A edição deste ano do Serralves em Festa, em versão aumentada, teve ontem um início calmo e sem enchentes o que permitiu uma rápida mas desanimadora visita livre aos célebres Mirós antes da descida ao prado. Aí, já o concerto de Lula Pena ia em fase de cruzeiro, entretendo uma plateia sentada, reduzida e friorenta, mas incapaz de resistir a uma música que tem no fado, nas mornas e na bossa nova uma portugalidade intercontinental. Voz grave e quente que um saxofone e uma harpa adornam ainda mais numa aparente simplicidade só ao alcance de uma artista que interessa continuar a descobrir.
Subindo ao ténis, onde se o pó tinha já levantada à conta da correria que os Vaiapraia e as Rainhas do Baile incitaram, ora aqui está um caso de frontalidade sonora sem freio a que se vira costas imediatamente, como notamos, ou se assenta arraiais na festa. Intensidade apunkalhada incomum e que merecia outro horário, outro recinto e uma maior adesão espontânea e que talvez, num futuro próximo, acabe a desaguar numa madrugada do prado...
De visita ao Museu de Serralves, onde a biblioteca virou laboratório, um conjunto de cientistas sonoros foi, à vez e frente-a frente, fazendo a sua preparação que haveria de se tornar, ao fim de uma hora, numa emulsão experimental notável e sem dúvida surpreendente a que festa já nos habituou. Um alongamento de sensações que é merecedora de aplauso.
O flamenco já não é o que era e ainda bem! Nino de Elche aproveita a língua castelhana, a cultura e alguns dos ritmos e dá-lhe uma volta que só não é de 180º porque corre por ali uma pureza gitana. Serve-se da poesia, da repetição, dos samples e de uma guitarra gingona para fazer colidir o tal flamenco com uma série de géneros modernos como a electrónica e até alguma pureza rock numa receita quase inclassificável mas, sem dúvida, inovadora.
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