segunda-feira, 3 de novembro de 2025

JO ALICE + HAMILTON LEITHAUSER, M.Ou.Co., Porto, 31 de Outubro de 2025

A virtude da primeira parte de um qualquer concerto deverá ser a de descontrair e preparar a plateia, seja lá o que isso for. Por vezes, o momento torna-se dispensável e, por isso, desnecessário. Outras vezes, a pertinência e desafio dessa antecipação a um nome ou banda maior redunda numa chance envolvente. Que agradável surpresa!, alguém gritou pouco depois de Jo Alice tocar dois dos oito temas com que se deu a conhecer no Porto. Nem mais, a Angel Olsen que se cuide.

Do nada, a noite ganhou memória de densidão assinalável, muito à custa de um vozeirão enleado a uma guitarra com tanto de roufenho como de negra delicadeza e agarrada, nalguns casos, às batidas de Stephen Patterson, ele próprio baterista de Leithauser. Sabemos agora da sua cumplicidade na gravação e apuramento das primeiras canções de uma jovem artista de nacionalidade portuguesa e vivência algarvia, mas que se move entre a Irlanda, França ou o Texas americano. Escolheu, também por isso, algumas pérolas pertencente a outros para se dar a ouvir (identificamos os The Last Shadow Puppets ou o Jacques Brel), como essa monumental "Magnolia" que o grande JJ Cale escreveu em 1971 e que, ali, se confirmaria como um dos melhores momentos de um serão ainda madrugador. Grande Alice na cidade das maravilhas. 

 

Com excepção de um Primavera Sound com oito anos e um Paredes de Coura com onze, esta era a estreia a sério de Hamilton Leithauser no Porto e teve merecida casa esgotada por fãs de fidelidade antiga. Logo agora que o vocalista dos The Walkmen pôs cá fora, há uns meses, "This Side of the Island", um quarto disco de originais de nove canções certeiras e robustas, notou-se que o álbum está já mais que absorvido e aprovado, tendo sido ele o fio condutor de um alinhamento a apelar à compartilha e proximidade em que o tema-título e "What Do I Think?" bateram todos os outros por décimas. 

Os atributos da banda, mesmo que nem sempre alinhados, estenderam-se a memórias mais antigas de validade confirmada e frescura renovada - "A 1000 Times", "In a Black Out" ou "Peaceful Morning" foram exemplos perfeitos dessa consistência a que se esperava a adição de um obrigatório "Alexandra" que, afinal, foi inexplicavelmente preterido. Em noite de bruxas e numa imaginária contenda entre doçuras e travessuras, os sustos perderam por larga margem para uma variedade de guloseimas coloridas de sabor duradoiro e de receita Leithauser há muito patenteada. A tradição não engana e, por isso, este continua um artista que interessa acarinhar e proteger de uma América ainda salutar e diversa. Longaevitas...

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