sexta-feira, 9 de junho de 2017

SAMUEL ÚRIA+CIGARETTES AFTER SEX+MIGUEL+ARAB STRAP+RUN THE JEWELS+FLYING LOTUS+JUSTICE, Primavera Sound Porto, 8 de Junho de 2017
















O melhor festival do país, mesmo com um cartaz arriscado e desequilibrado, é sempre um must e um desafio. O primeiro dia, contrariando o habitual, teve enchente notada logo ao descer pela primeira vez a colina de um dos principais palcos. Samuel Úria, bem disposto, ia desfilando algumas das suas boas canções como "Carga de Ombro"ou "É Preciso Que Eu Diminua", hinos a merecer coro colectivo nacional para admiração de uma massa estrangeira sorridente e já de copo na mão. Tudo acabou como deve ser com o indispensável "Teimoso" cujas palavras mereciam uma tradução simultânea para provar a todos como se deve escrever uma lírica e uma melodia de uma grande canção pop... eu nunca fui do prog-rock, amen!



A prestação dos Cigarettes After Sex num fim de tarde ao ar livre teve clima a condizer. Nada de sol que demasiada luz pode incomodar a onda levemente negra com que repetem uma receita que primeiro se entranha mas que rapidamente se esvaiu entre a neblina. Mesmo que um novo álbum esteja aí à porta, aguentamos vinte cinco minutos, o tempo certo para que o efeito fosse ainda proveitoso e de alguma utilidade retemperadora... a primeira cerveja!



O esticar do festival a novas gerações e públicos talvez tenha no nome de Miguel o exemplo perfeito. O nosso homónimo apesar de jovem tem já muito tarimba e manha para que a plateia se distraia entre danças em grupo, bracinhos no ar e muitos yeahs que, isto sim, é cool! Quanto à musica, entretida talvez seja o melhor adjectivo que encontramos para a descrever enquanto, já longe do palco, vamos petiscando a primeira dose sortida de especialidades da Padaria Ribeiro. Bem mais saboroso!



Os Grandaddy não comparecem, obviamente, mas vieram em boa hora os escoceses Arab Strap e a oportunidade não devia ser desperdiçada, um sacrilégio que uma geração como a nossa não devia cometer. Pelos vistos, muitos pecaram. Grande concerto, grande banda mesmo que reformada o ano passado, mas ainda e sempre notável na atitude e na entrega e onde Aidan Moffat em plena carburação - contamos pelo menos cinco latas de lúpulo num esfregar de olhos - foi rei e senhor entre os muitos britânicos presentes, mesmo sendo dia de eleições. A nós resta-nos fazer uma simples vénia, a noite estava ganha.



O fenómeno Run The Jewels começou a fermentar já lá vão dois anos no palco mais pequeno do festival. Na altura reclamou-se um cenário maior. Pois bem, melhor não podia haver e a expectativa entre as primeiras filas por onde nos quedamos algum tempo era, como dizer, nervosa. Vimos muitos a soletrar as respostas hip-hop e restantes trejeitos de fio a pavio ao mesmo tempo que saltar se tornava obrigatório. O duo prometeu uma blockbuster night e a recepção foi barulhenta e certamente intensa mas estava na hora de um spot mais calmo e panorâmico do parque da invicta, a melhor cidade do mundo segundo eles, segundo nós e segundo todos os outros.



Aparentemente, deveria haver uns óculos 3D distribuídos a preceito para a sessão de Flying Lotus. A santinha da casa que patrocina o evento bem nos ofereceu um género de binóculos descartáveis ao final da tarde que mandamos para o fundo da mochila e de que ainda tentamos o efeito! Agora a sério, grandes beats e samples, enormes os efeitos e desenhos especiais e bestiais mas os álbuns do génio californiano Steve Ellison para nós bastam como prova sonora. Uma boa experiência, já não foi mau.
 


Os Justice sempre dividiram opiniões mesmo para os não que viram pelo menos uma vez o documentário "A Cross The Universe". Estão sempre a tempo de o fazer. Talvez a maioria dos que aguardavam ansiosamente pela dupla francesa não queira saber de filmes ou argumentos já que a celebração aqui é outra e remete para o refrão de um dos principais hits da banda - "do the dance", simplesmente. O baile começou light e disco com "Safe and Sound" em versão longa misturada a preceito com o tal "D.A.N.C.E" para depois endurecer o electro aos limites enquanto o jogo de luzes, sem deslumbrar, se fazia notar. Chegados aqui, ou seja, ao muito aguardado "We Are Your Friends" a multidão agradeceu a dádiva mesmo sem saber que raios de instrumentos ou quejandos é que a dupla toca em cima do palco. Mas isso não interessa aqui e agora para nada...


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