Na companhia de Shez Sheridan, aliado guitarrista de cumplicidade fraterna, a sessão haveria de se confirmar divina. Permeando temas novos e antigos, das mais recentes pérolas como "Heavy Rain" ou "Prism in Jeans" passando por "Precious Sight" ou "Something Is...", preciosidades já vintenárias, o desfiar de cada uma das catorze peças até antes do encore acentuou a nobreza, a beleza e a qualidade de um songbook de britanismo nostálgico, imagético e de peculiar fineza que só Hawley sabe fazer.
Ao seu jeito, brincou com o raio do Brexit, com a nativa e amada Sheffield ou com as autonomias comuns e chegou a não ter medo de afirmar que os espanhóis falavam muito, ferimento na asa da noite anterior por Santander onde, ao que parece, o respeito que a sua música requer se perdeu entre conversas...
Pelo contrário, no teatro viguês, a plateia adulta e com adesão de alguns portugueses, como que se recostou nas cadeiras na melhor das atitudes, fruindo dos momentos, do cruzamento inebriante das guitarras, das suas variações irrepreensíveis - e que bonitas, estrondosas, guitarras Atkin tem Hawley na colecção - e da acústica sublime que, por isso, não escondeu algumas fugas de voz de um Hawley bem disposto e, nitidamente, satisfeito.
Chegava o encore e os tais clássicos desejados começaram, naturalmente, a ser pedidos entre gritos e ovações. Hawley ouviu, fitou-nos desafiante e explicou que bem gostaria de os tocar mas, para isso, onde estava a orquestra? Elegeu "For Your Lover Give Some Time" para nos fazer mal ao coração, tema criado para a esposa Helene mas que, ali e agora, envolveu a plateia rendida num abraço de ternura e apreço memorável. Para descomprimir e tornar a respirar, ouviu-se "My Little Treasures", uma bondade pop de flutuação graciosa que encerrou da melhor forma tamanha aparição que se promete irá pairar, com banda, por perto em 2025. Muchas gracias!
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