Um grande piano e duas guitarras bastaram a Tim Bernardes para segurar, com embalo, a plateia na sua maioria sentada e relaxada na relva. A destreza e habilidade da postura, a informalidade da interacção, a força das canções ou as letras por todos soletradas ou entoadas em coro, fizeram do concerto um encontro de amigos que se reinventa a cada frente a frente, olhos nos olhos, como se fosse o primeiro. Houve tempo para versões de Gilberto Gil ou dos O Terno e agora é só esperar pelo próximo convívio, ou melhor, recomeço (Coliseu/Porto/Lisboa/31 Janeiro/1 Fevereiro/2024). Realmente lindo!
O esclarecimento quanto aos autores do que afinal se dava a ouvir estava afixado na tela - Avalon Emerson & The Charm. Estacamos na lateral à espera de melhoras e surpresas, consultamos o site oficial numa tentativa ilusória de contexto, mas o registo sonoro não saiu de um desenxabido e inclassificável engano. Avisamos, desde já, para a perca de tempo da prova em video abaixo.
A presença de Brittney Parks aka Sudan Archives motivou forte ajuntamento e alvoroço. Dona de uma irrequieta presença em palco, o concerto ondulou numa anarquia saborosa que cresceu em delírio sempre que o violino eléctrico se deu a ouvir. Surpresa aquela incursão na tradição folk irlandesa, o que nos dias que correm, prova que a incompatibilidade de géneros e etiquetas foi atirado às malvas com o advento imparável da globalização digital. Foi a primeira vez que vimos jovens em reboliço e mosh ao som de um tradicional fiddle mas a noite, no mesmo palco, aportaria outras incredulidades.
Passaram vinte e três anos sobre o primeiro disco dos nova-iorquinos The Walkmen. A aventura traduziu-se num boa meia dúzia de discos de indie rock de excelência mas os cinco amigos decidiram em 2014 parar para retempero... O hiato, que só agora foi interrompido para uma digressão, chegou a Coura em boa hora. O medo, natural, que as canções soassem datadas ou amorfas e longe da consistência do que ouvimos no Parque da Cidade em 2012, cedo se esvaneceu perante a frescura, rigor e vigor de um alinhamento vintage e certeiro que teve em "Heaven", isso mesmo, um pedacinho de "couraíso" rock!
Super mini-saia e corpete negros, bamboleos libidinosos, garrafa de espumante emborcada amiúde e uma caveira como adorno de amizade colorida - a menina Desire sabe muito e bem como conduzir em polvorosa uma plateia cedo mergulhada numa rave italo-disco de assumida lata, nada que deslustre o desiderato obtido com a festa brava. Claro que os New Order e a Kylie Minogue não têm culpa nenhuma mas, who cares, só lhe faltou juntar a Sabrina e os Righeira para que linha de bingo ficasse completa. Marota!
A vantagem de Loyle Carner em relação a outros artistas hip-hop tem na banda instrumental que o acompanha um trunfo incontornável. Esse baloiço moderno de soul e r&b, que oscilou colina acima e abaixo de forma evidente, é mesmo um luxuoso protector que recebeu bênção de, entre outros, Tom Misch ou Jorga Smith que se fizeram ouvir em voz off de forma subtil. Transpareceu uma forma bem educada e calma de tratar o rap, sem aqueles exageros de jargão ou palavrões que tanto massacram e afastam gerações mais velhas como a nossa mas que Carner soube juntar, naturalmente, às mais novas. Uma excelente surpresa, premiada com um poema rap absorvido por todos num silêncio e atenção memoráveis. Yoh!
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