terça-feira, 11 de novembro de 2025

BONNIE PRINCE BILLY, GNRation, Braga, 9 de Novembro de 2025

São muitas e boas as memórias de concertos de Will Oldham aka Bonnie Prince Billy. Serão imbatíveis, contudo, as que se aclaram saídas do granito do saudoso bar Mercedes da Ribeiro portuense em 2008, bem diferentes de uma anterior e mais atribudada passagem pelo Theatro Circo minhoto. Estava, pois, na hora certa para a insistência ao vivo num, há muito, mítico trovador americano que faz da música a única e virtuosa forma de vida - "I want to make music all the time / Not just in fits and skirmishes / I wanna be wholly consumed in rhyme / And bend my whole to her wishes", faria ele o favor de recordar em "Behold! Be Held!". 

O cancioneiro é, assim, de uma vastidão infindável, mas o motivo principal residia no novo, de meses, "The Purple Bird", mais um disco de consistência e validade assinalável que se arriscou passar para cima do palco de forma surpreendente - sem qualquer percussão, as canções como que se ondularam, eruditas, numa intimidade e simbiose de perfeição tocante ou não fosse Eamon O’Leary no bouzouki, Thomas Deakin na guitarra eléctrica e clarinete e o, literalmente, grande Jacob Duncan na flauta e saxofone, um trio de astuta e rara cumplicidade. Tamanha elevação, mesmo com alguns atropelos irrelevantes nos acordes, teve na caixa negra do último piso do antigo quartel bracarense um reduto de resguardo e conforto a uma audiência esgotado de devotos silenciosos, apreço de requisito bendito em tempos de banalização lesiva do ruído. 

No seu trejeito engraçado (aquele equilíbrio em pé de galo continua intratável), Oldham mostrou-se empenhado e certeiro na abordagem a um reportório de veia na americana de raiz folk, em que a liberdade e a camaradagem continuam a ser a seiva de uma composição peculiar e em contínuo batimento. Respirou-se, por isso, tanto em palco como na plateia, um amor verdadeiro pela boa música, daquela que há décadas o mestre Billy não se cansa, sem poluentes, de produzir milagrosamente. Uma lenda viva, viva a lenda! 

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