segunda-feira, 29 de maio de 2023

MARO + M. WARD, M.Ou.Co., Porto, 27 de Maio de 2023

Passou mais de uma dúzia de anos desde a estreia de M. Ward no Porto. Desprezamos, nessa altura, a oportunidade que só haveria de ter redenção parcial em 2020 com uma visita a Guimarães que teve tanto de amorfa como de estranha. Insistimos na tentativa de obter uma compensação satisfatória e plena e, assim e à última da hora, decidimos comparecer no M.Ou.Co. medianamente reticentes mas na esperança de um bom concerto. Foi o que aconteceu. 

Empenhado e em forma, Matthew Ward cedo vagueou pelo palco no seu jeito característico de empunhar a guitarra e, de olhos fechado, cantar em quase sussurro algumas das suas excelentes canções de ronda ao blues e ao folk americano nos quais vai continuamente insistindo desde 1999 em mais de dez álbuns de originais e muitas versões. Billy Holliday, Buddy Holly ou o incontornável "Let's Dance" de Bowie não foram, por isso, dispensados mas a surpresa completa foi mesmo, já no encore, "Late Night Talking" de Harry Styles ao lado da jovem Maro um pouco atrapalhada mas a dar conta do recado na meiguice da voz e na simpatia já ensaiadas, com êxito, na primeira parte do espectáculo. 

Ward terá álbum novo muito em breve e talvez se esperassem novos temas no alinhamento mas só "Supernatural Thing", o tema-título, foi escolhida de permeio a um bom conjunto de clássicos de autor reclamadas por aficionados conhecedores e de que "Shangri-La", "Vincent O'Brien" ou "Rollercoaster", já no segundo encore, foram exemplares na adoração de uma plateia bem composta e interessada na partilha e a que Ward, reconhecidamente, deu tradução performativa. 

 

Apesar do atraso na entrada na sala, ainda fomos a tempo de ser surpreendidos por uma inesperada combinação de sotaque brasileiro de alguns dos originais o que tem afinal uma expliçação dada pela própria - radicada no Brasil durante algum tempo em 2021, Maro não escapou à sedução de um tropicalismo tardio potencialmente eficaz mas ainda a requisitar acertos. 

Sozinha, sem as guitarras de um duo que a acompanha agora em digressão nacional, o enfrentamento com um público mais adulto (?) e desconhecido torneou-se amistosamente com boa disposição e respeito de um nome que todos reconhecemos ganhadora de um Festival da Canção, o que não sendo nenhum pecado é, invariavelmente, inconsequente. Neste caso, contudo, essa vitória sugere ter sido simplesmente o ponto de partida de uma carreira prometedora e inteligente.    

sexta-feira, 26 de maio de 2023

CALEXICO, FESTA GALEGA!





















O disco "Feast of Wire" que os Calexico editaram há vinte anos recebe hoje uma edição melhorada e aumentada onde cabem versões de "Alone Again Or" dos Love, que habitualmente tocam ao vivo, e de "Cowboy in Sweden" de Lee Hazlewood gravada, precisamente, num concerto em Estocolmo em 25 de Abril de 2003 e que se junta a outros nove temas bónus do mesmo espectáculo no China Theatre da cidade. 

O álbum marcou, na altura, uma opção mais pop de um som de ecletismo assumido e que teve rodagem ao vivo por perto a que assistimos de bom grado. Joey Burns e John Convertino, a dupla maravilha, têm sido visita descontínua ao nosso país - em 2013 passaram com sucesso por Coura e em 2016 estiveram no NOS Alive da capital - e não é surpresa que a próxima digressão comemorativa prevista para a Europa não alcance terrenos de extremo sulista. Mas há, felizmente, alternativa! 

Na segunda ronda pelo velho continente (a primeira começa já em Junho), as quatro datas previstas para Espanha têm tiro de partida na Galiza onde o Auditorio Mar de Vigo recebe a 11 de Outubro, quarta-feira, a festa de aniversário dos de Tucson, às tantas, regadas com umas Coronas fresquinhas. Já há bilhetes. Olé! 


quinta-feira, 25 de maio de 2023

BUCK MEEK, O SOM DA MONTANHA!





















O guitarrista e compositor Buck Meek, parte essencial dos grandes Big Thief, tem assumido vida própria e contínua insatisfação artística. Irrequieto, registou já dois álbuns a solo e um terceiro numa nova editora, a britânica 4AD, que também é a casa dos referidos Big Thief e de Adrianne Lenkar, está já a caminho. O trabalho chega, em força, a 25 de Agosto próximo numa toada de assumida electricidade hi-fi que contrasta com o anterior "Two Saviors", de onda mais calma e lo-fi. O novo volume ressalta, vibrante, do tema título eleito como primeiro single. 

Em "Haunted Mountain" agrupam-se canções escritas ao lado de Jolie Holland, amiga e heroína de eleição, e que se apresentam com uma característica comum - o alto de várias montanhas foi o local inspirador da composição, desde as Franklin Mountains na natalícia Wimberly no Texas, passando pelo Valle Onsernone nos Alpes Suiços, onde se obteve a fotografia da capa que acima se reproduz, até à portuguesa Serra da Estrela, o que talvez explique "Lágrimas", título de um dos novos temas que foi já apresentado a solo e ao vivo na sessão do mês passado na loja Third Man Records do Soho londrino. 


quarta-feira, 24 de maio de 2023

TINA TURNER (1939-2023)













Entre o estatuto de rainha do rock dos anos oitenta ou o furacão funk dos anos setenta, somos dos que preferimos sempre uma Tina Turner nesta última versão arrebatadora embora sabendo dos problemas com o parceiro e marido Ike Turner, transformando a sua vida num inferno de mazelas que o relato biográfico e o posterior filme ilustraram de forma inequívoca.

