Uma conversa prévia com o amigo destas e doutras andanças antes da entrada na sala dourada do teatro versava sobre a necessidade de colocar um travão na ida a concertos. A estratégia passaria por escolher somente bandas e artistas que nunca vimos em palco para evitar repetições e, supostamente, gastos excessivos. A inconsequência deste palavreado servia como paliativo de uma "doença" sem tratamento e que tem nos The Divine Comedy um longínquo agente patogénico de imunidade adquirida de difícil combate e que, afinal, ganharia na próxima uma hora e meia ainda maior resistência.
Passaram mais dois anos sobre a vinda de Neil Hannon ao mesmo local de infecção e com, na altura, um grande disco para apresentar. Em "Foreverland" voltava-se à grande composição clássica de um projecto sem discos menores mas o certo é que, desta vez, a atracção não se afigurava tão compulsiva - "Office Politics" é depois de ouvido um disco conceptual bem esgalhado mas algo desequilibrado que quatro ou cinco canções ajudam a disfarçar. O cenário era, por isso, de um preto branco a remeter para tempos antigos lá num escritório de relógio enorme na parede a jogar com os fatos dos funcionários-músicos à volta do chefe "preocupado" com o expediente... Mas no que toca a esse burburinho, só à quinta canção se começou a dar vazão ao acumulado quando o titular "Office Politics" seguido de "Norma and Norma" pareceram abrir em definitivo as instalações, já que antes houve bons sobressaltos, nomeadamente "Commuter Love" na sua enorme tensão e beleza que, salvo o erro, nunca tínhamos testado ao vivo!
Seguiu-se, então, um verdadeiro corrupio de canções novas e velhas meticulosamente encaixadas de forma a rentabilizar o "trabalho" num total de vinte e três opções que incluiu o agora clássico "To The Rescue", "Lady of Certain Age" ou "Absent Friends" mas com tempo para uma pausa festiva para agitar o prédio com a habitual trilogia "At The Indie Disco", "I Like" e "National Express" a que se acrescentou "Something For The Weekend" já com a plateia em polvorosa e a necessitar de distender a tensão. A jornada e, já agora, a época de concertos, parecia ter chegado ao fim com um calmante relaxante de nome "When The Working Day Is Done" mas o sublime "Our Mutual Friend" também não tinha ficado mal.
O encore obrigatório haveria de trazer (mais) surpresas ao jeito de uma serenata acústica a antecipar as Janeiras para Novembro - juntos na frente de palco perante um só microfone numa disposição praticamente ensaiada momentos antes em "I'm a Stranger Here", o sexteto reduziu a pozinho mágico três hinos pop de imbatível qualidade, revisitando "Your Daddy's Car", "Songs of Love" e o incontornável "Tonight We Fly" de forma especialmente tocante a merecer ovação em pé, coro afinado e voo nocturno colectivo, mais um! Por isso, quanto ao tal travão no acesso a estas "viagens", o melhor é mesmo ir gastando as "milhas" enquanto é tempo...
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