSA!

Editado o mês passado, só ontem escutamos "Owl Song", a estreia do trompetista Ambrose Akimusire na editora Nonesuch Records depois de muitos anos na Blue Note. O disco é de uma espantosa beleza nocturna a beliscar Miles Davis da melhor maneira, ou seja, celebrando uma vagarosa e misteriosa quietude ambiental. 

As oito peças tem colaboração, assumida na capa do álbum, do baterista Herlin Riley e do guitarrista Bill Frissell e resultam de uma reacção ao actual e massivo excesso de informação e na procura de um auto-refúgio salvador que Akinmusire admira em discos mais antigos de eterna adoração. Trata-se de uma primeira de três ambiciosas partes que se pretendem editar ao longo ano e que se adivinham preciosas 

O trio chega à Europa central já no final do mês para uma digressão imperdível de onze datas por alguns países e que servem de apresentação de um trabalho de imediata transcendência, qualidade previamente confirmada ao vivo em Coimbra em Outubro de 2022. Pode ser que um novo "sopro" o reaproxime ao sul para delapidar a jóia...


UAUU #705

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

BOWIE 77!













No dia do seu septuagésimo sétimo aniversário, David Bowie é agora nome de rua em Paris e motiva a libertação de uma outra cover de "Space Oddity" pelos Wilco, já que a banda em 2016 tinha feito, ao vivo, uma versão do tema no Kings Theater de Brooklyn. 

A nova rendição faz parte de "Live on Mountain Stage: Outlaws and Outliers", uma compilação comemorativa das sessões radiofónicas com o mesmo nome a sair em Abril. Parabéns, camaleão!

BILL FAY, ESPÍRITO DE GRUPO!





















O álbum "Tomorrow Tomorrow and Tomorrow" foi registado entre 1978 e 1981 pelo Bill Fay Group como uma aposta no escuro na procura de um contrato fonográfico. Para o efeito, escolheram-se cinco temas - "Life", "Spiritual Mansions", "Cosmic Boxer", "Strange Stairway" e "Isles of Sleep" - obtidas em duas sessões de estúdio que se enviaram para editoras numa colectiva expectativa sonhadora mas o punk, então em efervescência, ofuscava qualquer desalinho. 

Só em 2005 o álbum haveria de conhecer uma publicação em CD, sem companhia de qualquer vinil que o ano a seguir aportaria, finalmente, numa edição de 33 rpm de alinhamento truncado e com várias lacunas, sendo a maior a falha de nove canções originais. Não estranha, por isso, que a Dead Oceans invista agora na reposição de uma obra esquecida mas, ainda, de enorme urgência. 

No final de Fevereiro estará, então, pronta uma reedição cuidada e de plena arqueologia artística com a totalidade dos vinte e dois originais a que se acrescentam mais seis demos e temas bónus, tudo envolto com fotografias inéditas obtidas nas sessões de gravação e textos do guitarrista Gary Smith e do baixista Ralf Galip, faltando o baterista Bill Stratton que, desiludido, foi o primeiro a abandonar o barco. Ao lado de Bill Fay, foram eles que fizeram este assombro de jazz, folk e rock sem idade. Uma maravilha!

Na sequência de convites anteriores (Jeff Tweddy, Steve Gunn, Mary Lattimore ou Julia Jacklin), a editora pediu a Marlon Williams para gravar uma versão à sua escolha e que recaiu em "After The Revolution", um clássico de deslumbrante eternidade que se dá a ouvir a partir de hoje.


ARNALDO TRINDADE (1934-2024)















A vida de Arnaldo Trindade foi, por si só, uma exemplar epopeia. A partir do Porto e de uma intuitiva veia comercial, começou na poesia e na gravação, pelos próprios, de Torga, Eugénio de Andrade ou Sophia de Mello Breyner mas cedo foi na música que assentou o negócio, multiplicando várias lojas na baixa portuense

Ignorando a Pide, deu total liberdade a José Afonso, a Adriano Correia de Oliveira, Fausto ou Sérgio Godinho para gravar o que quisessem e o resultado foi de assinalável qualidade e memória. A etiqueta que criou, a Orfeu, aglutinou o folclore, o fado ou a música popular mas seria o vanguardismo da chamada música de intervenção que o vinculou à história. Arnaldo Trindade faleceu hoje, aos 89 anos, na cidade que nunca abandonou. Paz!

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

DUETOS IMPROVÁVEIS #282

REGINA SPEKTOR & JACK DISHEL 
We're not supposed to be lovers (Green) 
Álbum "Moping in Style (A tribute to Adam Green)" 
Captain Records, E.U.A., Dezembro de 2023

TIM BERNARDES, MAI(s)OR BARATO!





















Desde Julho que estão anunciados novos concertos de Tim Bernardes em Portugal. Estávamos em pleno festival Paredes de Coura, onde o brasileiro foi figura de destaque, e os Coliseus de Lisboa (1 e 2 de Fevereiro) e Porto (31 de Janeiro) ficaram agendados para o reencontro de previsível sucesso, a que se juntou o auditório principal do Convento de São Francisco em Coimbra (20 de Janeiro). 

A estadia lusitana será, assim, bem prolongada e a chegar a cidades em estreia. É o caso de Vila Real que no sábado, 27 de Janeiro, recebe também no seu principal teatro o concerto a solo de Bernardes com um preço de acesso em verdadeira dádiva. Os bilhetes estão aqui. O maior barato!

NICK DRAKE A NEGRO!





















Em 1974, um último esforço de Nick Drake no regresso ao estúdio para a gravação de alguns temas não escondia um certa dose de desespero. Entre os despojos de luxo então registados destacaram-se quatro canções que só em 1979 veriam a luz do dia. Uma delas, "Black Eyed Dog", sugeria uma profecia que se confirmaria com a sua trágica morte em Novembro desse ano. Magnífico mas duro... 
(a sessão e alguns complementos está por aí à mão de semear mas foram oficialmente incluídos na compilação "Made To Love Magic" de 2004) 

Não admira, pois, que a revista inglesa Record Collector, na edição de Janeiro, tenha escolhido o negro como pano de fundo para um destaque de capa a esses tempos escuros ao lado Syd Barrett, um outro problemático iluminado que no mesmo ano foi persuadido a um regresso a Abbey Road para uma esperançosa sessão de composição. Tal como Nick Drake, essa foi também a última tentativa. 

Os cinquentenário da morte de Nick Drake que se assinala em 2024 deverá motivar continuados destaques da imprensa especializada ao longo dos próximos meses, últimos tempos de vida de que não existem filmagens ou sequer fotografias - na notável montagem concebida para a capa da revista que coloca, frente a frente, Barrett e Drake a tocar quase na mesma sala, foi usada uma imagem de finais dos anos sessenta obtida no "music room" caseiro de Tanworth-in-Arden.