de Diogo Varela Silva. Portugal: Hot Chilli Films, 2019
TVCine Edition, Portugal, 28 de Maio de 2021
O desfecho trágico e antecipado da vida de Zé Pedro, guitarrista fundador dos Xutos & Pontapés, ocorrido em 2017 veio, por si só, atestar o óbvio - a necessidade de um filme que contasse de forma simples o quão invisível mas transversal foi o papel que ele desempenhou na afirmação e diversidade do chamado rock português. O desiderato não se compadeceu com vedetismo ou arrogância mas houve desde jovem uma dose de obstinação que determinou escolhas, aprendizagens e também excessos de um mundo da música que se rodeia de perigos, traições e tentações. Zé Pedro caiu em algumas delas mas, mesmo envolto nessa teia escorregadia, acabou sempre por levar o barco para em frente cerrando os dentes, apertando amizades ou duplicando a teimosia ambiciosa.
É nessa apego às canções, às guitarras e aos músicos/cúmplices que o documentário se agarra para fazer sobressair um personagem reconhecidamente bondoso, "porreiraço", sempre interessado numa contínua prática como forma de adaptação a correntes sonoras ou a projectos desafiantes. Desde novo, a necessidade de escrever sobre música, de a conhecer a três dimensões e em directo vinda de um palco de estádio ou de um estrado de clube fumarento, levou-o numa procura contínua pela novidade traduzida nos primeiros concertos punk por França que, de imediato, quis transpor para o nosso recanto. Fê-lo sem virtuosismos instrumentais ou malabarismos, arrebanhando parceiros a quem convenceu das virtudes do proto-projecto de banda que queria formar e da única porta para o êxito - não desistir! "Ainda vamos fazer a primeira parte dos Rolling Stones" - alguns torceram o nariz e classificaram-no de "maluco" mas a previsão haveria de confirmar-se trinta anos depois em Coimbra (2009) ao jeito de sonho que comanda a vida e sempre que um homem sonha...
Como figura do rock 'n' roll nacional, Zé Pedro juntou três facetas complementares mas de risco distinto - como radialista convidado na Radar lisboeta a contar histórias ou a confessar influências, como dj ao lado de Miguel Quintão com o nome de Zig Zag Warriors por muitos clubes do país e que recordamos com saudade nalgumas noites imparáveis do Triplex da Invicta e como co-proprietário de um clube de rock, o mítico Johnny Guitar por onde passaram inúmeras bandas e projectos em estreia pública sem olhar a géneros ou rótulos mas de gestão difícil e, notoriamente, não vocacional atendendo à presença de uma infindável fauna nocturna de "amigos da casa". Uma loucura salutar mas, como muitas vezes durante a sua vida, a roçar o limite do bom senso e tino que o guião esquece de aflorar mais profundamente, não expondo feridas ou outras nódoas negras que comprometessem o retrato afectuoso que se determinou previamente.
Este será, assim, um filme de amigos que serve para prestar homenagem e tributo a uma incontornável figura do rock em que o título acerta em cheio mas a que faltou um pouco mais de coragem numa abordagem de eficácia incontestável. Respira-se, no entanto, muita e eterna saudade!
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