quinta-feira, 29 de agosto de 2024

THE THE, A ALMA NÃO É PEQUENA!





















Desde que em Maio foi anunciado o regresso, vinte cinco anos depois, dos The The aos discos grandes, fomos ouvindo, curiosos, as canções que foram saindo... “Cognitive Dissident”, a primeira, e “Linoleum Smooth To The Stockinged Foot”, a segunda, indicavam que Matt Johnsson não anda por aí a balouçar em facilitismos, mantendo-se como uma força criativa de densidade própria e de sofisticação impregnada. 

Uma semana antes da saída do álbum de título "Ensoulment", prova-o o terceiro single largado no dia de hoje, canção a la The The chamada "Some Days I Drink My Coffee By The Grave Of William Blake", tema antigo nunca acabado e que pertence, segundo o próprio, a um todo incompleto sobre a cidade de Londres, ao lado de "Heartland" ou "The Beat(en) Gneration". Tal como os anteriores singles, o video, onde Johnsson surge ao lado dos colaboradores regressados à banda, é dirigido pelo amigo Tim Pope, who else

Os cuidados postos neste regresso são bem notórios na diversidade de pacotes comerciais já disponíveis para encomenda, muitos deles, entretanto, esgotados, nomeadamente, os três singles de vinil. Esgotados estão, também, os concertos deste mês de Agosto, quase todos os dos próximo mês de Setembro pela Europa, e alguns dos que se agendaram para os E.U.A. e Austrália para Outubro e Novembro. Não sabemos porquê, mas pressentimos que lá para a/o Primavera deverá acontecer regresso à Invicta. Seria justo... e em grande!



terça-feira, 20 de agosto de 2024

BRANKO + NOURISHED BY TIME + NOUVELLE VAGUE + ALLAH-LAS + CAT POWER + BENJAMIM + GIRL IN RED + BEACH FOSSILS + IDLES, Festival Paredes de Coura, 16 de Agosto de 2024

O dia escolhido para a picagem de ponto em Paredes de Coura adivinhava-se como uma maratona árdua. Não estivemos presentes na partida (17h30) nem, como seria previsível, no término (4h30 da madrugada!) mas a chegada fez-se ao som já agitado do tema/hino dos Conferência do Inferno e o melhor seria, então, entrar na corrida nos lugares da frente ao lado dos que já estavam mais que prontos para a festa. 

O anfitrião foi João Barbosa aka Branko, dj e produtor habituado a horários mais nocturnos, mas já sabemos que durante quatro dias os ponteiros do relógio são para os residentes um detalhe desprezível. Bailes e balanços não têm horas marcadas, mesmo que a presença de um guitarrista e uma teclista em cima do palco se tenha afigurado de resultado imperceptível, e como a máquina estava ligada e a sincronização com os videos dos vocalistas activa e rigorosa, não foi preciso muito para o terreiro fronteiro se inverter num saboroso e eficaz sunset dançável ainda a cheirar a gel de banho...

 

Tem doze anos a passagem mítica de Willis Earl Beal por Coura e foi desse momento que nos lembramos quando Marcus Brown aka Nourished By Time, também sozinho, entrou no palco secundário. Envergando uma t-shirt dos The Stooges, à base pré-gravada das canções sobrepôs-se uma voz de feição soul, forte, de recriação nos sintetizadores anos oitenta e nalgum r&b que uma postura irrequieta estimulou ao movimento. Há por aqui muito nervo e coragem, uma modernidade e reinvenção de estilos que a música agradece mas nem sempre reconhece. No caso, sendo já grande na figura, não será difícil adivinhar que também o será como artista.

 

Os franceses Nouvelle Vague andam por aí a rondar há já mais de vinte anos. Até lhe achamos piada quando emergiram com as versões de hits dos anos oitenta e quando alegravam plateias sedentas de um revival bem feito e cool, mas a novidade foi-se perdendo e diluindo numa indiferença confrangedora. É estranho, ou talvez não, vê-los em Coura num final de tarde a fazer o mesmo de sempre, agora uma onda dispensável ainda que, evidentemente, entretida. Se este é um dito e propagado festival de tendências, esta é mesmo a que sinaliza a mais perigosa delas todas - a banalidade!

 

Nove anos depois, os Allah-Las regressaram onde foram felizes mesmo que o estrado e o anfiteatro tenham encolhido na dimensão. Nada que tenha motivado queixas da banda californiana, logo agora que a madureza do conjunto está num ponto de pérola rock que os discos têm confirmado - "Zuma 85", o último deles, é feito de uma reinvenção amena que se refresca a cada audição e que ao vivo ganhou corpo de asas avantajadas. Uma excelente primeira parte, não programada, do que se haveria de seguir.

