The Dodos, Palco Vodafone FM |
A dúvida sobre quantos anos precisos passaram sobre
a estreia dos The Dodos em Coimbra assaltou-nos a memória logo que os primeiros
acordes soaram na tenda. Dessa noite já com oito anos, está agora confirmado, é
impossível esquecer a energia e agitação contagiante do então trio que, muito
sinceramente, não tínhamos ilusões de tornar a testemunhar. Mesmo assim e
apesar do nítido cansaço causado pela intensa digressão que encerrou em Coura,
o duo agarrou de imediato e sem contemplações todos os presentes com velhos e
novos temas e onde o clássico desafio bateria vs guitarra fez constante faísca
ao longo de uns curtos (circuitos) mas intensos quarenta minutos.
Ver Kurt Vile no palco grande a tocar para uma
imensa plateia prova que há ainda neste mundo estranho da música um pouco de
justiça. Mais uma vez, pomo-nos a fazer contas para recordar o serão memorável
de estreia pelo Porto em tempos de ruidosas trips
sonoras de travo stoogiano mas onde,
como agora, o tio Neil Young é um dos principais “culpados”. Descontando a
pobreza do som, as canções de Vile de solos extensíveis e moldáveis preencheram
da melhor forma o fim de tarde soalheiro e de brisa fresca enquanto, colina
acima, muito do público ainda em modo-zen e de óculos escuros se espreguiçava
vagorosamente. A experiência pode e deve ser repetida virtualmente perante um
qualquer pôr-de-sol atlântico ou viagem pausada de longa duração – é só preciso
fazer soar suavemente “Wakin On A Pretty Daze” de princípio ao fim!
O disco solo de Hamilton Leithouser é um caso sério
de composição. Para o provar bastou a sua curta passagem pelo palco secundário
do festival replecto de fiéis seguidores. Do pré-hit “Alexandra”, ao swing de “The Silent Orchestra” passando
pela perfeição de “I’ll Never Love Again”, pedrada que encerra o disco e que
obrigou os mais esquecidos a recordar que os The Walkmen eram (são?) uma banda
do caraças, houve muito por onde escolher. Depois há, milagrosamente, um
vozeirão a alcançar níveis imbatíveis e arrebatadores e que levou o próprio
Leithouser a arriscar, sem receios, versões únicas de Sinatra e Cohen já que a
noite era de festa de encerramento de digressão. Um concerto surpreendente,
vibrante e a deixar, desde logo, muitas saudades.
Horário nobre, palco principal, plateia imensa.
Temos dúvidas que os The Growlers merecessem tamanha distinção e o concerto
acabaria por provar o risco (desnecessário?) da aposta. Bem que se esforçaram
por “fazer a festa” ou não fosse a sua música uma combinação bem-feita de
desordem sonora, líricas non-sense
(ouça-se, por exemplo, “Use Me For Your Eggs”) e um vocalista nasalado e
atrevido. Certo é que mesmo com as ondas à mexicana, da trupe de crocodilos
vindos da frente do palco e da noite marcar o fim da tournée (mais uns!), o
concerto nunca “levantou voo” efectivo, funcionando como um temporizador
divertido para o acto seguinte…
Finalmente! Temos os Beirut à nossa frente prontos
para fazer história ao fim de mais de uma década de espera infindável. Começar
com "Nantes" e “Vagabond” logo assim, de rajada, deu para desconfiar, mas Zach Condon e
companhia sabiam ao que vinham – estremecer muitas das almas, nós incluídos,
com canções únicas e intemporais e cedo se percebeu a magia do momento. Muitos
braços no ar, gargantas afinadas e um inusitado conjunto de metais onde o
cornetim de Condon se mostrou imparável no comando da orquestra. Foi bom? Claro. Podia ter sido melhor?
Óbvio, mas foi sem dúvida um privilégio ter lá estado.
A resposta à questão se
James Blake tem estatuto suficiente para encerrar Paredes de Coura pode não
fazer sentido. A sua música já foi devidamente assimilada pela maioria e no
Primavera Sound de 2013 em horário semelhante a receita acabou por funcionar. Mas
ali, outra vez perante uma enorme plateia, a subtileza das suas canções
perdeu-se por entre as árvores e muitos acabaram por desistir de participar,
funcionando o longo alinhamento (uma hora e meia) como fundo sonoro para
conversas sobre o frio da noite, a fila dos crepes ou desabafos do género “o
gajo só mete a 1ª e depois não desenvolve”. O cansaço físico generalizado ao
fim de quatro noites talvez merecesse um despertador e um isotónico de diferente espécie. Até pró ano!
(videos de alguns dos concertos em HugTheDj)
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