Compreende-se, por isso, que da estreia portuguesa em Alvalade em 1990 não tivessem sido eleitos muitos dos hinos empolgantes de pistas de dança do passado, do presente e do futuro como estes dois irresistíveis aqui abaixo. Simplesmente, a maior. Peace!    


DUETOS IMPROVÁVEIS #274

JOHN PARISH & ALDOUS HARDING 
Three Hours (Nick Drake) 
Àlbum tributo "The Endless Coloured Ways: The Songs Of Nick Drake" 
Chrysalis Records, Inglaterra, Julho de 2023

sexta-feira, 19 de maio de 2023

PAUL SIMON, RETEMPERANTE!














Crescemos com Simon & Garfunkel a tocar no gira-discos lá de casa e nunca deixamos de acompanhar o trilho de Paul Simon feito, de surpresa em surpresa, ao lado de músicos africanos ou jamaicanos numa ponderada carreira de quinze discos a solo. Em 2018 com o álbum "In The Blue Light", Simon sugeria estar resignado, regravando temas da sua autoria que pareciam esquecidos e cujo ressurgimento funcionava como um epílogo artístico. Nada de mais errado. 

Aos oitenta e um anos, Paul Simon fez sair hoje, e como anunciado, um trabalho inédito - chama-se "Seven Psalms", o mesmo nome de um disco de spoken word de Nick Cave editado o ano passado, e deve ouvir-se de enfiada ao longo de trinta e três minutos num género de suite com sete canções interligadas que começam em "Lord" e acabam com "Wait". A experiência é, simplesmente, retemperadora! 

A composição instrumental e as líricas são totalmente da sua autoria, tendo recebido ajudas do grupo vocal VOCES8 e da esposa, a cantora Eddie Brickell, dividindo a produção com Kyle Crushman. Prometido está ainda o documentário "In Restless Dreams" dirigido pelo experiente e premiado realizador Alex Gibney que contará a história e as vicissitudes do projecto mas sem data de lançamento anunciada. Há, no entanto, um pequeno trailer para destapar a curiosidade.


ANDY ROURKE (1964-2023)














Ser baixista dos The Smiths, banda crucial senão cimeira dos anos oitenta, não deve ter sido tarefa fácil. A discrição de Andy Rourke sempre contrastou com as irreverências e arrufos de Morrissey com quem partilhou palcos antes e depois da separação mas também cadeiras opostas de tribunal na disputa de direitos de autor que Mozz fez questão de contar ao pormenor em formato novela... 

As contas, difíceis de fazer e compreender, são para aficionados disparates inconsequentes atendendo à qualidade eterna das canções e para as quais as linhas de baixo de um homem charmoso foram sempre um fortificante. Rourke faleceu hoje com 59 anos. Peace!

quinta-feira, 18 de maio de 2023

AMARO FREITAS EM MATOSINHOS!













O brasileiro Amaro Freitas têm sido visita frequente ao nosso país, mas as comparências nunca são demais. Em 2022 esteve, pelo menos, em Espinho, Loulé e São João da Madeira em formato trio, apresentações que agora se vão repetir em Loulé (MedFest) e na estreia em Matosinhos (Teatro Constantino Nery, 30 de Junho, sexta-feira). Ao seu lado estarão, desta vez, Aniel Someillan no baixo acústico e François Morin na bateria. 

No alinhamento não deverá faltar esta brutal e antiga peça a solo chamada "Dança dos Martelos" e que recebeu video oficial no mês passado. Quem puder, não deve faltar. Bilhetes!

KAMAAL WILLIAMS NO CORETO!





















O milagroso Festival Matosinhos em Jazz, que têm trazido ao Parque Basílio Teles uma verdadeira constelação de estrelas do novo jazz inglês, anunciou o primeiro nome para a sua quarta edição em 2023 que decorrerá de 1 a 31 de Julho - o britânico Kamaal Williams toca no coreto a 16 de Julho, Domingo, e o acesso continuará a ser gratuito! Outros nomes terão anúncio em breve. 

Williams regressa, assim, ao Norte do país depois da última passagem pelo Festival Para Gente Sentada bracarense em 2019, servindo de oportunidade para apresentar, entre outros devaneios funk, o excelente álbum "Whu Hen" de 2020.


quarta-feira, 17 de maio de 2023

LAMBCHOP NO MISTY FEST!





















Ao já recheado cartaz da próxima edição do Misty Fest deve agora somar-se mais um condimento especial - os Lambchop começam a digressão europeia no Porto, dia 21 de Novembro, onde se vão juntar na mesma noite ao saxofonista Matthew Halsall na Casa da Música. No dia a seguir tocam no CCB de Lisboa no mesmo âmbito. 

Os concertos serão em formato intimista, ao contrário da última passagem em formato banda por Espinho em 2017, com Kurt Wagner a ser acompanhado por Andrew Broder, pianista e produtor que participou nos álbuns "Showtunes" (2021) e "The Bible" (2022). É de lá este magnífico "That's Music".

