Se há pouco mais de dois anos por São João da Madeira a estreia portuguesa de Scott Matthews sugeriu ser uma aproximação arriscada quer na dimensão do espaço quer na versão de banda completa, a noite de sexta-feira teve tudo na medida certa. Ao lindo teatro, uma evolvente jóia de ternura, juntou-se uma moldura completa de admiradores de ouvidos apurados na famosa capacidade de Matthews, sozinho e à guitarra, nos arrebatar pelo doce deslizar da sua voz.
Podem ser temas novos ou antigos que a qualidade tem há muito um carimbo certificado de excepção onde as idades se misturam sem contemplações e de forma perfeita em pelo menos três das vertentes essenciais de um espectáculo ao vivo - a execução técnica das três guitarras e da incrível harmónica, as letras sonhadoras e imagéticas das histórias que dão origem às canções e cujos finais Matthews sabe prolongar ao êxtase como ninguém e a capacidade inata de nos entreter pelo sarcasmo humorístico a que corresponde uma notável presença em palco que tanto pode remeter para um inusitado Miles Davis, uma vénia merecida ao contra-baixista inglês Danny Thompson ou até uns inesperados The Strokes, uma confessada e surpreendente fonte de inspiração longínqua.
Para que a satisfação fosse ainda maior, mas que foi notória em ambos os lados da partilha quer no silêncio respeitador da plateia quer na boa disposição do artista, faltaram mais alguns clássicos como "Virgínia" ou "Dear Angel" mas, entre outros, o inevitável "Elusive" ou o novato mas trepidante "Something Real" fizeram o seu efeito devastador de nos estremecer e encolher, um género de domador de emoções em vias de extinção que deveria ter já um novo tratamento agendado...
Sem comentários:
Enviar um comentário