 

Ter Cat Power a recriar Dylan num festival nacional só ali, nas margens do Tabuão, fazia sentido. Pena que parte da plateia não tenha ouvido a sério o disco excelente e corajoso que Chan Marshall lançou este ano, onde recria o concerto lendário de 1966 no Royal Albert Hall londrino, para não se pôr a assobiar sem sentido quando o que se pedia era apoio. Certo que o set acústico, reduzido a quatro temas, foi armadilhado pela própria em constantes apelos às mesas de som entre saídas de palco, mas, ainda assim, aquele "4th Time Around" foi/é mesmo de outro mundo. Quando o resto da banda, e que banda, entrou para o set eléctrico, também ele naturalmente encurtado, o concerto elevou-se, como por magia, a uma dimensão intangível de uma soberba instrumentalidade e ainda maior vozeirão de que "Ballad of a Thin Man" se mostrou monumental. Uma dádiva, talvez, irrepetível e, certamente, inesquecível para uma imensa turba que não comprou bilhete só para os Idles. How does it feel?

 

A tenda não chegou para todos os que não dispensaram acolher Benjamim e companhia para o que adivinhava ser uma festarola. Embalados pela multidão, pelos muitos coros colectivos e pela boa onda latente, os músicos em cima do palco não disfarçaram a satisfação perante a recepção estrondosa e que teve direito a comparência de Samuel Úria para ajudar no seu "Os raros", raridade, afinal, não tão rara assim. Um exemplo apropriado de boa e fina pop portuguesa, na hora o no sítio certos e que a todos nos deve orgulhar no namoro. Aí Benjamim!

 

A menina Marie Ulven Ringheim, ou seja, Girl in Red, é norueguesa mas os trejeitos são todos, sem excepção, aqueles de vedeta americana das redes sociais e dos digitalismos. Dizem que isto é indie-pop, que isto é dream-pop, mas isto é só mesmo chatice-pop de irritação crescente e sofrível, um incómodo que a menina acicatou na desistência - em vinte minutos fez questão de frisar duas vezes, sem razão aparente, a sua orientação sexual... Fomos ganhar vez para uma ida à praia.

 

Não fomos os únicos. A estreia dos Beach Fossils em Portugal (?) tinha já muitos em pré-marcação de espaço, o que nos surpreendeu e muito! Estacamos na parte central, mas logo ao fim do segundo tema percebemos que a escolha colidia com uma carreira de tiro de um inesperado crowd surf e de uma divertida concentração de fãs espanhóis e não só mais que prontos para a contenda, ou seja, para a moshada. Letras repetidas e antecipadas em coro foram, assim, uma constante de um concerto que nos engoliu, entre empurrões e encostos, pela satisfação, pela energia e, afinal, por uma espontaneidade a que a banda de Dustin Payseur chamou e saboreou como um inesperado figo. Ora aqui está uma primeira semente de partilha que, ou nos enganámos, irá dar frutos consecutivos!

 

O fenómeno Idles, que prevíamos caótico em 2018, não demorou a avolumar-se e ele aí está, grosso na atitude, perverso na mensagem, mas, caramba, imbatível na força e na corrente. Há razões mais que evidentes para o sucesso, já que uma reinvenção do punk, não sendo fácil, requer talento e muita, mas mesmo, muita luta insistente de que Joe Talbot é símbolo agitador e propagador nato, um pirómano nocturno que multiplicou correrias e agitações anárquicas de uma plateia sempre irrequieta e, ainda assim, respeitadora. Já chegamos a uma idade em que ver tamanha comunhão do cimo de uma colina é simples motivo para uma alegria inocente e fé num rock que tantas vezes já quiseram enterrar, mas que tantas vezes, as que forem eternamente necessárias, irá sempre renascer.    

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

RYUICHI SAKAMOTO, MAGNÍFICO ADEUS!













Como seria previsível, da excelência do filme "Opus", que documenta um abnegado esforço de Ryuichi Sakamoto, iria florir uma banda sonora que se impunha obrigatória e, ao mesmo tempo, magnífica. 

Saído a semana passado na Milan Records, há agora um disco eterno com as vinte peças escolhidas de uma carreira para um último adeus ao piano, colecção impressionante de resiliência e talento de que estes dois pedaços, que aqui deixamos, são só uma réstia imensa de tocante perfeição! 


quarta-feira, 14 de agosto de 2024

MARGO GURYAN, DISCO TRIBUTO!