NICO PAULO, PERFUME LUSO DO CANADÁ!





















O porto da cidade de São João, capital da província canadiana da Terra Nova e Labrador, foi durante muito tempo local de abrigo e reabastecimento de muitos navios portugueses durante as campanhas de pesca do bacalhau, embora a criação de fortes relações com as comunidades locais remontem já ao século XVI. A amizade secular está até protocolada com Ílhavo, cidade do distrito de Aveiro, e devidamente documentada no seu excelente museu marítimo

Com estas raízes e assumindo a sua ascendência, a jovem Nicole Maria Morgado Paulo aka Nico Paulo editou um álbum de estreia homónimo em Abril passado com travo e cheiro de indisfarçável lusitanidade embora as canções cantadas em inglês, numa voz a lembrar Feist ou Legrand, nos remetam para o sempre cheio de nuances dream-pop. O registo e composição iniciais foram obtidas num propositado refúgio numa cabana situada junto de um lago na região da Nova Escócia e posteriormente afinadas e tratadas no estúdio Dream Date por Joshua Van Tassel. 

Na ilustração em movimento de algumas das novas canções, é a própria Paulo a tratar da realização, cenários e paisagens em locais eleitos nas belíssimas proximidades da São João, embora no video mais recente para "The Master" haja a referência, sem nomeação, a uma praia portuguesa onde foram captadas algumas das imagens. Notado também o pormenor de um outro video para "Now or Never" ter sido rodado "under the pink moon of march 2022 in Newfoundland & Labrador — Isthmus, Cape St. Francis and Flat Rock."... 

Destaca-se ainda a canção "Amor Amor Amor", excelente tema que começa em português perfeito para depois se ondular na lírica francesa e inglesa, regressando, sublime, à língua inicial. Como prova das suas capacidades e influências, Paulo tinha já registado em 2021 uma versão de "O Cavaleiro e o Anjo" que José Afonso gravou em 1968 para o álbum "Cantares do Andarilho". Fica ainda a dúvida se a capa do álbum terá fotografia mais antiga obtida no litoral português em dia de nortada...  




terça-feira, 16 de maio de 2023

SCOTT MATTHEWS, Casa das Artes de Arcos de Valdevez, 13 de Maio de 2023

Começa a ser um hábito sadio que a cada disco novo de Scott Matthews se proceda a uma apresentação ao vivo nas redondezas. Demorou tempo, demasiado tempo, para que o inglês tivesse em Portugal um reduto adulto no reconhecimento do seu talento e que só despertou, efectivamente, a partir de 2016. Desde aí, Matthews passou a ter um núcleo de aficionados que se espalhou pelo país de forma subtil e que comparece sempre que a oportunidade surge num pequeno teatro ou recinto acolhedor, espaços ideais para uma partilha próxima de magia acentuada e evidente recompensa. Sem máscaras, a do passado sábado não fugiu à regra. 

O motivo era, desta vez, o recente "Restless Lullabies", disco de parafinado fio acústico que retoma temas do anterior "New Skin" e outros mais antigos mas o alinhamento não dispensou um bom conjunto de clássicos de um songbook já notável de que "Sunlight", "Drifter", em toada ritmada pelo público, e "Eyes Wider Than Before" foram só os primeiros eleitos. Habitualmente testado só nos encores, "Home And Dry" serviu, a meão e por antecipação, para a habitual descida à plateia para uma versão a cappela que funcionou na perfeição no cimentar de cumplicidades e para tirar qualquer dúvida de estreantes quanto à virtude de ter Matthews a tocar e cantar, seguro e confortável, como se estivesse em casa de amigos. Nice and simple... 

Como sempre e para além de todas estas aptidões, no serão minhoto submergiu ainda uma inconfundível boa disposição na introdução das canções que tanto se alongou a um non sense muito british sobre o nome das suas guitarras, a desafios de adivinhação sobre o conteúdo da bebida trazida para o palco ou imitações cáusticas de cantores country e Tom Waits! Como frisado, é por isso insubstituível a tridimensionalidade radiante destes momentos categóricos a que nos fomos afeiçoando invariavelmente e já na expectativa de decifrar quando será a próxima visita do amigo. Somos uns sortudos, Scott! 

VERSÕES LUMINOSAS!

A nova série biográfica "A Small Light" estreada no canal National Geographic no início do mês e que conta a história de Miep Gies, a rapariga que escondeu e ajudou Anne Frank e a família durante o Holocausto nazi, tem uma banda sonora apetecível de versões supervisionadas por Zachary Dawes e Este Haim, uma das irmãs Haim. Para o disco "A Small Light: Songs From the Limited Series", que terá edição na próxima semana, foram convocados, entre outros, Sharon Van Etten, Angel Olsen, Kamasi Washington, Moses Sumney ou Weyes Blood. 

A escolha livre recaiu em temas e peças favoritas dos próprios artistas - Van Etten dedicou-se a "I Don’t Want to Set the World on Fire” (1938), tema popularizado pelos The Ink Spots e que conta com a dicção de um verso pelo actor Michael Imperioli (The Sopranos), Angel Olsen escolheu "My Reverie" (1938) de Larry Clinton, Weyes Blood preferiu "When You're Smiling" (1928), canção popular reinterpretada centenas de vezes e Kamasi Washington torneou "Cheryl" (1947), peça clássica de Charlie Parker. Tudo luminoso, como não poderia deixar de ser!




sexta-feira, 12 de maio de 2023

CHILLY GONZALES, BEIJO DE LÍNGUA!





















