sexta-feira, 6 de junho de 2014

RODRIGO AMARANTE+SKY FERREIRA+CAETANO VELOSO+HAIM+KENDRICK LAMAR+JAGWAR MA, Primavera Sound, Porto, 5 de Junho de 2014

















O Primavera Sound portuense vai-se refinando ano após ano. Não há filas na entrada, não há congestionamentos prévios e os sorrisos nas caras da maioria dos que deambulam ainda com sol pelo recinto são sinónimo de um regresso feliz a um local e a uma cidade que deixa saudades. Saudades temos nós da Tubitek, discoteca mítica da Praça D. João I que forneceu gerações de melómanos e que agora promete regressar muito em breve ao mesmo local repleta de vinil. Uma boa surpresa de acolhimento!   
  
Rodrigo Amarante, Palco Super Bock

As canções que repousam em "Cavalo", disco lindo de Rodrigo Amarante, tiveram apresentação em primeira mão aquando da vinda de Devendra Banhart ao Porto em Agosto do ano passado. Nessa noite já as canções sugeriam uma beleza que, quase um ano depois, se transformou em magia. Perfeito no fim de tarde, perfeito na simpatia, perfeito no alinhamento, só faltou, como suspirado, uma "perninha" com o Caetano... Belezura!        

Sky Ferreira, Palco Super Bock
















Já com estômago aconchegado (obrigado, Guedes!) e que nos desculpem os Spoon, acampamos ao longe para testar a menina Sky Ferreira. Conhecemos o nome e a sua suposta ascendência portuguesa mas nunca ouvimos o disco ou sequer espreitamos qualquer video. Reparamos na capa do álbum por razões óbvias e fomos notando algumas maledicências nas revistas linguarudas. Ou seja, estávamos prontos para tudo. Resultado: gostamos, mas não muito! Há imenso potencial, a voz cativa, as canções, algumas, até que não envergonham a pop ("Heavy Metal Heart") mas alguns tiques de desleixo ensaiados não lhe ficam nada bem. Vamos, contudo, ficar mais atentos.    

Caetano Veloso, Palco NOS
















Isto de ver o Caetano Veloso num festival algum dia tinha que acontecer. Que esse dia fosse no Porto e no melhor evento do género do país não foi, com toda a certeza, por acaso. O espectáculo com a banda Cê está mais que rodado e, por isso, nada havia a temer pois a variedade da ementa satisfaria, como se confirmou, a diversidade de exigências. Do funk, ao puro rock, passando pelo samba, o "abraçaço" rapidamente se espalhou sem exageros de vedeta ou venerações pindéricas porque é de um lenda luminosa com os pés bem assentes na terra de que estamos a falar. Caetano é de outro mundo, Caetano é um mundo, Caetano é de todos NOS (ups!) e todos somos Caetano. Valeu!
   
Haim, Palco Super Bock
Ter logo a abrir o "Falling " e o "If You Could Change Your Mind" até que foi cool. Duas das melhores canções das Haim rapidamente puseram a plateia 
em alvoroço por arrasto de um contagiante corropio das irmãs em cima do palco. O fôlego parecia até irresistível, parecia... porque o concerto entrou em "modo controlado" apesar de um suposto momento jam e algumas malhas rock. Os discursos estudados em gritaria, as "f words" e quejandos evidenciam uma juventude artística traçada a régua e esquadro por uma indústria ávida mas suicida e que em poucos anos lhes vai tirar o tapete. Vão ser grandes, não foram?

Kendrick Lamar, Palco NOS
















Kendrick Lamar é um fenómeno? A pergunta teve resposta contundente na imensa plateia que ondulava, braços no ar, sob comando do artista com pinta de rapper. Uma sedutora base instrumental tocada ao vivo (baixo, bateria, guitarra e teclas!) e sem samples exagerados, conduziu o concerto a excelentes momentos, nomeadamente os mais calmos de travo r&b de fino recorte e a captar adeptos como nós. Curto, mas incisivo, Lamar prometeu voltar e público não lhe irá, seguramente, faltar.     

Jagwar Ma, Palco Super Bock

Luz, muita luz de frente que são já duas da matina e a festa não pode ser às escuras. Jagwar Ma, disfarçado num dos lados do palco, tem atrás de si um baixista e alguém a comandar uma parafernália de aparelhos que quando se juntam não deixam ninguém indiferente. Balanço obrigatório e mais umas cervejas a rodar com insistência, pois muitos tem em "Howlin", álbum de 2013, um agitador de músculos e até mentes. Como se não chegasse, houve ainda espaço para Stella Mozgawa, baterista das Warpaint, acrescentar força em quase metade do concerto a uma sonoridade que não disfarça influências de Manchester e arredores mas que, mesmo assim, cumpre a função - proporcionar a dança nem que seja a da chuva que acabou mesmo por começar a cair. Será um sinal?

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