quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

ARCTIC MONKEYS + MYSTERY JETS, Coliseu do Porto, 02 de Fevereiro de 2010


Já passaram quase oito anos sobre a inocência que explodia em temas como “Fake Tales of San Francisco”, “Cigarette Smoke”, “Dancing Shoes”, “From Ritz to the Rubble” ou “Mardy Brun”. Por razões óbvias, nenhuma destas canções foi escolhida pelos Arctic Monkeys para o concerto de ontem no Porto, num alinhamento muito semelhante ao previamente anunciado e que se deve repetir hoje na capital. Os miúdos de então cresceram a todos os níveis, assentaram ideias, deitaram para trás das costas muita dessa verdura e algum cabelo e ao terceiro disco, avançaram, entre brumas negras, para algo mais estruturado e profundo. A primeira parte do espectáculo foi o espelho desta nova faceta, uma potente entrada envolta em luzes vermelhas, num ambiente anunciado pelo DVD “At the Apollo” (2009). Com “Brainstrom” o Coliseu deu um salto instantâneo, respondendo a um baixo que agora se faz notar de forma mais acentuada, marcando passo para o que se seguiria. A excelente versão de “Red Right Hand” do inspirador Nick Cave, uma escolha nada inocente, pôs travão na euforia e “My Propeller” e ”Crying Lightning” culminaram, da melhor maneira, a sequência mais bem conseguida da noite. Surgiu então, atirada da plateia, uma camisola do FCP com o nome da banda estampado nas costas, oferta que Alex Turner calmamente inspecionou e agradeceu, colocando-a em cima da bateria para gáudio da maioria do público. Apesar da goleada que se adivinhava no Dragão, a partir daqui o concerto perdeu, quanto a nós, alguma consistência. Doseando novos temas com alguns clássicos obrigatórios (“The View From The Afternoon” ou “I Bet You Look Good On The Dancefloor”), o equilibrio foi-se desfazendo e só o entusiasmo constante dum Coliseu frenético e jovial manteve a tarimba, de que é exemplo o delirante “When The Sun Goes Down” cantado a um só fôlego. Momentos depois, uma explosão de pequenos rectângulos dourados espalhar-se-ia no recinto durante “Secret Door”, sinal que a festa se aproximava do fim. No único encore, “Fluroscent Adolescent” ainda retomou a dança, mas as luzes do Coliseu, apesar da gritaria, rapidamente se acenderam. Um concerto robusto, duma banda que, passada a fase de crescimento, se encontra, a olhos vistos, a “botar corpo” musculado.

Na primeira parte tocaram, de forma competente, os Mistery Jets. Alguns fãs na plateia conseguiram entusiasmar o restante público e o concerto ganhou até momentos surpreendentes. Um powerpop de tradição inglesa, bem enraizado e trabalhado, a merecer mais atenção, de que é exemplo o single "Flakes" com que termiraram a curta, mas sóbria, aparição.

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