Do génio da lâmpada Chilly Gonzalez há que esperar tudo. De versões de Natal a livros sobre Enya ou documentários auto-críticos, Gonzalez passeia talento ao piano e não só que conduzem, quase sempre, a surpresas artísticas como o que agora se dá a conhecer - um primeiro álbum cantado em francês em jeito de ode à cultura de um país que adoptou como residência e que mistura música clássica, hip hop ou electro pop em metamorfoses excêntricas. 

Chamou-lhe "French Kiss", estará disponível em Setembro e deu-lhe uma capa hilariante ao lado da companheira baguette! Tratou de convidar o amigo Jonathan Barré para o video do tema título onde se desfilam truncagens deepfake de personagens francesas contemporâneas ou históricas enquanto nos diverte pelo discurso irreverente de batida slam. Os comentários para o filme estão, pois não, desactivados. Françamente, maestro!

AROOJ AFTAB, VIJAY IYER, SHAHZAD ISMAILY DE SECRETÁRIA!

quinta-feira, 11 de maio de 2023

GRANT-LEE PHILIPS, CHEGOU A VEZ!





















Os anos noventa não foram só Nirvana e Pearl Jam. O disco "Fuzzy" (1993) dos Grant Lee Buffalo obteve largo reconhecimento, tendo o seu tema-título rodagem frequente na rádio, mas a força do principal criador Grant-Lee Philips acabou por não mais alcançar o êxito obtido com a estreia apesar da competência dos discos como o seguinte "Might Joe Moon" (1994). Vinte anos depois, os dois álbuns foram agora remasterizados e reeditados em vinil pela Chryshalis Records.

Passou muito tempo desde a última vez que deitamos ouvidos sérios a um trabalho de Philips e diz respeito a um excelente compêndio de versões chamado "Nineteeneighties" (2006) onde prestava homenagem a onze nomes incontornáveis dos anos oitenta, de Nick Cave a Robyn Hitchcock, passando pelos Pixies, os Echo & Bunnymen, os The Psychadelic Furs ou os The Church. A seguir, confessamos, perdemos-lhe o rasto. 

Certo é que Philips continuou o seu caminho, entre digressões a solo e (sete) novos discos como "All That You Can Dream", que editou o ano passado e que serve de base a digressões pela Europa que já chegaram ao país vizinho mas que não se passearam ainda pelo nosso jardim. A longa ausência termina já em Outubro. 

Nesse mês e depois de três datas por Espanha, Philips têm concertos marcados para a Casa das Artes de Arcos de Valdevez (dia 7, Sábado) e para o Auditório Carlos Paredes (Benfica) de Lisboa (dia 8, Domingo) no que sugere ser uma estreia (?) em palcos nacionais que deveria merecer uma gran(t)de plateia!



NINA NASTASIA, DOIS MAIS DOIS!

Em 2022, o regresso elogiado aos discos de Nina Nastasia com "Riderless Horse", que mereceu já visita ao vivo de cortesia em Março, têm sofrido acrescentos qualitativos de relevo. Em Novembro foram divulgadas duas canções inéditas - "Whatever You Need To Believe" e "Too Soon" - que tinham sido registadas aquando das mesmas sessões destinadas à gravação do álbum e que se juntam, na perfeição, ao rol enérgico e sincero de temas de libertação de um passado trágico mas também de reconciliação consigo própria e com o presente. 

Mas há, agora, mais. Ao lado de Marissa Paternoster da banda Screaming Females, estão agora disponíveis, em jeito de dueto, versões de "This Is Love" e "You Were So Mad", originais incluídos no referido disco, tendo este último sido experimentado ao vivo em Fevereiro - vide video abaixo - aquando de um evento no White Eagle Hall de Jersey, Nova Jersey, que serviu para apresentar em duas noites o novo álbum dos tais Screaming Females. 

A vocalista Marissa Paternoster reconhece em Nina Nastasia a sua compositora favorita, sendo a escolha das duas canções e alguns dos novos arranjos da sua responsabilidade e gosto que, entre outras confissões, revelou em Janeiro num episódio de podcast da loja de discos belga Crate Records e que podem ouvir aqui.



quarta-feira, 10 de maio de 2023

3X20 MAIO

(RE)LIDO #115





















FERNANDO TORDO: 
Não Houve Geração Mais Rica do Que a Nossa 
Diálogo com José Jorge Letria 
de José Jorge Letria. Lisboa; o fio da memória-SPA/Guerra & Paz, 2019 
No âmbito da oportuna colecção "o fio da memória" promovida pela SPA-Sociedade Portuguesa de Autores, repositório informal da vida de personalidades da área da cultura e arte já com quase uma vintena de volumes publicados, coube a Fernando Tordo o privilégio de se sentar à conversa com José Jorge Letria num género de entrevista biográfica entre amigos. 

Os dois pertencem a uma geração marcante para a música portuguesa que viveu a transição da ditadura para a democracia de forma intensa e até militante mas em que o fascínio pelas canções começou cedo e se tornou o fermento cúmplice de crescimento. No caso, uma primeira e estranha guitarra vinda da Madeira foi o rastilho para uma aprendizagem mais metódica que levariam Tordo, entre tantas histórias contadas na primeira pessoa, a fazer parte dos adorados Sheiks em bolandas por Albufeira, "centro da Europa", entre figurões como Tom Jones, Cilla Black ou metade dos heróis Shadows. Uma "má vida" salutar!

