terça-feira, 5 de junho de 2018

THOMAS ANKERSMIT AND KONRAD SPRENGER + GOAT [JP] + BANDA SINFÓNICA PORTUGUESA, Serralves em Festa, Porto, 3 de Junho de 2018

O último fôlego da edição deste ano do Serralves em Festa teve direito a chuva abençoada. Que o diga a dupla Thomas Ankersmit e Konrad Sprenger sentada calmamente em frente ao portátil e a um tal sintetizador analógico modular que, logo após o início da performance, viu as pingas começar a engrossar, levando à desistência de alguns. A imensa minoria, como nós, fez finca-pé entre a vegetação ou no resguardo da pequena tenda de controlo, assumindo o risco da experiência e onde se incluía uma estranha guitarra eléctrica em repouso vertical controlada digitalmente. A humidade ameaçadora da parafernália levou até a que o duo despisse os casacos para proteger melhor a sua integridade, um gesto que pareceu um movimento combinado integrante da apresentação enquanto o resultado da sobreposição de tons e sons se diluía de forma surpreendente com o barulho da chuva e dos pingos cada vez mais intensos. Inesperado e, já agora, premonitório!

(video removido a pedido dos artistas)


À custa da tal chuva abençoada, o pequeno atraso verificado na entrada dos japoneses Goat (JP) no espaço tenístico permitiu-nos não perder pitada do melhor concerto do festival. O quarteto reunido frente-a-frente no centro do palco e munido de uma pequena baqueta iniciou, então, um género de ritual compassado sobre os tambores (?) onde as batidas imaculadas e sem falhas prenderam de imediato a atenção de todos. Seguiu-se um novo e semelhante momento numa das partes laterais com o recurso, desta vez, a um conjunto de xilofones e/ou vibrafones, uma execução que pediu ainda mais concentração e o silêncio sepulcral e respeitador de uma plateia atenta e expectante. Foi aqui que ela, a chuva milagrosa, reapareceu como que convocada pela “cerimónia” mas quando num terceiro andamento os músicos se distribuíram pela bateria, baixo, saxofone a tambores para acelerar de forma dura o ritmo em dois ou três instrumentais de uma intensidade vibrante, as nuvens acabaram por dispersar empurradas por tamanha onda de impacto, uma força da natureza a que chamamos simplesmente rock. Desde logo, mítico!


Ainda a respirar fundo e a precisar de uma cerveja relaxadora, o caminho tinha agora um só sentido na direcção do prado onde a Banda Sinfónica Portuguesa apresentava o disco "Acid Brass" (1997) de Jeremy Deller. Descontraído, o colectivo jovem e bem disposto ganhou cedo a adesão dos ainda muitos resistentes quer pela inesperada combinação de uma matriz de house music com os metais e percussão tradicionais de uma orquestra quer pelo entusiasmo do maestro e tubista Sérgio Carolino, apostado em marcar o fim da festa de forma divertida. Atendendo às muitas palmas e aos pedidos de "mais uma", a contenda resultou em satisfação plena de ambas as partes. Até pró ano!          

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