sexta-feira, 5 de junho de 2015

BRUNO PERNADAS+CINERAMA+MIKAL CRONIN+PATTI SMITH+FKA TWIGS+INTERPOL+THE JUAN MACLEAN+CARIBOU, Primavera Sound Porto, 4 de Junho de 2015














Aí está mais uma vez o Primavera Sound Porto, o melhor festival do país e talvez de muitos países. Ao fim de quatro edições cumprimos a promessa e fomos de bicicleta do Freixo até ao Parque da Cidade, gozando a beleza da paisagem, o sol e o vento e o bulício ribeirinho e marítimo de uma cidade única que, compreendemos bem, é surpreendente até para os nativos quanto mais para os estrangeiros! 

E eles já lá estavam, copo de vinho ou cerveja na mão, desfrutando desde o início e aproveitando ao máximo os três dias do evento. Soube bem, por isso, o jazz espacial de Bruno Pernadas ajudado por gente diversa de alguns projectos portugueses, jogando na descontracção sem perder a competência e com resultados de agrado notório de um plateia ainda a acomodar-se mas atenta. Tivemos até direito à estreia de um novo tema ("Galaxy") que confirma o talento de um multi-instrumentista português com nível suficiente para continuar a surpreender. 







No regresso de David Gedge ao Porto, coube desta vez aos Cinerama animar as hostes. O projecto paralelo aos The Wedding Present sempre foi mais açucarado e pop e, atendendo ao cenário e ao horário diurno, parecia ser até uma boa ideia mas o concerto deslizou sem efeitos de maior entre o enorme relvado e o palco talvez grande demais para a pretensão. Agradável.    





Rodando com o amigo Ty Segall ou em bandas paralelas, o californiano Mikal Cronin aparenta estar sempre em forma. O concerto de ontem foi a prova da sua enorme garra em quarenta e cinco minutos cativantes, arrojados e de uma consistência admiravelmente luminosa. Sem surpresas, um grande concerto!   





E chegava a hora da primeira de muitas opções. Mac DeMarco foi, desta vez e a muito custo, o preterido mas não havia como perder a senhora Patti Smith na tenda do palco Pithcfork, uma oportunidade quase irreal. Na companhia, entre outros, do guitarrista Lenny Kaye, o concerto de teor acústico cedo fez uma série de arrepios emotivos só ao alcance de uma lenda viva deste calibre. Quando, logo a abrir, se ouviram os acordes de "Dancing Barefoot" o público que enchia o recinto não resistiu a levantar-se - sim, houve até o cuidado de instalar uma gigante plateia de cadeiras - para nunca mais se sentar! Notável a simpatia e a presença de uma artista de causas, de longínqua luta e rigidez que ali, à frente de todos, confirmava a vitalidade da sua música e da sua eterna força. Brincou com a cidade na introdução de "My Blakean Year", orgulhou-se da sua condição de avó em "Beautiful Boy" de Lennon e fez-nos sem esforço levantar o punho e soltar a garganta em hinos como "Because the Night" e, principalmente, no eterno e sempre actual "People Have the Power". Enorme!       
     








Da britânica FKA Twigs não faltavam elogios ao disco de estreia mas estava por confirmar como tamanha façanha resultaria ao vivo. Poder-se-ia adivinhar que a subtileza desse registo se iria esvaziar mas mesmo sem muito deslumbramento as canções não perderam vitalidade e, surpresa, ganharam até uma camada fina de brilho muito à custa de uma sensual presença em palco e uma voz sem falhas. A menina promete.         







O que é feito dos Interpol? Sim, onde pára um dos principais grupos impulsionadores do rock quando se dizia que ele estava a morrer? Atendendo à qualidade do concerto de ontem, a resposta só pode remeter para parte incerta. Sensaborões, desinspirados e demasiado desafinados, Paul Banks estava mesmo a precisar de um cházinho para a garganta e Daniel Kessler de um retiro inspirativo. Atendendo à qualidade do último "El Pintor", pedia-se mais, pedia-se melhor, mas o mais engraçado é que tamanha desmotivação até pareceu propositada. Uma desilusão!     







A versão banda de The Juan Maclean tem o mesmo propósito de uma das suas sessões dj assentes numa tradição DFA que não engana - dançar! Quanto a esse desígnio, o objectivo de fim de noite foi plenamente alcançado sem grande esforço já que malhas como "Happy House" não deixaram parar a plateia já com muito "combustível" acumulado e energia ainda para gastar. Mesmo assim, faltou arriscar um pouco mais num concerto previsivelmente agitador.        





Bem melhor foi o espectáculo dos Caribou no palco maior. A enchente de público não saiu de maneira nenhuma desfraldada com o que ouviu, com um alinhamento que assentou principalmente no excelente "Our Love" mas onde não foram esquecidos "êxitos" mais antigos a que Daniel Snaith nos habituou desde os tempos de "Andorra". Nitidamente, um dos vencedores do dia!       






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