sábado, 9 de junho de 2018

IDLES+AMEN DUNES+YELLOW DAYS+GRIZZLY BEAR+IBEYI+SHELLAC+SUPERORGANISM+THUNDERCAT+FEVER RAY+UNKNOWN MORTAL ORCHESTRA, Primavera Sound Porto, 8 de Junho de 2018
















Um abanão logo a abrir a tarde surpreendentemente soalheira até que podia ter algum efeito despertador. Só que o toque sonoro foi demasiado violento para a falta de horas de sono e, assim, os Idles chegaram demasiado cedo, demasiado convencidos e com demasiado cuspo... Há fibra, há chispa, faltou um pouco de humildade mas o punk nunca soube o que isso é. Os futuros concertos de Novembro pronunciam-se caóticos!   



Apesar do grande disco deste ano "Freedom" ser um caso de paixão instantânea, Amen Dunes tinha uma tarefa complicada em validá-lo perante uma audiência simplesmente curiosa e à espera da surpresa. Em final de digressão, as canções flutuaram sem pressas e na mediada certa e o regresso reafirmado para breve ao nosso país talvez o leve aos locais certeiros para uma fruição que se espera, dessa vez, plena e ideal. Seja como for, como primeira apresentação o momento superou as nossas melhores expectativas.   



Será demasiado fácil jogar com o regresso do sol ao parque verde e os Yellow Days, nome de banda que disfarça a aventura de George Van Den Broek, grande miúdo inglês com baptismo holandês que queria ser Mac DeMarco, King Krule ou Ray Charles mas só a a brincar. Pois bem, os pequenos discos, vulgo Ep's, que entretanto gravou confirmaram a veias simultâneas e sérias de classe blusy, charme e jeito crooner que se grudaram à primeira audição em ambiente quente e devidamente amarelado. Estava encontrado um dos grandes concertos do festival!



Os Grizzly Bear, que já tiveram direito a palco principal por estas bandas em 2013, voltaram para uma revisão de temas antigos mas há um excelente disco chamado "Painted Ruins" do ano passado que mereceria maior reconhecimento. Notou-se um pouco menos de fulgor e entusiasmo e decidimos, por isso, arriscar uma rápida e prometedora subida ao palco Pitchfork



A festa estava instalada! As gémeas franco-cubanas Ibeyi tinham a plateia em fervorosa animação, jogando com o incitamento à dança, com o enorme entendimento e conjugação de gestos e movimentos e com a óbvia resposta positiva às mais que reconhecidas canções. Pelas reacções de entusiasmo e felicidade do duo, estampados também por entre a plateia, não vai demorar a que voltem para repetir a façanha.   



Como sempre, tempo para picar o ponto num ou outro tema dos Shellac, desta vez a assumirem um merecido palco principal. Pena que, por coincidência, sejam quase sempre os mesmos - "Wingalker" p.ex. - mas a reclamação não faz sentido atendendo ao elevado prazer de cada momento. Uma banda assim é e sempre será a garantia eterna de dupla satisfação quer em cima quer em frente a qualquer palco!   



Os Superorganism são um daqueles fenómenos capaz de suscitar tantos repelentes quantos fascínios e em que a inocência pop das canções e a cenografia colorida são o fiel de uma balança difícil de equilibrar. Atendendo ao empolgamento da menina Orono que comanda a pandilha e ao forte aplauso, adivinha-se um amor recíproco repentino mas em fase de crescimento que tem na internet, no imediatismo e na colagem de géneros um infindável campo de experimentação e virose. Afinal, todos querem ser famosos, não?



O adjectivo virtuoso que se pode aplicar a Stephen Lee Bruner aka Thundercat é, neste caso como em muitos, redutor. Os muitos que o ovacionaram no melhor palco do evento sempre que terminava um dos longos momentos no seu baixo, percorrido ainda com maior rapidez que um estenógrafo no congresso americano, continuam a fazer a pergunta "como é possível?". A resposta para o caso não é importante já que o valor e preciosidade cósmica de um espectáculo deste calibre não tem preço nem idade. A apresentar canções de "Drunk", um melting-pot de colaborações e géneros, Bruner esticou-se literalmente ao lado de um super-baterista e um teclista para nos fazer sorrir de satisfação e, já agora, de rendição. Espectáculo memorável, brotherPeace, Bourdain! 



Ainda a tempo de espreitar a estreia de Fever Ray, projecto de Karin Dreijar que, deitando os The Knife para trás das costas, deu uns quantos passos à frente num vanguardismo electrónico sedutor e ecléctico. Visualmente imparável onde os trajes das seis "caricaturas" dão efectivamente nas vistas, os derradeiros momentos do espectáculo onde comparecemos foram recompensadores, tanto quanto este tipo de experimentalismo pode alcançar entre tamanha plateia. Incompreendido por muitos, atendendo ao muito desinteresse que testemunhamos, restou-nos um travo a pouco mas as preferências e sobreposições de horários a isso obrigaram.   



Não havia que enganar! No mesmo "local do crime" que Pond ou King Gizzard, projectos também vindos dos antípodas que por ali passaram em anos anteriores, o regresso dos Unknown Mortal Orchestra ao nosso país tinha a benção e cenário certos para a festa. O final da noite começou entre recordações com um irrequieto Ruben Nilsson a sair do palco relva fora até à cabine de som para uma qualquer comemoração que mais à frente haveria de valer a partilha de uns quantos shots em pleno palco, mas o alinhamento não dispensou "Hunnybee" ou o balançante "Everyone Acts Crazy", duas das novas e grandes canções. A encerrar, o inevitável "Can't Keep Checking My Phone" com direito a coro colectivo para um dos novos clássicos do nosso tempo. Impressivo!

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