A guitarra de Filho da Mãe, ou seja, de Rui Carvalho, não é um simples instrumento para ser tocado entre os dedos. Ela serve como um catalisador processual de uma variedade de sons manipulados por pedais que nos fazem pairar num género de carrossel montanhoso de subidas e descidas instrumentais sem que seja perceptível qual a paisagem que se segue. Gostamos dessa incerteza na viagem e arriscamos dizer que, apesar de gratuita, só pecou por ser curta.
"Estão a ensaiar"? A curiosa pergunta do miúdo ao pai (?) talvez fosse a que muitos cogitavam ao passar ou chegar ao prado demasiado soalheiro e quente apesar do cair da tarde. O que se ouvia não tem uma etiqueta fácil de definir como resposta mas a lição dada pelo trio norueguês Elephant9 foi demasiado vibrante para se esquecer. Aos poucos, a simples curiosidade sentada tornou-se numa agitada moldura de pé em frente ao palco, agradada com o poder de uma sonoridade simultaneamente antiga e moderna que o rock progressivo ou psicadélico há muito fez explodir e onde algum do jazz moderno se encostou sem vergonha. Uma bateria endiabrada, um baixo quase guitarra de outro mundo e aqueles vintages Rhodes e Cª em delírio fizeram do concerto um notável momento de comemoração e confirmaram um tal rótulo de "monstro musical" que não assusta mas, milagrosamente, revigora!
Pode não ser nova ou pode não ser exclusiva mas a receita dançável dos Arp Frique é de uma eficácia imediata que não olha a idades, autores ou geografias desde que a festa e a alegria se cumpram sem grande esforço. Tudo bem feito, tudo sem grandes truques mas onde a competência se mede pela poeira levantada, pela diversidade de coreografias do público em puro divertimento e pelos sorrisos dos músicos em cima do palco. Joga-se numa plataforma giratória infalível que só o disco, o boggie e o afro-tropical permitem misturar num fluído energético ainda e sempre válido para delícia dos foliões portuenses ou de quaisquer outros com essa sorte. Um excelente freak out!
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