segunda-feira, 4 de junho de 2018

BALLAKÉ SISSOKO ORCHESTRA + HAILU MERGIA + ORELHA NEGRA, Serralves em Festa, Porto, 2 de Junho de 2018

A carreira de Ballaké Sissoko ganhou na última década uma afamada dimensão internacional muito à custa do exotismo sonoro da kora, instrumento de difícil domínio mas onde as vinte e uma cordas, devidamente amansadas, permitem fazer magia. Juntar seis destes instrumentos ao jeito de orquestra com o seu nome amplia esta dimensão a um patamar de raridade sensorial que o conjunto de discípulos do mestre começou, desde logo, a emitir para uma plateia ansiosa pela oportunidade libertadora. A brilhar no início da tarde soalheira estiveram ainda as quatro vozes do Mali que na traseira ou frente do palco deram ainda mais cor e animação a um memorável concerto que, vincando a tradição e os costumes, permitiu um contínuo respirar de felicidade. Inspirador e expirador!



A vida de taxista de Hailu Mergia em Washington D. C. deu-lhe certamente muita paciência notória na calma com que assistia à afinação de instrumentos ou microfones, testes de som que retardaram o começo do concerto no Prado. Quando tudo parecia conforme, lá surgia novo desarranjo a precisar de acerto e Mergia, como quem espera clientes saídos de um avião, sacava pachorrentamente do telemóvel para mais uma espreitadela a alguma novidade ou contacto perdido. Quinze minutos depois do começo já atrasado e quando a festa parecia começar a animar, um falta de corrente eléctrica interrompeu uma outra corrente, a partilha animada que estava a começar a subir a olhos vistos e... Paciência, estava na hora de zarpar para finalmente ver dar à costa não as caravelas mas as caravanas de um tal Chico. Haveríamos de voltar, toldados!



O espectáculo dos Orelha Negra parecia não ser novidade para uma boa maioria da multidão que acorreu ao prado como manda a tradição, o que demonstra, desde logo, o sucesso do projecto lisboeta e a pertinência do agendamento. Visualmente envolvente e sedutor é, contudo, no tratamento dado à música que o colectivo ganha aos pontos um prémio de consistência e qualidade imbatível no género pelas nossas bandas e que tem no perito Samuel Mira aka Sam The Kid a nomeação cimeira. O corte e cose de samplers de fazer corar de inveja os Avalanches confirmam um trabalho de pesquisa e diggin assinalável que ao vivo alcança uma segurança murada por uma bateria a preceito, teclados e baixo vintage e um scratch tão certeiro quanto clássico. No ar, adivinha-se uma internacionalização do projecto que, mesmo no limiar do mainstream, se mantêm fresco e sedutor pelo muito traquejo adquirido. Quem sabe, sabe... 

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