sexta-feira, 1 de agosto de 2008

MEMORABILIA # 7


Este livro editado em 1983 pelo Circulo de Leitores faz parte da bibliografia limitada sobre concertos em Portugal. Surge por aqui porque nos trás memórias não dos concertos nele retratados, mas do local de onde o trouxemos. Esse antro da juventude situado em casa de amigos vizinhos servia para tudo: jogos de cartas, ping-pong em doses intensivas, barrigadas de ameixas brancas, música aos berros e simulações/imitações dos Queen ou U2, com vassouras em vez de violas e baldes de plástico em vez da bateria, em gravações malucas ao jeito daquilo que hoje chamamos karaoke... Acresce ainda que era neste livro que, pela primeira vez, vimos fotografias dos U2 em Vilar de Mouros em 1982, concerto que muitos lamentamos não ter assistido. São duas pequenas imagens de Bono em cima do palco, botas altas e calças de napa, ao jeito dos primeiros tempos da banda irlandesa e que preencheu o nosso imaginário pop/rock durante a segunda metade da década de oitenta. O autor da totalidade das fotografias deste álbum é Fernando Peres Rodrigues e abarca concertos realizados principalmente em Lisboa entre 1978 e 1982. A qualidade dessas imagens tem aquela marca típica desses anos oitenta - pouca definição ou brilho e uma impressão algo pobre. Mas o que é certo é que este é o único livro publicado em Portugal que reune fotografias de concertos rock de um período marcante da explosão musical no nosso país: Lene Lovich, Lou Reed, Police, Ramones, Cheap Trick, Clash, Fisher Z, Dexy’s Midnight Runners, Ian Dury, Tubes (imagem da capa), Elvis Costello, Thin Lizzy, entre muitos outros, passaram por cá nesses anos. Claro que o boom dos chamados neo-românticos tem aqui particular destaque com fotografias dos Duran Duran, Spandau Ballet ou Classic Nouveaux, mas existem fotos de bandas de que nunca ouvimos falar (Panchito and the High Rockers ou Joe King Carrasco & The Crowns) e artistas que nem sabíamos que tinham tocado por cá nesses tempos (Fats Domino, Eric Burdon ou Roy Harper). Interessante o texto da jornalista Ana Rocha, mentora da obra, numa abordagem curiosa à problemática dos concertos vs público, da indústria musical, dos meios de difusão, etc.. Algumas das suas palavras, em tempos de acesso difícil à música, são curiosas. Numa delas afirma-se “Todos nós sabemos que não existe uma obra finita, acabada ou completa, pelo menos enquanto se continuar a realizar concertos. Há versões, recriações intermináveis, modificáveis. A recriação contínua, o fugidio, o contingente, constituem a essência do rock; o seu carácter efémero é um elemento importante”. Dá que pensar, precisamente um dia depois de um concerto dos Sex Pistols em Coura...

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