domingo, 24 de novembro de 2019
ROBERT FORSTER, Passos Manuel, Porto, 22 de Novembro de 2019
Passaram mais de trinta anos sobre a estreia dos The Go-Betweens na cidade. No palco do Vale Formoso um trio ainda ferido na asa haveria de conseguir o êxito pleno, transformando a noite primaveril de 1989 num momento lendário da história da música ao vivo da Invicta. Não admira, assim, que a concentração de cinquentões no bar do Passos Manuel, daqueles como nós que já não conseguem ler mensagens do telemóvel sem óculos do chinês, tenha nessa memorável data o motivo principal da conversa prévia e, já agora, de uma reunião informal e quase comemorativa através do regresso festejado de um dos seus principais protagonistas - Robert Forster que ao lado de Grant McLennan escreveu e cantou canções de eleição, mania salutar que, para sorte nossa, continua ainda a praticar em estúdio e ao vivo.
Foi já a tocar a sua guitarra acústica que o australiano subiu a rampa e os degraus até ao palco para uma imparável sequência de memórias e novos temas. Afastada a luz que lhe cegava os olhos e depois de uns goles de águas-das-pedras, começaram então mais de noventa minutos de partilha de vinte e uma peças de uma colecção sem preço, onze das quais sacadas da "sala principal The Go-Betweens" para prazer da plateia saudosa. A força de muitas delas, como por exemplo "Here Comes a City" ou "Spring Rain", continua viril, sedutora e irresistível, uma limpidez eterna que a acústica da sala engrandeceu de forma viçosa perante um Forster bem disposto e surpreendido pela recepção calorosa e preparado para, mesmo sozinho, impressionar a antiga sala de cinema portuense.
É que a prevista participação de Karen Baeumier, esposa e amiga que ajudaria no violino e vozes não se concretizou por doença do pai alemão, aproveitando a escusa para apresentar "German Farmhouse", mais uma história de vida inspiradora de cantigas que se juntou a tantas outras que insistiu em contar de forma quase nonsense para uma cortês risota geral. A vincada nota dada a um tal guitar solo na magnífica e recente "Life Has Turned the Page" foi esse nível imbatível, confirmando, no entanto, as suas capacidades inatas em manejar uma guitarra de forma imaculada.
Atendendo à logística das instalações, o encore habitual foi acertado de comum acordo com a manutenção em palco onde "Surfing Magazines", cantado parcialmente a capella, haveria de ter o condão de acender as luzes da plateia para que, olhos nos olhos, se pudessem confirmar os sorrisos e as vibrações dos dois lados da contenda nocturna. Afinal, a forte ovação em pé a este velho amigo rock 'n' roll que não víamos há décadas foi só uma forma espontânea de lhe agradecer a presença e, acima de tudo, a persistência. Return, yeah!
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