O encontro com Ary dos Santos seria vital para o reconhecimento (inter)nacional, parceria que deu tantas canções a um imaginário lusitano sem idade e que teve em "Tourada", canção com cinquenta anos feitos em Fevereiro passado, um epicentro memorável. Não se perde muito tempo na descrição dessa mítica história de Festival da Canção mas já antes "Cavalo à Solta" se mostraria, na mesma em ambiente festivaleiro, o espelho cimeiro duma colaboração que se alongou até aos finais dos anos setenta para depois se romper de forma natural. Foi já sozinho que escreveu e musicou com José Calvário um dos seus maiores êxitos - "Adeus Tristeza" ainda é hoje a imagem de um artista em liberdade e completo. 

Polémicas à parte, há por aqui algumas revelações sobre dependência, conveniência e desilusões com amigos, colegas de profissão e, sobretudo, políticos que lhe mereceram, mesmo assim, elevado reconhecimento como ilustram as muitas das fotografias reproduzidas ao longo do livro e que teve recente condecoração de reforço ao lado do compagnon Paulo de Carvalho. 

Na troca de impressões relatadas transparece uma informalidade só possível pela distância temporal de muitos dos acontecimentos e factos embora o polémico e badalado abandono do país em 2014 mereça insistência nas razões políticas e sociais, uma zanga de notório azedume que multiplicou reacções de aprovação e ódio mas não desmotivou a criação e a constante inquietude. Musicar o poeta António Botto, intento ainda não concretizado, ou um disco de duetos com a colaboração e carinho de vários colegas e amigos, são só dois desses projectos de uma vida retomada num país respirável e que a Tordo deve gratidão e aplauso. O seu futuro há-de ser o que ele quiser...


terça-feira, 9 de maio de 2023

NICK DRAKE, 75 PRIMAVERAS!





















O amado Nick Drake faria setenta e cinco anos no próximo dia 19 de Junho e, por isso, a revista inglesa Uncut de Julho dá-lhe mais uma vez o privilégio da capa. Acrescenta-lhe um CD a que chamou "Time Has Tol Me" com temas de artistas embuidos do mesmo espírito e onde se destacam Joan Shelley, Cass McCombs, Adrianne Lenkar ou Jessica Pratt. 

No interior, há um artigo de fundo sobre as viagens que realizou em 1967 e o impacto na sua música, uma recensão à nova biografia da autoria de Richard Morton Jack - agora nomeada "Nick Drake - The Life" depois do adiamento - e uma apreciação ao novo disco de tributo/versões "Endless Coloured Ways" também prometido para o mesmo mês. 

RITA LEE (1947-2023)














Como quase todos da nossa geração, passamos a trautear canções de Rita Lee nos inícios dos anos oitenta, período florescente ao lado do parceiro Roberto de Carvalho. Outros êxitos se seguiram e, ainda hoje, basta pôr uma rodela pequena a rodar de "Flagra", "Desculpe o Auê" ou os mais antigos "Lança Perfume" e "Baila Comigo" para que um coro colectivo se instale em qualquer festarola de cinquentões embora Lee tenha uma anterior vivência e experiência com os Mutantes de importância vital para a música brasileira. 

Chamavam-lhe, com razão, a Rainha do Rock Brasileiro, mas o reinado que a própria contou numa excelente autobiografia editada em 2017 pela Contraponto e que prometeu actualizar ainda este ano, terminou para a vida ontem na sua residência de São Paulo. Paz!


THE DELINES, AINDA NÃO FOI DESTA!





















Aquando da passagem dos The Delines por Espanha em 2019, fizemos por aqui um apelo sério, sem resultados, para um concerto em Portugal. Agora que os norte-americanos regressam pela terceira vez ao pais vizinho em Setembro para quatro noites de encanto, repetindo três das quatros cidades da visita anterior, insistimos no apelo mas, às tantas, o melhor será marcar viagem de fim-de-semana para Madrid... 

LLOYD COLE, PARTILHA DA DOR!





















No mês de Junho o britânico Lloyd Cole alcançará a bonita soma de doze álbuns a solo desde que a separação dos The Commotions foi formalizada em 1989! A ruptura foi esquecida vinte anos depois quando lançou "Guesswork" ao lado de Neil Clarck e Blair Cowan, guitarrista e teclista dessa formação original, uma parceria que agora retoma para "On Pain", álbum de oito novas canções, sendo quatro delas co-escritas com Clarck e Cowan que tocam também no disco produzido por Chris Merrick Hughes e registado no estúdio próprio nova-iorquino "The Establishment". 

A persistência de Cole é assumida como um risco que, nas suas palavras, "pode estar próximo da morte comercial, mas a minha carreira está nesse estado há quase 30 anos e aqui estamos, ainda quero fazer mais álbuns. Eu ainda quero ser ouvido." Ouça-se, então e sem dor, "Warm by the Fire", single inspirado pelos fogos dantescos na Califórnia e o tema "Wolves" em remisturas nomeadas Red Star (o próprio Lloyd Cole) e LycanthroMix (Martyn Ware dos Heaven 17 e Human League ao lado de Charles Stooke), duas das cinco remixes de um EP dedicado à canção que encerra o álbum. Os respectivos videos usam imagens criadas por Cole através do recurso Pixray e contam com edição do realizador canadiano Doug Arrowsmith. 

