segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
STRANDED HORSE, UM LUXO!
Passaram já cinco anos desde que o francês Yann Tambour aka Stranded Horse aterrou calmamente no escuro do Passos Manuel. Fomos uns dos poucos felizardos que comparecemos ao chamamento atraídos pela singular história de um músico que, da guitarra clássica, passou para a kora africana, adornando-a à sua maneira, aprendendo e gravando com os melhores (Ballaké Sissoko, p.ex.) e viajando para Dakar para que a inspiração o arrebatasse. Foi de lá que em 2012 se atirou, sem freio, a uma versão de "Transmission" dos Joy Division que repousa num obrigatório 7" em vinil, foi para lá que voltou em 2013 onde testou as suas próprias koras feitas em casa e que evoluíram para um género muito próprio e colorido do instrumento baptizado de "formikora". Já de regresso a lar gaulês, o capítulo seguinte, que está já registado e editado desde final de Janeiro, chama-se simplesmente "Luxe" e conta com colaborações, entre outros, do colega de editora Amaury Ranger dos François And the Atlas Mountains, de Bakoutoubo Dambakhate e Puolo K. com quem gravou o referido 7" e também da contrabaixista francesa Sarah Murcia. Há por lá, claro, uma nova versão que desta vez acertou em "My Name Is Carnival" do imortal Jackson C. Frank e muita sedução que precisava, obrigatoriamente, de ser (re)testada ao vivo. Seria um luxo!
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
THE HIGH LLAMAS, ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ!
Sempre que o irlandês Sean O'Hogan se digna editar um disco em nome dos The High Llamas já sabemos o que nos espera. É assim há mais de vinte cinco anos desde que a interessante vida dos Microdisney se finou e uma nova receita sonora nasceu, infalível, sedutora e que imediatamente se reconhece em qualquer hora ou lugar - uma mistura de super-pop, tropicalismo e muita, mas mesmo muita, inocência. Saído em Janeiro passado, "Here Comes The Ratting Trees" é mais um bucólico álbum que dá continuidade à dúzia de outros discos entretanto editados e que resulta de um inédito espectáculo apresentado em Londres em 2014 onde a banda se misturou em palco com alguns actores para uma rábula crítica à vida contemporânea da cidade contada em historinhas. E pronto, tal como uma caixa de música macia que se fixa à caminha com umas fitinhas coloridas, andamos por estes dias embalados com estas doces melodias e um sorriso de "covinha a covinha" que se vai prolongando horas a fio... que bom soninho!
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
DAMIEN JURADO, A CONSAGRAÇÃO!
Agora sim, agora que já ouvimos devidamente o disco "Visions of Us on the Land" de Damien Jurado, não será difícil concluir que a trilogia prometida que começou com "Maraqopa" (2012) e teve continuidade com "Brothers and Sisters of the Eternal Son" (2014) tem um epilogo verdadeiramente épico. São dezassete canções de uma imensidão avassaladora onde o mundo muito próprio de Jurado recebe o abençoado e habitual "toque de Midas" de Richard Swift, transformando o álbum num requintado exercício de viagem interior onde se misturam influências, crenças e, acima de tudo, talentos. Como, erradamente, anunciamos há afinal uma data portuguesa (4 de Maio no Musicbox, Lisboa) na digressão prometida para a Primavera pela Península Ibérica (5 datas em Espanha!) e onde Jurado terá, como da última vez, companhia feminina de calibre elevado, cabendo à canadiana Tamara Lindeman aka The Weather Station fazer o obséquio da primeira parte. Aqui ficam, então, três maravilhas: o fresquinho video para a nova "QACHINA", a recordação acústica de "All For You" e uma grande canção do disco "Loyalty" de 2015 dos atraentes The Weather Station.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
sábado, 20 de fevereiro de 2016
MYLES SANKO, Casa da Música, Sala 2, Porto, 19 de Fevereiro de 2016
O regresso de Myles Sanko ao Porto quatro meses depois do concerto com os Incognito não acontece por acaso. Notoriamente, há já um público adulto conquistado e de adesão espontânea que foi "passando a palavra" e o resultado foi uma sala cheia, bem disposta e pronta para a festa que não demorou muito a rebentar. É certo que as canções de Sanko, embebidas nas referências clássicas, não trazem de nada de novo ao sempre válido e intemporal mundo da soul, mas as letras das canções brandidas em coro particularmente pelo mulherio em pré-delírio injustificado, significava que a (alguma) rádio, a rede e a partilha facilitada conduziram Sanko a um fenómeno local (?) que, de inesperado, poderá rapidamente ganhar proporções mais abrangentes. Se os originais ao vivo, tal como nos discos, nos pareceram previsíveis já a cartada que Sanko jogou com uma escolha criteriosas de algumas versões elevou, em muito, o nível do espectáculo. Com a ajuda de um oleado combo de rectaguarda, foi com covers de Otis Redding, Marvin Gaye e até Edwin Collins (o óbvio "A Girl Like You") que o serão permitiu, como sempre, confirmar que o funk, o soul e os seus sempre novos e imortais caminhos mereciam um festival exclusivo onde estes géneros, sem dificuldade, teriam êxito assegurado... como o de ontem!
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
KEATON HENSON, (MUITO) BOM COMPORTAMENTO!
Sobre Keaton Henson, e por muito que se resguarde na sombra, há sempre duas certezas - primeiro, que a actividade criativa é contínua e, segundo, tudo tem o carimbo da melhor qualidade. Exemplos? Podemos começar pelo luxuoso livro multifacetado chamado "5 Years" que reúne letras, fotografias e oito canções inéditas que se podem ouvir na totalidade abaixo, tudo adornado e ilustrado pelo próprio. Podemos saltar para o disco de nome "Behaving" que se (con)funde como um novo arrojo de veia electrónica, mas onde o piano continua a marcar o caminho e que recebeu, para além da edição exclusiva em vinil, um novo video para belíssimo tema "The River". Podemos ainda falar de um livro de poemas solitários inspirados nos concertos, em hotéis ou apartamentos e primorosamente catalogado como "Idiot Verse". Podemos acabar, por agora, com a exposição inaugurada ontem de forma privada na galeria londrina Lawrence Alkin onde repousam uma série de magníficos desenhos reunidos sob o título de "Almost Beautiful" e para os quais Henson escreveu uma banda sonora inédita só disponível como ambiente sonoro da mostra. Escusado será dizer que a maioria dos trabalhos já foram vendidos...
BAT FOR LASHES, MARQUEM NA AGENDA!
O dia, sexta, 1 de Julho. O disco, novo, de Bat For Lashes. O título, duvidoso, "Till Death Do Us Part". O primeiro single, encantador, "I Do". Parece uma boa data para casamento. Aqui fica o convite...
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
MAYER HAWTHORNE, O DETECTIVE COOL!
Sobre o disco que marca o regresso de Mayer Hawthorne, que só chega em Abril, o conceito assenta na experiência própria de viver numa grande cidade (Los Angeles), as festas, os artistas e os romances e em que cada canção é um capítulo pessoal dessa vivência. Para o efeito, o homem largou os óculos, arranjou um chapéu à maneira, engraxou os sapatos e, pronto, dá para tudo, até para encarnar (vide video de "Cosmic Love abaixo) um género de David detective e protector de Maddie como no memorável "Modelo e Detective" do final dos anos oitenta... e que terá mais duas sequelas prometidas. A música, pelas amostras, continua macia, adorável e a puxar para pista de dança como convêm em que quase tudo ficou nas mãos do polivalente Mayer. Confissões e outras histórias - a obssessão por discos de 7", por exemplo - podem e devem ser confirmadas aqui. Cool!
MEMORABILIA #18
Na chuvosa manhã de sábado passado, ali parados a contemplar a ruína à espera do verde do semáforo, o desgosto conduziu-nos involuntariamente a um leve abanar de cabeça... O quase irreconhecível edifício da Praça da República onde funcionou o Instituto Francês do Porto vai-se desfazendo e enegrecendo a olhos vistos, um encerramento e um posterior incêndio que nunca foram bem explicados e, pior, não devidamente solucionados. Por lá passamos horas infinitas de diversão no jardim traseiro, onde havia um espectacular retiro azulejado perfeito para umas futeboladas e correrias, e também importantes momentos de aprendizagem nas diversas salas do palacete, desde as da cave ate às dos dois andares superiores, as preferidas já que permitiam, à saída, percorrer as escadas sentados no corrimão de madeira em jeito de escorregão, desafio e hábito trazido do velhinho Liceu Rainha Santa Isabel da Rua do Heroísmo. A tradição familiar impôs-nos, desde o secundário, a frequência de verdadeiras lições de língua francesa, o que o Instituto cumpria rigorosamente já que a maioria dos professores, nativos de França, mantinham uma exigência pedagógica onde as acentuações e as regras gramaticais eram pedra de toque obrigatórias e tormentosas. Mas a essa formalidade juntava-se um imenso gosto pela cultura francesa onde as incontornáveis gastronomia, literatura e música ocupavam lugar destacado e que tinham na excelente biblioteca do Instituto um recurso permanentemente actualizado com livros, jornais, revistas e discos... em vinil!
Foi um deles que imediatamente nos veio à memória naquele momento. Trazido debaixo do braço da professora, Madame Millez de seu nome, enorme senhora de arqueado e intocável penteado branco, ela invadia a sala já a cantarolar o "La Bohême" de Charles Aznavour, canção que, como muitas outras de Brel, Piaf ou Bécaud, haveríamos de ouvir vezes sem conta até que a destrinça e a compreensão da letra não permitisse dúvidas. Repetido, muitas vezes a pedido, pelo mágico levantar da agulha do gira-discos previamente instalado na sala, esse clássico de Aznavour era (é!) um hino fascinante e intemporal à cidade de Paris e, já agora, à cultura gaulesa, que permitia ainda que a saudosa professora não dispensasse uns passos de valsa quando a canção se aproximava do fim para gáudio e sorriso colectivo da turma! Uma ida a Paris em 1985 (?), a primeira, numa viagem de uma semana organizada pelo próprio Instituto, foi o culminar desses tempos mas nessa época já os nossos gostos musicais começavam a apontar mais a Norte - os Smiths e os The Sound rolavam já em K7's gravadas em Campanhã onde o amigo HugTheDj mantinha e fazia crescer uma notável colecção de discos - lembramos bem que, a seu pedido, trouxemos da capital francesa o vinil do "Treasure" dos Cocteau Twins, uma verdadeira raridade por cá e que compramos numa enorme FNAC em pleno Centro George Pompidou.
Quando retomamos o hábito do vinil, deparamos amiúde com singles de cantores franceses que fomos "catando" em catadupa, hábito que resultou já numa caixa inteira de referências desses tempos do Instituto Francês. Um dos primeiros que recolhemos, gasto e usado até à exaustão, foi a rodela pequena do "La Bohéme" editada em 1965 que acima se reproduz e que, mesmo assim, é a que menos vezes aparece entre os muitos que Aznavour editou, talvez porque a canção seja mesmo a que muitos procuram ou insistam em guardar, merecidamente, para sempre. Bem dita nostalgia!
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
PROMISED LAND SOUND, IRRESISTÍVEL!
O disco, o segundo, dos Promised Land Sound saído em Outubro passado é um daqueles casos de crescimento sustentado em talento. Aveludado, o travo americano tem as castas certas em Dylan, America ou até Midlake e o título do álbum - "For Use And Delight" - deve ser, literalmente, cumprido, respeitado e apreciado. Irresistível!
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
LIANNE LA HAVAS À GUITARRA!
Tem poucos dias um novo EP da maravilhosa Lianne La Havas que pegou em algumas canções do álbum do ano passado "Blood", tirou-lhe os arranjos e orquestrações e sozinha com a guitarra, a fazer lembrar os tempos do início de carreira, torna a infringir-nos saborosas arritmias sonoras de alto calibre como este "Fairytale", um inédito simplesmente majestoso. La Havas vai partilhar uma digressão de Outono com Leon Bridges por terras americanas, numa parceria que, sem ser um conto de fadas, seria de bom gosto trazer até cá...
domingo, 14 de fevereiro de 2016
O AMOR ESTÁ NA CHUVA!
Chuva, namorados, amor, amor, namorados e chuva.
Dia perfeito para esta maravilha... 'cause hung-ups need company!
Dia perfeito para esta maravilha... 'cause hung-ups need company!
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
JULIA HOLTER, A MENINA DA RÁDIO!
O nosso fascínio pela música de Julia Holter é constante. Desde que deitamos os ouvidos a "Ekstasis", já lá vão quatro anos, que não há forma de disfarçar a paixão que, em boa hora, confirmamos ao vivo numa pequena mas vibrante sala de Guimarães. A norte-americana, para "castigo" nosso, tem elevado sempre a fasquia a níveis desmesurados com álbuns perfeitos como "Loud City Song" de 2013 e "Have You In My Wilderness" de 2015, ambos rotulados como os melhores de cada ano aqui na casa, não por não terem existido concorrentes de qualidade, mas porque a escuta certa derruba eventuais argumentos. Na marcação cerrada que mantemos à sua vida artística (já agora, há um novo video para "Everytime Boots"), é com satisfação que verificamos que tamanhas virtudes produzem efeitos imediatos para quem andava distraído e as sessões de rádio por onde Holter tem passado nos últimos meses confirmam este feitiço, seja na BBC inglesa ou nas míticas KEXP ou KCRW americanas, momentos que abaixo se reproduzem. Seria bom que a milagrosa vinda ao Porto para o Primavera Sound a levasse a uma rádio ou televisão qualquer para que uma merecida multiplicação do seu talento não deixasse dúvidas a ninguém. Ficamos, perdidamente, à espera!
BILLY RIDER-JONES, VERSÕES CASEIRAS... MUITAS!
Dono de um grande disco em 2015 intitulado "West Kirby County Primary", o profícuo e talentoso Billy Rider-Jones desde que deixou os The Coral não tem mãos a medir: bandas sonoras, álbuns instrumentais, colaborações e contribuições diversas com, entre outros, os Last Shadow Puppets ou Artic Monkeys (com quem tocou guitarra na digressão de "AM" e que, supostamente, andou pelo SBSR/Meco de 2013 e, talvez, no Alive de 2014) e até gravações caseiras, muitas, de versões. Neste último capítulo, há já três volumes disponíveis para aquisição no seu Bandcamp, não deixando de arriscar um "River Man" de Nick Drake de belo efeito (coincidência, ou não, Jones têm concerto marcado para o Lunar Festival em Junho que decorre em Tanworth-In-Arden, local onde Drake viveu e acabou por falecer). Entre altos e baixos da enorme variedade, enquanto não deve tardar novo volume, escolhemos estas três variações suspirando que a digressão europeia que em Março chega a Espanha se estenda um pouquinho mais até ao Atlântico...
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
BRUCE SPRINGSTEEN, NASCIDO PARA ESCREVER!
O livro que há muito se pedia e adivinhava vai finalmente ver a luz do dia. A auto-biografia de Bruce Springsteen chama-se naturalmente "Born To Run" e estará nas livrarias no final do próximo mês de Setembro. Trata-se de uma aventura inédita que começou em 2009 após a actuação no intervalo do Super Bowl americano e o conteúdo restrito e privado do relato de uma vida promete revelações e confissões surpreendentes como a que rodeou a composição de "Born To Run", um hit planetário incluído no disco com o mesmo nome de 1975 e que, afinal, esconde outras histórias... Para quem, como nós, tem evitado livros não oficiais, não haverá então como resistir!
SÃO DUETOS, SENHORES!
A amizade antiga de Sam Beam/Iron & Wine e Jesca Hoop terá finalmente direito a um disco inteiro de canções em jeito de duetos em que o tema principal será, evidentemente, o amor. A preciosidade está já baptizada de "Love Letter for Fire" tem selo da SupPop, data marcada de desenlace - 15 de Abril próximo - e regista a primeira vez que ambos partilham a até agora solitária tarefa da composição. Os treze temas foram gravados em Porland com a ajuda de diversos músicos de eleição como Glenn Kotche dos Wilco ou Eyvind Kend dos The Decemberists, tudo com uma classe que antecipadamente se adivinha e confirma neste maravilhoso "Every Songbird Says". Queremos mais, rápido!
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
CHARLES BRADLEY, AO VIVO E A PRETO E BRANCO!
Enquanto não chega o novo álbum de Charles Bradley de nome "Changes" previsto para Abril, a Daptone Records inicia a edição de uma nova série de gravações ao vivo - Live From The House Of Soul - precisamente com o mestre da soul. O registo foi captado no pátio traseiro da sede da companhia em Brooklyn, Nova Iorque, onde em 2014 sete canções receberam um tratamento protector a preto e branco com a contribuição da Menahan Street Band e a produção do guitarrista e amigo Tommy Brenneck, ele próprio um elemento essencial dos The Dap King e da Budos Band. Aqui fica um bocadinho saboroso do filme a que juntamos, mais uma vez, o novo e irresistível "Changes".
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
MEMORABILIA #17
A história que aqui trazemos no dia de hoje há muito que estava para ser escrita. O novelo que ela encerra começa a desenrolar-se a partir de uma simples mas saborosa coincidência com mais de dezassete anos e, por isso mesmo, de difícil memória e a pedir paciência da vossa parte. Começa assim...
Era uma vez quatro primos, entre os quais nos incluímos, que decidiram em 1998 marcar uma viagem de verão à Irlanda e Irlanda do Norte. Nada de transcendente atendendo à beleza do território mas com uma condicionante de última hora - uma semana antes da data da partida (15 de Agosto de 1998) o Reino Unido sofreu um dos piores atentados terroristas perpetrados pelo IRA na localidade de Omagh em pleno Ulster, onde um carro bomba tirou a vida a 29 pessoas e feriu mais de 200! A família sobressaltada recomendou o adiamento, a agência de viagens avançava com algumas reservas, mas a inquietude juvenil e alguma persistência levou-nos a manter o plano.
Chegada a Londres, aluguer de carro, descida até sul de Inglaterra, subida ao País de Gales, ferry para atravessar para a República da Irlanda, visita a Dublin, tudo em regime atraente de bed & breakfast, alguns sobressaltos de condução, paisagens fabulosas, cervejas e carnes da melhor qualidade e entrega do carro final marcada para Belfast de onde viajaríamos até Londres em trânsito para o Porto. O ponto de entrega já aquando do processo de aluguer no Aeroporto tinha merecido por parte do funcionário local alguns reparos atendendo ao período tenso que se vivia, o que rapidamente constatamos quando, no fim-de-tarde agendado, chegamos à cidade - ruas sem vivalma, carros patrulha em circulação lenta e um natural regime de recolhimento. Foi a única dormida em sete dias num chamado hotel e antes do sono, ainda em pleno dia, decidimos dar uma volta ao quarteirão. Aqui começa, então, a história que interessa para tão prolongado intróito!
Numa das ruas e sem cafés abertos decidimos, por insistência nossa, entrar numa das poucas lojas em funcionamento - uma loja de discos, claro, para passar tempo e, já agora, talvez comprar algumas pechinchas. No auge do CD e depois de algum tempo a percorrer as prateleiras, pegamos em dois discos de Andy White que desconhecíamos e fomos pagar. O homem por detrás do balcão ficou de boca aberta! Iniciou-se então um inquérito estranho mas natural - de onde éramos, como raio é que viemos ali parar e um carregado "caramba, em tantos discos escolheste logo dois do amigo Andy White!". Seguiu-se uma série de confissões - que Portugal era excelente, que a comida era a melhor do mundo e que tinha sido aqui o único local do planeta onde tinha ouvido uma canção de Andy White na rádio! Lá confessamos gosto pelas suas canções, que o tínhamos visto ao vivo há alguns anos atrás (29 de Novembro de 1990) na primeira parte de um concerto dos Vaya Con Dios no Porto e que até acabamos a beber uns copos com ele no bar do pavilhão Infante Sagres... Quanto ao privilégio radiofónico, teria sido de certeza no "Som da Frente" do António Sérgio, ele mesmo um aficionado do cantautor natural de Belfast e que, quase que juramos, teria comparecido nessa altura no programa do mestre para tocar algumas canções e trocar algumas palavras (quem ajuda?). Vai daí, o nosso entusiasmado anfitrião mandou-nos esperar um pouco, abriu a porta de um pequena arrecadação e, na volta, ofereceu-nos dois discos de vinil de Andy White, um deles o que acima se reproduz editado pela própria loja, o 12" do tema "Six String Street" com desenho de capa do próprio White, entre um forte aperto de mão e votos de boa viagem!
