Já no palco maior, outra surpresa! Parecem não ser destes tempos os irmãos Durham reunidos sob o nome de Kitty, Daisy & Lewis. Rock sem idade, bem feito, sem truques e que o anfiteatro já soalheiro do Tabuão recebeu de braços abertos. Rodando pela bateria e teclas, as irmãs tem na guitarra do irmão Lewis (ao que parece, um género de Jack White europeu dedicado ao vinil e avesso às tecnologias digitais) a pedra de toque exemplar. Se lhe juntarmos uma harmónica, um contrabaixo (a mãe do trio, Mama Weiss, antiga baterista das Raincoats, uau), uma guitarra-ritmo (o pai, Daddy Graeme) e um trompetista experimentado (o lendário jamaicano Eddie Tan Tan Thornton), a festa foi obviamente animada e a pedir maior duração em oportunidade futura. Saboroso.
O colectivo Team Me vêm de Noruega e não lhe foi difícil encher o palco mais pequeno. Do pouco que vimos, parecerem-nos coesos e os dez minutos de "Favorite Ghost" vincaram todos os elogios prévios. Mas havia que descer para a relva, porque a principal razão desta saltada a Coura estava prestes a começar...
Os Midlake já em palco acertavam o som e instrumentos em cima da hora o que não era, certamente, bom sinal. Sentados na relva artificial, um quase sacrilégio à natureza do local, Erlend Oye de galochas e chapéu de palha e um compincha dos Whitest Boy Alive espalhavam mostarda num pacote de batatas fritas esperando, como todos, o começo da estreia portuguesa dos texanos. Rapidamente se percebeu que o acerto sonoro não foi o melhor, mas os Midlake parece não ter notado e quando os primeiros acordes de "Roscoe" soaram esquecemos as questões técnicas e pensamos ser mesmo uma sorte tê-los ali à nossa frente em carne osso. Estrearam-se quase uma mão cheia de temas novos, mas foi com "Head Home" que sentimos a sério aquele calafrio que só as canções eternas provocam. Foi bom, podia ter sido melhor, mas ele há bandas de que, religiosamente, nunca nos devemos queixar. Amen.
Com a barriga a dar horas, aproveitamos a enchente Temper Trap para algum reconforto alimentar, mas a proximidade do palco reduzido, nas redondezas dos fornecedores de pão-com-chouriço e pizza, fez com que levássemos com uns tais Dry The River como música de fundo. Não percebemos a histeria, mas que o homem desafina...
O fenómeno Patrick Watson em Portugal parece fácil de explicar. Mesmo assim, o próprio artista ainda hoje não percebeu, como confessado ("it's crazy"), o porquê de tamanha adesão, embora desde a estreia portuguesa na Aula Magna lisboeta, onde estivemos em Março de 2008, se augurasse tamanha empatia. As canções têm brilhantismo, arranjos certeiros e uma aura vocal a lembrar Buckley's e afins ao jeito de um gosto lusitano sem idades ou gerações. Bem disposto, Watson cedo arrebatou tudo e todos os que abarrotavam a zona próxima do palco, uma dádiva pela proximidade e intensidade permitidas. Em destaque esteve o último de originais já plenamente assimilado pela maioria e por isso mesmo a provocar resposta imediata e algo exagerada em palminhas e gritinhos supérfluos a que o próprio Watson teve que pedir contenção... Mesmo depois de desligados os microfones e acendidas as luzes, a barulhenta insistência levou a que o artista regressasse para, sozinho ao piano, desfazer ainda mais uns corações com um "The Great Escape" de coro colectivo. Não será difícil prever que o regresso a estas bandas estará para breve. Será sempre bem-vindo.
Quanto aos Sleigh Bells, bom, até tínhamos o disco novo em boa conta, mas ao vivo a coisa roça já alguma previsibilidade e uma exagerada carga sónica a que, contudo, uma boa parte da assistência respondeu de bom grado. Sem baterista mas com duas guitarras à desgarrada, este foi, no nosso caso, um daqueles concertos a que se vai espreitando os ecrãs enquanto se bebe mais uma cerveja. Deve ser da idade e, por isso, (os) Deus que nos perdoe mas regressamos ao lar.
NOTA: é certo que são já quatro os anos (desde o memorável espectáculo dos Mars Volta) que primamos pela ausência em Coura. Esta moda dos dois palcos com concertos ao mesmo tempo é por isso uma novidade que merecia um folheto ou um flyer onde se dessem conta dos horários das actuações. Não custava nada e nem todos temos smart-phones para consultar na hora a programação. Tendo em conta os gastos que o patrocinador principal faz em chapéus de palha e afins, a tal informação seria uma despesa irrisória... mas útil. Incompreensível. Por isso tivemos que pedir um jornal numa barraca de cerveja para tirar a limpo o quem, o onde e o quando!
Já agora (é só má língua), mais uma ou duas barraquinhas de café (cimbalino, senhores) também calhava bem já que a única existente tinha filas incomportáveis e um serviço lamentável.
+ videos no Canal Eléctrico.
2 comentários:
Estavam a ser entregues, pelo menos no dia 15, desde as 11h da manhã, os ditos flyers desdobráveis com horários, planta do recinto e outras informações.
Relativamente à opinião sobre o concerto de Dry The River, discordo totalmente. Sendo bem mais "pequenos" como banda, fizeram aquilo que dEUS não conseguiu: actuar com qualidade e profissionalismo, e tornar "gigante" o dito palco secundário. A descontracção e proximidade são sempre bem-vindas, mas não quando acabam por desleixar a actuação e os músicos transparecem um "não faz mal porque temos graça". Esperava tanto mais deles naquele palco principal...
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