quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008


(RE)LIDO #8
AS LENDAS DO QUARTETO 1111

de António Pires, Lisboa, Ulisseia, 2007
Duas noites bastaram para acabar este fantástico relato! Em jeito de história, melhor, ao jeito de um autor e jornalista tarimbado que recentemente regressou à escrita em papel na TimeOut Lisboa, quase não conseguimos parar a leitura que só o sono tardio venceu... Desde sempre ouvimos lendas, boatos e peripécias sobre o Quarteto 1111. O que este livro consegue é, na primeira pessoa, acabar com todas essas dúvidas. Pela recolha de testemunhos directos, principalmente de José Cid e Tó Zé Brito, ficamos esclarecidos sobre o trajecto muito português de uma banda de referência, mas ainda pouco ouvida ou entendida. Incríveis os anos pré-25 de Abril, as fintas à Censura, as condições de gravação e promoção, em descrição pormenorizada, que nos esclarecem sobre o que era cantar em português num país cinzento. Mas o livro também nos faz sorrir, com peripécias humorísticas protogonizadas essencialmente por José Cid, como aquela de tempos de tropa em Santarém em que ele, para não se cansar, comandava o pelotão militar conduzindo o seu carocha! Relatos de concertos, de festivais (entre eles um desconhecido no Estoril que não chegou acontecer por intervenção armada da polícia...), de viagens e digressões asiáticas, onde a mítica máxima sexo,drogas & rock roll era efectivamente realidade. Realça-se ainda a amizade, a perserverança e espírito de sacrifício dos diversos músicos que foram passando pelo Quarteto 1111 e onde a genialidade de Cid teve particular importância. Curiosas as ligações e emaranhados de figuras da música portuguesa que o livro acaba por revelar, de Amália a Ary dos Santos, das Doce aos Gemini, de Adriano Correia de Oliveira a Jorge Palma, passando pelos Green Windows, Tonicha ou até o Frei Hermano da Câmara. Tal como aconteceu com o documentário recente sobre os Heróis do Mar, esperamos que alguém tenha a coragem (o livro adianta que sim) de recolher imagens e testemunhos para a realização de um documentário videográfico sobre o Quarteto 1111 e tudo à volta, de forma a que, de uma vez por todas, se valorize o seu importante papel e contributo para história da música portuguesa. Agora entendemos melhor porque é que e o José Cid diz que “se o Rui Veloso é o pai do rock português, então eu sou a mãe”...
JOSE CID - QUARTETO 1111 @ MUSIC BOX (lançamento do livro)

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