Talvez o nome da norte-americana Margo Guryan (1937-2021) cause estranheza e justificado desconhecimento, mas o álbum "Take A Picture" de 1968, o único gravado em vida, é, ainda hoje, referência de uma carreira que se estendeu à produção de outros artistas, à escrita ou ao ensino do piano. Com a sua morte em 2021, depois de se ter acentuado na última década uma redescoberta das suas canções e composições, ficou prometido um disco de tributo que a editora Sub-Pop agendou para o último mês de Julho mas de que, até agora, são só conhecidas duas versões. 

Em "Like Someone I Know: A Celebration Of Margo Guryan" juntam-se uma série de artistas e admiradores para reinterpretar a totalidade dos onze temas do referido "Take a Picture", destacando-se os nomes de Bedouine com Sylvie ("Can You Tell"), Frankie Cosmos and Good Morning ("Take a Picture"), Empress Of ("Someone I Know") ou os canadianos TOPS ("Sunday Morning") mas também, entre os mais conhecidos, Kate Bollinger e Margo Price, que realiza uma versão extra de "California Shake". 

Parte dos lucros obtidos serão doados a instituições não lucrativas associadas à prevenção de saúde infantil, estando prometido o lançamento definitivo para 8 de Novembro, data que marca o terceiro aniversário da sua partida. O original "Take A Picture" será, entretanto, reeditado no final do corrente mês. 


THE PAINS OF BEING PURE AT HEART, AO VIVO!





















A estreia dos The Pains of Being At Heart com o álbum homónimo fará quinze anos em 2025 e há já digressão comemorativa pela Península Ibérica. A ronda terá dez concertos por Espanha que se estendem do final de Fevereiro até ao início de Março. Contudo, o tiro de partida da gira tem data portuense agendada para o M.Ou.Co. a 19 de Fevereiro, espaço onde Kip Berman, o líder e vocalista da banda, esteve para comparecer como seu projecto The Natvral em Maio de 2021, mas que uma série de mal entendidos o levou a tocar só para uns sortudos na loja Mercado 48

Trata-se, assim, de um regresso a uma cidade que sempre recebeu os TPOBPAH de forma acolhedora, o que se prevê se irá repetir. A banda, reunida para o efeito com a formação inicial, promete não desiludir. Fica já o pedido: não se esqueçam de "Say No To Love" de 2010, que apesar de não fazer parte da estreia em LP, é uma das suas melhores canções e singles... 


terça-feira, 13 de agosto de 2024

JIM WHITE E MARISA ANDERSON AO LARGO!


A nona edição do Jazz ao Largo - Festival de Jazz e Música Improvisada de Barcelos terá uma versão ao ar livre em Setembro, estando já definida a respectiva programação e ocupação. Todos os concertos serão de acesso gratuito.

Entre tantas coisas boas, destacamos, como não, a matinée marcada para o claustro da Câmara Municipal de Barcelos no dia 14 de Setembro, sábado pelas 17h00, onde o magos da bateria e guitarra Jim White e Marisa Anderson irão apresentar "Swallowrail", o segundo álbum colaborativo editado em Maio pela Thrill Jockey e que sucede a "The Quickening" de 2020.  

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

JESSICA PRATT, BELEZA!





















Quando por aqui apresentamos o novo e magistral álbum "Here In The Pitch" de Jessica Pratt escrevemos que iríamos ficar à espera de um milagre, isto é, um concerto por perto. Esperamos até hoje por ele, embora sabendo que desde o mês passado estava já agendado um regresso a Lisboa no âmbito da segunda edição do Festival Vale Perdido que ocupa vários palcos e salas da capital no Outono. 

Nada! Sem desdobramento a norte, o festival é, pois, o evento exclusivo para acolher, a 14 de Novembro no B.Leza, uma preciosa artista e as maravilhas que ela (con)têm. Qualquer esforço e sacrifício para lá chegar e ouvir (d)isto, terão bênção garantida... Beleza!    

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

FATHER JOHN MISTY, DISCO MAXI-SINGLE!

Faltava a Father John Misty uma compilação de êxitos da sua carreira convertida em cinco álbuns desde 2012. Não parecem muitos mas há por lá muito onde escolher e, por isso, decidiu-se por dezasseis canções óbvias incluídas em "Greatish Hits: I Followed My Dreams and My Dreams Said to Crawl" a que se junta, a terminar, um inédito surpreendente que Josh Tillman promete também irá fazer parte de um novo álbum de originais a editar antes do final do ano. 

