O último fôlego da edição deste ano do Serralves em Festa
teve direito a chuva abençoada. Que o diga a dupla Thomas Ankersmit e Konrad Sprenger sentada calmamente em
frente ao portátil e a um tal sintetizador analógico modular que, logo após o início da
performance, viu as pingas começar a engrossar, levando à desistência de alguns.
A imensa minoria, como nós, fez finca-pé entre a vegetação ou no resguardo da
pequena tenda de controlo, assumindo o risco da experiência e onde se incluía
uma estranha guitarra eléctrica em repouso vertical controlada digitalmente. A
humidade ameaçadora da parafernália levou até a que o duo despisse os casacos
para proteger melhor a sua integridade, um gesto que pareceu um
movimento combinado integrante da apresentação enquanto o resultado da sobreposição de tons e sons se diluía de forma surpreendente com o
barulho da chuva e dos pingos cada vez mais intensos. Inesperado e, já agora,
premonitório!
(video removido a pedido dos artistas)
(video removido a pedido dos artistas)
À custa da tal chuva abençoada, o pequeno atraso verificado
na entrada dos japoneses Goat (JP)
no espaço tenístico permitiu-nos não perder pitada do melhor concerto do
festival. O quarteto reunido frente-a-frente no centro do palco e munido de uma pequena baqueta iniciou, então, um género de ritual compassado
sobre os tambores (?) onde as batidas imaculadas e sem falhas prenderam de
imediato a atenção de todos. Seguiu-se um novo e semelhante momento numa das
partes laterais com o recurso, desta vez, a um conjunto de xilofones e/ou
vibrafones, uma execução que pediu ainda mais concentração e o silêncio
sepulcral e respeitador de uma plateia atenta e expectante. Foi aqui que ela, a
chuva milagrosa, reapareceu como que convocada pela “cerimónia” mas quando num
terceiro andamento os músicos se distribuíram pela bateria, baixo, saxofone a
tambores para acelerar de forma dura o ritmo em dois ou três instrumentais de
uma intensidade vibrante, as nuvens acabaram por dispersar empurradas por
tamanha onda de impacto, uma força da natureza a que chamamos simplesmente rock.
Desde logo, mítico!
Ainda a respirar fundo e a precisar de uma cerveja relaxadora, o caminho tinha agora um só sentido na direcção do prado onde a Banda Sinfónica Portuguesa apresentava o disco "Acid Brass" (1997) de Jeremy Deller. Descontraído, o colectivo jovem e bem disposto ganhou cedo a adesão dos ainda muitos resistentes quer pela inesperada combinação de uma matriz de house music com os metais e percussão tradicionais de uma orquestra quer pelo entusiasmo do maestro e tubista Sérgio Carolino, apostado em marcar o fim da festa de forma divertida. Atendendo às muitas palmas e aos pedidos de "mais uma", a contenda resultou em satisfação plena de ambas as partes. Até pró ano!
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