segunda-feira, 14 de junho de 2010

JP SIMÕES, Passos Manuel, 12 de Junho de 2010

Quem repete a ida a um concerto de JP Simões tem sempre em mente "passar um bom bocado". Esta expressão implica, neste caso, duas componentes inseparáveis e complementares: a música, da melhor que em Portugal se pode oferecer e boa disposição quanto-baste. A dose desta última pode ser reforçada se a noite for já alta e a sala permitir fumo e bebida temperadora. No caso do Passos Manuel e atendendo às restrições impostas, não houve cigarros nem pedidos de lume e água de garrafa foi o único liquido ingerido entre os temas. Mesmo assim, o nonsense e sarcasmo letais marcaram presença nas invariáveis introduções e diferentes interpretações das canções escolhidas. Desde a referência à inquieta mãe Conceição para justificar a habitual versão de "Inquietação" de José Mário Branco, passando pelos "au au's" do cão chamado Deus ao longo de "Trovador Entrevado", já um clássico moderno da música portuguesa, há em JP Simões uma aura de decadência feliz a que é impossível resistir. A famigerada "Ópera do Falhado" tem, certamente, muita culpa nesta visão desgraçada e "patética" da vida, mas quase a brincar, Simões consegue pôr-nos a matutar sobre as adversidades do amor ("Música Impopular" e a inebriante "Canção da Carne Crua") ou a importância dos sonhos ("Lenda do Homem Pássaro"). Os tempos agora são outros, mais apertados e ditos de crise e o cantor mostra-se obviamente atento. Uma brilhante e inédita "Marcha dos Implacáveis", estreada já nos encores, teve no Presidente da República um destinatário com direito a dedicatória, mas, mais uma vez, os "atingidos" pela genialidade e hipnotismo de um autor brilhante fomos todos nós. Ainda bem.

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