segunda-feira, 20 de março de 2023

ALEX ZHANG HUNGTAI, GNRation, Braga, 17 de Março de 2023

                            fotografia: Hugo Sousa / facebook gnration
















A presença de Alex Zhang Hungtai na sala escura do GNRation funcionava como a aparente reabertura de um círculo de aloquete fechado quando, em 2014, por ali deu os últimos concertos do seu projecto Dirty Beaches. Desde aí, estendeu ainda mais a corda a uma tensão experimental de inquietude jazzística com forte colaboração e residência portuguesa, mas o regresso posterior aos E.U.A. acabaria a embaciar os seus movimentos, mesmo que a colaboração publicitada com David Lynch tenha despertado veia de actor e de figurão. Previsões, por isso, quanto ao alinhamento só lá para o final.

No palco e na penumbra, o piano grande de um dos lados e um conjunto de aparelhos e fiarada elétrica do outro, sugeria uma assumida dicotomia performativa mas de interpenetração incerta. Impecável no blusão de couro e no corte de cabelo, Hungtai ligou alguns dos aparelhos e colocou o saxofone ao peito. Dele saiu um fio eléctrico ligado à aparelhagem que se adivinhava serviria para ampliar e distorcer o sopro. Errado. Poucas vezes o instrumento foi usado de forma tradicional, permitindo sim a construção de camadas sonoras pela simples deslocação ao redor da cabeça, perto dos ombros ou invertendo a verticalidade a que se somou um leve dedilhar das chaves para modificar tonalidades, reforçar ruídos ou acentuar vibrações. 

Fê-lo ao longo de quarenta e cinco minutos, vagueando quase em círculo pelo palco em movimentos lentos e vagarosos, sem interrupções e sem crescendos instrumentais. A luz manteve-se inalterável e no final da perfomance, de difícil previsão, ninguém bateu palmas ou emitiu sinais de aprovação, sendo o silêncio patente nesse momento talvez o espelho de um desconforto colectivo quanto ao resultado efectivo do improviso (?).  

Calmamente, pousou o saxofone e dirigiu-se ao piano do outro lado do estrado. Já sentado, respirou fundo e iniciou a execução de curtos apontamentos melódicos de horizonte calmo, quase cinematográficos, que, outra vez, se questiona se foram improvisados, ensaiados ou simplesmente lembrados. O que parecia o início de um desempenho introdutório durou dez minutos mas Hungtai, com uma primeira vénia, deu o sinal para que um leve aplauso fosse finalmente prestado e, já de pé, emitindo agradecimentos, rapidamente abandonou o palco. Sem insistência ou mais palmas, a estranha anormalidade sugeriu ter sido aprovada mesmo que, no final da viagem, não se tivesse notado qualquer distinção ou louvor. Seria desnecessário...

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