Tal como aconteceu com a comemoração dos vinte anos (2022) do álbum "Yankee Hotel Foxtrot", a revista Uncut torna a dar capa aos Wilco e ao seu principal mentor, Jeff Tweedy, desta vez, aludindo aos vinte anos de outra maravilha - "A Ghost Is Born", disco talvez imbatível dos de Chicago saído em 2004.
Na edição de Março da publicação inglesa já em pré-distribuição está incluído um Cd exclusivo com algumas pepitas alternativas aos doze originais então selecionados, mas a edição oficial deluxe, com data anunciada de saída para dia 7 de Fevereiro, contempla nove (!) rodelas de vinil e uma série de outros goodies pela módica quantia de duzentos e muitos euros.
Acresce na mesma revista, entre outros destaques, uma rara entrevista a Vashti Bunyan.
Depois do carrossel do início da carreira, onde as amizades e aventuras se avolumaram perigosamente ao lado de muitas pedras rolantes, e mesmo com as maleitas da rebeldia vivida, Marianne Faithfull conseguiu encaminhar-se em trilhos de boa composição pop-folk.
Sempre admiramos a sua notável capacidade de reinvenção, ora elegendo uma série de canções para lhe dar a sua indelével versão, ora apaertando a mão a amigos e visionários como Nick Cave ou Warren Willis com quem registou um imenso e último álbum de poesia, dita, musicada. Faithfull faleceu, em paz, no dia de hoje. Peace!
Em Outubro último o britânico Albaster DePlume publicou um primeiro livro de poesia a que deu o nome de "Looking For My Value: Prologue To a Blade". Inquietudes como a dignidade, a soberania ou até a urgência da cura são motivo de reflexão de um ser humano que DePlume encarna e rodeia de responsabilidade, mas também de vulnerabilidade.
Ao livro, entretanto, esgotado na sua versão autografada, foram acrescentados três temas inéditos, dois deles registados com músicos locais no The Wonder Cabinet, espaço de arquitecura sonora e musical situado no vale de Cremisan em Belém, Palestina, e onde o artista participou, em Maio, na residência "Sounds of Places". O tema inicial, "Honeycomb", foi gravado com o pianista Sami El Enani. O envolvimento e o enlevo não tardaram a fazer efeito que agora se anuncia...
Trata-se do novo álbum "A Blade Because A Blade Is Whole" que, como sempre, se sujeita e escorre de uma série de dúvidas filosóficas e de que a primeira é, certamente, de difícil resposta: de que precisam as pessoas?
Em vários momentos dos concertos ao vivo que, felizmente, têm ocorrido por perto, esta e outras questões tem valido pertinentes e longos diálogos com o público na certeza, porém, de uma resposta ter sido sempre avançada - cura, cuidado. Assumir dignamente essa premissa é um desafio de óbvio valor e de difícil constância, nada que DePlume não insista como vital para que se engrandeça e vitalize um dia-a-dia em que também a música é um pré-requisito indispensável.
Desta vez, e ao contrário dos discos anteriores em que o material reunido submergiu de uma série de sessões coletivas de improvisação e edição, o novo trabalho foi cuidadosamente composto e arranjado pelo próprio a que, só depois, se convocaram as habituais amizades instrumentais, incluindo Macie Stewart nas cordas, Donna Thompson nas vozes e bateria, Momoko Gill, também nas cordas e vozes ou Rozi Plain no baixo. O local londrino de perfomance colectiva Total Refreshment Center, onde há muito se encontra conectado, foi novamente o ninho criativo eleito de um regresso que se saúda e confirma para dia 7 de Março pela International Anthem. O tema inicial "Oh My Actual Days" tem imagens a cargo de Rebecca Salvadori, responsável ainda pelo artwork (imagem acima). Cuidem-se!
Aquando da edição da compilação "Som da Frente" em 2002, onde António Sérgio elegia trinta e seis temas, diríamos, clássicos do programa da rádio com o mesmo nome, então, a comemorar vinte anos, Rui Pedro Tendinha realizou-lhe uma curiosa entrevista para a secção "Talk Show" da revista "Notícias Magazine" de 17 de Março.
Acutilante, o mestre discorre sobre quem foram ou eram os seus ouvintes, o orgulho na militância, no prémio "Globo de Ouro" e no prazer da escrita para semanário "O Independente". Tempo, ainda, para a recomendação de uma série de conferências que ajudou a organizar para o festival "SBSR" e uma nota sobre o Portugal político da altura, cheio de gorduras e corrupções. Nada mudou.
