domingo, 9 de junho de 2019
ALDOUS HARDING + NILÜFER YANIA + NUBYA GARCIA + COURTNEY BARNETT + SONS OF KEMET XL + INTERPOL + JAMES BLAKE, Primavera Sound Porto, 7 de Junho de 2019
Ainda agora a apresentação ao vivo de Aldous Harding no anfiteatro principal nos deixa apreensivos por más e boas razões. Começando pelas desagradáveis, restam uma série de perguntas à organização do festival que julgamos pertinentes - havia necessidade de programar para o palco cimeiro um concerto quase simultâneo e incompatível que se sabia barulhento de uma banda coreana só porque sim? Antes do agendamento alguém, por acaso, ouviu a música de Harding e a sua subtileza e, já agora, de uns tais Jambinai sem culpa nenhuma? Haverá ainda algum respeito pelos que compraram bilhete, e foram muitos, só para terem a possibilidade de ouvir a jovem artista convenientemente? As respostas, certamente negativas, afrontam um evento em fase de auto-sabotagem - este não foi o único caso - e em bicos de pé altivos em que a qualidade parece não ser muito importante mediante o peso dos números... enfim!
A calma aparente e um engolir em seco constante perante a afronta não desmotivou Harding e companhia a, mesmo assim, alcançar um feito aplaudido e saudado de forma entusiástica o que nos leva a sugerir que a mesma organização a faça voltar lá para Novembro a um dourado teatro minhoto habituado a gente sentada para uma sagração que se exige urgente. Haja bom senso!
Para desanuviar alguma da raiva acabamos no palco ao lado onde a inglesa Nilüfer Yania e restantes jovens parceiras e parceiros tinham subido para três quartos de hora bem passados num registo seguro e de adorno maleável na pop e no soul-jazz. O disco de estreia "Miss Universe" editado este ano serviu de fonte principal das canções ensolaradas que não precisaram de qualquer protector especial mas sim da bela da cerveja e uns óculos escuros à maneira. O verão está quase aí...
Ainda a tempo de uma pequena saltada ao estrado mais bonito do recinto para uns últimos momentos com a saxofonista Nubya Garcia, promessa do novo jazz britânico com créditos já firmados nas redondezas - esteve no "Milhões de Festa" em 2018 - e que irá regressar já em Julho a Braga e ao GNRation. Ficou o aperitivo, mesmo assim, saboroso e a vincada recomendação para não abandonar o local antes da chegada de uma irmandade baptizada de Kemet. Anotamos a sugestão mas a ementa era demasiado variada para exclusividades.
Novamente atrasados para um concerto de Courtney Barnett no mesmo festival, denotamos a mesma energia, destreza e sapiência de um trio rock em perfeito funcionamento e oleado por canções de resistência assinalável e impulso frenético. A plateia agitada de final de tarde mostrou-se de braços abertos e pronta a acolher tamanha energia sentida em alguns coros colectivos e imediatas aclamações que prometiam um concerto em crescendo mas acabamos por não resistir ao chamamento da tal irmandade vinda do "santuário" mais acima...
A versão XL dos Sons Of Kemet implica nada mais nada menos que quatro, sim quatro, baterias em palco em constante rotação e complemento embora esse pormenor funcional não seja facilmente perceptível. Ao contrário, a sua força e vitalidade como que invade a massa humana pelo nervo auditivo que, num instante, nos faz mexer os braços, as pernas e a cabeça numa energia distendida ainda por um saxofone e uma tuba em duelo frenético. Por vezes juntou-se um vocalista agitador e desafiador a que uma arrebatada assembleia em delírio foi dando resposta pronta desde que a festa e o efeito da poção mágica se prolongasse ao máximo. Definitivamente e para memória futura, um dos grandes concertos do festival.
A espera desolada por espectáculos mais apetecíveis e a tentativa de ignorar o reggaetonero Balvin deixou muitos a ter saudades do exagero electrónico de palcos principais em horário nobre doutras edições... O que se ouvia do largo na fila do café sugeria, sem desprimor, uma qualquer festa de aldeia onde não faltou o pormenor da camisola CR7 ou até um bailarico de queimados estudantes, causando-nos um arrepio e sincera tristeza atendendo a que as alternativas - Liz Phair e Fucked Up - também assustaram uma maioria a vaguear entre tendas de alimentação ou resignação sentada.
Valeu que os Interpol parecem recauchutados com primor por comparação com a anterior passagem pelo recinto. Jogando com os trunfos certeiros de canções que os fizeram grandes - por exemplo "C'mere" logo a abrir as hostilidades sem esquecer "PDA" ou "Slow Hands" - a banda saiu favorecida pela aposta num palco menor e mais próximo de uma maré de aficionados que não deslarga dos nova-iorquinos por nada deste mundo, uma chama acesa e viçosa que nem sempre se mantêm elevada atendendo a que nem tudo continua bem tocado e cantado ao vivo... Seja como for, contra a força e virtude deste rock não há argumentos.
A música de James Blake já não é para ser tocada e desfrutada ao vivo. Ponto. Foram já várias as experiências e tentativas que fizemos para o contrariar embora a sua estreia no mesmo palco em 2013 tenha funcionado satisfatoriamente. Aguentamos o mais possível o desenrolar de temas quase sempre pouco aplaudidos e até ignorados até que chegou a vez de "I'll Come To" e "Limit to Your Love". O nosso limite, lá está, tinha chegado ao fim.
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