fotografia do facebook do Teatro Aveirense |
Cumprindo o certeiro "não há duas sem três", voltamos a um concerto de Benjamin Clementine para tentar fechar a trilogia começada em 2015 (a solo, Porto), em pausa até 2018 (com banda, Viana) e supostamente encerrada num teste derradeiro com este concerto acústico de teor clássico... Atendendo ao calibre da apresentação de ontem torna-se, no entanto, improvável não prolongar a série! A escolha do espaço aveirense há muito esgotado tinha óbvias vantagens - proximidade e até intimidade implícitas ao formato anunciado, público adulto, respeitador e dispensador de histerismos bacocos e, acima de tudo, uma acústica vibrante imediatamente perceptível no conjunto de instrumentos do quinteto de cordas e da voz cada vez mais segura do artista.
A noite começou quase em versão "best off" já que ao fim de pouco mais de meia hora a sequência de canções parecia cumprir uma qualquer e suspirada lista de pedidos - "Winston Churchill's Boy", "Condolence", "London", "Cornerstone", "Nemesis"... ufa - confirmando um songbook notável que os arranjos de cordas do colectivo francês ainda mais evidenciaram na sua pureza. Quanto a Clementine, longe vão os tempos da timidez e da gabardina mas que agora se solta em teatralidades, gestos e danças a preceito mesmo que os pés descalços não o ajudem na correria de regresso ao piano, o ponto de partida de muitas incursões nas traseiras (!) e frente de palco só para que se confirme, ainda e sempre, a sua elevada estatura, simpatia e elegância que uma negra gargantilha ao pescoço lhe confere eminente e distinto estilo noir et blanc.
Depois de "Adios", o encore fez-se do indispensável "I Won't Complain" mas a quase restante meia-hora surpreendeu pela sequência probatória de uma composição mais experimental e aventureira em temas como "Better Sorry Than Asafe", "Phantom of Allepoville" ou "Pharawell Sonata" a terminar, a confirmação das suas enormes capacidades de reinvenção, impertinência e imprevisibilidade salutar de quem não tem qualquer receio de apostar os melhores trunfos no início para colher mais à frente os louros em fortes aplausos e incentivos. Touché!
Na primeira parte surgiu o jovem texano Beaven Waller, enorme pianista e compositor de fato apijamado e desconcertante bom humor para uma mão cheia de canções ao piano que importa descobrir num género a la Clementine, Randy Newman ou um vintage Wainwright. Por isso, atendendo a que na rede nada vão encontrar ainda sobre Waller (o canal de video não tem conteúdo, o site institucional segue o mesmo caminho e as redes sociais existem mas só para promover a actual digressão) o melhor é mesmo chegar a horas hoje à Guarda e depois a Braga, a Ponta Delgada ou ao Porto.
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