As fotografias, aparentemente, obtidas num qualquer parque lisboeta, são da Adriana Freire e a de corpo inteiro dava uma bela capa de uma biografia que está ainda por escrever...
Não há que enganar quanto ao que os Rose City Band andam há anos a espalhar pela América e arredores a partir de Portland - uma receita de psicadelismo country que não se altera na sua essência e que se revigora a cada disco. O novo chama-se "Sol Y Sombra", segue-se a "Garden Party" de 2023 e poderá ser ampliado na sua totalidade a partir de amanhã, data oficial de lançamento pela Thrill Jockey, mas os três temas já disponíveis só servem para confirmar que o ajuste continua primoroso e viciante.
Ao comando da banda continua Ripley Johnson, o homem forte dos Wooden Ships e Moon Duo, estando outra vez confirmada a participação de Sanae Yamada nas vozes e alguns sintetizadores que se junta aos músicos habituais (John Jeffrey, Barry Walker e Paul Hasenberg). São alguns deles que se sentam no sofá a la The Simpsons e Matt Groening para anunciar a próxima digressão que aterra na Europa em Maio, mais uma vez, sem proximidade ibérica, território privilegiado do tal sol e sombra, de preferência, sem touradas!
Quando "Twin Peaks" estreou em Portugal em 1990 o nome de David Lynch era para nós um exotismo distante elogiado na imprensa, mas de que nunca tínhamos testado qualquer filme. Lembramos bem esses serões televisivos do "Diário Secreto de Laura Palmer", um notável enredo de surpreendente e assombroso efeito que um genérico instrumental adensava no mistério... eternamente.
Vistos e revistos os filmes mais antigos, não falhamos todos os outros que se seguiram, descobrindo que o homem também era músico, tinha gosto requintado pelas canções e era até litógrafo artístico! Ficou por ver o return de "Twin Peaks" de 2017, mas algo nos afastou desse remake quase abusivo, às tantas, injustamente. David Lynch faleceu hoje. Surreal. Peace!
A música de Will Samson é, por vezes, descrita como “demasiado experimental” ou como “demasiado indie", um terreno movediço que se agudizou depois da pandemia quando o músico foi surpreendido com a suspensão do seu contrato discográfico.
A desilusão não impediu que as experiências tivessem cessado ou adormecido, sendo o sinal desse desassossego o novo álbum "Songs of Beginning & Belonging", uma renovação meditativa que reflecte uma vontade de soterrar o passado, avançar para uma nova fase criativa e, finalmente, conseguir alguma paz interior. O disco foi registado entre Novembro de 2022 e Maio de 2024 no seu antigo estúdio da margem do rio Tejo, em Almada, espaço partilhado com Casper Clausen dos Efterklang, usando novamente o "Uher 4200", gravador de 1970 também primordial no anterior trabalho "Harp Wells".
Uma primeira faixa de nome "Loshult", resultado de uma estadia na mesma localidade sueca, é a prova do impulso artístico que Samson pretende despertar e que terá apresentação ao vivo no final de Fevereiro e início de Março em Lisboa (27, Zé dos Bois), Braga (28, local ainda não divulgado) e Coimbra (1, Salão Brazil), momentos onde terá o acompanhamento da violinista Beatrijs De Klerck.
Numa noite de final de Outubro, sozinho num quarto de hotel em Shibuiya, Japão, Sondre Lerche imaginou uma série de temas instrumentais que não demoraram a ganhar forma. Logo em Novembro e já em território norueguês, sessões entre Oslo e Bergen moldaram as peças no sentido certo, se bem que e logo depois, umas pequenas férias em Veneza puseram o conjunto a marinar até ao ponto certo mesmo antes do Natal.
Testado, o projecto denominado "Sea of Sights" cola-se em cinco pedaços inspirados nos mestres Sakamoto e Yoshimira e em todos os veteranos da música experimental europeia, um majestoso minimalismo, ainda assim, pleno de arranjos e sonoridades sofisticadas. Há retomas de originais antigos como "Sentimentalist" do álbum "Please" de 2014, agora travado na boa progressão com o auxílio de Gabriela Garrubo, amiga com quem tinha já feito um dueto de "Amor Ainda Espera", variação do original "My Love Still Waits".
O resultado final, traduzido numa inesperada sequência de trinta e cinco minutos, é mesmo uma viagem de atmosfera relaxada e de leve inquietude que merece atenção e desfrute obrigatório, um prazer de perder de vista!
