quarta-feira, 3 de junho de 2009

SINGLES #17

AC/DC – Back in Black 
Atlantic, ATL11652, Portugal, 1980 
Para nós, o início dos anos oitenta tinha como centro do mundo a escola. As salas da chamada "cavalariça" do extinto Liceu Rainha Santa Isabel, na muito portuense Rua do Heroísmo, local onde recentemente foi reinstalada uma esquadra de polícia, eram o palco das mais diversas histórias e aventuras. Em tempo de Carnaval, fim de períodos ou aulas, o local era, numa tarde, “controlado” por alunos mais velhos com o objectivo de promover festas entre turmas, onde se "convivia” e bebia às escondidas… A banda sonora era da responsabilidade do saudoso colega Cardoso que carregava sempre um gira-discos portátil, um amplificador fanhoso, duas colunas roufenhas e vinis! O Cardoso era, então, o nosso ídolo. Nesses tempos, onde não havia tribos e expressões como metaleiros ou góticos eram desconhecidas, o Cardoso misturava tudo, desde os Orchestral Manoeuvres in The Dark (o “Electricity” era um must), Duran Duran, Clash, Springsteen ou Sex Pistols (o “My way” terminava sagradamente todas as festanças), chegando a repetir as canções meia dúzia de vezes! Numa dessas festas, o Cardoso trouxe um disco preto com as iniciais AC/DC que rodou na totalidade (em repeat, como agora se diz) até à exaustão. Sobre ele, o Cardoso sabia todos os pormenores: que a banda era australiana, que tinha um vocalista novo que substituiu um outro que tinha morrido de overdose (Bon Scott), que o tema “Back in Black" tinha sido escrito em sua homenagem e que o disco ia vender por todo o lado. Sempre que esta canção soava, estridente, o Cardoso subia a uma das carteiras de madeira e em estilo “air guitar”, saltava para o soalho fazendo a agulha sair das estrias… Não sabíamos, nem queríamos saber, se o som dos AC/DC era heavy metal, hard rock ou só rock. O que é certo é que a canção se tornou, obviamente, inesquecível. Passados alguns meses, já toda a escola ouvia o disco e muitos logos da banda estavam gravados na madeira das carteiras do liceu. Quando há dois anos demos de caras com este single, foi do Cardoso que nos recordamos, da sua amizade e das brincadeiras e travessuras contínuas que duravam uma viagem curta de autocarro entre o Bonfim e São Roque da Lameira, local onde morava. O Cardoso, infelizmente, haveria de falecer no ano seguinte num acidente estúpido durante um acampamento de escuteiros. O disco, tal como ele previa, é ainda um dos mais vendidos de sempre da história da música popular e os AC/DC continuam a esgotar estádios! Não é possível, mas hoje o Cardoso estaria certamente na primeira fila de Alvalade e quando o “Back in Black” se fizesse ouvir, já os seus braços seriam uma guitarra eléctrica.

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