A aclamada pop alternativa do norte-americano Jeremy Jay levou-nos ao palco arborizado do festival na esperança de ser surpreendidos mas o pouco entusiasmo que o próprio musico manifestou e a fraca adesão do público cedo deixaram adivinhar que o melhor seria ponderar a desistência...
Com os Pond no palco principal não havia que enganar. Os australianos são hoje uma forte certeza do chamado rock psicadélico embora neste último disco a vertente mais pop tenha ganho mais e força e, consequentemente, mais audiência. Para o confirmar bastava ouvir uma já larga maioria a soletrar as letras o que foi principalmente notório em "Paint Me Silver", um hino de verão mesmo à espera de rebentar. Nick Allbrook continua imparável e os Tame Impala que se cuidem que os parceiros e amigos estão cada vez melhores e em fase acentuada de crescimento!
Tínhamos no concerto dos Whitney um dos momentos mais aguardados do festival. O disco de estreia é uma jóia percorrida de fio pavio nos últimos tempos e foi bom ouvir a quase totalidade das suas canções neste fim-de-tarde soalheiro. Mas, haverá sempre um mas que impede a perfeição, seja porque a banda estava de directa à custa de atrasos nos voos, seja porque o alinhamento foi algo desequilibrado, seja até pela arriscada confissão de Julien Ehrlich em preferir Lisboa ao Porto, uma tirada que tentou disfarçar entre sorrisos amarelos e desculpas. Podia ter sido melhor? Talvez, mas ficamos satisfeitos.
Já lá vão quase dois anos que vimos Angel Olsen em Guimarães e, olá, esta é a mesma menina? Alguma dieta houve de certeza, retoques de imagem e beleza também e até a respectiva e aumentada banda vestida a rigor eram tudo sinais que Olsen está preparada para novos e altos voos que o último disco permitiu merecidamente alcançar. A forma como entrou em palco, uns bons momentos depois da banda e a forma com o antecipou a saída, demonstram ainda um cuidado na gestão de uma nova imagem artística que foi maturada e preparada de forma a elevar o sentido das suas excelentes canções. Depois de um início mais irrequieto com, por exemplo, "Shut Up And Kiss Me" e "Not Gonna Kill You" que envolveu até uma estranha dança de sapatos e sapatilhas entre o público (!), a onda passou a ser mais planante e calma, uma opção arriscada mas que, no nosso caso e apesar da tagarelice de muitos, soube muito bem. Então quando soaram os acordes mágicos de "Those Were The Days" com o sol a esbater... ui!
Antes do muito esperado concerto da noite, entre filas nunca vistas para matar a fome e a sede, da deambulação pelos palcos escolhemos uma espreitadela aos míticos Teenage Fanclub, opção agradável mas com uma adesão morna e onde o mais notado era satisfação de uma banda com quase trinta anos em estar ali naquele momento a tocar para tanta gente. Respeito!
A irrequieta Nikki Lane e a sua banda vieram de Nashville, trouxeram os chapéus típicos na cabeça e espalharam boa disposição à custa de uma categoria musical em desuso mas, talvez por isso, surpreendente - a country music! Grande voz, temas mais que oleados e energéticos, puseram a tenda a abanar e a festarola envolveu até um boneco insuflável que foi parar acima do palco por onde ficou a "descansar" até ao final, num dos momentos mais pândegos do festival. A prova que não há limites de géneros sonoros e que, se bem alinhados e escolhidos, resultam, como neste caso, na perfeição.
E pronto, chegamos ao muito aguardado regresso de Bon Iver à Invicta. Desta vez tinha à sua espera uma plateia imensa e em pulgas para poder cantar as suas canções e mostrar-lhe todo o afecto e devoção. Justin Vernon cedo percebeu essa pressa, agradecendo de forma recíproca a dedicação e as boas vibrações da cidade num concerto sempre em alto nível, com excelentes músicos e onde a primazia foi para o último disco que parece ser já um velho conhecido. Quando regressou para o encore, uma raridade por estes dias, e pegou na guitarra ainda suspiramos pelo "re-Stacks" mas saiu-nos o "Skinny Love" cantado em coro como se fosse a última vez. Às tantas foi mesmo!
Os extintos Walkmen, que já andaram por estas paragens, deixaram sementes frutíferas um pouco por todo o lado mas o jardim português parece, desde sempre, o mais acolhedor e, já agora, primaveril. Hamilton Leithauser, o seu saudoso vocalista, tem nos últimos anos apostado numa reinvenção artística que implicou o ano passado a colaboração com Rostam Batmanglij, teclista dos Vampire Weekend e cujo resultado foi um álbum inteiro de canções que serviram de principal ementa (exclusiva, quase, com excepção de "Alexandra") para o serão portuense. Bom gosto em doses recheadas quer nos temas quer nas imagens de fundo de palco, apesar de em Leithauser ter transparecido alguma má disposição e desconforto que se foram dissipando aos poucos mas para os quais, aparentemente, não haveria razões visíveis: tenda cheia, canções decoradas e cantadas por muitos e som sem reparos. Como última noite da tournée talvez se esperasse maior intensidade, mas, seja como for, gostamos muito.
Demorou algum tempo para que o PA desse de si com a totalidade dos King Gizzard & The Lizard Wizard em cima do palco à espera do tiro de partida. Resolvido o contratempo e baixada a bandeira, a corrida começou frenética com "Rattlesankes" naquilo que se tornaria numa imparável jornada sónica que muitos não vão esquecer. É quase insano perceber como é que duas baterias em simultâneo e sem falhas jogam e se aparelham com três guitarras desenfreadamente ao desafio e sem pausas, que por aqui não há faltas de gasolina, numa agitação que provocou caos controlado e um verdadeiro motim poeirento. A correria só haveria de parar com o magnífico "The River" lá para o fim, uma pérola raçada de bossa-nova e novo jazz que serviu para limpar o suor e à primeira oportunidade ir buscar uma cerveja já de luzes apagadas. Ufa, impressionante!
No caminho de volta e ainda atordoados encostamos às boxes/grades do palco Pitchfork para a despedida dos Cymbal Eat Guitars, local onde poucos se tinham refugiado. Para memória futura, aqui ficam um pouco mais dez minutos dessa presença... até amanhã!
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