sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

(RE)LIDO #105





















NICK DRAKE E PINK MOON 
Una Disgregazione 
de Ennio Speranza. Giulianova (Itália); Galaad Edizioni, 2020 
Il ragazzo inglese alto e magro baptizado de Nicholas Rodney Drake editou há cinquenta anos neste dia um disco chamado "Pink Moon". Retirou-se depois, tragicamente, em casa dos pais e deixou que o vento do destino soprasse incerto nas onze canções que tinha gravado em duas noites de estúdio quase solitário e silencioso. 

Il ragazzo inglese alto e magro que todos conhecemos por Nick Drake não teve sorte mas a História haveria de lhe fazer justiça, passando a nomear-se o tal álbum como um dos melhores de sempre ao ponto de se querer escrever livros sobre estes vinte e oito minutos de mistério. Ennio Speranza, professor de história da música em universidades transalpinas, é um dos que quis cumprir essa vontade, insistindo que a pretensão teve na música de Drake, e não na sua atribulada vida, o único e primordial desígnio da publicação. Verdade? 

Arrumando contextos biográficos em forma de fragmenti e iniciando parágrafos repetindo a referência Il ragazzo inglese alto e magro, denota-se uma certa sofreguidão em chegar às considerações sobre as canções - framenti di analisi - e onde coloca toda a sua evidente cientificidade musical com a reprodução das pautas e respectivos gráficos de acordes, o que no nosso caso acaba por ser uma codificação inútil mas compreensível. Há, no entanto, comentários e sentenças que transparecem pela proeminência das considerações e certezas em confronto com autores, biógrafos ou jornalistas citados e nomeados em demasia. Um risco que seria bom ter evitado. 

Mesmo que a leitura em italiano não seja a melhor - a primeira e única tentativa teve uma prática longínqua mas, obviamente, sobre o mesmo assunto - sobressai na narrativa uma arrogância que entendemos como propositada e intencional. Por exemplo, em "Road", a terceira das pérolas, envolve-se com Robert Kirby, o amigo e arranjador de muitas das canções dos dois primeiros álbuns de Drake e que considerou o tema como imperfeito, para tecer comentários abusivos sobre competência ou destreza! Atendendo ao subtítulo do livro que remete para um suposta desagregação ou desintegração, talvez não houvesse necessidade da afronta. Aprende-se alguma coisa?

Não será fácil retirar deste ensaio editorial muitos ensinamentos ou novidades. A matéria tem merecido aturado esforço na procura de ineditismo profícuo mas ele não mora aqui ou sequer nas mais recentes pesquisas (leia-se, por exemplo, o sensaborão artigo do "Independent" irlandês saído esta semana), valendo a esperança em diligências de profundidade e certificação superior que aguardamos com expectativa elevada. Por agora, o melhor é mesmo esquecer a escrita e regressar ao talento d'il ragazzo inglese alto e magro e ao brilho da sua luna rosa... 

Sem comentários: