domingo, 26 de janeiro de 2020

HAND HABITS + ANGEL OLSEN, Hard Club, Porto, 24 de Janeiro de 2020

A noite de música portuense estava esgotada e logo à entrada se percebia a enchente compacta. Na tentativa de estudar a melhor forma de chegar até à frente, subimos ao único piso superior do espaço enquanto a menina Meg Duffy aka Hand Habits tinha já iniciado o leve aquecimento. Na companhia de um baixista e um baterista, o trio teve tempo para meia dúzia de canções do último álbum "placeholder", uma desfiar de pérolas que mereciam melhor som e mais atenção o que no local panorâmico onde nos encontrávamos alcançou laivos de desrespeito em jeito de bar fumarento em fim de noite. Conversas de surdos, que podem confirmar nas imagens abaixo e que nos levam a suspirar por uma melhor oportunidade.



Vamos lá, toca a furar em zigue-zague entre uma plateia estacada há muito na expectativa de uma proximidade compensadora a uma artista "nacionalizada" de forma consistente nos últimos anos. Angel Olsen soube sempre testar, medir e acarinhar uma relação de primazia com o público português cimentada em estadias/concertos proporcionalmente crescentes à excelência artística e com um cume atingido em "All Mirrors", álbum que serve de base à corrente digressão europeia.

Como confessado pela própria mesmo antes do final da noite portuense, as restantes datas no velho continente serão sempre um decréscimo previsível de qualidade e partilha, um privilégio talvez exagerado mas logo notado na tensão e cumplicidade emitidas entre o palco e os fiéis atentos e expectantes. A ultra-dimensão da celebração teve sempre uma alcance imaculado por um septeto de músicos rodados na excelência dos instrumentos, das canções e dos seus andamentos, fosse a dupla de cordas a prolongar o prazer fosse o desafio das guitarras vibrantes a electrizar os corpos em jeito de descarga.

Da sublimação sonora de "Lark" até ao "é um hit que não é hit" "Shut Up Kiss Me", passando por esse dissolvente catártico chamado "Endgame", foram muitos os momentos de puro deleite que continua a ser ouvir esta voz e este jeito de encantar desencantando mas, caramba, aquele "Chance" no encore pelo qual tanto ansiávamos só veio culminar um serão apertado nos corações que batem mais forte no soletrar baixinho e involuntário das letras e no quase não respirar dos silêncios. E isso, não sendo magia negra, é feitiço daquele que brilha maravilhosamente nos nossos olhos...   

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