Não é de hoje o gosto de Brigid Mae Power pelas versões. Já em 2021 um luminoso EP aclarava as capacidades de recriação desta irlandesa a quem, aqui pela casa, se abrem sempre as janelas de par em par. A tendência não foi esquecida em 2023 aquando da edição do álbum "Dream from the Deep Well", flutuando por lá uma brilhante variação de "I Must Have Been Blind" de Tim Buckley. Acrescenta-se agora "Songs for You", um disco com nove covers inéditas, na sua maioria, a solo ou com a simples ajuda de bateria e baixo.
A nova insistência advêm de um denominador comum: os temas eram da preferência do pai da artista ou canções escutadas quando dele cuidava durante o fatídico ano de 2024, funcionando o conjunto como um tributo discreto, mas sentido, em sua carinhosa memória. Entre alguma melancolia e subtileza da sequência, surpreendem originais de Cass McCombs ("Angel Blood"), o mais recente, ou dos Television ("See No Evil"), sendo a restante selecção de um ecletismo inesperado que se alonga, mesmo assim, a nomes mais renomados como Roy Orbinson ("In Dreams"), Neil Young ou Ray Charles ("You Don't Know Me").
Curado da labirintite anterior, Dan Bejar e os seus inconfundíveis Destroyer prepararam outra inflamação sonora com base num passado desconhecido - imaginou-se, a partir dele, um género de cantor lounge, também bandido, cheio de fantasias e contradições cujas histórias se enroscam a nove canções de salão de casino ou bar de fim de noite. Ao conjunto chamou-se "Dan's Boogie" e prometidos estão desaterros surpreendentes.
O primeiro recebeu o rótulo de "Bologna", onde Bejar confessa dificuldade em cantar, sabe-se lá porquê, o primeiro e o terceiro verso. Para acentuar a gravidade e coragem foi, então, convidada Simone Schmidt aka Fiver, colaboradora antiga da banda e que assegura ao tema o necessário voo rasteiro. As imagens ficaram a cargo de David Galloway, compincha que desde 2019, e com "Crimson Tide", é o autor de uma série diversa de narrativas visuais para temas dos Destroyer.
Afigura-se, sem dúvida, desafiante imaginar tamanho boogie em cima de um palco como o que os espera a 12 de Junho no primeiro dia do Primavera Sound Porto. A menina dança?
No passado fim de semana, David Longstreth akaDirty Projectors teve o privilégio de participar num concerto em Los Angeles que serviu para celebrar a vida e a música de David Berman no dia daquilo que seria o seu 58º aniversário (4 de Janeiro). O talentoso poeta e compositor, falecido em 2019, comandou projectos sedutores e estelares como os Silver Jews ou os Purple Mountains.
Nesse sábado, Longstreth apresentou três versões de outros tantos originais de Berman - "Black and Brown Blues", "Pet Politics" e "Random Rules - e não descansou enquanto não os eternizou à sua maneira. Na manhã seguinte, montados os microfones lá de casa, registou-os para nossa sorte e bênção que agora se encontra disponível à distância de um estalido com o nome de "Covers For A Belated Birthday". Click..
Um novo disco de Will Oldhman akaBonnie "Prince" Billy pode já não ser notícia de destaque por esse mundo fora. No nosso, o facto é sempre motivo de expectativa e regozijo, na certeza que do músico norte-americano não se conhecem falhanços ou salamaleques escusados.
No final do mês chega, então, "The Purple Bird", pra aí o vigésimo quinto álbum em nome próprio e que, atendendo aos já três pressupostos sonoros, só pode vir a acrescentar ainda mais patina a uma já longa tradição folk-country. A composição não engana, não pode enganar, qualquer que seja ouvido, novo ou velho, a que se juntaram, desta vez, amigos como John Anderson, lenda de Nashville que canta a mielas em "Downstrem", descrita como uma eco-balada, por sinal, lindíssima!
Nashville foi, pois, o local de gravação ao lado do produtor Dave Ferguson, um raridade funcional só agora uma segunda vez repetida num encorpado songbook com mais de trinta anos. Para que o efeito se eternize, juntaram-se dos melhores músicos da cidade e ainda Tim O'Brian, nome histórico do bluegrass americano, uma entreajuda que motivou a partilha dos créditos da composição pelos vários intervenientes, estando Ferguson, "Ferg" para os amigos, creditado como co-autor em sete das doze canções. Em Maio, há digressão pela Europa e...