O novo disco, com selo da earMusic do grupo alemão Edel, terá digressão de apresentação a partir de Outubro próximo com o retorno à Grã-Bretnha e à Europa continental para uma digressão que não falhará, como é hábito, em salas portuguesas.



segunda-feira, 8 de maio de 2023

PATRICK WALKER / 40 WATT SUN, Understage, Teatro Rivoli, Porto, 5 de Maio de 2023

Após a passagem em estreia pelo Amplifest e sete meses depois, Patrick Walker regressou ao Porto por onde deixou aficionados em espera. O espaço subterrâneo do Teatro Rivoli esgotou, por isso, sem dificuldade e pronto a absorver e reflectir uma composição de fragilidade e intimidade nocturnas traduzidas em "Perfect Light", o último disco dos 40 Watt Sun que se exibe cada vez mais um projecto solitário de uma só voz e uma guitarra acústica. 

Temos dúvidas se o que se ouviu se poderá chamar folk. Também não vemos razões para que isso não aconteça, até se atendermos a que June Tabor revela ser uma das principais referências de Walker. Talvez a crueza dos temas do referido disco, despidos de alguns dos arranjos subtis, e de outros mais antigos se afigure um género de banda sonora sombria de histórias de desespero a que a cadência dos acordes acentuou no lamento mas também no evidente fascínio. 

Notou-se bem essa tensão silenciosa da plateia empenhada na partilha da travessia, um tempo que sugeriu ser de outrora mas que tem o peso dos nossos dias, ora tristes ora luminosos, sempre completos. Só pela experiência dessa plenitude, vulnerável e encantada, tamanha prestação revelou-se de compensação abençoada.

(19 de Maio de 2023: video removido a pedido do artista)

sexta-feira, 5 de maio de 2023

PHOENIX IMPROMPTU!

Lembram-se do excelente "Marie Antoinette", filme de Sofia Coppola estreado em 2006? Confessamos que apesar de sabermos que Thomas Mars, o vocalista dos franceses Phoenix, tinha casado em 2011 com a filha de Francis Ford Coppola, não reparamos que a banda fez parte do elenco como Petit Trianon Musicians de um filme rodado no próprio Palácio de Versailles parisiense, cidade onde a banda começou. 

Surgiu agora uma desconhecida versão impromptu de "Run Run Run", tema do segundo álbum "Alphabetic" de 2004, registada no cenário original e com o quarteto em trajes barrocos de indisfarçável rigor, confirmando a justiça do único Óscar que a película arrebatou - Melhor Guarda Roupa. Fonix, ça alors!


SUPER COLA 3!





















Os canadianos Ought de boa memória gravaram três álbuns em dez anos, fizeram digressões sucessivas que chegaram ao Parque da Cidade em 2015 mas a ventura não quis nada com eles. O seu líder Tim Darcy apostou, entretanto, numa carreira a solo que teve direito a álbum em 2017 e onde a veia mais pop e melodiosa acabou também por não alcançar o merecido reconhecimento. Nada como baralhar, partir e dar de novo! 

Com o baixista Ben Stidworthy e o próprio Tim Darcy, os dois ex-Ought juntaram-se em 2019 ao baterista Evan Cartwright (um ex. U.S. Girls e The Weather Station) para formar os Cola (talvez, sem provas, um acrónimo de "Cost of Living Adjustment), trio pronto a escrever canções que haveriam de gravar para o elogiado álbum "Deep In View" saído há um ano atrás e que foi agora reeditado com uma série de demos instrumentais e uma versão alternativa do tema "Landers". Para juntar ao pecúlio, há também "Keys Down If You Stay", um potente novo single de aura mais acessível e imediata sedução gomada. 

Vamos poder vê-los ao vivo já em Junho, dia 16 no Musicbox de Lisboa e dia 17 no Auditório CCOP no Porto, no que sugere ser uma extensão felizarda da intensa digressão pelo Reino Unido (dezasseis datas!) e Europa continental. Ainda não se vendem bilhetes mas já há poster à maneira!



CAETANO VELOSO COREOGRÁFICO!

















Desde a sua composição em 1924, o clássico "The Man I Love" de George Gershwin já foi cantado por muitos artistas, de Billie Holliday a Ella Fitzgerald, passando por Kate Bush ou Lana Del Rey, quase sempre uma interpretação no feminino atendendo à letra ser dirigida a um homem amado, o que fez recuar, por exemplo, Frank Sinatra na sua eleição ou gravação. O suposto constrangimento não impediu Caetano Veloso de o escolher para o disco de versões "A Foreign Sound" de 2004, mantendo o original e assumindo a beleza de tudo o que é dito por um sujeito lírico feminino. 

Quase vinte anos depois, estreou no Dia Mundial da Dança (29 de Abril) um video que aproveita essa versão para homenagear a coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009), inspirando a dupla brasileira Olga – formada pelos diretores Felipe Lion e Lucas René – a realizar um documento filmado onde se reproduz, num cenário de mar e praia, a coreografia que Bausch criou originalmente para o espectáculo "Nelken (Carnations)", estreado em 1982 e onde o tema de Gershwin foi também utilizado. A nova concepção e perfomance é do actor e coreógrafo Antonio Miano. 

