domingo, 17 de novembro de 2019

SENSIBLE SOCCERS + KAMAAL WILLIAMS, Festival Para Gente Sentada, Theatro Circo, Braga, 15 de Novembro de 2019

fotografia: facebook do FPGS














A comemorar quinze anos, o conceito original do Festival Para Gente Sentada sempre nos pareceu atractivo e certeiro - convidar cantautores consagrados ou em fase de afirmação para no escuro de uma sala fazerem ressoar o produto da sua inspiração, ou seja, as canções. Foi por isso que o FPGS ganhou asas, tradição e reconhecimento mas nos últimos anos as referências foram enviesadas sem retorno com alinhamentos arriscados e estranhos em que programar para o evento sugere ser uma tarefa sem critério estreito e onde, para o mal e para o bem, cabe tudo...

A primeira noite da edição deste ano foi só a confirmação deste desalinho - sala meia vazia, camarotes despidos e uma banda plena de potencialidades como os Sensible Soccers a jogar em terreno alheio e friorento apesar do esforço e da entrega. A fusão de sonoridades instrumentais insistiu na repetição de um trecho melodioso onde as percussões crescem a olhos vistos, tudo bem feito, tudo emoldurado num colorido bem pensado mas as cadeiras e a grandeza do espaço arrefeceram, obviamente, a partilha e o afecto que nem mesmo um violino surpreendente saído de um dos camarotes ajudou a disfarçar. Demasiado "à frente", como ouvimos no corredor de saída, demasiado cedo ou, melhor, simplesmente demasiado.       

fotografia. facebook do FPGS














Substituir, por força maior, a acústica solitária de Jonathan Wilson pela modernidade jazzistica de Kamaal Williams não é claramente coisa fácil. Mesmo assim, aproveitando a presença do músico e produtor britânico, confirmou-se, sem contemplações, a diversidade e capacidade de um quarteto rítmico assinalável onde a enorme e emaranhada bateria aliada ao electrizante baixo se fizeram notar de fio a pavio. Ao comando a partir do Rhodes, o encapuçado Williams foi dando o mote sem grandes devaneios parecendo querer que fossem os outros a brilhar, nomeadamente a artéria cativante do saxofone. Entre elogios ao país e à sua "onda", não faltou o convite, logo ao segundo tema, para a dança e ao abandono das cadeiras mas a resposta foi categórica - ninguém se levantou nem nesse momento nem até ao final o que atendendo ao divertido e contagiante instrumental só pode ter sido um sacrifício colectivo! E pensar que, no mesmo teatro ou num edifício bem perto, duas salas pequenas e escurecidas estavam aquela hora vazias e, às tantas, disponíveis e adequadas para a festa e animação que se impunha...

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