Pois bem, no retomar desta verdadeira memorabilia e com o novelo a desenrolar-se sem freio, acabamos por confirmar o agora óbvio - a loja e editora em questão chamava-se Good Vibrations e o homem desse encontro imediato, bastou ver uma das fotografias pela rede para o confirmar, era Terry Hooley, uma lenda viva do panorama punk-rock de Belfast e do Reino Unido que gravou e contratou os tenros Undertones de "Teenage Kicks", a icónica canção preferida de John Peel. A sua vida já deu um filme de nome "Good Vibrations" estreado em 2013, há planos para uma versão teatral e a loja com o mesmo nome só encerrou o ano passado por doença do próprio Hooley depois de vários contratempos e vicissitudes, como um inexplicável incêndio em 2004 que destruiu o quarteirão, queimando literalmente todos os discos e a história da música local. Da viagem a Portugal há um curioso vestígio, um galo de Barcelos colado no frigorífico lá de casa enquanto se mantêm activo na rede e a rodar música nos bares da cidade!
Quanto a Andy White, emigrado na Austrália, continua felizmente a gravar discos e numa das fotografias surgida nesta nossa pesquisa parece-nos estar à porta da tal loja a tocar para os transeuntes certamente a pedido do amigo Hooley. O disco oferecido da nossa colecção continua disponível, entre quase todos, para venda e agora só falta mesmo ver a película que rapidamente acabamos por encomendar na expectativa de fechar um curioso círculo em que a sempre vibrante história rock & roll é fértil...
I wanna holdher, wanna hold her tight
Get teenage kicks right through the night
Alright
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
PRIMAVERA SOUND PORTO: BINGO FLOP!
A nossa aposta de ontem foi quase perfeita - acertamos em 3 números (PJ Harvey, Savages, Brian Wilson) e duas estrelas (Julia Holter e Destroyer). Fica um grande amargo de boca pelos Last Shadow Puppets e o Richard Hawley não estarem no alinhamento, o que torna o cartaz deste ano no mais fraquinho até à data. Pelo menos vamos finalmente ouvir e sentir isto ao vivo...
PS: contamos, por alto, 8 repetições (Beach House, Wild Nothing, Ty Segall, Deerhunter, Explosions In Th Sky, Savages, Dinosaur Jr., Shellac) o que para um festival na quinta edição nos parece demasiado... triste. Percebe-se agora porque é que não houve este ano cerimónia de apresentação pública do evento!
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
PRIMAVERA SOUND PORTO: AMANHÃ ANDA À RODA!
Amanhã, dia 4 de Fevereiro, veremos a nossa sorte no euromilhões dos concertos.
A nossa aposta simples é esta:
5 números: PJ Harvey, Last Shadow Puppets, Richard Hawley, Brian Wilson, Savages
2 estrelas: Julia Holter, Destroyer.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
OUGHT MEU DEUS!
Os canadianos Ought foram uma das surpresas do Primavera Sound portuense do ano passado, um concerto de fim de noite rugoso e lustroso que serviu para destapar um pouco do novo álbum. Esse disco chamado "Sun Coming Down" talvez seja um daqueles casos de falta de atenção colectiva onde desgraçadamente nos incluímos já que a grandeza do registo vai aumentando a cada audição. O tema "Beautiful Blue Sky" merecia mesmo fazer parte da nossa ou outra qualquer lista de canções de 2015 e sempre que o ouvimos damos connosco a matutar o que o saudoso António Sérgio faria com tamanha pérola... Meu Deus!
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