São oito minutos de puro deleite e gozo disco de título “I Guess Time Just Makes Fools of Us All” e que tem tudo para se converter num arrebatador e aditivo maxi-single de verão! 

PUBLIC SERVICE BROADCASTING, VOAR ALTO!





















"Informing, educating and entertaining since 2009".
 
É esta a divisa que os britânicos Public Service Broadcasting afixam, não por acaso, no perfil oficial do seu facebook. Cada álbum, cada concerto, cada canção, cada video, contêm uma lição de bom gosto e sobriedade onde a história inglesa e os seus excelentes arquivos e documentos, são aproveitados pela banda para comporem, pela pesquisa e selecção, discos conceptuais como o último inspirado por um plano de arquitectura para Berlim ou inesquecíveis perfomances como a de 2023 com a BBC British Symphony Orchestra

Uma nova viagem no tempo e na música se aproxima - "The Last Flight" é o nome de um álbum gravado no Jacamar Studio de Londres em Fevereiro e Março deste ano e nele se conta a história da aviadora americana Amelia Earhart e do seu fatal último voo, em 1937, depois de mais de vinte mil milhas sobre os cinco continentes. O avião Electra haveria de desaparecer, misteriosamente, perto da Howland Island no Pacífico, perdendo também a vida o navegador Fred Noonan. 

O nome da aeronave deu já título ao primeiro single, mas o disco alcança ainda outras dimensões que examinam o carácter e a resiliência de Earhart, o seu fascínio pela vida e pelo momento, tudo transformado em canções polvilhadas de samples de registos de voz obtidas durante o referido voo e colaborações diversas. O tema mais recente a ser divulgado - "The South Atlantic" - conta com Kate Stables aka This Is The Kit e o disco, a sair em Outubro, têm notável versão de vinil zoetrope em pré-encomenda


sábado, 3 de agosto de 2024

CHROMEO PARA AS FÉRIAS!















O duo Chromeo lançou este ano "Adult Contemporary", uma sexta insistência longa num descomprometido e moderno estilo funk que, há muito, não dispensamos e de que gostamos, sempre que possível, arrebanhar em sete polegadas matadores (o de "Bonafied Lovin" é já um clássico). 

É por isso um sacrilégio não terem sido prensadas nenhumas rodelas pequenas de qualquer um dos três bombons de abaixo e de que "BTS" é um recheado exemplo de injustiça! Para bombar bem alto a qualquer hora e em qualquer lugar. Por isso, groove(m) umas BOAS FÉRIAS!



sexta-feira, 2 de agosto de 2024

UAUU #725

FIONN REGAN, NA MAIOR(CA)!





















Ao longo de cinco anos, o sempre impressivo Fionn Regan tratou de, aos poucos, alinhar canções que só ele sabe fazer e que, como aconselhado, deverão ser ouvidas de fio a pavio e sem interrupções num género de nova narrativa chamada "O Avalanche". 

Um primeiro capítulo, despertador, já por aqui foi folheado mas há agora um outro que desbrava uma inspiração e composição pela ilha de Maiorca - "Headphones" junta-se ao inicial "Islands" mas o conjunto sonoro de onze temas só terá disponibilidade total no primeiro dia de Novembro pela Nettwerk, tudo a tempo de uma já programada digressão pela Irlanda e Inglaterra. 

BADBADNOTGOOD, ESPIRAL DE VERÃO!





















Os três miúdos canadianos, agora não tão miúdos, BADBADNOTGOOD registaram em Fevereiro último, e numa única semana, uma série alargada de novos temas no Valentine Studios de Los Angeles com um destino definido - um álbum de jazz criativo, instrumental e certeiro com a ajuda de amigos e colaboradores habituais de palco ou sessões, a saber, o teclista Felix Fox-Pappa, o trompetista Kaelin Murphy, o percussionista Juan Carlos Medrano e o guitarrista de Tyler Lott. 

O resultado final foi rotulado de "Mid Spiral" e está dividido em três partes - "Chaos", "Order" e "Growth" – já disponibilizadas digitalmente mas que terão edição de vinil duplo em Outubro pela XL Recordings. O conjunto afigura-se de uma diversidade assinalável que perfura e preenche na perfeição dias de calor ou bruma, de nortada ou brisa de leste, passeios de fim de tarde ou regressos madrugadores a casa. Espiral+ar!