O resultado artístico foi devidamente aprovado por Caetano - “Eu achei o clipe lindo. A imagem refletida na água, a interpretação do dançarino, tudo... É uma peça belíssima sobre o amor. Fez meu canto soar melhor” - recordando o contacto pessoal que teve com Pina Bausch no Brasil durante uma apresentação de um dos seus espectáculos. 

A propósito, Caetano Veloso toca com a sua banda a 14 e 15 de Setembro no Coliseu do Porto. 

LUBOMYR MELNYK, SAGRADO!





















Uma única faixa de vinte e dois minutos chamada "The Sacred Thousand" dá nome a um novo álbum do mestre Lubomyr Melnyk que a Jersika Records, Letónia, publicou esta semana. O disco contempla no lado principal o tema registado directamente, sem correcções ou alterações, em Setembro de 2022 no Riga Recording Studio, para uma fita analógica de um Studer B67 1/4 de duas faixas e, no outro lado, um registo ao vivo, também sem desvios, um pouco mais longo obtido durante um concerto em Turim, Itália, no mesmo mês. 

Trata-se de um sentida homenagem aos (mil) soldados ucranianos que resistiram ao exército russo durante semanas na central metalúrgica de Azov em Mariupol, funcionando como um "filme para a mente" que, segundo Melnyk e numa tradução livre, "é um trabalho altamente incomum, onde a mão direita mantém um fluxo infinito de tons padronizados, enquanto a mão esquerda navega como um navio no mar, através de cadências harmónicas espalhadas por duas oitavas... é um som sombrio e, mesmo assim uma peça provocante.". Sagrado, por isso!


quinta-feira, 4 de maio de 2023

MISTY FEST RECHEADO!












A programação do Misty Fest de 2023 começa a revelar-se imperdível. Para Novembro estão agendados concertos duplos em Lisboa e Porto que, na mesma noite, juntam dois artistas... mas nem sempre. 

Assim, na Invicta, a Casa da Música receberá no dia 22, quarta-feira, a visita de Nadine Khouri e John Grant, alinhamento que se repete na noite seguinte no CCB lisboeta. Bilhetes à venda a partir de hoje. 

O outro concerto duplo é o do magistral baterista Makaya McCraven e do trompetista Matthew Halsall no dia 20, segunda-feira, no mesmo CCB e só é mesmo pena que a dose não seja repetida no Porto, onde só Halsall tem visita marcada para a Casa da Música um dia depois. 

O recheio ficou, pois, um bocadinho azedo sem este condimento essencial!

DUETOS IMPROVÁVEIS #272

TIM BERNARDES & RODRIGO AMARANTE 
Leve (Bernardes) 
Brasil (2022), Maio de 2023

CAROLINE DE SECRETÁRIA!

quarta-feira, 3 de maio de 2023

BRIGID MAE POWER, PODEROSO!





















Em Março, o tema "Dream From the Deep Well" de Brigid Mae Power que por aqui destacamos anunciava um álbum homónimo para o final de Junho com selo da Fire Records. Sabem-se agora mais pormenores. Gravado com a ajuda de Peter Broderick e Daniel O'Sullivan, o disco incluirá uma versão de "I Must Have Been Blind" de Tim Buckley bem como um tributo sentido a Ashling Murphy, jovem música irlandesa atacada e morta em Janeiro de 2022 durante uma corrida junto ao Grand Canal da cidade de Tullamore do condado de Offaly, Irlanda. 

O novo trabalho assenta numa modernidade folk que não renega o passado e a tradição e que, mais que nunca, se anuncia de intervenção sociopolítica. O principal predicado continua, no entanto, a ser simples mas poderoso: "tudo o que posso fazer é tocar música de ouvido... Então vou continuar e me sentirei sempre melhor depois de uma canção!". 

FILIPE FURTADO + JAY-JAY JOHANSON, Auditório CCOP, Porto, 29 de Abril de 2023

Faz hoje precisamente vinte cinco anos que vimos Jay-Jay Johanson pela primeira e única vez ao vivo no Festival de Lisboa, num alinhamento, entre outros, ao lado dos saudosos Alpha. Tal como hoje, bastante calor mas pouca adesão de público para o tamanho da arena do Campo Pequeno, um fiasco para um evento em estreia e de fraca memória mas que nos serviu, da melhor forma e à última da hora, para desanuviar a atenção desmedida com uma prova de mestrado marcada para a manhã seguinte. Desde aí, já Johanson visitou o país dezenas de vezes e não temos uma explicação para que um hiato tão grande nos tenha afastado dos concertos do sueco, atendendo a que a qualidade do seu produto musical, com poucos altos baixos, se tem mantido actual e actuante, criando uma relação umbilical que acelera corridas às bilheteiras como foi o caso do Porto onde foram marcados dois concertos em dias seguidos. 

Ao seu lado, Erik Jansson, o cúmplice de anos responsável pelos toques de Rhodes, samples e teclados, que se alinharam sem falhas à sua voz de inconfundível timbre para uma melancolia electrónica de canções de (des)amor e negritude. Para trás ficaram os tempos de trip-hop e algum electroclash, assumindo-se um alinhamento de best of refinado que ao segundo tema arrumou, e bem, o obrigatório "So Tell the Girls That I Am Back in Town" para ir desfiando, calmamente, um reportório já longo que não dispensou a estreia de, pelo menos, dois temas - "The Stars Align" e "Seine" - de um novo álbum chamado "FETISH" que sai a 9 de Junho. 

À sempre bem-vinda proximidade que o recinto da Rua do Duque de Loulé proporciona, juntaram-se, no entanto, diversos constrangimentos antigos: uma incómoda reverberação sonora sempre que os samples subiam de tom, uma diminuta altura do palco que resulta numa visibilidade sofrível para quem não ocupa espaços fronteiros e um calor inconcebível para uma sala remodelada que, rapidamente e sem ventilação ou ar condicionado, se transforma numa fornalha. Johanson, amável, apercebendo-se da elevada temperatura, ainda distribuiu por duas vezes uma vintena de garrafas de água que foi buscar atrás do palco, mas talvez umas simples ventoinhas chinesas pudessem causar melhor efeito... 

Para o encore foram escolhidas, a dedo, três peças impressivas: "Whispering Words" em formato a cappela e de colaboração sibilante com o público, a antiguidade (1999!) "Believe in Us" de patina eterna e adorado balanço e o incontornável e ainda mais velhinho (1996!) "I'm Older Now", um género de hino geracional reciclável que mereceu ronda de cumprimentos personalizados pelos grupos da frente mas a que se seguiu, já de luzes acesas, um surpreendente convívio e festarola entre o público para selfies, autógrafos e abraços ao som do "My Way" dos The Sex Pistols/Sinatra e do "Bobby Brown" de Frank Zappa. Um verdadeiro reencontro de amigos que não tardará, como prometido, a repetir-se com natural êxito! 

 

Na primeira parte e ainda para uma plateia reduzida e mais interessada num gin-tónico fresquinho, esteve o açoriano com costela coimbrã Filipe Furtado. Acompanhado por um saxofonista e um baterista, o trio alcançou rapidamente boa impressão pela baloiçante onde bossa nova esticada em nuances jazz e a que a voz de acentuado sotaque proporciona algum exotismo. O projecto tem no disco de estreia "Prelúdio", gravado para a editora Marca Pistola em 2022, um bom cartão de visita que se alarga a cada audição e que, ao vivo, se confirmou de validade e vibração certificada. (eu fui à terra do) Bravo! 

terça-feira, 2 de maio de 2023

(NOVA) COSMOLOGIA MODERNA!

















Conta a revista Uncut que o encontro entre Laetitia Sadier e os Mombojó aconteceu em São Paulo em 2012 aquando de um concerto a solo da vocalista dos Stereolab. Presentes na plateia e fãs confessos da banda, fizeram chegar a Sadier um CD dos Mombojó, uma sonoridade folk de muita infuência psicadélica com um travo a samba, que só meses depois seria ouvido de forma agradável e aprovada por uma sincera mensagem digital “If you need some backing vocals, I’m your gal”. Entre algum trabalho à distância, seguiu-se uma residência artística pelo Recife em 2014 onde os seis eram "Laetitia with Mombojó" mas a intensidade criativa alterou a percepção da colaboração - formar uma banda! 

Chamaram-lhe Modern Cosmology e o primeiro resultado foi "Summer Long", um EP editado em 2017 pela Elefant Records espanhola. A vibração e cumplicidade teve continuação apesar da distância, da pandemia e dos afazeres profissionais, estando prevista para sexta-feira, dia 5 de Maio, a edição de "What Will You Grow Now?", um álbum inteiro a transbordar de amizade e liberdade que tem selo da Duophonic, casa de discos fundada pelos Stereolab em 1991, e que foi fluindo entre jam sessions e ocupação diferenciada e resiliente de estúdios de gravação. Dos seis novos temas, pode ouvir-se "A Time To Blossom", uma verdadeira e moderna pepita cósmica!


GORDON LIGHTFOOT (1938-2023)















A aura de trovador do canadiano Gordon Lightfoot ficou registada, desde os anos sessenta, em cerca de vinte álbuns com paladar folk, rock e country. Obteve vários êxitos como "If You Could Read My Mind" ou "Sundown" e escreveu canções para Elvis Presley ou Johnny Cash, tornando-se uma lenda que influenciou uma série de outros artistas até aos nossos dias (os Big Thief ou Erin Rae são só dois deles). 

Mas para nós, Lightfoot é sinónimo de uma única canção - chama-se "Beautiful", levamos com ela numa sala de cinema para aí em 2004 quando fomos ver o polémico "Brown Bunny", de e com Vincent Galo, quando é ela que ilustra, melancólica, uma simples cena de autoestrada e chuva. Só ela, a canção, bastaria para o consagrar. Peace!


segunda-feira, 1 de maio de 2023

SCOTT MATTHEWS, REGRESSO AO MINHO!
















Avizinha-se o regresso de Scott Matthews ao norte do país para um concerto único (?) na Casa das Artes de Arcos de Valdevez no próximo dia 13 de Maio, sábado. A nova visita ao Minho segue-se a uma série imparável de comparências para concertos que o trouxeram em 2016 a São João da Madeira e Ponte de Lima, em 2019 a Ílhavo, Coimbra e Guarda e em 2021 a Lisboa, Caldas da Rainha, outra vez Ponte de Lima e Porto

O espectáculo adivinha-se a solo e servirá para apresentar o álbum "Restless Lullabies", editado sexta-feira passada, um retorno à veia acústica que sempre o caraterizou mas também para mais uma dose de boa disposição e convívio entre amigos.